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O PROBLEMA DA "EX-HOMOSSEXUALIDADE" - por João Marinho



O PROBLEMA DA "EX-HOMOSSEXUALIDADE"


Por João Marinho

Pensei muito em voltar a escrever sobre o tema e em começar fazendo uso de uma situação difícil que uma conhecida minha está passando – mas não posso me furtar a apresentar a enganação que, baseadas em um livro arcaico e em dogmas ultrapassados, tantas igrejas e tantos cristãos insistem em defender: a ideia de que é possível ser “ex-gay”.

Este ano, publiquei, não sem um certo prazer, uma nota no site A Capa que informava que a Exodus International, uma das maiores associações religiosas de “ex-gays” do mundo, reconheceu que a reversão da orientação sexual não é possível e que, nesse sentido, a homossexualidade é uma “cruz” que cabe ao “ex-gay” carregar e contra a qual lutar ao longo de sua vida, no projeto de viver de acordo “com a vontade de Deus”, quer seja: casando-se e tendo mulher e filhos. Não é o ideal, mas é um passo na direção mais sábia.

Muitos aqui sabem que eu já fui um gay evangélico – já tentei a via da oração por muitos anos, já fui um adolescente deprimido e em crise por causa disso. Também já tive amigos que tentaram outras vias mais “concretas”, até mesmo se internando em fazendas evangélicas que praticavam verdadeiras atrocidades psicológicas. Outros entraram em “grupos de aconselhamento” e outros ainda tentaram a via do exorcismo.

Graças a Deus (olhem a ironia), eu me livrei de tudo isso, nunca cheguei a esses extremos e, liberto, hoje sou feliz com minha sexualidade – mas de todos os que vi se declararem “ex-gays”, sempre foi essa a minha percepção. Na verdade, eles nunca deixavam de ser gays, ou seja, de sentir atração por homens. Recorrendo a expedientes de repressão psicológica ou de matriz religiosa, deixavam de praticar o sexo com os homens e, em nome de suas convicções, seguiam uma vida de comportamento heterossexual, tendo, porém, de se policiarem contra o sexo gay como um alcoólatra em tratamento: “não se pode dar o primeiro gole”.

A questão que se impõe é... Se um alcoólatra que não bebe mais pode ser chamado de “ex-alcoólatra”, por que um gay que não transa mais com homens não pode ser chamado de “ex-gay”? Em que pese o fato de que já vi alcoólatras dizendo que não existe “ex-alcoólatra” – você sempre será um, ou seja, terá aquele problema com o álcool, o que muda é se está sóbrio e abstêmio ou não –, eu responderia que a questão é de conceito.

Por má informação, ou má-fé, boa parte da população não compreende que o conceito de orientação sexual está ligado ao desejo, tomado em sua acepção ampla e ao longo da vida. Orientação tem esse nome porque indica a quem o desejo sexual, incluindo sua face afetiva, está orientado, dirigido, direcionado, e é ISSO que define se a pessoa é hétero, homo, bi ou pan, não o sexo da pessoa que está ao lado na cama.

Em suma, como costumo explicar, eu faço sexo com homens porque sou gay – não sou gay porque faço sexo com homens. Da mesma forma, um homem hétero faz sexo com mulheres por ser homem hétero, de antemão – não é pelo fato de praticar essa modalidade de sexo que ele se torna hétero.

O ato sexual-genital é, portanto, o resultado possível e provável da orientação sexual, não sua causa: o desejo antecede o ato. Tendo isso em vista, se o desejo da pessoa está orientado para o mesmo sexo, ela é homossexual, ou gay – independentemente de concretizar esse desejo mediante relações sexuais ou não. Gays (como héteros, bis e pans), portanto, podem ser celibatários, abstêmios e até mesmo se relacionarem com pessoa de sexo diverso. Também podem ser virgens – e isso é relevante, porque, se o que definisse a orientação sexual fosse o ato, e não o desejo, qualquer pessoa que ainda não tivesse transado não seria “nada”, não teria orientação sexual, o que é efetivamente um absurdo.

Trazendo isso para o que estamos discutindo aqui, então, o “ex-gay” não é “ex-“ porque o desejo pelo mesmo sexo fatalmente estará ainda, ou sempre, como admitiu a Exodus, presente. Não é por ter uma mulher e filhos com ela que, por isso, ele deixou de ser gay: basta apenas que o desejo pelo mesmo sexo esteja lá, como parte integrante da personalidade – e a verdade nua é crua é que, se você tem de lutar continuamente para não ceder a uma determinada vontade, ou para reprimi-la, a lógica impõe a realidade de que essa vontade existe, em primeiro lugar.

A descoberta de que essa “vontade” está lá não costuma ser um processo fácil, mesmo para aqueles que não são religiosos. Vivemos em uma sociedade homofóbica, em que destoar do padrão “homem com mulher” equivale a sofrer pressões e repreensões, enfrentar preconceitos – inclusive os nossos próprios – e até mesmo atos de violência. Diante disso, não chega a ser inesperado que o gay que recentemente se descobriu assim anseie “por se tornar hétero”, porque, afinal, quem quer passar por sofrimentos?

A constatação dessa realidade faz com que muitos na igreja, e fora dela, acreditem assim que possibilitar “tratamentos”, espirituais ou não, para permitir à pessoa alcançar essa meta é uma demonstração de caridade e piedade humana – e, alguns, nutridos desse ideal de compaixão, chegam a apoiar teses como a do recente projeto de Decreto Legislativo que quer derrubar a proibição de psicólogos oferecerem tratamentos objetivando a “cura da homossexualidade”, em discussão no Congresso.

Existem, porém, outras três verdades nuas e cruas. Uma delas é que a ciência – que deve pautar a ação do psicólogo enquanto profissional – já tentou a via da “cura”, sem sucesso, conforme demonstram bastantes evidências, que se acumulam de décadas atrás até hoje. A segunda é que esses tratamentos, e incluo aqui os espirituais, costumam mais piorar do que melhorar a psique das pessoas. Reprimir um desejo legítimo não acontece sem se pagar um preço – e não é difícil imaginar quão pode ser difícil e tensa uma vida em que o policiamento contra uma força tão legítima e primária é a regra.

A terceira verdade nua e crua é que basta arranhar a superfície para saber que não é a homossexualidade o problema, mas a homofobia: se a sociedade facilitasse a vida dos gays, em vez de os recriminar, se os pais deixassem o amor por seus filhos falarem mais alto, quem negaria que, em vez de tentarem “virar héteros”, tantos gays não tentariam viver uma vida plena a harmônica com sua sexualidade, sem sofrerem perseguição por causa disso?

No entanto, quero aqui falar o segundo ponto, o preço por viver uma vida reprimindo um desejo. Para isso, vou retomar o primeiro parágrafo: por que é uma enganação que as igrejas e os cristãos defendam que é possível ser “ex-gay”? Porque, além de ser, no mínimo, questionável falar em “ex-“, diante dos conceitos esclarecidos até aqui, muitas vezes, esses mesmos cristãos e suas igrejas não sabem, e nem mesmo fazem questão de saber, do preço que pagam essas pessoas.

A história de uma conhecida minha, que me motivou a escrever este artigo, não será revelada em detalhes, a fim de manter intacta sua privacidade e seu sofrimento. Basta saber que, depois de ter se casado e ver sua vida sexual com o marido com quem tivera filhos decrescer em qualidade por um certo período de tempo, pelo qual ela culpava a si mesma, descobriu que seu marido a traiu com outro rapaz. Os personagens são evangélicos.

Não se pode negar o sofrimento por que ela passou e tem passado, embora tenha tido a grandeza de enxergar nisso uma libertação: não era “culpa” dela, afinal – e, aqui, a tendência dos moralistas de plantão é enxergar no ex-marido um pulha, que não soube honrar o casamento e destruiu a família com as próprias mãos.

