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PARAÍSO DO TUITI traz enredo com A PRIMEIRA TRAVESTI DOCUMENTADA DO BRASIL (Xica Manicongo) - Carnaval 2025


Prepare-se para um desfile histórico! No Carnaval de 2025, a Paraíso do Tuiuti traz para a Sapucaí o enredo "Quem tem medo de Xica Manicongo?", destacando a trajetória da primeira travesti documentada no Brasil. 


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Quem foi Xica Manicongo?

Xica Manicongo: A Primeira Travesti Documentada do Brasil

Xica Manicongo é uma figura histórica fundamental para a luta LGBTQ+ no Brasil. Sua história remonta ao século XVI, no contexto da colonização portuguesa, e revela como a diversidade de gênero sempre esteve presente, mesmo sob a repressão brutal da escravidão e da Inquisição.

Origem e Chegada ao Brasil

O nome “Manicongo” sugere que Xica veio do Reino do Congo, uma poderosa monarquia localizada no território que hoje corresponde à República Democrática do Congo e Angola. Durante o século XVI, o tráfico transatlântico de escravizados já estava em pleno funcionamento, e pessoas de diversas etnias africanas eram sequestradas e trazidas para o Brasil para trabalharem sob condições desumanas.

Xica Manicongo foi levada para Salvador, na Capitania da Bahia, um dos principais portos de entrada da população escravizada no período colonial. Nessa época, Salvador já era um importante centro administrativo e comercial do domínio português, e a cidade abrigava uma grande população negra escravizada, que trabalhava nos engenhos de açúcar, na construção civil e no serviço doméstico.

Travestilidade em Pleno Período Colonial

Xica Manicongo ficou conhecida por se vestir com roupas femininas e se identificar de maneira diferente do gênero masculino que lhe havia sido imposto ao nascer. Isso indica que, mesmo em um período marcado por intensa opressão, algumas pessoas escravizadas tentavam manter sua identidade e expressões de gênero, resistindo cultural e pessoalmente à violência colonial.

A presença de pessoas com identidades dissidentes no Brasil não era rara. A cultura africana já tinha outros entendimentos sobre gênero, diferentes dos moldes binários impostos pelo cristianismo europeu. Há relatos de que, em algumas sociedades africanas, existiam funções sociais e religiosas desempenhadas por pessoas que transitavam entre gêneros. Xica pode ter trazido consigo esses valores culturais, mas foi confrontada com as rígidas normas da colônia portuguesa.

Perseguição e Julgamento pela Inquisição

A história de Xica Manicongo chegou até nós porque a pessoa foi alvo da Inquisição portuguesa, um sistema criado para punir práticas consideradas heréticas pela Igreja Católica. A “sodomia” — termo genérico que incluía qualquer relação sexual ou identidade de gênero fora dos padrões heteronormativos — era duramente reprimida.

Nos registros históricos, Xica foi denunciada por “se portar como mulher” e acabou sendo acusada de sodomia, um crime grave na época. Como punição, foi obrigada a vestir-se “de acordo com seu sexo” e, possivelmente, sofreu outras formas de repressão física e psicológica.

O Legado de Xica Manicongo

Mesmo tendo vivido em um período de extrema repressão, Xica Manicongo resistiu ao tentar expressar sua identidade de gênero em meio à escravidão e ao controle religioso. Sua história simboliza a existência e a resistência das pessoas trans e travestis no Brasil desde os primeiros séculos da colonização.

Hoje, ao ser reconhecida como a primeira travesti documentada do Brasil, Xica Manicongo se torna um ícone da memória LGBTQ+ negra e um símbolo de luta contra a opressão colonial, racista e transfóbica.

O fato de a Paraíso do Tuiuti trazer essa história para o Carnaval 2025 mostra o quanto essas narrativas estão ganhando espaço e sendo resgatadas para reforçar a luta por respeito e reconhecimento.

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O Enredo da Tuiuti

Sob a batuta do carnavalesco Jack Vasconcelos, a Tuiuti promete um desfile emocionante, celebrando a resistência e a luta pela identidade de gênero. O samba-enredo, divulgado em julho de 2024, já está disponível para audição. 

Data e Ordem do Desfile

Marque na agenda: a Paraíso do Tuiuti será a segunda escola a desfilar na terça-feira de Carnaval, 4 de março de 2025, com início previsto entre 23h30 e 23h40. 

Destaques do Desfile

A escola está preparando alas que retratam diferentes aspectos da vida de Xica Manicongo e a luta da comunidade trans ao longo da história. A comissão de frente promete uma coreografia impactante, simbolizando a resistência contra a opressão. A bateria "Super Som", sob o comando do mestre Marcão, trará paradinhas e bossas que prometem levantar o público. A rainha de bateria, Mayara Lima, será um dos destaques, esbanjando carisma e samba no pé. 

Ensaio de Rua

Recentemente, a Tuiuti realizou um ensaio de rua em São Cristóvão que mostrou a força da comunidade. O intérprete Pixulé conduziu o samba-enredo com maestria, e a harmonia entre os componentes foi destaque. A comissão de frente apresentou detalhes da coreografia, deixando claro que a escola está pronta para brilhar na Avenida. 

Com esse enredo potente e uma comunidade engajada, a Paraíso do Tuiuti promete um desfile inesquecível, celebrando a história de Xica Manicongo e reforçando a importância da diversidade e da resistência no Carnaval carioca.

