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Contagem regressiva para matar a saudade: André e Sergio



A SAUDADE CHEGA AO FIM
De 24 de fevereiro até 24 março de 2016


Entre o feriado de carnaval e o final de semana seguinte, eu e André ficamos separados por apenas um dia - a quinta. Mas depois disso, a espera foi longa. Só poderíamos nos ver de novo na Páscoa. Então, decidimos fazer uma contagem regressiva quando faltassem trinta dias. Ele faria publicações variadas (fotos, desenhos, versos) a seu gosto. Eu fiquei de fazer um verso por dia. No final dos trinta dias, eu havia acumulado os 30 aforismos que você poderá conferir abaixo. 

Espero que eles inspirem bom sentimentos. Todos os versos incluem a palavra saudade ou seus derivados. Afinal, foi a saudade que nos moveu a fazer essa contagem regressiva e ansiosa. Em breve, essa distância e esse tempo darão lugar à convivência ao vivo e em cores (todas as do arco-íris, é claro). ^^

Eis os aforismos - todos de próprio punho e com autoria registrada. Se desejar citá-los, favor dar crédito como "por Sergio Viula", Obrigado a todas e todos.

30) Saudade é a dor da ausência que só o reencontro consegue estancar - magia que transforma a dor da ausência em ausência de dor.  Parece até mais urgente que o ar.

29) Morrer de saudade é viver no vão que separa a memória da perspectiva -  indomável antecipação que emerge da dor da despedida.

28) Saudade é o amor sofrendo inexorável sede longe da fonte, enquanto vence o calendário - um dia após o outro - na certeza do reencontro.

27) Saudade é a atualização da ausência em sua virtualidade acompanhada da dor da espera na perspectiva de reencontro.

26) Saudade é um sentimento teimoso que se recusa a morrer sem a presença do amado e ressurge ao menor sinal de seu distanciamento. Fênix que renasce das cinzas da despedida.

25) Que poder é esse que a saudade detém? Alonga a espera, encurta o encontro, e faz o tempo de refém.

24) Saudade em ano bissexto ganha mais um dia para arrebentar o peito.

23) Saudade é um estado de desalento que, com a aproximação do encontro, vai virando euforia. Rio, porque mais belo horizonte do que esse nem na mais fantástica utopia.

22) Saudade não tem verbo. Nomeia e qualifica, mas não diz se vai ou se fica. Fala do sujeito e do objeto sem o menor receio de redundância. E tudo isso por mera implicância. Afinal, não lembra o amante, SAUDOSO, de seu SAUDOSO amado? Garanto, não tem jeito: se por amor adoece, só pelo amor será curado.

21) Desconfiada por natureza, a razão cobrou dos sentidos uma evidência convincente do amor entre duas pessoas. Ao que, em raríssima unanimidade, os cinco gritaram:  Saudade.

20) A saudade que me devora é também a que me alimenta. 60 minutos sob as asas de Dumont, e ela não mais me atormenta.

19) Pobres romanos que ao dizerem "solitate" pensavam apenas em solidão. Nossa lusófona saudade diz mais, sem poupar sofreguidão. Longe não é o mesmo que só. Saudade é viver no intermédio, nadando contra a maré. Mas, para a minha dor, já existe remédio, e ele se chama André.

18) Se a minha saudade fosse um RIO, BELO HORIZONTE teria mar. Uai, esse trem faz todo sentido. Pois, se a minha saudade deságua lá, como é que não tem praia em BH?

17) Saudade é dança sem canto, é canto sem nota, é nota sem pauta, é pauta sem linha, é linha sem pena, é pena sem ponta, é ponta sem tinta - é a vida de ponta-cabeça, querendo muito que o calendário minta e que ELE reapareça.

16) Ao tomar meu coração de assalto, ele deixou a saudade como penhor, jurando que voltaria de um salto para resgatar o nosso amor.

15)    Saudade é o afeto da distância -
         Essa paixão triste que vive da vacância.
         Não temas, meu amor, porque ela está jurada.
         Tem dia e hora para ser executada.


        E sem qualquer dor ou resistência,
        Passará à mais completa obsolência
        Porque ao primeiro vislumbre do teu rosto,

        Já nem me resta lembrança de seu gosto.

14) A saudade é tão precavida que guarnece o coração com as dores da ausência antes mesmo da despedida.

13) A saudade é a única dor que indica saúde, e não doença. Pois, na falta dela, quem diria que isso é amor, e não indiferença?

12) Saudade é uma contradição estupenda. Anseia pela presença do amado, quando é de sua falta que se alimenta.

11) Ainda não inventaram o "saudadômetro", mas se medissem a minha saudade, encontrariam níveis astronômicos.

10) Minha saudade nasce e morre no aeroporto. Quando ele chega, sinto-me vivo. Quando parte, meio morto.

09) Ponte área já não basta. Fica e acaba de vez com essa saudade que me vergasta.  

