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Ano que vem faço 20 anos fora do armário! 🌈

Por Sergio Viula


Andre e eu no ano de 2016



Pasmem, mas ainda existe muita gente que fica no armário por medo da opinião de fulano ou de sicrano.

Ao mesmo tempo que as pessoas falam sobre sua sexualidade cada vez mais cedo, é impressionante ver como existem outras que ainda hesitam, mesmo sendo maduras e financeiramente autossuficientes. Algumas moram sozinhas ou têm condições de viver em seu próprio canto se preciso for, mas mesmo assim ainda relutam em tomar as rédeas de sua própria vida. A troco de quê? – pergunto eu.

Ao longo desses 19 anos fora do armário (completos em 2022), já pude ouvir muitos relatos de pessoas na condição de “armarizadas”. Já encorajei muitas dessas pessoas, especialmente homens, a tomarem as devidas providências para que possam finalmente dizer “I am what I am, and what I am needs no excuses” (Sou o que sou, e o que eu sou não precisa de desculpas).



Curiosamente, mulheres parecem não ficar tão à vontade para conversar com um homem sobre seus problemas nessa área, mas um número considerável de homens já me procurou por causa de alguma entrevista publicada comigo ou alguma postagem feita por mim a respeito da minha trajetória para fora do armário. Muitos deles são pessoas com algum background religioso, principalmente evangélico. Ouvi-los falar sobre seus dramas existenciais por causa da crença religiosa é algo que me comove e enfurece ao mesmo tempo, mas vê-los desprenderem-se de tudo isso provoca em mim uma sensação deliciosa de triunfo e de alívio!

Você pode ler mais sobre minha jornada rumo à emancipação sexual aqui: EM BUSCA DE MIM MESMO (https://www.amazon.com.br/Busca-Mim-Mesmo-Sergio-Viula-ebook/dp/B00ATT2VRM).

Para a minha alegria e para a felicidade desses homens, muitos deles fizeram seu próprio trajeto para fora do armário e voltaram para me contar. Alguns se tornaram amigos e me proporcionaram a oportunidade de ver seu crescimento e amadurecimento emocional e afetivo, inclusive, assumindo relacionamentos estáveis publicamente.

Viver autenticamente o seu amor tem um sabor totalmente diferente de viver entre as sombras das masmorras da homofobia internalizada através da instilação continua de preconceito por parte da família, da igreja e de vários outros dispositivos de controle social, inclusive a escola.




Faz 19 anos que eu me livrei desse lixo tóxico produzido por homofóbicos de todos os tipos, sendo o pior deles aquele que utiliza pretextos de cunho religioso. Ano que vem, farei duas décadas fora do armário - uma data que há de ser devidamente comemorada. Alegro-me em dizer que já ultrapassei o tempo que passei dentro do sistema religioso fundamentalista. Foram 18 anos de evangelicalismo atropelados por 19 anos de liberdade cognitivo-afetiva, emocional, sexual e financeira. Não escondo o orgulho que sinto por ter feito esse movimento não só para fora do armário, mas também para fora de toda e qualquer crendice, sem a ajuda de um único ser humano.

Pelo contrário, as pessoas ligadas à igreja e à família me desestimulavam de seguir adiante. As pessoas que faziam parte da comunidade LGBT ou do movimento que leva o seu nome achavam que isso era bom demais para ser verdade. A única pessoa que se aproximou de mim para ouvir o que eu tinha a dizer (depois da minha entrevista à revista Época no final de 2004) foi Toni Reis. Ele me permitiu expor o que eu pensava e pretendia dali em diante para ele sua equipe de trabalho. Foi um encontro agradável, mas isso foi tudo. Ele também comprou dois exemplares do meu livro. Dali em diante, eu continuava travando minhas próprias batalhas para me estabilizar financeiramente e emocionalmente, mesmo cercado por um turbilhão de gente do contra.

Da minha família, as únicas exceções em termos de acolhimento na prática foram a minha avó Maria Jerônima (falecida anos depois da minha saída do armário) e minha tia Maria Eliza (filha dela). Essas duas pessoas queridas foram minhas parceiras e me apoiaram na prática, não apenas com palavras ao vento. Era amor de verdade em ação.


Minha avó Maria Jerônima 
e meu avô João Viula,
imigrantes portugueses. 
Ele faleceu com 57 anos 
e ela com quase 90.