Samba-enredo

Já vai aprendendo a letra para cantar junto no desfile. Veja abaixo o samba-enredo comprosto por Cláudio Russo e Gustavo Clarão para o espetacular desfile da Tuití no carnaval 2025:

Ouça o samba aqui: https://youtu.be/zRMGzAGEYrg


Só não venha me julgar Ô Ô

Pela boca que eu beijo

Pela cor da minha blusa

E a fé que eu professar

Não venha me julgar

Eu conheço o meu desejo

Este dedo que acusa

Não vai me fazer parar


Faz tempo que eu digo não

Ao velho discurso cristão

Sou Manicongo

Há duas cabeças em um coração

São tantas e uma só

Eu sou a transição

Carrego dois mundos no ombro


Vim Da África Mãe Eh Oh

Mas se a vida é vã Eh Oh

Mumunha

Jimbanda me fiz

N Ganga é raiz

Eu pego o touro na unha


A bicha, invertida e vulgar

A voz que calou o “Cis tema”

A bruxa do conservador

O prazer e a dor

Fui pombogirar na Jurema


Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha

As perseguidas na parada popular

E a Mavambo reza na mesma cartilha

Pra quem tem medo o meu povo vai gritar


Eu travesti

Estou no cruzo da esquina

Pra enfrentar a chacina

Que assim se faça


Meu Tuiuti

Que o Brasil da terra plana,

Tenha consciência humana

Chica vive na fumaça


Eh! Pajubá!

Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê

É Mojubá

Põe marafo, fubá e dendê (Pra Exu)

Este samba, composto por Claudio Russo e Gustavo Clarão

Imperdível: Travestilizando a história da literatura brasileira


Diálogos LGBTI com Amara Moira
Travestilizando a história da Literatura Brasileira


A ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos) vem realizando algumas 'lives' durante a quarentena. O Blog Fora do Armário está assistindo algumas dessas 'lives' e vai recomendar aquelas que vierem a ser consideradas mais interessantes.

Essa 'live' com Amara Moira, travesti doutora em literatura, é excepcional! Vale muito a pena assisitr.

Veja aqui no Instagram: 
https://www.instagram.com/tv/CA04kDMnkrq/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

A mediação feita pela representante da ABGLT (fico devendo o nome) foi impecável.

Clique na imagem acima e assista esse bate-papo formidável.

Não esqueça de compartilhar esse post com amigas, amigos e amigues. Deixe seu comentário aqui também. Será um prazer ler o que você tem a dizer. Todos os comentários são aprovados, exceto quando são mensagens de ódio.

'Travesti não é banguça' e transfobia é crime

Rogéria: A travesti mais famosa do Brasil 




Por Sergio Viula



É sabido que a sociedade castiga aqueles que desafiam suas regras de alguma maneira, especialmente aquelas relacionadas normas de controle da sexualiade e do gênero. As travestis são as que pagam mais caro por sua ‘transgressão de gênero’. Elas são punidas com ostracismo, isto é, com sua segregação de áreas quase sempre acessíveis às pesssoas que não desafiam as normas binárias de gênero. Entenda-se por ‘normas binárias de gênero’ aquilo que geralmente se diz através do famoso mantra ‘isso é coisa de menina’ e ‘isso é coisa de menino’. Por causa desse apartheid de gênero, as travestis deixam de ter acesso a uma série de coisas. Destaco aqui a educação, os cuidados médicos e a moradia.

Mas, como dizia Luana Muniz, famosa travesti que atuava na Lapa, no Rio de Janeiro: Travesti não é banguça! O jargão, que se tornou símbolo de resistência, viralizou na Internet, e Luana se tornou alvo do interesse de programas de TV e até de diretores de cinema.




Luana faleceu em 06/05/2017, aos 56 anos, devido a uma parada cardio-respiratória, conforme atestato pelo Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro. 




Travestis e acesso à educação

O acesso à educação é restrito por meio de vários mecanismos de controle social mantidos pela própria 'comunidade escolar', isto é, alunos, pais, professores, coordenadores pedagógicos e administradores, que vão da direção à zeladoria e portaria. Os mecanismos de controle incluem a manutenção de rígido controle sobre as vestimentas, inclusive com o uso de uniformes geralmente caracterizados por distinções arbitrariamente estabelecidas e já cristalizadas sobre o feminino e o masculino e atribuídas ao sexo anatômico (macho e fêmea), como se essa anatomia fosse sempre dicotômica, binária, dual. Existem inúmeras variações nessa anatomia que muitos ignoram e tantos outros escondem. As pessoas intersexuais saem cada vez mais de seus armários e são a prova de que há diversidade até nisso. Se as escolas lidam mal com alunos, pais, professores (etc) que não se encaixam nas normas continuamente reforçadas de gênero sem serem intersexuais, imaginem como seria a vida de uma pessoa que apresentasse características dos dois sexos! Mas, meu foco hoje é a pessoa travesti, não a intersexual.


A travestilidade pode ser percebida em muitos indivíduos desde bem cedo. E a reação dos transfóbicos de plantão, especialmente nas escolas, pode ser desastrosa. As crianças e adolescentes que transgridem as normas para se expressarem no gênero com o qual se identificam acabam sendo ridicularizados, coibidos e punidos administrativamente nesses ambientes transfobicamente sufocantes.

Além desse mecanismo de controle sobre o que se deve vestir, existe também um dispositivo reforçador de gênero que pode provocar muito sofrimento. Ele pode parecer simples e inofensivo à primeira vista, mas causa dores emocionais profundas sobre a estudante travesti. Trata-se da chamada. Chamar Tábata, que se expressa visualmente toda no feminino, de Teobaldo é uma violência contra a aluna travesti. Mas a chamada não é o único momento em que o prenome se torna um tormento. A identificação pessoal será necessária em trabalhos, boletins e comunicados escolares. Cada vez que Tábata tiver seu nome riscado para dar lugar a Teobaldo, o sofrimento será renovado.