Uma análise mais aprofundada, no entanto, mostra que essa é uma situação em que não existem verdadeiros vilões. Criado em uma família evangélica e extremamente conservadora, o marido – de quem sempre desconfiei graças a meu “gaydar” –, certamente não teve uma vida mais fácil, ainda mais diante dos olhos de quem, como eu, descobriu na própria carne como é difícil se perceber gay e ser evangélico.

Como terá sido a vida desse moço, obrigado a recusar a si mesmo o benefício de procurar uma vida mais completa condizente com seu desejo, em nome de estar fazendo o que “Deus queria”? E como deve estar sendo essa situação, ao ter percebido que, pelo fato de o desejo, por tanto tempo reprimido, ter cobrado a fatura que ele não conseguiu pagar, ter magoado tantas pessoas ao mesmo tempo, inclusive a mulher que certamente amou (sim, porque há muitos casos de gays que foram casados com mulheres que efetivamente amaram suas esposas, até por existir, nos ensinam os gregos, mais de um tipo de amor)?

Agora, não haverá ninguém, especialmente em sua igreja, para ver seu lado e apoiá-lo. Desprezado por todos, culpando a si próprio e sozinho, ele ainda poderá enfrentar a ira evangélica e da família, se descobrirem a realidade dos fatos, por ter cedido aos “desejos de Satanás”, quando Satã não tem nada a ver com a história. O que há aqui, para quem, como eu, já está mais do que escolado, são seres humanos às voltas com suas escolhas, algumas delas indevidas frente ao desejo e sua própria natureza, e uma religião patentemente insensível a essas demandas, que prefere o sofrimento calado de um homem para manter as aparências e dogmas do que propiciar a esse ser humano uma alternativa de harmonizar sua sexualidade e seu sentimento religioso. Será que ele é mesmo o pulha?

Na minha concepção, se minha conhecida poderá se recuperar com certa velocidade do baque – quem sabe, encontrando outro homem que a faça feliz e a deseje sexualmente de verdade –, a situação do marido é bem mais complicada, e, se ele não tiver ajuda para se libertar dos dogmas religiosos, pode piorá-la, envolvendo-se em “tratamentos”. Quem sabe, caindo em intensa depressão, não tente uma alternativa ainda mais “concreta”, que poderia atender pelo nome de drogas ou suicídio...

Essa verdade nua e crua e feia é só uma das que se escondem por trás das histórias dos “ex-gays”, mas, convenientemente, muitos pastores e suas igrejas fazem questão de não abordá-la em seus cultos evangelísticos transmitidos nas televisões de concessão pública. Quem conhece esse lado somos nós, outros gays, que pouco temos voz, e estamos igualmente sozinhos, procurando ajudar aqueles que passaram por martírios que, às vezes, nós também já experimentamos.

Certamente, o marido será apresentado como um “falso crente”, quando a única coisa falsa aqui é o dogma religioso e sua promessa de “ex-homossexualidade”, ou ainda, a falsa promessa de que a felicidade real só se encontra em um casamento hétero, “de acordo com a vontade de Deus”.

A história que acabo de relatar me fez lembrar de outra, talvez o primeiro caso de “ex-gay” com quem tive contato, quando eu contava com cerca de 18 anos. Francisco era o nome dele, gay efeminado que costumava ir a certa praça em minha cidade “caçar”, como eu à época, companhias masculinas.

Soube por amigos em comum que Francisco se convertera à CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL e, após se submeter a “aconselhamentos” e sessões que beiravam o exorcismo, estava noivo de uma mulher da igreja. Tentei argumentar com ele, mas diante de sua convicção inabalável, não me restou alternativa a não ser me resignar – apenas para, cerca de nove meses depois, reencontrar Francisco, já casado, novamente procurando companhias masculinas no mesmo lugar.

Uma conversa foi bastante reveladora. Deprimido, ele argumentou ter tentado de tudo, sem sucesso, e que “esse negócio de cura não existia”. “Pois é”, respondi eu, “mas agora você envolveu outra pessoa, que está em casa te esperando. Como é que fica?”. “Como é que fica”, pergunto eu, se, numa dessas, ele sofresse uma violência, ou se, tomado de intenso e cego desejo, descuidasse de sua proteção e pegasse algo e o transmitisse à mulher?

Novamente, veríamos o Francisco como o vilão, que enganou a todos... Mas será que não foi ele o enganado? E será que não foram os fiéis da igreja os enganados? Quem duvida de que Francisco foi apresentado como um caso de “restauração pelo poder de Deus”, por “ter sido gay” e agora estar casado? Talvez ele fizesse até uma ponta no programa de Silas Malafaia – e, no entanto, novamente, somos nós, outros gays, que temos de lidar com esse lado escuro e feio do que as igrejas gostam de mostrar em seus shows evangélicos.

Francisco e o ex-marido de minha conhecida não eram e não são pessoas de má índole, como certamente não o são suas mulheres. Podem ter “errado”, se considerarmos “erro” a “traição” sem levar em conta seus motivos – operação esta que eu, particularmente, considero o verdadeiro erro –, mas eram humanos devotos, convictos da ação do evangelho em suas vidas e de seguirem o desejo de Deus.

Só nos resta perguntar que Deus é esse, que deseja e prefere a mentira em vez da verdade, a aparência em vez da harmonia, a traição em vez da cumplicidade, o dogma em vez da felicidade, o sofrimento em vez da plenitude, como se a homossexualidade fosse um erro, em vez de uma via possível para se estar bem consigo mesmo... Um Deus que prefere ver um “ex-gay” sofredor e em uma luta inglória a um gay feliz, arrastando junto ao primeiro uma família inteira. Se é esse o Deus que a igreja acredita, lamento: o meu não é assim – e ainda me perguntam por que eu decidi abandonar os templos, enquanto outros querem restaurar a “cura gay” psicológica via canetada no Congresso...

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Digam ao Marcos Feliciano como surgiu o HIV de fato

"AIDS é câncer gay", diz deputado-pastor Marcos Feliciano




Por João Marinho  
Fotos: Reprodução 
 21/09/2012 às 14h55


Parece que o deputado-pastor Marcos Feliciano (PSC-SP) ainda não se "curou" de sua obsessão pelos homossexuais. Depois de escrever que estaríamos armando uma "ditadura gay" no País e gostaríamos de expulsar Deus do Brasil e de ajudar a promover uma audiência pública sobre a "cura" da homossexualidade, Feliciano voltou à baila, dessa vez para ecoar os anos 80 e chamar a AIDS de "câncer gay" - e responsabilizar os homossexuais pela doença.

A ultrajante acusação se deu durante discurso proferido durante o congresso dos Gideões Missionários. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (20) em um artigo do deputado gay Jean Wyllys (PSOL-RJ) para o site Brasil247.

Para Wyllys, a "doentia obsessão" de Feliciano mostra "o nível de ódio que o discurso dos fundamentalistas religiosos vem atingindo e o perigo que eles podem representar para a nossa democracia se os poderes públicos (executivo, legislativo e judiciário) não tomarem as devidas providências".

Sem papas na língua - ou nos dedos -, o deputado do PSOL retratou com palavras duras a participação do Pr. Feliciano no citado congresso: "Como um psicótico em surto, com direito a lágrimas em momentos estratégicos e trilha sonora caótica que evoca urgência e dramaticidade [...], o discurso de Feliciano seria de apavorar qualquer pessoa que não seja de coragem. Com seu proselitismo hipócrita, ele tem, como única missão - em seu discurso assim como na Câmara dos Deputados - atacar as religiões minoritárias e a cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT)".