08) Quando eu pensava que não mais me apaixonaria, veio ele e acabou com minha obstinação. O cupido fez daqueles olhos arco e flecha, e de alvo o meu coração. Difícil agora é suportar 500 quilômetros de sofreguidão.

07) Se o tempo é o senhor da razão, faz um mês que ele alforriou a minha. Confesso, não minto: Ela fugiu com a saudade e 'pirou na batatinha'. 

06) Para a saudade, não há canção de ninar. Nenhum sonífero que a faça descansar. Mas se deitas ao meu lado, ela já não me incomoda. Vai para o reino de Morfeu com passagem de ida sem volta.

05) Seja no Santos Dumont ou no Galeão, teu desembarque é sempre o fim da aflição. A saudade, sem qualquer recurso de seu, sucumbe diante de tão efusiva emoção.

04) No leito da saudade, o amor sofre tua falta, mas basta um abraço teu para que ele logo tenha alta.

03) A saudade é fogo que arde no peito, alimentado pela lenha da distância. Incendiou, não tem jeito. Só se apagará com abraços e beijos numa deliciosa alternância.

02)  A saudade é uma incontornável suicida.
       Por ela, anseio ver-te. Mas, se te vejo, é ela que perde a vida
       E quando ela se vai, ninguém lamenta sua ausência.
       Onde já se viu sentir saudade de ter saudade?

       Esse pensamento é quase uma indecência.
       
Sentir falta do que já tenho?
       Afinal, seria preciso tê-la para sentir falta dela. 
       Até para Eros, isso seria demasiado engenho.

01) Saudade não morre de véspera. Aumenta. O coração não sabe se sossega ou se arrebenta.




Em tempo: Antecipamos os planos e essa sexta-feira, ele vem para ficar. Obrigado a todos os que torcem por nós.



No dia mundial da Poesia, 21 de março, fiz um poema especial, ou seja, fora da contagem regressiva para marcar o momento e homenagear meu amor. Vale dizer que André fez postagens diárias sobre nosso amor e a saudade que sentia. Aqui nesse post estão só as minhas, mas ele foi absolutamente lindo o tempo todo.






Por Sergio Viula
Para Andre Dias
21 de março, às 08:34


Contagem regressiva


No dia mundial da poesia,

Em verso extra para meu amor

A espera termina em três dias

E com ela, a minha dor.



Os poetas têm suas musas,

E escrevem lindamente

Eu tenho você,

E não poderia estar mais contente.



Meu beijo viaja célere pela internet

E se não posso te abraçar apertado,

O que me resta, senão, longe do amado

Controlar minha saudade pelo chat?



Mas vem aí a sexta-feira da paixão

O fim dessa dolorosa espera

Tão-logo a aeronave toque o chão,

Será o início de uma nova era.



Não foi dessa vez: morrer não combinava com nossa agenda... lol

Marcos e eu no saguão do CCBB-Rio



Existe "coisa" mais sacana que a morte? Acredito que não. Ela não pede licença, costuma chegar sem avisar, e geralmente estraga prazeres. Digo "geralmente", porque há momentos em que morrer pode ser o fim de uma dor e não de um prazer. Eu mesmo preferiria morrer a viver vegetando ou conviver com dor intensa, sem a expectativa de alívio. Mas por que começar esse post falando sobre a morte? Porque, no sábado passado, ela quase pôs fim a uma noite que havia começado bem e que prometia muito.

Marcos e eu fomos assistir a uma peça sobre Hannah Arendt no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB). Chegamos cedo, fomos à cafeteria do Centro Cultural dos Correios, porque o mezanino do CCBB estava fechado para reformas, e a cafeteria que fica no primeiro andar é muito desconfortável, uma vez que não oferece espaço suficiente para que o cliente se sente e curta um minuto de sossego - como deveria ser todo momento que envolve uma xícara de café ou cappuccino.

Quando voltamos do café, entramos na livraria do CCBB. Lá, tivemos a grata surpresa de encontrar Rafael, um querido que acaba de apresentar sua dissertação de mestrado e que está prestes a transformá-la em livro para lançamento em breve. Rafael me apresentou seu namorado e eu lhe apresentei o meu. :) As coincidências não pararam por aí: estávamos aguardando o início da mesma peça e nossos lugares (marcados já na compra dos ingressos) coincidiram de ser uns atrás dos outros - Marcos e eu nos sentamos uma fileira à frente de Rafael e de seu namorado. Inacreditável.

A peça foi absolutamente emocionante. Uma hora de texto na ponta da língua, timing perfeito entre as cenas, emoção à flor da pele.



 
Finda a peça, nos despedimos e tomamos caminhos diferentes.


Marcos e eu havíamos combinado com Danilo e Zico, um querido casal que acaba de se mudar para a Lapa, que nos encontraríamos com eles em seu apartamento depois da peça. Tomamos um táxi em frente ao CCBB e rumamos para lá.