A pessoa travesti, seja qual for a sua idade, deve ser chamada pelo nome social de sua escolha, mesmo que ainda não tenha conseguido fazer a mudança legal de seu nome nos documentos oficiais. Isso é o que chamamos de 'nome social'. Entretanto, escolas transfobicamente sufocantes se recusam a respeitar o nome social de alunas travestis até que uma ação seja impetrada contra elas ou alguma manifestação pública as constranja a agir como deveriam de fato. Infelizmente, em muitos casos, porém, essas escolas contam com a conivência de pais transfóbicos, inclusive das próprias crianças e adolescentes travestis. Quando isso acontece, elas ficam impotentes, tendo que esperar pela maioridade para tomarem providências. Acontece que uma pessoa pode passar de 12 ou 13 anos na escola para chegar ao final do ensino médio - isso se não repetir nenhum ano. A vida da aluna travesti pode ser atormentada por muitos anos se a escola não for acolhedora e proativa em garantir seu acolhimento e bem-estar. O ‘bullying’, ou seja, o assédio moral em forma de ataque verbal ou físico por parte de outros alunos, quando não por parte de professores também, agrava o sofrimento dessa aluna. O resultado de tanto sofrimento psíquico em ambientes escolares tóxicos é que a criança ou adolescente travesti acaba abandonando a escola.

O resultado disso é que ela dificilmente conseguirá uma colocação no mercado de trabalho formal, sendo empurrada para a informalidade do subemprego ou do cinicamente chamado ‘empreendedorismo’, que muitas vezes nada mais é do que um recurso eufemístico para substituir o termo ‘camelô’. Mas será que essa possiblidade está realmente disponível para a travesti tanto quanto está acessível a pessoas cisgêneras (aquelas que não são transgêneras)? Estará a travesti segura naquele ambiente?

Quem já entrou num camelódromo ou em outros ambientes de comércio popular informal sabe como as pessoas pode ser cruelmente preconceituosas naqueles espaços de trabalho e convivência. Muitos homens camelôs são extremamente abusivos no modo como lidam com as mulheres à sua volta. As mulheres, por sua vez, podem ser extremamente cruéis com simples rivais cisgêneras. Agora, imaginem o que passaria uma travesti que, como uma indefesa capivara, se aventurasse por aquelas águas cheias de piranhas e jacarés, considerando-se o potencial destrutivo das interações nesses ambientes profundamente transfóbicos.

Não me entendam mal. Travestis são muito fortes. Elas se defendem bem muitas das vezes. Porém, não detém superpoderes e nem são mutantes ao estilo X-Men. Um grupo enfurecido ou um único indivíduo sorrateiro, armado com uma simples lâmina, pode dar cabo de qualquer pessoa que esteja vulnerável em algum momento de sua vida. E quem seria a pessoa travesti (ou não) que poderia lidar com esse tipo de angústia 24 horas por dia, todos os dias, sem ser apanhada de surpresa ou sem considerar, no final das contas, o suicídio como a saída menos dolorosa?

Não deveria causar estranheza, portanto, que o número de suicídios entre pessoas transgêneras de um modo geral seja altíssimo. Vale lembrar que 'pessoas transgêneras' incluem travestis, transexuais e muitas outras. Porém, as travestis são, sem sombra de dúvida, as que mais causam frisson quando saem as ruas para trabalhar, se divertir ou fazer compras como qualquer outro cidadão.


Apesar de tudo disso, muitas travestis resistem bravamente e dão curso às próprias vidas. Entretanto, não é raro que muitas desenvolvam algum tipo de dependência química. O álcool, assim como outras substâncias, pode se apresentar como um paliativo para as dores písiquicas causadas pela transfobia, mas logo provarão ser uma doença difícil de ser curada. Contudo, as travestis poderiam ter sido poupadas de todas essas dores se fossem respeitadas em seus direitos e valorizadas em seu potencial criativo e produtivo, como qualquer outra cidadã ou cidadão que nunca questionou as ‘normas de gênero’.


Travestis e atendimento de saúde

O acesso aos cuidados de saúde são outra questão. Muitos médicos, enfermeiros e outros profissionais da área de saúde física e mental ignoram as peculiaridades e necessidades das travestis quando estas buscam atendimento.


Por temerem ser desrespeitadas até mesmo na hora de serem chamadas ao consultório. De novo, Tábata poderá acabar sendo chamada de Teobaldo, causando burburinho na sala de espera, muitas travestis nem sequer marcam uma consulta ou entram numa fila de espera para atendimento. Além disso, elas temem ser atendidas com má vontade por médicos cuja transfobia não foi curada pelos 9 anos de curso e residência, até porque as universidades não promovem esse tipo de reflexão. Esse despreparo e má vontade por parte dos profissionais de saúde resulta em grandes riscos para muitas travestis jovens, que acabam fazendo procedimentos de feminilização por conta própria ou contratando aventureiras ou aventureiros que se dizem capazes de dar a elas o corpo que elas desejam. Isso pode gerar problemas sérios de saúde, pois os produtos não são adequados e a falta de supervisão por parte de um profissional treinado e licenciado na área de saúde pode levar a resultados desastrosos.


