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Dia dos Pais: um podcast.


Uma mensagem sobre paternidade.
Ouça esse podcast dividido em duas partes.


Primeira: https//t.co/SOHQiTumme


Parte final: https://t.co/tCQCBcpkIs

4 mitos sobre filhos de pais gays

4 mitos sobre filhos de pais gays

O gays lutaram e conquistaram direitos iguais no casamento. O próximo passo é pensar em família e filhos. Mas o que acontece com crianças que são criadas por gays? A resposta: algumas coisas - mas nenhuma daquelas que você imaginava


por Carol Castro





Começo de ano é sempre igual na escola de Theodora: cada aluno se apresenta e mostra as fotos da família. Pode ser que a menina da primeira carteira seja filha de um engenheiro e uma arquiteta e o pai do menino de cabelos vermelhos chefie a cozinha de um restaurante. Theodora, naturalmente, vai contar sobre a escola de cabeleireiros dos pais. Dos dois pais - Vasco Pedro da Gama e Júnior de Carvalho, juntos há quase 20 anos. Theodora não hesita em explicar para os colegas: não mora com a mãe e tem dois pais gays. Ela passou 4 anos num orfanato, até 2006, quando uma juíza de Catanduva, interior de São Paulo, autorizou a adoção. Nos próximos meses, a família vai crescer: o casal espera a guarda de uma nova menina, de apenas alguns meses de idade.


Na outra metade do mundo, a história com pais gays da americana Dawn Stefanowicz foi diferente. Por toda a vida, Dawn conviveu com a visita dos vários namorados do pai. Ele recebia homens em casa, embora ainda morasse com a mãe de Dawn- o casal já não se relacionava. Ela segurou as pontas em silêncio durante a infância, adolescência e início da fase adulta. Mas depois dos 30 se rebelou contra a situação. "A decisão do meu pai de não gostar mais de mulheres mudou minha vida. Os namorados dele sempre o afastaram, e ele colocava o trabalho e os namorados acima de mim", diz.

Dawn e Theodora fazem parte de um novo tipo de família. Somente nos EUA, segundo estimativa da Escola de Direito da Universidade da Califórnia, 1 milhão de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais criam atualmente cerca de 2 milhões de crianças. E cada vez mais casais gays optam por criar seus próprios filhos. Segundo o mesmo instituto, em 2009, 21.740 casais homossexuais adotaram crianças - quase o triplo do número de 2000. A estimativa é que cerca de 14 milhões de crianças, em todo o mundo, convivam com um dos pais gays. Por aqui, onde mais de 60 mil casais gays vivem numa união estável (reconhecida perante a lei apenas no ano passado), a história é mais recente. O caso de Theodora foi a primeira adoção por um casal gay. E isso não faz tanto tempo assim - só 6 anos.

É justamente por ser tão recente que o assunto gera dúvidas, preconceitos e medos. Quais as consequências na personalidade de uma criança se ela for criada por gays? A resposta dos estudos é bem clara: perto de zero. "As pesquisas mostram que a orientação sexual dos pais parece ter muito pouco a ver com com o desenvolvimento da criança ou com as habilidades de ser pai. Filhos de mães lésbicas ou pais gays se desenvolvem da mesma maneira que crianças de pais heterossexuais", explica Charlotte Patterson, professora de psiquiatria da Universidade da Virginia e uma das principais pesquisadoras sobre o tema há mais de 20 anos.

Como, então, explicar as queixas de Dawn e a vida tranquila de Theodora? "O desenvolvimento da criança não depende do tipo de família, mas do vínculo que esses pais e mães vão estabelecer entre eles e a criança. Afeto, carinho, regras: essas coisas são mais importantes para uma criança crescer saudável do que a orientação sexual dos pais", diz Mariana Farias, psicóloga e autora do livro Adoção por Homossexuais - A Família Homoparental Sob o Olhar da Psicologia Jurídica. Enquanto Theodora mantém uma relação próxima dos pais, com conversas abertas sobre sexualidade, Dawn não teve a mesma sorte. Para piorar, ela cresceu em um ambiente ríspido e promíscuo (o pai levava diferentes homens para casa e não lhe deu atenção durante os anos mais importantes de sua formação). Mesmo assim, sobram mitos em torno da criação de filhos por pais e mães gays. Veja aqui o que a ciência tem a dizer sobre eles.

Mito 1. "Os filhos serão gays!"