Wyllys também argumenta que o parlamentar evangélico suprime informações sobre a AIDS, como a mudança no perfil dos infectados: "Desde o surgimento da AIDS na década de 80, o perfil dos infectados se modificou drasticamente, há muito tempo deixando de ser uma doença restrita aos LGBTs e passando a atingir cada vez mais jovens, mulheres e idosos heterossexuais. As mulheres respondem por 48% das novas infecções e os jovens com idades variando entre 15 e 24 anos, por 42%. Somente entre 2000 e 2010, o percentual de pessoas com mais de 60 anos infectadas, subiu 150%", escreveu.

A manifestação de Wyllys gerou uma resposta de Marcos Feliciano em sua conta noTwitter. "A sexualidade libertina, como forma de expressão, pode gerar DST/Aids e alguns militantes pregam essa liberdade essa é minha indignação", escreveu o evangélico. "AIDS: A doença apareceu desde 1977 em homossexuais por transmissão sexual, depois através de usuários de drogas e se espalhou pelo mundo", continua Feliciano. "A história da AIDS começou sim com homossexuais, isto é fato e ninguém pode negar é história e ponto final. Hoje independente da história é caso de saúde pública, portanto de todos nós, e pode contaminar a todos. AIDS é um câncer social", finalizou.

Questão histórica

Da parte deste repórter que vos escreve, deve-se dizer que talvez falte clareza histórica ao deputado-pastor Marcos Feliciano e, por isso, cabem alguns esclarecimentos:

1. Em primeiro lugar, não é verdade que a AIDS apareceu em 1977. O caso de positividade para o HIV mais antigo conhecido é de 1959, de um homem da cidade de Kinshasa, na hoje República Democrática do Congo. Outra amostra bastante antiga é de uma mulher da mesma cidade, morta em 1960. A teoria mais aceita é que a origem do HIV é o SIV - vírus da imunodeficiência símia -, que migrou de dois grupos de chimpanzés - um resultou no HIV-1 e outro no HIV-2 - para os seres humanos e sofreu mutação, segundo estudo publicado em 2008 na revista Nature.

2. O mesmo estudo apontou que o vírus começou a se espalhar pelo continente africano durante os anos 60 - mas o HIV seria bem mais antigo que isso. A pesquisa sobre as duas amostras mais antigas do vírus, de 1960 e 1959, indicou que elas provieram de um mesmo hospedeiro humano, que teria vivido entre 1884 e 1924. O HIV teria, muito provavelmente, surgido em 1908 - contando, portanto, com mais de 100 anos de existência. Embora seja uma "teoria da conspiração" bastante conhecida, o contato do SIV com o organismo humano na África que originou o HIV não se deu por sexo entre humanos e chimpanzés, mas provavelmente por um hábito bastante disseminado na região, que é o de caçar e comer carne de símios. Posteriormente, fatores histórico-culturais desencadearam a epidemia africana via contato sexual e/ou por uso de drogas.

3. Em artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, também foi traçada a rota do HIV: depois de ter nascido na África no começo do século 20 e se espalhado pelo continente em meados dos anos 60, chegou ao Haiti por volta de 1966, provavelmente trazido nos organismos de trabalhadores haitianos contratados pela atual República Democrática do Congo. Do Haiti, passou para os Estados Unidos, provavelmente em torno de 1969, por meio de um único portador.

4. Uma vez nos Estados Unidos, o vírus se espalhou em território americano e daí para o mundo. Em 1981, foram diagnosticados os primeiros casos a partir de um surto de sarcoma de Kaposi - e a comunidade gay e de usuário de drogas foram as primeiras impactadas. A nova doença recebeu por isso o nome de GRID - gay-related immune deficiency (ou imunodeficiência relacionada aos gays). Na sequência, como todos sabemos, houve a descoberta do causador da nova doença em 1983 (o HIV), esta foi rebatizada como AIDS e, progressivamente, houve a expansão da pandemia para outros grupos populacionais.

5. No entanto, conforme indicam as mudanças nos perfis de atingidos pela AIDS informadas por Jean Wyllys, mas também seu próprio histórico como relatado em 1, 2, 3 e 4, mesmo considerando o alto impacto que a pandemia teve - e ainda tem - na comunidade homossexual, o vírus não apenas não escolhe orientação sexual para ser transmitido, como dizer que a AIDS é "responsabilidade dos homossexuais" é uma incorreção histórica. A AIDS é uma zoonose, como tantas outras que a humanidade conheceu - impossíveis de serem totalmente evitadas, dado nosso contato com animais e o consumo de carne - que surgiu casualmente e por infelicidade. Seu causador, o HIV, calhou de ser transmitido por via sexual, assim como outros vírus são transmitidos pelo toque ou pelo ar.

Conclusão

Resumindo, portanto, AIDS não é "câncer" de ninguém, não é "culpa" de ninguém e nem tem relação íntima com "libertinagem" ou "promiscuidade", uma vez que também não é o número de vezes que se pratica o sexo que define quem poderá ter HIV ou não.

Embora se saiba que a redução de parceiros contribua para diminuir o risco de adquirir o HIV, isso se dá por um motivo simples: reduzem-se as chances pelas quais o vírus pode adentrar o organismo, uma vez que a principal via é a sexual, da mesma forma que estar em um lugar arejado reduz as chances de pegar tuberculose. O uso da camisinha aí se insere, uma vez que ela evita a infecção por impedir o contato com fluidos sexuais.

Não deriva daí, porém, que haja "condenação" em transar com muitas pessoas ou várias vezes, já que basta apenas uma para que o vírus se instale. A questão, portanto, é meramente estatística - e não moral.

Finalmente, é preciso considerar que os soropositivos são pessoas plenas de direito e respeito, que não estão sendo "punidas" por qualquer comportamento. Apenas encontraram o vírus em determinado momento de suas vidas. Discursos como o de Marcos Feliciano não apenas atacam os gays, mas também essas pessoas, que não precisam que ninguém torne suas vidas mais difíceis.


Fonte: A Capa (reproduzido integralmente aqui)

MINHA OPINIÃO: O BRASIL NÃO SERÁ DO "SENHOR JESUS" - por João Marinho

MINHA OPINIÃO:
O BRASIL NÃO SERÁ DO "SENHOR JESUS"




A respeito da entrevista com o teólogo Paulo Ayres Mattos (link da notícia do blog de Paulo Lopes abaixo com link para a entrevista em si), devo dizer que concordo com suas ponderações. A questão religiosa é dinâmica. Muitos consideram que o crescimento evangélico no Brasil vai levar a uma teocracia, onde eles mandarão e desmandarão de acordo com os dogmas mais conservadores.

Apesar de todas as dificuldades que eles têm imposto ao Estado laico, não acredito que chegarão, porém, a uma hegemonia tal que possibilite isso. As mudanças no mundo ocidental têm imposto que, com o crescimento, vem a diversificação. E, com a diversificação, vem a possibilidade de privatização da fé e de individualização dos dogmas. E, vale dizer, isso é mais forte como consequência entre evangélicos, pois o protestantismo é essencialmente fragmentário (há até vertentes protestantes que têm assumido bandeiras teologicamente não tradicionais no que diz respeito a reprodução e sexualidade).

De certa forma, é bem isso que aconteceu e tem acontecido com a Igreja Católica de umas décadas para cá. Existia uma maioria católica histórica no Brasil que seguia cegamente os dogmas católicos. Mas, à medida que cresce a diversificação, a privatização, a individualização e a própria religião começa a se fragmentar em opções para os diferentes gostos - como a própria Icar tem feito - abre-se a porta para a formação de personagens "exóticos" que combinam vários elementos religiosos, se sentem confortáveis em discordar do dogma tradicional, e, ainda assim, se consideram parte de uma religião em específico.