Quando o táxi estava entrando na Av. Rio Branco, no cruzamento com a Presidente Vargas, com o sinal aberto para ele e fechado para os demais carros, um outro táxi veio à toda velocidade contra a nossa lateral, o mesmo lado em que Marcos estava sentado. Eu via o carro crescendo sem parar e pensava com meus botões: vai bater. Marcos ficou em choque pensando: vou morrer agora. Felizmente, o taxista conseguiu acelerar e desviar do táxi enlouquecido, mas um outro táxi já avançava o sinal numa pista que desembocava justamente diante de nós. Agora, nós é que bateríamos na lateral do outro. O taxista, muito controlado e com excelente reflexo, freou rápido o suficiente para se proteger atrás de um batente de concreto em frente a um canteiro que dividia as pistas. Ninguém se feriu. Os dois outros taxistas tomaram seus caminhos sem dizerem uma palavra, pois haviam avançado o sinal, cada um numa pista diferente - erros que poderiam ter custado nossas vidas e as deles.

Findo o suspense, Marcos comentava o susto e como havia pensado que morreria naquele momento. Jocosamente, ele disse: "Eu morreria nos teus braços."

Eu respondi: Muito apropriado depois de assistirmos uma peça de teatro - seria um final shakespeariano. Mas, provavelmente, eu morreria também, porque seriam duas pancadas: uma na lateral e outra na dianteira.

O motorista disse acertadamente: Isso acontece porque o pessoal acha que a essa hora da noite, num sábado, não se precisa esperar o sinal abrir. É aí que os acidentes acontecem. Felizmente, nada nos aconteceu, além do susto.

Concordamos e continuamos nosso caminho. Descemos na Av. Mem de Sá, coração da Lapa, e fomos nos encontrar com Zico e Danilo. Eles carinhosamente haviam colocado umas cervejas na geladeira e fizeram uns petiscos para beliscarmos, enquanto assistíamos clipes de música pop americana e de MPB entre uma conversa e outra. Ficamos com eles até chegarem duas amigas e um amigo que eles também estavam aguardando, pois iriam à festa chamada Gambiarra no Circo Voador. Nós, apesar de termos pensado previamente em ir, decidimos que não valia a pena esticarmos muito na rua, porque tanto Marcos como eu havíamos trabalhado muito durante a semana e tivemos alguns compromissos no sábado que nos desgastaram fisicamente, principalmente por causa das distâncias percorridas.


Vista da janela da varanda do apartamento de Zico e Danilo


Voltamos para casa logo depois de conhecermos os amigos de Zico e Danilo. Mas, antes de embarcarmos de volta para casa, decidimos parar para jantar num restaurante japonês. Não estávamos com tanta fome, porque os petiscos na casa dos meninos já haviam nos saciado relativamente. É que o desejo pelo rango japinha já vinha solicitando satisfação desde o meio da semana.


Marcos, Zico, Danilo e eu no domingo que antecedeu nossa visita. 
O bar é praticamente anexo ao prédio deles. Luxooo. hehehe




Depois do jantar, decidimos tentar a morte de novo (kkkk). Pegamos outro táxi e voltamos para casa. Que delícia podermos entrar em casa, tomar um banho e ir para a cama felizes por estarmos vivos e sem um arranhão. Já na cama, conversamos até duas e pouco da madrugada. No dia seguinte, havia uma mensagem escrita no azulejo da cozinha e uma carta de duas páginas colada ao lado - amor vertido em centenas de caracteres. Palavras ditas podem se perder rapidamente, mas as escritas geralmente resistem por mais tempo. Marcos leu cada linha e depois me abraçou enquanto eu ia escrevendo o texto da minha coluna dominical no AASA. Parei, abracei sua cintura, e disse mais meia-dúzia de chamegos. A doçura que emoldurava seus olhos ainda está aqui comigo, enquanto escrevo esse post.

Ah, sim. Só mais uma coisa. As pessoas costumam dizer que alguém só é ateu enquanto não passa aperto. Bem, eu sou ateu; Marcos, não. Mas podem perguntar a ele. Não gritei, não clamei por deus ou santo algum, não fiquei transtornado depois da experiência de quase-acidente-mortal. Simplesmente disse: "É por isso que precisamos viver todo dia como se fosse o último. Não adiar as coisas boas que a gente pode fazer, as coisas gostosas que a gente pode desfrutar, inclusive no amor." O motorista só ouvia. Marcos parecia meio surpreso com a minha calma e eu completamente solidário ao susto que ele levou. Seu coração ainda estava acelerado quando saímos do táxi. Que bom! Era sinal de que ele estava vivo e eu também. E o trauma é o resultado mais natural depois de uma situação dessas, obviamente. Qual é o ser vivo que não treme diante da morte quando ela parece iminente? Mas o fato de não termos gritado ou nos desesperado também colaborou para que o motorista não se distraísse naqueles dois segundos que fizeram toda a diferença.

Bem, nossa noite de sábado foi ótima do início ao fim, inclusive com essa driblada na dona morte. E por isso mesmo é que eu não poderia fechar esse post sem citar o poeta Renato Russo:

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar para pensar, na verdade, não há."

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