A lógica parece simples. Pais e mães gays só poderão ter filhos gays, afinal, eles vão crescer em um ambiente em que o padrão é o relacionamento homossexual, certo? Não necessariamente. (Se fosse assim, seria difícil, por exemplo, explicar como filhos gays podem nascer de casais héteros.) Um estudo da Universidade Cambridge comparou filhos de mães lésbicas com filhos de mães héteros e não encontrou nenhuma diferença significativa entre os dois grupos quanto à identificação como gays. Mas isso não quer dizer que não existam algumas diferenças. As famílias homoparentais vivem num ambiente mais aberto à diversidade - e, por consequência, muito mais tolerante caso algum filho queira sair do armário ou ter experiências homossexuais. "Se você cresce com dois pais do mesmo sexo e vê amor e carinho entre eles, você não vê nada de estranho nisso", conta Arlene Lev, professora da Universidade de Albany. Mas a influência para por aí. O National Longitudinal Lesbian Family Study é uma pesquisa que analisou 84 famílias com duas mães e as comparou a um grupo semelhante de héteros. Ainda entre as meninas de famílias gays, 15,4% já experimentaram sexo com outras garotas, contra 5% das outras. Já entre meninos, houve uma tendência contrária: 5,6% nos adolescentes criados por mães lésbicas tiveram experiências sexuais com parceiros do mesmo sexo - mas menos do que os que cresceram em famílias de héteros, que chegaram a 6,6%. Ou seja, não dá para afirmar que a orientação sexual dos pais tenha o poder de definir a dos filhos.


Mito 2. "Eles precisam da figura de um pai e de uma mãe"

Filhos de gays não são os únicos que crescem sem um dos pais. Durante a 2ª Guerra Mundial, estima-se que 183 mil crianças americanas perderam os pais. No Brasil, 17,4% das famílias são formadas por mulheres solteiras com filhos. Na verdade, os papéis masculino e feminino continuam presentes como referência mesmo que não seja nos pais. "É importante que a criança tenha contato com os dois sexos. Mas pode ser alguém significativo à criança, como uma avó. Ela vai escolher essa referência, mesmo que inconsciente-mente", explica Mariana Farias. Se há uma diferença, ela é positiva. "Crianças criadas por gays são menos influenciadas por brincadeiras estereotipadas como masculinas ou femininas", diz Arlene Lev. Uma pesquisa feita com 56 crianças de gays e 48 filhos de héteros apontou a maior probabilidade de meninas brincarem com armas ou caminhões. Brincam sem as amarras dos estereótipos e dos preconceitos.

Mito 3. "As crianças terão problemas psicológicos por causa do preconceito!"


Elas sofrerão preconceito. Mas não serão as únicas. No ambiente infantil, qualquer diferença - peso, altura, cor da pele - pode virar alvo de piadas. Não é certo, mas é comum. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas com quase 19 mil pessoas mostrou que 99,3% dos estudantes brasileiros têm algum tipo de preconceito. Entre as ações de bullying, a maioria atinge alunos negros e pobres. Em seguida vêm os preconceitos contra homossexuais. No caso dos filhos de casais gays analisados pelo National Longitudinal Lesbian Family Study, quase metade relatou discriminação por causa da sexualidade das mães. Por vezes, foram excluídos de atividades ou ridicularizados. Vinte e oito por cento dos relatos envolviam colegas de classe, 22% incluíam professores e outros 21% vinham dos próprios familiares. Felizmente, isso não é sentença para uma vida infeliz. Pesquisas que comparam filhos de gays com filhos de héteros mostram que os dois grupos registram níveis semelhantes de autoestima, de relações com a vida e com as perspectivas para o futuro. Da mesma forma, os índices de depressão entre pessoas criadas por gays e por héteros não é diferente.

Mito 4. "Essas crianças correm risco de sofrer abusos sexuais!"


Esse mito é resquício da época em que a homossexualidade era considerada um distúrbio. Desde o século 19 até o início da década de 1970, os gays eram vistos como pervertidos, portadores de uma anomalia mental transmitida geneticamente. Foi só em 1973 que a Associação de Psiquiatria Americana retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais. É pouquíssimo tempo para a história. O estigma de perversão, sustentado também por líderes religiosos, mantém a crença sobre o "perigo" que as crianças correm quando criadas por gays. Até hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação entre homossexualidade e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National Longitudinal Lesbian Family Study reportou abuso sexual ou físico. Outra pesquisa, realizada por três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças abusadas sexualmente. Apenas dois agressores eram homossexuais. A Associação de Psiquiatria Americana ainda esclarece: "Homens homossexuais não tendem a abusar mais sexualmente de crianças do que homens heterossexuais".

Dá para adotar no Brasil?