Se as travestis jovens carecem de atendimento preventivo, as travestis idosas sentem falta de atendimento terapêutico, pois muitas delas já fizeram o que deveria ter sido evitado, caso tivessem sido devidamente orientadas, e agora precisam de tratamento para os efeitos colaterais. À medida que mais pessoas assumem sua travestilidade e transexualidade, mais mulheres travestis e transexuais tendem a chegar à terceira idade. Elas precisam de atendimento de acordo com suas especificidades. Algumas nunca foram atendidas por um médico que saiba lidar com suas peculiaridades. Travestis são pessoas transgêneras que não buscam operação de transgenitalização. Transexuais, por sua vez, podem buscá-la ou não. Médicos, portanto, precisarão lidar com mulheres com pênis alguma vezes e com mulheres com vaginas em outras – todas sem útero ou glândulas mamárias com potencial para aleitamento materno; todas elas com próstatas, independentemente de terem vagina ou pênis; nenhuma delas com menstruação ou menopausa, mas também não perfeitamente enquadradas no que seria a andropausa se passaram por hormonização para feminilização. São diversas as questões. E para todas essas partes do corpo da pessoa transgênera existem demandas que precisam ser atendidas por um profissional de saúde, assim como acontece com o corpo de qualquer pessoa cisgênera. Cada corpo tem suas demandas. E os profissionais de saúde precisam estar preparados para lidar com todas elas.

Mas não são apenas as travestis jovens que precisam ser orientadas quanto ao atingimento de seus alvos em relação ao corpo que desejam ter. Há também travestis com mais idade que não se assumiram na juventude, mas querem fazê-lo agora. Estas também precisam de orientação sobre como proceder para atingirem seus objetivos sem prejudicarem sua saúde ou agravarem quadros patológicos já existentes, tais como: Problemas cardíacos, respiratórios, circulatórios, etc.

Para que nunca ouviu o que as travestis pensam sobre envelhecimento, isso pode parecer muito estranho, mas existem travestis que não querem mais manter o silicone ou sua rotina de hormonização por diversos motivos diferentes. No livro Velhice Transviada, de João W. Nery, Sissy Kelly Lopes fala sobre isso. Veja o trecho abaixo.







Quando decidem 'destransicionar', algumas delas ganham feições não-binárias, ou de gênero indefinido, ou seja, acabam não se enquadrando mais no visual de mulher nem no visual de homem, conforme imaginado pela sociedade. Essas pessoas devem ser respeitadas em suas decisões, mas bom seria que recebessem apoio psicológico ou psicanalítico, pois esse súbito desejo de se desconstruir pode ter algo a ver com a transfobia circundante ou até mesmo internalizada. Ela pode estar precisando de ajuda para entender quais são suas possibilidades como travesti que entra na terceira idade ou que já idosa mesmo. O ideário de travesti sedutora e sempre sexualmente disposta pode ser um fantasma assombrando as pessoas que já não se enquadram nesse estereótipo. De novo, é preciso que profissionais de saúde, nesse caso especialmente psicólogos e psicanalistas, estejam preparados para lidar com essas questões em relação ao ser e ao devir da pessoa travesti.

Travestis e moradia


Sobre moradia, o problema mais conhecido pela maioria das pessoas quando se trata de jovens travestis é o da expulsão de casa. Muitas famílias, querendo se livrar dos comentários de vizinhos, amigos e parentes sobre a sexualidade e a transgeneridade do 'filho' - e por se recusarem a pensar 'nele' como ela, acabam tornando a vida da jovem travesti insuportável dentro de casa. Isso pode levar à fuga na tentativa de obter vida melhor. Em outros casos, a própria família expulsa a travesti de casa com todas as letras. Da noite para o dia, ela se encontra sem pai nem mãe, sem irmãos, sem suas coisas, sem seu lugar de repouso. A fofoca, porém, não deixará de acontecer, pois os vizinhos, amigos e parentes falarão do mesmo jeito, ainda que finjam acreditar que ‘fulaninho’ foi para outra cidade estudar ou trabalhar, como alegado pelos pais.

A travesti jovem, agora sem casa e sem idade para trabalhar, ou sem renda porque não tem emprego, acaba ficando vulnerável a todo tipo de violência nas ruas das grandes e pequenas cidades. Não faltarão traficantes querendo usá-la como ‘aviãozinho’. Logo, ela mesma gastará o dinheiro obtido com a venda de drogas para comprar suas próprias drogas. Depois disso, a pessoa fica presa nesse círculo vicioso.

O envolvimento com tráfico ou com o uso abusivo de drogas pode culminar em encarceramento, caso a pessoa travesti seja flagrada pela polícia. O cárcere é outro local onde a transfobia já se manifesta na pessoa do agente da lei, seja o policial, o delegado, o carcereiro ou outros.

O caso Verônica Bolina não pode ser esquecido. Acusada de agredir uma senhora durante um surto psicótico, ela foi desfigurada pelos policiais que a detiveram, teve suas roupas rasgadas, os seios expostos e seus lindos cabelos raspados. Do local da prisão até o presídio, eles fizeram tudo o que puderam para transformar o visual de uma princesa na face de um monstro coberto de hematomas. Só mesmo um negador da realidade diria que isso não foi motivado por transfobia. Veja fotos abaixo.



Fonte da foto: 
https://ponte.org/presa-negra-e-travesti-devemos-ser-todas-veronica/

Mais informações sobre o caso nesse link também. 



Verônica foi violada de várias formas pelos agentes que deveriam apenas detê-la. 