Quem hoje vê minha família unida comigo e com meu amor Andre não imagina o que eu passei até que eles finalmente entendessem o que tudo isso significava. Eles não conseguiam pensar para além do que foram doutrinados. Durante quatro anos, eu não troquei uma palavra com eles e nem os visitei ou recebi a visita deles. Somente depois que eles reconheceram que estavam errados em seu modo preconceituoso de agir comigo, e me disseram isso face a face, e com todas as letras, é que eu voltei a me relacionar com eles. Desde então, as coisas só melhoraram.


Andre, meu filho, eu, minha mãe e meu pai.
31 de dezembro de 2021 (réveillion 2022)



Meus pais cresceram muito, mas muito mesmo. Isso não teria acontecido se eu ficasse, como muitos fazem, mendigando amor e atenção, apesar de ser tratado com pessoa de terceira categoria. E detalhe: eu pegava meus filhos toda semana para passar o sábado comigo, e nem assim baixei a cabeça para a homofobia deles ou de quem quer que fosse. Eu jamais deitaria para ser pisado por babacas de qualquer espécie, principalmente se fossem do meu sangue.

Hoje, meus filhos são adultos. Até neta, eu já tenho (Veja o Diário de um avô colorido - https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2021/04/bebe-bordo-diario-de-um-avo-colorido.html). E quando lembro de alguns daqueles idiotas evangélicos dizendo "Como é que vai ficar a cabeça dos filhos dele?", eu só penso: A deles vai muito bem, obrigado, já a de vocês continua a mesma bosta que sempre foi.


Foto que eu publiquei em 2020.



E daí? A vida seguiu em frente! Apesar de todos os obstáculos que eu tive que enfrentar, eu fiz exatamente o que eu queria, e o fiz com ética e honra, ensinando meus filhos, por palavras e atos, a serem honestos, corajosos e autênticos. O resultado é esse aí que vocês veem se me acompanham por aqui ou pelas redes sociais.

Será que a gente pode fazer tudo certo e tudo dar errado? Claro que sim. É besteira pensar que controlamos o fluxo do devir. Se tivesse dado tudo errado, apesar de eu ter feito a coisa certa, eu ainda poderia me alegrar por ter feito justamente isso: A coisa certa.

Mas, olhando ao redor, a pergunta que fica é a seguinte: Posso dizer que estou colhendo bons frutos da minha semeadura? Sem dúvida alguma que sim. E quero viver para desfrutar cada um desses momentos especiais. Por isso, faço o possível para me manter saudável e viver tudo o que puder viver hoje e daqui em diante – tudo com tranquilidade, nada de correria como se mundo acabasse amanhã para mim. Se acabar, terei feito tudo o que eu queria hoje, inclusive NADA. Como é bom fazer simplesmente NADA! Claro que não é possível fazer nada o tempo todo, e nem seria saudável, mas quando a gente pode se dar a esse luxo, para que inventar problema?


Réveillon 2022 em nossa casa.


Quando alguém me pergunta se eu sinto saudade dos meus tempos na igreja, eu respondo com uma pergunta: "Que peixe, em bom estado mental, sentiria saudade do anzol, ainda que o tenha mordido por engano, seduzido por uma isca que lhe parecesse absolutamente suculenta?"

A ficção de um deus que cuida de tudo e que está muito interessado em mim não dá nem para a saída. Ela pode parecer uma isca imperdível, mas não passa de um pretexto para fisgar a mente dos que nunca conseguem se tornar donos de si mesmos. Essas pessoas estão sempre procurando alguém a quem possam se submeter. Tolice maquiada de piedade.

Agora, imaginem as ficções sobre uma suposta vida eterna ou castigo eterno... Imaginem as primitivas e precárias ideias de pecado e salvação... Nada disso passaria pelo mais superficial exame racional. Se as pessoas usassem sua capacidade crítico-analítica para averiguar essas coisas, elas se sentiriam ridículas por terem crido nelas um dia.

Além disso, esse sistema de crenças, assim como muitos outros, acaba funcionando como o peso de um cadáver a ser carregado pela vida a fora por gente que poderia investir sua energia em coisas que realmente fizessem valer a pena viver – e digo viver no sentido mais pleno possível da palavra LIBERDADE.

A desculpa de que a religião exerce algum papel para além de controle, exploração e utilização do capital humano que se submete a ela também não passa pela peneira da experiência. Não há coisa alguma que a religião ofereça que não possa ser obtida por outros meios. Ela também não pode oferecer nada de real e útil que já não tenhamos. Repito: Não há coisa alguma que a religião possa fazer por nós que não possamos fazer sozinhos como espécie humana. Religião, qualquer que seja ela, é uma verdadeira inutilidade supervalorizada pelo mero hábito da repetição sem análise crítica. Ela gosta de posar como aquilo que parece estar acima de qualquer questionamento, mas seus pretextos não dão nem para a saída. As pessoas embarcam naquela ideia de que deve estar certo, porque todo mundo na minha bolha social diz e faz a mesma coisa, mas isso só revela a tendência para o comportamento de rebanho por parte de muitos. E se a gente pensa em rebanho, acaba pensando em pastor, pelo menos no contexto religioso.