A lei de adoção brasileira deixa brechas para a adoção por gays sem fazer referência direta a esse tipo de família. Em 2009, quando houve mudanças na legislação, casais com união estável comprovada puderam entrar com pedido de adoção conjunta, sem o casamento civil. Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu o reconhecimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo, fazendo valer também a eles os direitos previstos para casais héteros. Apesar das conquistas, uma pesquisa do Ibope revelou que 55% dos brasileiros são contra a união estável e a adoção de crianças por casais homossexuais.

Para saber mais
Adoção por Homossexuais - A Família Homoparental sob o Olhar da Psicologia Jurídica


Mariana de Oliveira Farias e Ana Cláudia Bortolozzi, Juruá, 2009.
https://super.abril.com.br/comportamento/4-mitos-sobre-filhos-de-pais-gays/


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Evangélico e militar, pai conta como encarou a homossexualidade do filho


Pais e filhos: relação fortalecida em família



HELOÍSA NORONHA
Colaboração para o UOL


Foto 1 de 7 - O industriário Ricardo Reder, 48 anos, conta que o fato de seu filho Victor ter admitido ser homossexual, há cerca de dois anos, caiu como uma bomba na família Bob Donask/UOL

Receber a notícia de que o filho é homossexual é um acontecimento que pode abalar as estruturas de uma família, por mais que ela se considere aberta às diferenças. É mais fácil lidar com as piadinhas maldosas quando tudo não passa de suspeita e falatório. Mas o cenário muda depois de um irrefutável: "Pai, eu sou gay".

Para o industriário Ricardo Reder, 48 anos, de Santana do Parnaíba (SP), o fato de Victor ter admitido ser homossexual, há cerca de dois anos, caiu como uma bomba. "Pertenço a uma família tradicional do interior de Minas Gerais, de uma cidadezinha pequena. Imagine, para mim, o que essa descoberta causou", admite. O garoto, hoje com 18 anos, ficou tão perturbado com a reação dos pais que decidiu buscar abrigo na casa da avó. "Você nunca acha que tem preconceito, até a realidade tomar conta da sua vida", diz Ricardo.

Preconceito superado



"Aceitar meu filho incondicionalmente me fez uma pessoa mais feliz", diz Ricardo


Ele e a mulher, a analista de faturamento Suerda, de 42 anos, descobriram o Grupo de Pais Homossexuais (GPH) na internet e encontraram na figura de Edith Modesto, sua fundadora, o apoio de que precisavam. "Ela nos disse algumas verdades", confessa Ricardo, que um mês após a declaração do filho resolveu trazê-lo de volta para casa. Edith chamou a atenção do casal para o fato de que uma relação não é feita só de sexo. "Em vez de ficar imaginando seu filho na cama com outro homem, pensa que ele vai ter alguém pra cuidar dele quando estiver doente", ela disse para Ricardo. Essa visão amorosa fez com que ele repensasse alguns conceitos. "Nunca deixei de amá-lo. E me coloquei no lugar dele, tentando compreender o seu sofrimento."

Da rejeição inicial até hoje, o relacionamento da família só melhorou. "Fui para a casa da minha avó porque fiquei muito chateado com a reação dos meus pais", conta Victor. O jovem quis dar um tempo para Suerda e Ricardo, e também para si mesmo. "Queria que sentissem a minha falta", completa. Ele conta que uma das maiores emoções da vida dele foi quando o pai foi buscá-lo: "Me senti amado, acolhido. Nossa relação, que até então era um pouco distante, melhorou muito. Ele passou a me ver como pessoa, como ser humano. Hoje somos muito unidos".

O grupo de Edith, pesquisadora e especialista em diversidade sexual, surgiu a partir de uma experiência pessoal. Mãe de sete filhos, ela e o marido passaram pela mesma situação de Ricardo e Suerda quando seu caçula, Marcello, assumiu ser homossexual. "Fiquei muito surpreso quando soube, há vários anos", conta o professor universitário aposentado Lauro, 81. "Nunca percebi, porque ele não tinha nenhuma característica. O que me importa é que ele é um professor da USP, com doutorado nos Estados Unidos, inteligente, trabalhador e meu amigo", afirma.
Companheirismo e aceitação


Antonio (direita) sempre desconfiou que Airon fosse gay: "Não me choquei"


Militar e evangélico, Antonio Aparecido dos Santos, 51 anos, de São Paulo, é um exemplo para muita gente que se considera de mente aberta e moderna. Sobre a homossexualidade, ele é objetivo em seu argumento: "Quem somos nós para julgar a natureza alheia?”. Após sempre ter desconfiado que o filho, Airon Wisniewski, de 22 anos, fosse gay, Antonio não se surpreendeu com a confirmação. "Não me choquei nem um pouco e aceitei numa boa”, afirma. O filho se orgulha de ter uma relação de companheirismo com o pai. “Nunca vou me esquecer do momento em que decidi ‘sair do armário’. Ele tirou os óculos, colocou a mão no meu ombro e disse que, independente de qualquer coisa, continuaria a ser meu pai e a me amar muito”, revela, emocionado.