É o caso do católico que se considera católico, mas apoia a união civil homossexual, frequenta centros de mesa branca de vez em quando, não tem problemas em dar uma sapeada em uma campanha evangélica por emprego e usa camisinha com a namorada - a despeito de tudo isso ser contra a pauta católica tradicional. Com um número grande de adeptos, é mais difícil controlar o que cada um faz.

Nesse sentido, também entendo o maior conforto no surgimento de figuras como os "evangélicos sem igreja" e até a maior "saída do armário" dos ateus, agnósticos e sem religião. Você pode esperar que, em breve, aparecerá uma figura desconhecida no Brasil até agora, mas que dará as caras: o evangélico não praticante.

Claro que nem tudo é um mar de rosas. Durante o crescimento, os pentecostais acumulam força política e podem influenciar determinadas condutas do Estado, especialmente quando em conluio com outras forças conservadoras. Daí, o "apagão" de políticos pró-homossexuais no governo Dilma.

No entanto, com o aumento da diversificação, com a renovação de gerações e com a reação de outros setores religiosos e arreligiosos (ninguém cresce sem formar "inimigos"), de um lado, perde-se o ímpeto de crescimento, de outro, aumenta-se o caldo religioso que possibilita a formação dos "tipos exóticos" e, por fim, chega-se ao limite máximo de crescimento, vindo a seguir uma estagnação e um encolhimento até surgir outro movimento religioso que inflame a população.

Assim, não deixa de ser notório que, embora tenham cada vez mais tentando influenciar questões públicas relacionadas à saúde, educação e sexualidade e até conseguindo inflingir certas derrotas, os pentecostais e fundamentalistas evangélicos não têm conseguido impor um RETROCESSO qualitativo ao que já se conquistou, mas, com mais frequência, um ATRASO na evolução/aprovação das pautas mais progressistas. Comparativamente, do final dos anos 80/início dos anos 90 para cá, se nos ativermos ao cenário gay, a comparação mostra que houve um processo evolutivo: gays têm mais direitos e garantias hoje do que antes. Foi o mesmo período em que os pentecostais cresceram e entraram na política e, até o momento, eles fizeram essas pautas andarem mais devagar - mas não retroagirem.

Dentro disso, o cenário que considero mais provável no Brasil possa ser semelhante ao dos Estados Unidos, embora com menos força, já que, nos EUA, o processo é mais antigo, em que há uma constante medição de forças entre os lados progressistas e fundamentalistas na política, com vitória para um e para outro, mas, no cômputo geral, com progressismo das pautas. Isso deve se fazer sentir ainda mais conforme, no movimento de "exotismo" a que falei, a população começa a se distanciar dos dogmas tradicionais e fazer suas próprias escolhas "privativas" e, conforme mostrou o teólogo, haja um aumento das escolhas racionais não mágicas. Nos EUA, dos 4 estados que votarão a união gay em plebiscito em novembro, pela primeira vez, a expectativa, dada pelas pesquisas, é que todos a aprovem, em vez de bani-la.

Evidentemente, não podemos, porém, esperar sentados. É preciso que os setores progressistas, religiosos ou não, arreligiosos e até ateístas se articulem, para que essa condição se torne o menos difícil possível de ser enfrentada e diminuam o poder de fogo do fundamentalismo mais rápido a médio prazo.


Por João Marinho

GAYS HOMOFÓBICOS - excelente texto de João Marinho

João Marinho, jornalista e autor do texto



GAYS HOMOFÓBICOS


Já devo ter dito que não dou apoio à "tese" de que homofobia é coisa de gay enrustido. Embora haja duas pesquisas que apontam isso, elas apontam hipóteses – e autolimitadas ao público e cultura estudados (faixa etária, localidade, etc.), segundo os próprios pesquisadores, e aos algoritmos que selecionaram alguns dos vários tipos de homofobia.

Politicamente e realisticamente, o discurso é também perigoso. Joga nas costas dos gays a culpa pelo próprio preconceito que sofrem e pelas agressões de que são vítimas, não explica a homofobia que parte das mulheres, despreza os inúmeros fatores culturais e religiosos que dão suporte à ideologia homofóbica e isenta, por tabela, os heterossexuais de toda e qualquer responsabilidade, como se fossem todos anjos de candura e inofensivos.

Isso simplesmente não procede.

No entanto, existe uma verdade inconveniente que, por sinal, ajuda também a mostrar o quanto essa "tese" é falha: existem gays homofóbicos, alguns dos quais abraçaram, ainda que de forma enviesada, a sua sexualidade. Em suma, "enrustimento" e homofobia não andam lado a lado.

Deixemos, porém, essa questão para outro momento, pois quero me centrar nessas "estranhas figuras". Os gays homofóbicos. Você sabe qual é o discurso que eles têm?

IGUAIS E DIFERENTES


Basicamente, é o mesmo dos não gays homofóbicos. Como em outras realidades de homofobia, há níveis e, no máximo, "atenua-se" alguma coisa. No entanto, o substrato é igual.

Entre os gays homofóbicos que são mais radicais, e geralmente e inicialmente direcionam a homofobia para si próprios, os argumentos vão de que a homossexualidade é antinatural e até os religiosos, como o de "não ser de Deus" à "teoria" de que é fruto da influência de algum demônio.

Esses vão acabar buscando "se curar" ou "se livrar" da homossexualidade – e aí vão lotar os consultórios de Marisa Lobo & Cia. ou programas da Exodus e entidades semelhantes de "ex-gays".

Esses gays mais radicais e homofóbicos vão também a cultos de libertação, a "aconselhamentos", a sessões de exorcismo e vão até se casar e ter filhos, tudo na busca para "sair" daquilo, ou "controlar" – e nem é raro que vejam o casamento como uma "tábua de salvação".

Muitas mulheres, especialmente as religiosas, apoiam essas ideias – e não ficam sabendo que, como o desejo é difícil de ser reprimido, fatalmente, mais tarde, buscarão homens, vivendo uma realidade dupla e infeliz.

Num segundo momento, eles se voltam contra os gays assumidos e felizes. Para eles, soa absurda essa opção: todos os gays deveriam, como eles, "buscar o bom caminho" e procurar se "converter" à heterossexualidade e à norma hétero de vivência afetivo-sexual, qualquer que seja ela.

Nessa fase, também não é incomum começarem a adotar outros discursos do opressor, como criticar a vida gay por ser "promíscua", "não gerar filhos", "ser cheia de álcool e drogas", culpar os gays por terem pegado HIV e disseminado a aids, etc. – tudo para justificar por que a homossexualidade é uma "vida desgraçada" a não ser seguida.

MORALISMO


Existe também outro tipo de gay homofóbico bastante comum. Esse é o que até adota a sua sexualidade. Na minha experiência, acaba sendo um dos desdobramentos dos mais radicais, mas com outra solução. Se mantivermos essa tese, são aqueles que, depois de um tempo, não buscam mais o processo de cura, reversão – e admitem se relacionar com homens, mesmo que na vida dupla que mencionei mais atrás.

No entanto, não demora a vir a homofobia, de forma mais velada, num discurso conservador.

Terminantemente no armário, esses gays criticam os que dali saem e "expõem sua sexualidade". Dizem que "não é necessário se assumir" (porque, afinal, "héteros não se assumem"), que "contar pra família só trará desgosto", que beijar em público é "desrespeitar idosos", que fazer carinho na frente de crianças "pode influenciá-las e não deve ser feito", que exibir casais gays na tevê é "desrespeitar a família" e daí por diante.

Inclusive, apoiam os não gays homofóbicos e os gays do primeiro tipo com esse mesmo discurso. Chegam até mesmo a achar que "movimento gay é besteira" e que "casamento deve ser mesmo só entre homem e mulher".

Fatalmente, desse discurso deriva uma veia moralista. Aí, passam a criticar a parada gay porque é "orgia a céu aberto", gays mais femininos "porque não é porque é gay que é para ser mulher".