Todavia, não existe coisa mais estúpida do que a ideia de bom pastor. Toda ovelha é, para qualquer pastor, seja ele zeloso, descuidado ou cruel, a mesma coisa: Fonte de ganho. Tudo o que o pastor quer enquanto a alimenta é tosquiar sua lã ou desossar sua deliciosa carne. No primeiro caso, ela vive para servir à indústria da lã. O pastor é seu principal elo na cadeia de produção. No segundo caso, ela paga com a própria vida pelo almoço daqueles que a alimentaram tão cuidadosamente apenas para conseguirem alguns quilos de carne a mais na balança do matadouro.


Nunca foi bondade...


Não existe essa tolice de bom pastor. Existem pessoas ingênuas (burras seria mais apropriado) que se submetem à falsa sensação de que estão sendo cuidadas, quando, na verdade, estão sendo controladas ou exploradas de uma maneira ou de outra. Manter o lobo longe do aprisco não é um ato de bondade do pastor, mas a única forma de garantir que a lã e a carne da ovelha tola e gorducha serão dele e não de outro. A competição das igrejas por membros é uma bela demonstração disso.

Se você se orgulha de ser ovelha de fulano ou de sicrano ou mesmo de Jesus, deixe esse fictício aprisco e tudo o que tiver a ver com ele para trás. O aprisco é para a ovelha o mesmo que o corredor da morte é para o condenado à cadeira elétrica - só uma forma de mantê-la sob controle até o momento de sua execução. A diferença é que o condenado que aguarda no corredor da morte não trabalha para seus executores, já a ovelha no suposto aprisco de Cristo entrega seu precioso tempo, energia e recursos financeiros a vida inteira até finalmente encontrar o destino de todos os mortais – o finamento. Enquanto isso, assim como o condenado que aguarda no corredor da morte, o humano que se diz ovelha vê apenas uma fração do que acontece do lado de fora do seu cercadinho sem ter vivido uma série de experiências deliciosas, positivas e construtivas longe do domínio desses manipuladores de mentes e castradores de existências.

Seja honesto consigo mesmo(a): Para que se submeter à liderança supostamente espiritual ou moral de quem quer que seja?

Cresça!


Como me livrei dos crentes "resgatadores de desviados"?

Por Sergio Viula




Quando saí do armário (adoro essa expressão!), no final de 2003, tive que enfrentar muitas situações absolutamente novas para mim. E não há cartilha que garanta uma jornada tranquila na vida, seja lá qual for o destino desejado, tive que ir construindo o caminho no próprio ato de caminhar. A única coisa certa, garantida, inegociável na minha cabeça era que eu nunca abandonaria meus filhos. Eles tinham 11 anos (a minha filha) e 9 anos (o meu filho). Nunca houve uma dúvida sequer de que eu faria qualquer coisa por eles.

Na verdade, ficar sem conviver diariamente com eles era a minha maior dor durante a separação, mas eu sabia que ela seria compensada de alguma forma pelos momentos que passaríamos juntos nos dias combinados dali para frente. Estava disposto a fazer o melhor que eu pudesse para que esse tempo fosse sempre lindo e inesquecível. E tem sido até hoje. Só que faz tempo que não tem dia marcado. ^^ Sou pai de dois adultos agora.

Claro que quando eu saí do armário, houve todo tipo de reação. Mas, nem todas as pessoas que eu conheço fizeram o jogo do "deixa disso", "volta para a igreja", "volta para Jesus", etc. Alguns parentes, amigos e vizinhos entenderam muito bem o que eu estava fazendo e nem se surpreenderam tanto, pois que já sabiam que eu era gay antes mesmo que eu dissesse. Essas pessoas se mostraram muito mais nobres. Todavia, no meu círculo mais íntimo, não foi tão simples assim.

Mas, eu tenho uma característica. Se tentarem me impedir de fazer algo que eu sei que é lícito e meu direito, eu enfrento o que for preciso para atingir meu alvo.

Assim, enfrentei tudo e todos que se puseram no meu caminho e segui adiante. Foi bem difícil começar tudo do zero. Alugar uma casa, comprar tudo o que eu precisava colocar dentro dela, arrumar um novo emprego - o anterior estava cheio de gente crente que conviveu comigo ainda como pastor.