Foi com a mesma convicção que Laurindo Pissioli, de 61 anos, de Frutal (MG), apoiou a filha, a analista de testes Cristiane, 35 anos. “Quando ela era pequena, todo mundo a achava diferente", lembra. Cristiane diverte-se ao contar que o pai sempre apresenta suas namoradas aos amigos como noras. "O pessoal questionava: ‘Laurindo, como você pode ter uma nora se só tem filhas?' E ele: ‘É nora porque é mulher da minha filha, oras!’. Todo mundo ria”, afirma Cristiane.

Laurindo Pissioli e a filha Cristiane

Agir com naturalidade é a resposta do militar Antonio para quem tenta atingi-lo com preconceitos. Quando alguém diz que o filho dele é "bicha", sabe o que ele diz? “É bicha, sim. Tem saúde e me dá muita alegria. E aí?", conta Antonio, que considera o namorado de Airon um filho. “Gosto tanto do Anderson que até dou bronca de pai nele”, diverte-se ele, que, no quartel, aconselha um amigo de trabalho a aceitar a filha homossexual.

Para Ricardo Reder, o caminho da aceitação foi mais doloroso. Hoje ele até permite que Victor leve o namorado para dormir em casa. "Eu achava que fazia de tudo por meu filho e descobri que estava errado. Hoje posso afirmar que aceitá-lo plena e incondicionalmente me transformou numa pessoa mais feliz e completa."

Tributo aos meus pais (2010)

Timmy - personagem de Padrinhos Mágicos



Tempos atrás eu compartilhava com meus leitores e amigos mais chegados muitas das lutas que eu travava com meus pais por causa da assunção de minha homossexualidade. Saber que o filho é gay não era algo com que eles estivessem acostumados e nem mesmo dispostos a aceitar. Respeitar e conviver tranqüilamente com essa realidade era impensável.

Eu saí do armário definitivamente há quase 7 anos. Isso é pouco tempo até para um cara de 20 anos, imagine para mim. Eu tinha 34 anos, era casado, tinha dois filhos, tinha 18 anos de conversão e 13 de ministério (contando o tempo como missionário e o tempo como pastor). Não era fácil compreender uma mudança tão grande e tão repentina - se bem que só foi repentina para eles, porque para mim foi demasiadamente demorada: 34 longos anos de auto-sufocamento!

No início, meus pais pensavam que eu fosse me tornar um desvairado. Eles devem ter pensado que havia enlouquecido, que estava possesso, ou coisa assim. Por isso, agiram muito injustamente comigo diversas vezes. Muitas das coisas que passei são do conhecimento de antigos leitores do blog. Mas, o que desejo fazer através deste post não é queixar-me dos meus pais, mas prestar-lhes tributo. Por quê? - pode ser a pergunta de muita gente. Minha resposta é: por diversos motivos. Vou enumerar alguns:

1. Porque, mesmo não compreendendo as dinâmicas psico-afetivas de seu filho (eu!!!) logo de início, eles deram a si mesmos a chance de me ouvir depois de uma crise que nos distanciou por muito tempo. Minha mãe me pediu desculpas e disse que não sabia como lidar com tudo isso, mas estava disposta a aprender. Eu disse que perdoaria, sim, mas só voltaria a conviver sob uma condição: que eles nunca mais me tratassem mal por ser gay, e que reconhecessem de uma vez por todas que tinham um filho gay. Ela assentiu e nos abraçamos. Depois foi a vez do meu pai. E de lá pra cá, as coisas só mudaram para melhor;

2. Porque meus pais sempre foram muito amáveis e zelosos com meus filhos. Sempre conviveram muito com eles, mesmo quando eu ainda era casado com a mãe deles; e quando eu separei, eles continuaram dando todo apoio aos dois. Quando a mãe deles casou de novo, eles optaram por morar com os avós, e meus pais receberam os dois de braços abertos. Desde então, eles têm sido muito mais do que avós para os dois. Tenho o privilégio de viver numa casa vizinha à deles - o que me permite conviver muito tanto com meus filhos quanto com meus pais;