Não faltarão cafetões ou cafetinas dispostos a oferecer um quarto para a travesti expulsa de casa ou que não suportou as humilhações e saiu. Só que o quarto dificilmente será só dela. Ela conviverá com pessoas cujos hábitos e vícios podem criar constrangimentos de todos os tipos a novata. E se ela quiser continuar morando ali, vai ter que fazer o papel de escrava sexual dos clientes que 'consomem' o que a casa oferece. Não confundir o crime de exploração sexual que a cafetinagem faz com essa travesti com o trabalho autônomo de uma profissional do sexo. No caso da cafetinagem, ela será obrigada a vender o que tem de melhor (seu corpo) para enriquecer os que a exploram sem piedade em troca de um cárcere falsamente chamado de residência. E como não existe reconhecimento legal do trabalho das pessoas que atuam como profissionais do sexo, a travesti que decidir trabalhar por conta própria dessa maneira correrá o risco de ser esfaqueada ou até morta por mafiosos que se consideram os ‘donos’ da rua. Era isso que o projeto de lei que ficou conhecido como "Lei Gabriela Leite", de autoria do Deputado Jean Wyllys, em 2012, queria evitar. A hipocrisia da sociedade, refletida no Câmara dos Deputados, inviabilizou o trâmite do projeto.


Veja o texto do projeto aqui: 

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1012829




Amara Moira, doutora pela UNICAMP 
E se eu fosse puta foi lançado em 2016. 

Atualmente, Amara Moira (foto acima) não trabalha mais como profissional do sexo, mas é uma defensora da regulamentação da prostituição no Brasil.  Além disso, ela acredita que a literatura é fonte de transformação social. 

Quando a travesti consegue alugar um lugar só seu, depois de batalhar muito para ganhar dinheiro, seja em ofícios mais respeitados como os de cabelereira, manicure, etc., seja através da renegada – mas sempre procurada pelos ‘homens de bem’ – prostituição, ela ainda poderá sofrer assédio transfóbico por parte de síndicos e condôminos. Em muitos casos, a pessoa travesti não conseguirá sequer alugar casa ou apartamento simplesmente porque o dono do imóvel rejeita terminantemente a ideia de ter uma travesti como inquilina, geralmente achando que a casa se transformaria num ‘puteiro’. Senhorios e imobiliárias costumam agir como se travestis fossem encrenca. Ignoram que muitas delas mantém excelente ambiente familiar em casa, inclusive cuidadando de mães ou pais idosos, educando sobrinhos cujos pais são incapazes de cuidar deles, entre outros. Algumas são casadas e mantêm excelente relacionamento com seus parceiros. Existem, sim, travestis que não se comportam de acordo com as boas regras de convivência, mas essa também é a realidade de muita gente não travesti que nunca teria sua proposta de aluguel negada apenas por uma passada d’olhos sobre sua figura.


O pior dos mundos para uma travesti

Com problemas para permanecer na escola, entrar no mercado de trabalho, acessar atendimento médico, viver em paz na casa dos próprios pais, assinar contrato de aluguel para viver em paz, além de ter que lidar com vários outros fatores decorrentes dessas violências, como o uso excessivo de álcool e outras drogas, a travesti que não trabalha sua autoestima e fracassa em estabelecer um pacto perpétuo de amor próprio e considera a possibilidade de abrir mão de direito à autoexpressão, pode acabar se tornando alvo fácil para outro grupo de predadores além dos já conhecidos cafetões e traficantes, os quais são reconhecidamente perigosos e maléficos. A classe de canalhas a que passo a me referir aqui são ainda mais nocivos por não parecer tão venenosos, mas são extremamente peçonhentos.

Refiro-me a um tipo específico de patife, geralmente disfarçado de amigo muito interessado no bem-estar das pessoas. Ele chega à pessoa travesti todo trabalhado na verborragia do amor incondicional. Algumas desavisadas pensam que esse papo de amor incondicional é sério. Não percebem que trata-se apenas de uma isca que camufla o mortífero anzol. O pilantra diz: “Jesus te ama, mas você tem que deixar de ser travesti.” Peraaaaaaaaaaaaaaaí! Atenção aqui! Se a travesti não se negar a ouvi-lo a partir daí mesmo, ela quase certamente será fisgada por esse farsante. Trata-se do pastor evangélico metido a ‘curandeiro’ de travestis e de outros membros da comunidade LGBT+.

Algumas travestis depois de terem conhecido o pior da vida, graças a esses mesmos canalhas que a demonizam e a outros tantos que ouvem suas doutrinações transfóbicas, fica desarmada ao ser abraçada e ouvir alguém dizer que a ama. Ela acredita que seu valor foi finalmente reconhecido, mas não percebe que está sendo seduzida por artimanha. A pessoa que lhe fala com ares de bondade é um transfóbico representando um deus transfóbico que, de acordo com sua mitologia, tem o poder de lançá-la no fogo eterno se ela simplesmente se atrever a continuar passando batom e andando de salto alto. São duas fabricações imaginativas: o suposto ungido de deus e o suposto deus que o ungiu.

Uma vez fisgada por esses patifes que juram saber exatamente o que ela precisa, garantindo que ela só encontrará felicidade naquela igreja, com aquele pastor, dando seu dízimo fielmente, é claro, essa travesti chegará ao cúmulo de se ‘desmontar’ toda para se enquadrar no lugar onde sempre tentaram enfiá-la de todos os modos possíveis. Ela lutou bravamente, mas agora, desarmada por falsas promessas em nome de deus, ela cai numa das armadilhas mais eficazes para capturar pessoas frustradas – a da religião.

Tais religiões, seitas e cultos se constituem no mais cruel, mesquinho e dissimulado de todos os mecanismos de controle e sujeição às normas do patriarcado – todas elas carregadas, em maior ou menor grau, de machismo, misoginia, transfobia e homofobia. A travesti, uma vez domada, será devassada e manipulada em toda a sua intimidade.