A minha maior preocupação, todavia, era que eu tinha dois filhos pequenos para sustentar. E, apesar do dinheiro ser muito curto, eu nunca falhei com eles.

Sem a menor sombra de dúvida, nenhuma angústia gerada por tantos desafios ao mesmo tempo se comparava à alegria de finalmente poder ser e agir de acordo com a minha razão e com as minhas emoções, sem submetê-las a qualquer ditame heterossexista e/ou homofóbico, fossem os já conhecidos na família e na igreja ou fossem outros em formatos ainda desconhecidos por mim.

Por ter focado mais na alegria de estar livre desses ditames, em vez de pensar somente nas dores que os desafios ainda me impunham, fico perplexo até hoje quando vejo pessoas preferindo a aparente segurança de cadeias existenciais às variadas possibilidades de existência que a libertação de tudo isso nos permite.

Vejo muitas pessoas emaranhadas até os olhos no arame farpado da homofobia de seu círculo religioso. E tudo isso por causa da homofobia internalizada ou do medo que sentem da opinião alheia. Opinão de quem? De um bando de mortais que nem sabem conduzir a própria vida e ainda querem te ensinar a conduzir a sua? Isso é tão estúpido que nem sei como pude viver assim durante tanto tempo.

Alguns têm medo de dar de cara com um crente desses no meio da rua, caso se afastem desse círculo tóxico. Desde que eu saí do armário, nunca tive esse medo. Pelo contrário, já vi crente atravessando a rua para não ter que falar comigo. Sabe qual era a minha reação? Riso. É risível a fragilidade das crenças que essa gente considera tão vital.

Não que eu desejasse a companhia de gente diposta a me "infernizar" o juízo, mas eu não tinha nada a temer. Não fiquei devendo nada a eles. Claro que sempre houve um punhado de crentes que continuaram sendo cordiais comigo. Há alguns que eu prezo muito, inclusive, os quais me alegro em ver quando eventualmente visitamos meus pais ao mesmo tempo. Meus pais são crentes e continuam frequentando a primeira igreja que eu frequentei. Mas, esses definitivamente não fazem (pelo menos comigo) aquela famigerada linha "pentelhos ganhadores de almas".

Mas não foi sempre assim. No ínicio, os "resgatadores de desviados" vinham à minha casa. Nada surpreendente. Quantas vezes eu mesmo visitei enfermos, pessoas ausentes dos cultos ou assumidamente afastadas da igreja? Era de se esperar que eles fizessem pelo menos uma ou duas tentativas comigo também.

Na verdade, as coisas começaram a complicar para eles quando perceberam que eu não era nenhum coitadinho pedindo ajuda, que eu não era nenhum desviado com medinho de não ser arrebatado, que eu não tinha nenhum medo do que eles falavam sobre castigo ou inferno e também nenhum desejo de recompensas num céu tão imaginário quanto o inferno que o contrapõe. Na verdade, não acreditava mais em nada disso. E quando eles se deram conta de que eu não tinha a menor intenção de ganhar o mundo ou o céu, porque eu já tinha a mim mesmo, eles desistiram. Em vez deles me "desconfundirem" - pois, achavam que eu estava confuso -, eles é que saiam da minha casa com a cabeça cheia de pergutnas sem respostas. Afinal, o dogma não suporta escrutínio, não se sustenta diante da menor investigação destemida.

Sabem quantos crentes batem na minha porta hoje? Zero.

Sabem quantos tentam me levar de volta para igreja? Zero.

Sabem o que acontece quando algum desses crentes me encontra na rua? Eles não conseguem esconder a admiração por me verem bem: "Sergio, como você está bem! Quanto tempo! Você está ótimo." O que esses caras esperavam - que eu estivesse arrastando minha própria carcaça sob altas doses de algum calmante por causa de suas infantis pregações de um inferno que só existe na imaginação deles? "Ô, coitados..." - como diria Filó.



Filó: "Ô, coitado..."


Medo de quê?

Quando abordado por gente desagradável, você tem três opções: fingir que não viu, dar uma resposta torta ou simplesmente colocar a figura no bolso com toda educação, mas sem curvar a cabeça um milímetro sequer para sua idiotice.

Fico admirado com a capacidade do cérebro em ignorar a dor que sente ao viver aprisionado nessa teia de dogmas homofóbicos. Muita gente acredita que romper com tudo isso poderá causar sofrimento. Mas, minha gente, sofrimento é o que vocês têm vivido desde que se conhecem por gente, e tudo por causa dessas crenças detratoras de individualidades que atormentam todo e qualquer ser humano que ouse deixar os trilhos dessa mortífera ignorância.