3. Meus filhos estão lindos! Esta semana estava pensando em quanto dessa beleza e saúde é devido ao tratamento que recebem no dia a dia da parte dos avós. Esta noite, eu e Emanuel estávamos jantando na casa dos meus pais e colocando o papo em dia, quando eu abracei meu filho e disse que ele estava lindo, mas que muito dessa saúde maravilhosa que ele e a irmã dele desfrutavam era resultado do cuidado dos avós que agiam como muito mais do que avós! Agiam como verdadeiros pais! E como eu sou um pai super presente na vida deles, meus pais sabem que não estou dizendo isso como quem assume alguma omissão, pois não me omito de modo algum quando o assunto é meus filhos. Estava simplesmente reconhecendo o valor do amor deles para com os netos na prática.

4. O modo como eles acolheram o Emanuel também é outra coisa que eu gostaria de reconhecer nesse tributo aqui. Temos desfrutado de uma convivência maravilhosa! Algo que era impensável dentro do contexto em que vivi minha infância e adolescência tornou-se real em minha vida adulta: viver com meu parceiro e conviver com meus pais e ele na qualidade de parceiro. Meus pais demonstram carinho e respeito por ele. Tratam-nos com muito carinho, e se dependesse da minha mãe, nós gastaríamos muito pouco com o supermercado, porque ela nos convidaria para almoçar e jantar lá freqüentemente. Sou eu que coloco um freio nisso, porque não gosto de "viver na aba" de ninguém; nem mesmo dos meus pais. Porém, sempre que vamos lá, passamos bons momentos juntos.

É por essas e outras razões que decidi compartilhar essas experiências e meu orgulho por ter pais que, tendo sido injustos quando saí do armário, se dispuseram a aprender a conviver com as diferenças, respeitá-las e até admirar alguns aspectos delas - o que é um feito fantástico para pessoas que, como eles, vivem num ambiente eclesiástico que não admite a homoafetividade com naturalidade. Por isso mesmo, eles merecem ainda mais reconhecimento no quesito maturidade!

E para quem lê isso e pensa: "assim é fácil" - faço lembrar que minha saída do armário pode ter sido tudo menos fácil. O que eu colho agora foi plantado com muito esforço e dor, mas volto a dizer que é melhor sentir dor uma vez só ou por um curto período a ficar se escondendo e sofrendo a vida inteira enfiado no armário.

Cada um terá que encontrar seu próprio tempo e seu próprio jeito. Não existe receita, bula ou cartilha com uma fórmula única e final, mas vale a pena. Tem que ter disposição, firmeza, doçura, teimosia, amor a si mesmo, respeito por si mesmo para encarar as adversidades, mas o mundo só respeita quem se ama e sabe o que quer. E poderia ser diferente? Cabeça erguida não pode ser pisada. Agora, se o cara é o primeiro a deitar e dizer pisa, não vai faltar gente para dar mais uma pisadinha.

Meus pais também entenderam isso. Eles tinham muito do que se orgulhar de cada filho que tiveram. São três: eu e duas irmãs. Agora têm também dois netos dos quais se orgulharem. Quem vai ousar dizer o contrário quando eles mesmos adoram os filhos que têm???

O segredo é amar! E o amor não exige que você seja outro. O amor lida com o ser, não com o dever-ser, e nem com o vir-a-ser. Quem ama, ama o que é, ou então não ama aquele de modo algum; ama uma ficção - o que faz desse suposto amor mera imaginação sentimentalista. Meus pais aprenderam a amar-me como sou, não como gostariam que eu fosse. Eu os amo como são, e eles são muito melhores hoje do que antes. Por isso, eles demonstram amor pelo Emanuel, porque sabem o quanto ele me faz bem. Por isso, a mãe do Emanuel demonstra amor por mim, porque ela sabe o quanto faço bem ao filho dela. E por quê isso? Porque, como dizia minha avó: "quem a meus filhos beija, a meus lábios adoça." É o amor pelos filhos que motiva o amor de seus pais pelos que os fazem mais felizes. ;)

Tomara que muitos filhos gays sejam mais autênticos e amorosos com seus pais. Tomara que muitos pais de homossexuais sejam mais amorosos e compreensivos com seus filhos. Tomara que muitos pais gays cativem seus filhos com amor e honestidade. Tomara que muitos filhos de pais gays compreendam e amem seus pais incondicionalmente. Eu estou tendo o privilégio de ser ao mesmo tempo filho e pai gay vivendo em amor e paz com pais e filhos heterossexuais. Não é fantástico? ;)

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