Detestam as drags, "que só trazem vergonha", e também as travestis "porque elas não se aceitam e querem ser o que não nasceram para ser". Também detestam "o meio gay" (seja lá que sentido deem à expressão), que, para eles, "só tem p*taria". SE topam um relacionamento, tem de ser um namoro tipicamente moralista, porque se consideram "diferentes" dos "outros gays, que só pensam em sexo".

CULPA DA VÍTIMA

A rigor, o que há de comum, na verdade, é associar a homossexualidade a algo necessariamente negativo ou indesejável. Pode ser desde uma doença até um problema espiritual, de algo antinatural até motivo de vergonha (e "com razão") para os pais.

Para além disso, há uma crítica a qualquer comportamento gay que soe como uma liberação e exposição do que deve ser, irremediavelmente, vivido por baixo dos panos para não "desrespeitar" ninguém (leiam-se: héteros homofóbicos).

A coisa é tão séria que há até os que põem nas vítimas de agressão homofóbica a culpa por serem agredidas... Porque, "se fossem discretas" ou se "não transassem com qualquer um", "nada disso aconteceria".

Você já conheceu algum gay desses dois tipos? Se sim, acenda seu alerta. Ele é um gay que não conseguiu deixar a homofobia cultural e social de lado.

Republicanos criam associação para defender casamento gay nos EUA

Acredite se quiser: Republicanos criam associação para defender casamento gay nos EUA


Por João Marinho em 26/07/2012 às 18h01




Quando se pensa no Partido Republicano, dos Estados Unidos, a primeira imagem que vêm à mente é de políticos e eleitores conservadores, de tendência cristã, que se posicionam contra pautas mais progressistas, especialmente o casamento gay. Afinal, o próprio candidato do partido à presidência, Mitt Romney, confere com esse perfil.

No entanto, um grupo de republicanos parece estar engajado em mudar essa imagem, ou, pelo menos, em se posicionar contra as tendências homofóbicas que parecem reger a maior parte dos membros do partido.

Os Republicans United for Marriage (Republicanos Unidos para o Matrimônio) foi fundado nesta segunda-feira (23), no estado americano do Maine para - vejam só! - apoiar o casamento gay.

O anúncio da criação do grupo foi feito em uma coletiva de imprensa convocada pelas organizações Mainers United for Marriage e American Civil Liberties Union, que defendem o casamento igualitário no estado.

Os Republicans United nasceram pequenos, com cerca de 20 membros, mas sonham grande - e prometem ajudar na aprovação do casamento gay no Maine, bem como pressionar os demais republicanos "de dentro", para que mudem sua opinião quanto ao matrimônio entre pessoas de mesmo sexo.

"Votei contra o casamento entre pessoas de mesmo sexo no ano de 2009, mas mudei de opinião. Conheço alguns gays, conversei com eles e com minha família e tenho pensado muito sobre isso. Como marido e pai, concluí que duas pessoas que se amam deveriam ter a liberdade de se casar", disse Stacey Fitts, um dos membros do Partido Republicano que criaram a nova organização.

Em novembro, durante as eleições presidenciais americanas, os eleitores do Maine também votarão se o casamento gay deve ser liberado ou não no estado. Em 2009, o "não" venceu.

Eleitores de outros três estados farão o mesmo. Em Maryland e Washington, eles dirão se revogam as leis de casamento igualitário aprovadas por deputados e senadores. Pesquisas realizadas entre maio e junho em ambos os estados mostram que a maioria da população é a favor do casamento gay: 51% a 42% em Washington e 57% a 37% em Maryland, onde os negros puxaram o "sim" após o apoio público do presidente Barack Obama.

Em Minnesota, a pergunta é se a constituição estadual deve receber uma emenda que bane o casamento gay. Em pesquisa realizada em junho, 49% da população acha que não, contra 43% que acredita que ela seja necessária.

Já no Maine, uma pesquisa encomendada pelo Portland Press Heralde divulgada este mês mostrou que a população tem mudado de opinião, com 57% a favor do casamento gay contra 35% que se opõe. O estado é o único em que a iniciativa de levar a pergunta ao crivo das urnas partiu dos apoiadores do casamento igualitário.

Relato do jornalista João Marinho sobre ser gay

Não é fácil ser gay, mas eu ainda escolheria!


Meu amigo Marco Antonyo colocou num grupo esta pergunta, questionando: se você pudesse escolher, porém, escolheria ser gay? Procurei responder e deu quase uma biografia. Ficou enorme, mas espero que vocês leiam e curtam, pois são pedaços bastante pessoais de minha experiência...





Eu não escolhi ser gay, e ser gay definitivamente não é fácil. Não quero me fazer de vítima, mas uma verdade que certa vez ouvi sempre me soou evidente: outros grupos que sofrem preconceito, como negros, judeus, ciganos, encontram apoio entre os seus. Se você é judeu, mesmo que se depare com antissemitas fora de casa, encontrará apoio e força entre outros judeus. Se você é negro, mesmo que se depare com um racista, encontrará conforto e consolo na sua família negra. No entanto, isso é válido, a rigor, se você é hétero... Porque se você for judeu e gay, negro e gay, cigano e gay... Ou ainda branco e gay, pardo e gay... Muitas vezes, será dentro da sua própria família e da sua própria casa que você primeiro enfrentará o preconceito.

Por causa disso, quando somos mais jovens, e nisso eu me incluo, existe um medo visceral de que nossas famílias “descubram”. Conforme amadurecemos e vamos conhecendo outros gays, as histórias que ouvimos ou presenciamos também não ajudam. São pais que tratam seus filhos como doentes e chegam a separar talheres, irmãos que socam o outro por causa da homossexualidade, família que expulsa de casa ou que obriga a fazer “tratamento” com pseudopsicólogos, gente que leva à igreja para fazer exorcismo, coloca a cruz embaixo do travesseiro para libertar a alma – e eu não estou falando disso como simples elementos discursivos, porque conheço pessoalmente exemplos de gays e lésbicas que sofreram esse tipo de abuso por parte de suas famílias. Muitos são amigos meus, e creio que vocês deverão entender eu não citá-los nominalmente, pois são histórias pessoais e muito dolorosas.

Eu tive uma certa sorte. Minha família nunca chegou a esses extremos – mas não quer dizer que tenha sido fácil. Comecei a perceber a minha atração por outros meninos, de forma declaradamente sexual, já nos meus 12, 13 anos de idade, no comecinho da puberdade. Se, porém, fizer um restrospecto de desde quando me interesso pelo sexo masculino, a resposta recairá em fases tão precoces quanto aos 9, quando já me encontrava “apaixonadinho” pelo ator Lauro Corona, que faleceu em 1989, ou... Aos 5, quando eu me recordo de que já sentia um imenso prazer numa brincadeira que um vizinho mais velho, de cerca de 30, fazia comigo: ele me deitava no chão e pisava de leve em mim, fazendo cócegas. Era uma brincadeira masculina, inocente para ele, mas, para mim, as coisas eram diferentes... Tanto que, aos 7, quando fazia judô, já gostava de ser derrubado pelos outros meninos e pelo professor. Não preciso dizer que minha carreira no esporte foi assaz curta. Afinal, o objetivo é derrubar o oponente, e não ser derrubado por ele e senti-lo por cima rs.

O que muitos não sabem é que eu “nasci” no meio evangélico, apenas com exceção de meu pai, e fui criado na igreja. Frequentava-a desde que consigo me lembrar: aos 5 anos, já estava eu na classe dos “Cordeirinhos”, na escola dominical. Aos 12, eu tinha me convertido durante a pregação de um convidado estrangeiro na Igreja Batista Central de Guarulhos. Aos 14, na Igreja Batista Bíblica de Vila São Jorge, eu me batizei.