Na verdade, essas crenças, pessoas e instituições, que parecem tão assustadoras para quem ainda lhes dá credito, perdem automaticamente seu poder quando você deixa de creditar-lhes o poder que você acha que elas têm por si mesmas ou que foi supostamente conferido por algum deus. Não! O poder que elas têm sobre você é somente o poder que você mesmo atribui a elas. O espaço que elas ocupam em sua vida é somente o espaço que você mesmo concede a elas sempre que pensa em coisas como: "O que vai dizer o pastor fulano?" ou "O que vão dizer os irmãos beltranos?"

A realidade é que quem pede licença para ser fiel a si mesmo será sempre escravo dos outros, a menos que rompa com esse padrão e assuma as rédeas de sua própria existência.

Quanto a mim, não serei escravo de ninguém. Já basta ter que me submeter a quatro "elementos" fundamentais para continuar vivo: comida, água, sono e oxigênio. Isso sem contar a dependência de vários órgãos cujas funções são vitais para a manutenção da vida. Não vai ser nenhum transformador de verdura em esterco ou de oxigênio em gás carbônico que vai me dizer quem eu sou ou como eu devo viver. E aqui, eu me refiro a esses patrulhadores da afetividade alheia.

É claro que eu me submeto àquilo que é racionalmente justificado e construído na mutalidade das nossas micro e macro sociedades. Mas, não há justificativa racional para dizer a uma pessoa gay que ela tem que ser heterossexual ou que ela é inferior a qualquer outra em função de sua sexualidade. Isso deve ser subvertido, não acatado.

Eu sou o que sou!

Atribuíram essa frase a um entre muitos outros deuses. Grande coisa! Qualquer um pode colocar na boca de qualquer ente imaginário palavras que ele nunca seria capaz de dizer. Mas a minha voz, seja em sua sonoridade natural ou na minha escrita, pode ser ouvida e conferida. Não preciso de porta-vozes, porque eu existo e me movimento pelo mundo. Não sou fruto da imaginação primitiva de ninguém.

Na verdade, todos somos o que somos, mesmo quando dizemos que somos outra coisa. E essa ruptura entre o real e o idealizado só causa problemas.

Hoje, eu posso dizer "Eu sou o que sou" sem reservas. Sou o que entendo de mim mesmo em todo lugar, seja em casa, no trabalho, na universidade, na fila do mercado. Não preciso e não admito me esconder de ninguém. Minhas redes sociais estão aí.

A minha máxima é composta pela junção de duas ideias básicas para o bom viver: "(1) Não abuse de ninguém nem permita ser abusado por quem quer que seja. (2) Fora isso, viva e deixe viver."

Por isso, estou onde estou hoje: Amando a pessoa que me ama, vivendo em harmonia com meus filhos, trabalhando no que gosto sem precisar me esconder, dizendo o que penso quando considero conveniente, outras vezes só observando, porque nem todo mundo merece a vibração das minhas pregas vocais.

Em outras palavras, estou de bem comigo mesmo e com aqueles que me respeitam. Aos demais, o oblívio.

O que eu ganho com isso? Sossego. E o que eu perco com isso: nada!

Algumas pessoas me perguntam: E se eu sofrer algum tipo de ameaça ou outra forma de violência.

Minha resposta é: Não se coloque em risco desnecessariamente, mas se alguém quiser importunar o seu sossego, tome o caminho da delegacia! A lei está aí. Faça uso dela. E se há duas coisas que as pessoas têm medo de perder, essas coisas são dinheiro e liberdade. Um simples processo com direito à indenização por dano moral tem o poder de colocar muita gente em seu devido lugar.

Se você ainda não fez esse movimento para fora do armário, faça. Mantenha perto de você apenas as pessoas que respeitam sua identidade.

Imagine poder viver plenamente o que você deseja se o que você deseja não causa dano algum a terceiros. E quem ficar incomodado com isso, que se phoda! O que pode ser mais libertador do que isso?

Faça o que só você pode fazer: Reivente sua vida, mas dessa vez com base no que você sabe de si mesmo, não no que os outros dizem de você. O caminho não será apenas azul e cor-de-rosa, mas nunca foi. Ou será que o seu cérebro ainda está enganando você - convencendo você que a masmorra na qual tem vivido é algo como uma suíte presidencial num hotel de luxo em alguma ilha paradisíaca do Caribe. Acorda enquanto é tempo. Despluga dessa matrix, bee.


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