O pastor patife, promotor de ‘cura’ para a travestilidade, é pior, repito, do que o cafetão e do que o traficante, pois destes a travesti sabe que precisa se desvincular o mais rápido possível, mas do suposto mensageiro do suposto deus, ela temerá se afastar sob pena de condenação eterna. Algumas nem acreditarão em castigos ou recompensas pós-mundanos, mas se sujeitarão a esses manipuladores para não perderem sua mais nova 'conquista': Ser parte desse simulacro de família de deus que parece poder substituir outro simulacro – o da família biológica que a rejeitou ou que adoraria que Tábata voltasse a ser Teobaldo.

Para usufruir do respeito e da admiração de sua nova ‘fraternidade’ (leia-se alcateia transfóbica devoradora de ovelhas travestis desavisadas), a recém-cooptada travesti deixará de tomar seus hormônios ou fará a retirada do silicone tanto quanto possível e o mais rápido que puder. Logo que entrar para aquela colônia de desequilibrados sexualmente mal resolvidos, ela será obrigada a colocar roupas masculinas, deixará crescer pelos em partes geralmente destinadas a isso pelos machistas de plantão, tentará falar em ‘voz masculina super masculinizada’ (geralmente sem sucesso) e pedirá que o fictício deus transfóbico, fingidamente amante de travestis arrependidas e dipostas a renunciarem sua própria travestilidade, elimine quaisquer trejeitos femininos em sua postura e gestual. Nasce, então, a figura nada miraculosa ‘do’ ex-travesti.


Ex-travestis: Seria divertido se não fosse trágico



Talita Oliveira, a A travesti-propaganda de Feliciano diz que não existe "cura gay" 

https://foradoarmario2.blogspot.com/2016/07/a-travesti-propaganda-de-feliciano-diz.html


Ex-travestis tentam se comportar como homens cisgêneros heterossexuais à luz dos holofotes. Alguns deles até se casam com mulheres cisgêneras e têm filhos para comprovar sua hiper-cisgeneridade heterossexual. Juram que amam suas mulheres e que estão plenamente satisfeitos com elas. A igreja dá glória a deus, e o ‘ex-travesti’ se sente tomado pelo fogo do deus transfóbico que jura existir. Quando já ia sapatear no fogo santo, ele pensa: “É melhor não. E se o meu sapatear no espírito santo parecer mais com o rebolado de uma das passistas do Sargenteli sambando sobre o altar?" Segura a onda, Tábata. Você agora é Teobaldo (#sqn).

De fato, a Tábata dentro dele se recusa a morrer.

Durante a noite, Teobaldo sonha com aquele macho gostoso que ele viu no culto. Nada diferente do que acontece com muitas 'irmãzinhas' santíssima, trabalhadas no jejum, na vigília e na batalha espiritual. Algumas delas sonham em "dar o seu melhor" ao pastor. Mas, voltando à Tábata, pode ser que ela relembre algum momento áureo de relacionamento de seu passado com algum cabra-macho que sabia fazê-la feliz como ninguém mais faz. O desejo bate à porta. Tábata nem precisava lembrar o caminho de volta. Ela nunca foi embora. A gloriosa travesti sempre esteve ali, apesar de recalcada sob todo aquele escombro machista-heterossexista que Teobaldo foi acumulando na igreja ao som gospel de “entra na minha casa, entra na minha vida” e com toda aquela babaquice "evangexcêntrica" que vocês já conhecem.

Teobaldo tem duas opções basicamente:


1. Continuar fingindo que Tábata nunca existiu, ou que morreu sem jamais poder ser ressuscitada de novo, enquanto entrega-se à imaginação carregada de erotismo com outros homens e vai aliviando seu tesão naquele jogo de ‘cinco contra um’, mesmo se sentindo culpado a cada ejaculação;


2. Ou sair do armário de uma vez e assumir que é travesti mesmo, que nada mudou de fato, e que tudo não passou de um grande engano.


Nada disso, porém, teria acontecido se Tábata tivesse sido respeitada e aceita nos espaços de convivência, assistência, produtividade e recreação aos quais as pessoas têm livre acesso quando ninguém encontra nelas qualquer vestígio de transgressão das regras binárias de gênero. Em outras palavras, quando a pessoa em questão não é travesti ou outro transgênero.

Se escolher a primeira opção, Teobaldo continuará trabalhando de graça para a igreja e fazendo contribuições expressivas na esperança de se livrar da culpa pós-masturbação com desejo por outro homem. Mas vale lembrar que muitas dessas travestis enfiadas em ternos e gravatas na escola dominical estão transando com outros 'servos de deus' que, como elas, estão no armário e não se aguentam mais. Enquanto isso, Teobaldo mantém seu casamento ‘heterossexual’ a duras penas e sem contar para sua mulher que ela transa todos os dias com um simulacro de ‘mensageiro do deus trasfóbico’ que é apenas Tábata recalcada no fundo de uma psiquê adoecida pela transfobia, mas nunca morta de fato. O melhor para as duas era que Tábata saísse logo do armário e elas pudessem ir ao cabelereiro juntas ou viverem (felizes) separadas para sempre.


Às queridas travestis


Amiga travesti, não existe maior equívoco do que sacrificar sua própria identidade ou expressão de gênero para se submeter a alguém ou alguma coisa em troca de reconhecimento ou acolhimento. Há outras maneiras de se construir redes de apoio mútuo. E para quem não dispensa religião de alguma maneira, existem lugares ‘sagrados’ menos tóxicos do ponto de vista da transfobia dogmática.