Como vocês devem supor, descobrir-me gay com todos aqueles hormônios da puberdade e frequentando a igreja foi uma verdadeira provação. Existia muita culpa, e eu simplesmente não tinha com quem conversar a respeito. Minha família era evangélica e adotaria uma visão certamente proibitiva e de condenação, pensava eu – e como podia ser diferente, se eu mesmo me recriminava? Os amigos, cada vez mais interessados nas mulheres e formas femininas, dificilmente entenderiam eu preferir pernas peludas e vozes grossas a seios e bumbuns salientes. Como explicar que eu gostava mais de olhar as pernas do Fábio em vez dos peitos da Simone, superdesenvolvidos para a idade? E, vamos combinar, não tinham suficiente maturidade para me ajudar. Tínhamos a mesma faixa etária, afinal. Por isso, para todos os efeitos, eu era “hétero” para todo mundo, embora ninguém soubesse da existência dessa palavra na época, assim como “gay” ou “homossexual”. Só tínhamos uma ideia do que era ser “bicha” e do que era não ser – e era algo bem ruim. Ninguém queria ser a bichinha da turma. Pensando hoje, uma triste tradição que os pais ensinam a seus filhos.

Aos 12 anos, eu tive acesso, por acaso, ao primeiro material pornográfico de que me lembro: revistas de sexo. Depois, filmes pornôs. Todos héteros. Eles também me causavam culpa, afinal eu era evangélico, mas eu continuei consultando-os. Sim, me masturbava com eles, mas algo sempre foi claro para mim: numa cena hétero, eu sempre achei que o papel feminino era mais legal. Nas minhas fantasias masturbativas, era na posição feminina, de ser penetrado, que eu gostava de me imaginar, embora não com o corpo feminino. Acho que sempre fui passivo, né? Rs.

Por uma época, nessa fase, até cheguei a ter coleção de fotos de mulheres peladas, que eu recortava de revistas. Não tinha internet na época, e minha coleção era uma das maiores. Outros amigos meus tinham semelhantes. Eu me masturbava com essas fotos também, mas sinceramente não sei dizer se era por atração pelas mulheres ou se simplesmente “seguia o rebanho” (no caso, meus amigos), porque não me recordo de já ter me imaginado efetivamente transando com uma delas: minha imaginação evocava as cenas dos filmes pornôs, nas quais a posição feminina e os gemidos delas eram bem mais legais de vivenciar.

Minha coleção de mulheres peladas chegou ao fim por causa de um homem de shorts – e aí eu já deveria ter meus 13 ou 14 anos. Era um anúncio numa revista de turismo, de uma bicicleta ergométrica. O rapaz da foto, de regata e shorts, pernas peludas e braços bem torneados, simplesmente se sentava na bicicleta e fazia propaganda do produto, mas aquela foto foi um marco para mim. Ela trabalhou de tal forma a minha libido que depois simplesmente não consegui usar nenhuma das fotos de mulheres para meus momentos de prazer solitário. Era impossível, até mesmo para fazer a operação triangular de evocar as cenas dos filmes pornôs. Só conseguia usar o modelo de shorts e regata. Joguei a coleção fora.

À medida que, com essas experiências, cada vez mais eu descobria que curtia meninos, a situação ia ficando mais complexa. Até a 6ª série, eu estudava em escola particular. A partir da 7ª, mudei para uma escola pública, onde a média de idade era maior. Ver meninos mais altos e mais desenvolvidos apenas acentuou a questão – e, embora eu tivesse uma boa relação com a maioria, alguns, talvez por perceberem algo que eu ainda nem tinha concluído, já faziam “brincadeiras”, piadinhas, etc. no que hoje as pessoas chamariam de bullying. Isso não tornava nada mais fácil.

Lembro que, na época, eu, que sempre fui estudioso, comecei a procurar informações onde podia. Minha irmã cinco anos mais velha tinha uma coleção que, se não me engano, ganhara dos meus pais, um dicionário de Sexo, contendo vários verbetes espalhados em fascículos com capa dura azul. A linguagem era similar às dos livros escolares, e enfocava o aspecto biológico da coisa, mas serviu para tirar muitas dúvidas que surgiam na época, e eu compartilhava as informações com meus amigos.

Também encontrei na estante da sala livros de orientação psicológica e, em alguns deles, encontrei, afinal, informações sobre homossexualidade – ou “homossexualismo”, que era a palavra que usavam. Infelizmente, por serem livros antigos, da década de 60, o assunto era tratado como desvio, algo que hoje a psicologia não defende mais. Claro que eu não sabia disso na época: então, se estava escrito que era desvio, era desvio. Eu, que já me sentia mal por ter aqueles desejos incompatíveis com a religião e destoante dos meus amigos, ainda era um desviado. Que péssimo!

Um dos livros, porém, dizia que interesse pelo mesmo sexo podia acontecer durante a puberdade como uma confusão causada pela admiração que a pessoa tinha por um amigo mais velho. Não era que a pessoa era homossexual e não se casaria com o sexo oposto na vida adulta – e eu achava que ia casar. Já tinha até escolhido os nomes dos meus cinco filhos. Era algo transitório e passava. Assumi aquela explicação como minha. Eu não tinha nenhum amigo mais velho, mas dane-se. ERA aquilo e IA passar.

Claro que não passou. Aí, eu acabei me tornando mais fechado, pelo menos, até o término do ensino fundamental. Além disso, eu era feio, hehehe. Não ia “pegar ninguém” mesmo. No entanto, aos 16 anos, as coisas começaram a mudar. Fui ganhando mais corpo, em parte devido à natação que eu então praticava, as espinhas foram rareando e aí fui ficando mais apresentável. Nessa idade, recebi a minha primeira cantada – de outro homem, um gordinho chamado Wagner que me seguiu de carro. Foi um tanto traumatizante porque eu pensei que fosse bandido, algo assim. No entanto, depois de passado o susto, até que gostei. Peguei até o telefone! Só não liguei...

O Wagner foi o primeiro, e a partir daí outros também vieram. Com o tempo, comecei a gostar daquela atenção, mas eu só provocava. Ir até o fim, jamais. Já me sentia culpado pelos desejos homos – e, nessa época, eu já tinha tido contato com as passagens condenatórias bíblicas, o que me deixava ainda pior. Pelo menos, pensava eu, enquanto não transasse, não ia para o inferno. Essa fase coincidiu com muita oração de libertação, quase diária. Lembravam as orações antimasturbação que eu fazia (era pecado também, né?), que sempre vinham acompanhadas de datas que eu marcava para não me masturbar mais – e sempre falhava.

As mudanças físicas dos meus 16 anos, quando eu já estava no ensino médio, também coincidiram com mudanças comportamentais. Eu fui me tornando progressivamente mais extrovertido – exceto por um assunto: mulheres, como me lembrou meu amigo Wellington anos mais tarde. Era tal o bloqueio que, ao contrário de boa parte dos meus conhecidos, eu não tinha beijado NINGUÉM até aquela idade. Essa característica fez com que meus amigos então começassem a desconfiar da minha sexualidade, embora fizessem o favor de nada comentar: favor que prezei especialmente após terem me dito, anos depois, que uma menina da sala de aula, quando eu já estava no segundo ano do ensino médio, estava “na minha”, mas eu jamais dera o aguardado e esperado passo que outros rapazes teriam dado. Os bullyings também se tornaram mais raros, mas, por dentro, minha crise estava cada vez mais aguda, porque os desejos estavam cada vez mais fortes.