Faça escolhas melhores. Nenhuma escolha jamais será boa o suficiente se em vez de te empoderar como a pessoa que você é, isso te enfraquecer e te conduzir a se sujeitar a enquadramentos baseados em auto-ódio ou em ‘amores condicionais’ que não passam de cantos de sereia. E não me refiro de modo algum à bela Ariel, princesa da Disney. Refiro-me às carnívoras sereias que povoam o imaginário mitológico greco-romano.

Diante desses pastores-sereias-carnívoras-devoradoras-de-travestis, faça como Ulysses que pediu para ser amarrado ao mastro do navio e tampou os ouvidos de seus companheiros com cera quando estavam para cruzar o mar infestado por essas perigosas criaturas mitológicas, a fim de não serem atraídos e devorados por elas. Tampe seus ouvidos para pregação mortífera desses fundamentalistas religiosos mal resolvidos com sua própria sexualidade e autoproclamados representantes de um deus pior do que eles e tão fake quanto eles. Se não o fizer, você será devorada pela transfobia desses canalhas.




Sugestão e leitura



UFPE: Campanha "MEU NOME IMPORTA" garante direito das pessoas transexuais e travestis



A Universidade Federal de Pernambuco está de parabéns! Existe uma campanha de conscientização e de informação sobre como fazer valer o direito ao nome social por pessoas transexuais e travestis.

Acesse a página da UFPE no Facebook para essa campanha e veja que linda iniciativa. Fotos, vídeos e informações para a inclusão das pessoas transgêneras no cotidiano da universidade: https://www.facebook.com/diretorialgbtufpe

Parabéns à Diretoria LGBT da UFPE e toda a comunidade universitária! 

Estudo: Abordagem da imprensa em Pernambuco reforça criminalização das travestis



Pesquisa mostra que a abordagem da imprensa em Pernambuco reforça criminalização das travestis. Que toda a imprensa brasileira reflita sobre isso e mude o que precisa ser mudado no modo como lida com os fatos relacionado a esse segmento. 
 

Abordagem da imprensa em Pernambuco reforça criminalização das travestis


Por Antonio Lira

De acordo com um relatório da ONG internacional Transgender Europe, entre 2008 e 2013, o Brasil foi o país com o maior número de assassinatos de travestis e transsexuais do mundo. Preocupado com a violência sofrida por essa parcela da população, Bruno Robson de Barros Carvalho procurou avaliar a abordagem da imprensa pernambucana em relação as travestis. Ao analisar os principais jornais de Pernambuco, o pesquisador concluiu que a construção discursiva das reportagens que tratam de travestilidade em contextos de criminalidade, acabam por criar um afastamento entre o leitor e a travesti vítima de violência, reafirmando a condição marginal das mesmas.
 
LEIA na íntegra AQUI:

https://attena.ufpe.br/bitstream/123456789/10286/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O%20Bruno%20Robson%20de%20Barros%20Carvalho.pdf

20 de Novembro - Dia Internacional da Memória Trans




No Brasil, hoje é Dia da Consciência Negra. Fiz minhas homenagens via Facebook, mas isso obviamente não é suficiente. Vi muitos negros trabalhando em lojas fechadas no feriado que deveria, mais do que nunca, ser seu dia de descanso, de reivindicação e de celebração.

Mas hoje também é o Dia Internacional da Memória Trans. Organizações e cidadãos de vários países dedicam algum tempo a lembrar das transexuais, travestis e outros grupos transgressores dessa ditadura de gênero binária determinada pela genitália de nascença - que nem sempre é tão definida assim, vale lembrar - que foram mortos/mortas por motivação transfóbica ou por transfobia associada a outras motivações.

Esse cartaz divulgado via redes sociais é muito apropriado. Não sei quem foi o autor ou a autora, mas ele fala mais alto do que muito discurso por aí. Resta saber se as pessoas terão ouvidos para ouvir e olhos para ver. Espero que sim, porque continuaremos falando e mostrando os avanços e os obstáculos do Movimento Transgênero até que ninguém possa dizer que nunca ouviu falar sobre esse assunto e até que as pessoas transgêneras tenham seus direitos individuais garantidos.

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Gostei desse panorama histórico sobre a instituição desse dia, divulgado por Alexsander Lepletier via Facebook.


Por Alexsander Lepletier
https://www.facebook.com/alexsander.lepletier




"O Dia Mundial da Lembrança Trans ocorre anualmente no dia 20 de novembro. É uma data para relembramos todas as pessoas assassinadas por motivos transfóbicos.

O Dia Mundial da Lembrança Trans foi fundado em 1998 por Gwendolyn Ann Smith, uma mulher trans designer gráfica, colunista e ativista, para relembrar o assassinato de Rita Hesler em Allston, Massachussets. No que foi seguida por diversas pessoas trans ativistas e pessoas aliadas da comunidade trans em São Francisco, que decidiram que era hora de lembrar de todas as demais pessoas trans assassinadas em diversas outras cidades.

Rita era uma mulher trans negra que foi brutalmente espancada e recebeu 20 golpes de faca no peito em seu apartamento por um homem desconhecido. Seu corpo foi encontrado no dia 28 de novembro de 1998.


À polícia, sua irmã contou que na noite anterior Rita foi vista na companhia de dois rapazes em um bar, sendo que um dos quais a seguiu até em casa. O suposto assaltante não levou qualquer joia, dinheiro ou objeto de valor de seu apartamento. O Boston Globe informou na ocasião que Rita trabalhava como prostituta com o nome de Naomi, mas que não há qualquer evidência de que ela tenha sido atacada por um cliente.