Então, aliada à extroversão, vinha uma depressão, que, normalmente, eu vivia em casa. Virei um Frankenstein adolescente. Fora, com os amigos “do mundo” (como se diz no jargão evangélico, para identificar quem não é), eu era extrovertido e bem-humorado, mas totalmente bloqueado sempre que o assunto namoro, relacionamento e mulheres aparecia, embora pudesse discursar sobre o sexo horas a fio, desde que na abordagem científica da questão, um resquício dos estudos que eu fiz e fazia, como contei mais atrás, e que faziam meus amigos tirarem dúvidas comigo. Em casa, às vezes, me entregava a um choro sem explicações para minha família. Eu dizia que eram as estrias de crescimento, algumas que surgiram na minha pele. Ainda as tenho, e havia um quê de verdade para um adolescente vaidoso, mas, claro que não era só isso. Nem era a maior parte da verdade... Na igreja, quando a fé vinha mais forte, eu me tornava mais tímido e fechado, de maneira que quem me conhecesse na igreja dificilmente me reconheceria no colégio. Na rua, se os homens me cantavam, me sentia bem em provocá-los.

No fim das contas, eu estava me tornando um gay, evangélico, carregado de culpas por todos os lados, com dificuldades de me relacionar afetivamente, deprimido e com múltiplas personalidades. Era muito para quem ainda era adolescente e tinha de lidar com os hormônios e todas as dúvidas típicas da idade. Mais do que tudo, eu não queria ser gay: minha visão era de que gays eram pessoas que viviam à noite, em becos, não tinham família ou amigos e tinham de se esgueirar pelos cantos, em lugares sujos. Aquela imagem dos becos nova-iorquinos, com fumacinha e tudo, era recorrente na minha mente. Não por acaso, fiz tentativas de flertar com a heterossexualidade.

Na 7ª série, anos antes, aos 13, a primeira. Havia uma menina na igreja de quem eu me sentia próximo e resolvi escrever-lhe uma carta e entregar na casa dela, para flertar com ela. Pedi ajuda para meu melhor amigo, o Wellington (de novo!), que me acompanhou, mas, por vergonha, acabou me deixando sozinho lá na “hora H”. Pensando hoje, foi engraçado... Mas, na hora, bem embaraçoso – e a carta não funcionou. Sei, hoje refletindo, que estava apenas indo na onda de meus amigos de então. Os meninos estavam começando a se interessar pelas meninas tanto na igreja quanto na escola, e eu queria “experimentar” aquilo, ter experiências, digamos, normais. Afinal, eu queria ser “normal”, e nada mais natural que tentar fazer o que todos faziam. No entanto, eu realmente estava interessado nela, de beijá-la, abraçá-la, ficar com ela? Não. Gostava dela como amiga, e apenas procurava me convencer de que era como qualquer outro menino e deixar de ser “virgem de boca”: é a dura verdade. Mesma lógica ocorreria um ano depois, quando tentei, também sem sucesso, abraçar outra na escola.

Mais uma tentativa se deu aos 18 anos. Havia um pequeno bordel perto de minha casa, numa rua do centro de Guarulhos onde também havia um cinema pornô. Mais maduro, eu já praticamente não tinha dúvidas do que eu era e do que realmente gostava, mas resolvi, assim mesmo, tirar a prova dos nove. Entrei, pedi um suco de abacaxi (totalmente inexperiente, não?) e chamei atenção de uma gordinha, que se esfregou em mim, rebolando e se insinuando. Praticamente, saí correndo: definitivamente não era de mulher que eu gostava. Minha irmã, anos depois, chegou a dizer que a questão é que se tratava de uma gordinha... Mas, como, em minha vida sexual, depois de tudo isso que estou contando, eu fiquei com gordinhOs sem problema algum, demonstrei a ela que, definitivamente, não era o peso o problema.

Seja como for, fiquei “virgem de boca” e totalmente travado nessa questão até os 18 anos. Embora estivesse me tornando progressivamente mais bonito (ou menos feio rs), não conseguia passar a barreira sexual que tinha erguido, e o medo do inferno me consumia. Até que, aos 18 anos, eu tive minha primeira relação homo. Minha iniciação se deu em duas vezes. Em uma, fiz sexo oral (antes de ter dado o primeiro beijo!) e foi um tanto quanto traumatizante, pois o homem estava bêbado. A culpa foi avassaladora, e, com medo de doenças, fiz trocentos exames que pedi a um farmacêutico amigo com contatos. Passei meses assexuado, mas pelo menos descobri que meu tipo sanguíneo é O+ rs.

A segunda vez foi com um homem casado de 25 anos chamado Walison. Ele estava de passagem por Guarulhos, e eu apenas o vi aquela única vez. Com ele, sim, tive o pacote completo. Afinal, dei meu primeiro beijo e entreguei a virgindade num terreno baldio. A culpa evangélica ali também apareceu e quase estragou tudo. Walison quase desistiu porque eu estava “mais frio que uma geladeira”. Foi essa a expressão, dado meu travamento. Lembro que olhei para a lua, pedi perdão a Deus, mas não deixei a oportunidade passar. Para espanto dele, depois contei que era virgem – e foi uma delícia.

Daí em diante, foi mais fácil me relacionar com outros homens. Sempre na surdina, sempre escondido, sempre à noite e sempre com medo – e com culpa depois. Maior do que antes, porque eu tinha dado o passo fatal. Agora, eu tinha transado: ia mesmo pro inferno, e, por algum tempo, eu tentei separar minhas vidas: a gay, proibida, e a não-gay, na igreja e em outros espaços.

Evidentemente, não deu muito certo e, na igreja, sobretudo, num processo que começou quando os desejos homossexuais foram ficando mais fortes, eu vestia cada vez mais a carapuça de conservador. De certa forma, era uma maneira de eu procurar me purgar de meus próprios pecados. Hoje, acredito firmemente que, quando alguém é conservador demais, reacionário e moralista, é porque ali tem. Existe algo na pessoa que, para se livrar, somente ela indo aos extremos para conter. Como a pessoa que tem mania de limpeza por ter um prazer incomum com a ideia de sujeira, prazer que ela rejeita. É tão forte o impulso, que só tendo mania de limpeza para contê-lo. O problema era ter consciência disso e ainda se sentir hipócrita e piorar a culpa...

Minhas primeiras experiências gays foram seguidas de aconselhamento. Já não conseguia mais guardar aquilo só para mim. Chamei um homem que entregava marmitas na empresa em que eu trabalhava e com quem havia tido uma identificação e me confessei com ele. Contei que tinha transado com homem, entre lágrimas. Ele era adventista, e, embora tivesse tentado me confortar, me orientou a continuar orando.

A segunda pessoa a quem pedi ajuda foi o pastor da minha igreja, o Heralto. Eu não lhe disse com todas as letras o que acontecia, mas, para um bom entendedor, meia palavra basta. Ele captou qual era o problema, foi bastante compreensivo até, de uma forma que eu não imaginava, mas também me aconselhou a orar e buscar a orientação de Deus. Era algo complicado porque, afinal, o que eu vinha fazendo todos aqueles anos, senão exatamente aquilo? E nada mudava...

No entanto, houve algo de muito bom nessa história toda. A partir de certo momento, eu simplesmente não podia acreditar que as coisas podiam ser tão injustas. Eu era um bom filho, afinal. Vivia tudo aquilo escondido, para “poupar minha família”, e era um bom amigo. Tinha me convertido, procurava seguir a Palavra de Deus e sofria quando não conseguia – transando com homens, por exemplo. Meu arrependimento era sincero. Por que Deus me mandaria para o inferno mesmo assim?

Passei a acreditar que as coisas não podiam ser tão horríveis. Haveria de existir algo, uma tradução incorreta, que dissesse que meu destino não eram as chamas e a danação. Adicionalmente, tive a sorte de ir conhecendo outros gays e vi que, como eu, eram pessoas que trabalhavam, estudavam, tinham famílias... Muitos namoravam, e eram devotados àqueles que amavam. Viviam durante o dia. Nada de becos noturnos esfumaçados...

Essa nova convicção me fez me aprofundar na história da Bíblia, do cristianismo e na psicologia. Antes que eu pudesse perceber, acabei por descobrir detalhes nada convenientes de como tudo acontecera na religião – e que os livros de psicologia da década de 60 estavam desatualizados. Em pouco tempo, aquela pesquisa toda me fez começar a questionar os fundamentos de minha fé.

O resultado foi dramático. Embora, por muito tempo, ainda escondesse tudo de minha família, a culpa foi desanuviando. Eu me tornei uma pessoa mais compreensiva, menos conservadora, julgava menos os outros e até mais feminista. Certa vez, quando participávamos de um campeonato musical entre as igrejas batistas de Guarulhos, nosso compositor foi flagrado bebendo cerveja. Tivemos de fazer uma reunião do grupo musical, porque uma das regras era que todos estivessem em comunhão e frequentando suas igrejas. Na reunião, eu disse, a respeito do Davi, que todos tínhamos nossos pecados – e a única diferença era que o dele havia sido descoberto.

O resto é história. Eu fui me afastando da igreja e, aos 21 anos, quando me apaixonei, houve o golpe de misericórdia. Afinal, Deus era amor – e não fazia sentido que algo tão puro, belo e, afinal, divino, nascesse daquilo que a igreja considerava tão sujo e pecaminoso. Meu afastamento me levou a ser questionado frente a uma Comissão de Ética e à União de Jovens. Falei dos meus questionamentos teológicos, ainda que sem detalhá-los, e, no fim, resultei desligado da igreja.

A verdade, porém, é que me orgulho muito desse novo João, pós-evangélico, que tem sido apurado ao longo dos anos. Ninguém é perfeito, e eu tenho ainda muito a ser aprendido e a ser consertado, mas, mesmo que tenha sido tão difícil me descobrir gay e ainda tenha de enfrentar preconceitos e dificuldades aqui e ali por causa disso e que tenha sido trabalhosa a revelação da minha homossexualidade para minha família anos depois, eu sou hoje uma versão de mim mesmo muito melhor do que era antes.

Existem gays que têm mau caráter, são falsos, mentirosos e hipócritas. Até bandidos, assim como muitos héteros e bis. Não é a orientação sexual, afinal, que define isso. No entanto, no meu caso particular (e só meu), eu credito a ela a razão de ser quem eu sou hoje e das qualidades minhas de que mais me orgulho.

Foi minha homossexualidade que me impulsionou ao questionamento, aos livros, à busca de informação, a compreender o próximo, a deixar o conservadorismo para trás, a ser mais flexível e a pensar duas vezes antes de julgar o outro só porque é diferente. Foi ela que me deu o impulso para procurar me corrigir quando percebo se agi assim. Foi ela que me fez experimentar o amor por duas vezes e saber que pessoas rancorosas como um Silas Malafaia da vida estão erradas – e foi ela que estava por trás de uma nova concepção de divindade que invadiu minha vida. Menos castigadora, menos punitiva e mais amiga, com quem, por sinal, me relaciono muito bem hoje em dia.

Cada um faz o uso que quer de sua característica que a natureza lhe dá. Eu fiz esse, e é por isso que me orgulho de ser gay. Não pelo fato de transar com homem em si, ou de devotar a eles meu desejo – mas pelo fato de que essa característica, no fim das contas, me fez ser uma pessoa melhor. Então, apesar de tudo que passei, eu escolheria ser gay, sim. Além do mais, preciso confessar: é gostoso à beça!


João Marinho

Revista Sex Boys também apresenta o livro "Em Busca de Mim Mesmo" de Sergio Viula



Essa é a capa da Sex Boys que está nas bancas nesse mês de janeiro de 2011. A revista, entre outras delícias, apresenta o meu livro "Em Busca de Mim Mesmo". Está aí um bom pretexto para quem não reconhece que gosta de revista com nudez ou sexo. Você pode dizer que comprou só para saber do livro... E a gente faz de conta que acredita. kkkk

Agradeço ao jornalista João Marinho e à revista Sex Boys que estão me dando esse apoio. É a segunda vez que a revista apresenta algo meu. A primeira foi logo depois que dei entrevista à revista Época em 2004. Aquela foi a primeira entrevista da história da revista Sex Boys. Senti-me honrado.

A capa que você viu acima está nas bancas nesse mês de janeiro de 2011. É só procurar. ;)

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Confira: https://www.amazon.com.br/Busca-Mim-Mesmo-Sergio-Viula-ebook/dp/B00ATT2VRM

Entre Homens - Deus e o Diabo na Terra dos Gays


DEUS E O DIABO NA TERRA DOS GAYS

Para os evangélicos tradicionais, está bem claro: Deus não aprova a homossexualidade. Para os reacionários e fanáticos, como os da Igreja Batista de Westboro, Deus vai além e realmente nos odeia.

Para ambos os grupos, e para judeus, católicos e islâmicos conservadores, a verdade é uma só: a Bíblia, a Torá, ou o Alcorão condenam as relações sexuais e amorosas entre iguais. Mesmo adeptos de religiões que não seguem esses livros, como os hindus, acreditam na tese de que a homossexualidade é “antinatural” e, portanto, condenada por uma série de divindades.

SERÁ?

O Espaço Entre Homens discute, no próximo dia 08/03/2010 o tema:


RELIGIÕES GAY-FRIENDLY

> Igrejas cristãs inclusivas, umbanda, candomblé, budismo, paganismo, wicca, espiritismo...: as religiões, vertentes e divindades que aceitam a presença de membros gays e não condenam sua orientação sexual;

> O impacto das visões pró-gays nas religiões tradicionais e conservadoras: dos quarks aos anglicanos, no que as abordagens inclusivas mudam práticas, sentimentos e doutrinas;

> A homofobia religiosa: os religiosos conservadores e reacionários e seu impacto no atraso na consecução de direitos de LGBTs – e como combatê-los “de dentro” dos templos;

> Fé e sexualidade: como é a vivência do fiel homossexual nas religiões em que é aceito e a importância de uma sexualidade sem condenações;

> Sexo e polêmica: quais as interpretações, as regras e as proibições que afetam o sexo gay nas religiões friendly;

Isso e muito mais! Com a presença já confirmada de pastores inclusivos e adeptos da umbanda, do espiritismo, do budismo... E, claro, ateístas!

E mais: A lista de convidados confirmados está aumentando – tudo para mostrar que ser gay não significa necessariamente abrir mão de uma vida espiritual.

QUANDO

Segunda-feira, 08/03/10, 19h30
* Parabéns a todas as mulheres pelo seu dia

ONDE

UpGrade Club
Rua Santa Isabel, 198 - São Paulo, SP, perto do Metrô República.
Travessa da Amaral Gurgel, uma depois da Marquês de Itu
Telefone: (11) 3337-2028. Mapa e mais sobre o clube: www.upgradeclub.com.br
* tocar a campainha para entrar | o bar estará aberto para os presentes

QUEM

Gays, bissexuais, travestis, transexuais, HSH, lésbicas, heterossexuais: todos e todas que têm fé religiosa – ou não têm – e se interessam pelos temas de sexualidade, religião, história e espiritualidade.

Sobre o Entre Homens

Gerenciado por Murilo Sarno, o Espaço Entre Homens visa a refletir, numa roda de conversa livre e espontânea, temas relacionados ao universo gay masculino.

Contato para a imprensa:

João Marinho - MTB 42048/SP
Tels.: +55 11 9775-8893, 3217-2640

jm@joaomarinho.jor.br

Fique de olho nas próximas reuniões!

22/03: prostituição masculina;
05/04: inversão sexual;
19/04: sessão de cinema!

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