Muitas pessoas da comunidade trans norte-americana sustentam que se tratou de um crime de ódio por conta da forma brutal com que houve o assassinato, com diversos hematomas e escoriações pelo seu corpo e tendo o assassino não roubado qualquer objeto de dentro de sua casa. Esse fato levou a comunidade trans e seus aliados a fazer uma vigília com velas acessas e a promover uma marcha em Allston, em dezembro daquele ano.

Desde quando foi fundado, o Dia Mundial da Lembrança Trans, conhecido internacionalmente pela sigla TDOR, angariou diversas pessoas preocupadas com os assassinatos das pessoas trans.
Em 2010, 185 cidades em 20 países fizeram manifestações em função do TDOR.

Geralmente são lidos nesses atos os nomes das pessoas trans que tiveram suas vidas ceifadas no último ano em função da transfobia. Lembrando aqui que como esse tipo de crime é subnotificado, não sabemos exatamente quantas e onde são as pessoas trans assassinadas por motivos transfóbicos.

Os atos geralmente contam com pessoas fazendo vigílias com velas acesas, exposições artísticas, apresentação de filmes e diversas marchas.

Sendo o Brasil o país campeão mundial de assassinato de pessoas travestis e transexuais, é importante também relembrarmos a memória de tantas pessoas dessa comunidade, extremamente vulneráveis e invisíveis, que perderam suas vidas em função do ódio que a sociedade nutre contra as pessoas que possuem uma identidade de gênero divergente da maioria. Um país em que a expectativa de vida de uma travesti ou mulher transexual é de apenas 30 anos."

Daniela Andrade
https://www.facebook.com/danielasobrevivente/

BASTA DE TRANSFOBIA!

EUA: transgêneros estão em maior risco de desemprego e pobreza

EUA: Estudo revela que trabalhadores transgêneros estão em maior risco de desemprego e pobreza

Por Aaron Day

Tradução para a língua portuguesa: Sergio Viula
Fonte em inglês: PinkNews

10 September 2013, 11:08am

 
A Broken Bargain for Transgender Workers


 
A Broken Bargain for Transgender Workers
 
Um novo relatório revelou que trabalhadores transgêneros, nos EUA, experimentam desemprego em índices dobrados, quando comparados à população como um todo, e que são quatro vezes mais propensos a ter um orçamento doméstico menor que 10 mil dólares (6.400 libras).

O relatório publicado essa semana, intitulado “A Broken Bargain for Transgender Workers” (Uma Negócio Quebrado para os Trabalhadores Transgêneros), acompanha um relatório recentemente publicado, “A Broken Bargain: Discrimination, Fewer Benefits, and More Taxes for LGBT Workers” (Um Negócio Quebrado: Discriminação, Menos Benefícios e Mais Taxas para Trabalhadores LGBT).

O estudo é co-autorado pelo Movement Advancement Project (MAP), e pelo National Center for Transgender Equality (NCTE), o Center for American Progress (CAP), and o Human Rights Campaign (HRC), numa parceria com Freedom to Work, o National Gay and Lesbian Task Force, o Out and Equal Workplace Advocates, e o SEIU.

O relatório revela que trabalhadores transgêneros relatam desemprego numa taxa de 14% – o que é o dobro do índice da população como um todo, que é de 7%.

44% das pessoas transgênero que trabalham atualmente também estão desempregadas.

Trabalhadores transgênero também perfazem 15% dos que têm receita doméstica abaixo de 10 mil dólares – o que é quatro vezes o índice de pessoas na mesma condição entre a população em geral, que é de 4%.

Mara Keisling, Diretora Executiva do NCTE, disse: “Este relatório sublinha a dura realidade do que significa viver e trabalhar como uma pessoa transgênero nesse país. Como outros trabalhadores, os americanos transgêneros merecem ser julgados nosso trabalho e contribuições e não pelo aspecto de quem somos”.

Ineke Mushovic, Diretor Executivo do MAP, também explicou como esses números vieram à luz.

Ela diz: “Leis e políticas injustas impõem fardos diariamente aos trabalhadores transgênero país afora. É chocante que nessa era, a lei federal de não discriminação ainda não proteja explicitamente o trabalhador com alto desempenho de ser despedido somente porque ele ou ela é transgênero”.

O estudo apurou que, diferente dos trabalhadores cisgêneros (N.T.: aqueles que têm sexo biológico e identidade de gênero em harmonia desde o nascimento), as pessoas trans tem acesso negado tanto aos benefícios de saúde quanto à licença médica. Por exemplo, assistência médica para a transição é geralmente excluída das regras dos planos de saúde, e as companhias podem negar licença do trabalho para propósitos relacionados à transição, incorretamente declarando que tal assistência não constituiu uma “condição médica séria”.

Winnie Stachelberg, Vice-Presidente Executivo de Assuntos Exteriores no CAP, disse: “Muito frequentemente, empregadores oferecem benefícios de saúde que não proveem a cobertura e licença médica que são cruciais para o bem-estar e segurança dos trabalhadores transgêneros e suas famílias".

“Justiça no local de trabalho significa mais do que liberdade; significa acesso igual aos benefícios que empregados transgêneros precisam para viverem vidas saudáveis e produtivas.”

Uma pesquisa recente do CAP demonstrou que 73% dos votantes apoiam que se protejam as pessoas trans de discriminação no local de trabalho. Apesar desse apoio, nenhuma lei federal provê garantias legais explícitas para trabalhadores transgêneros baseada na identidade de gênero.

Jeff Krehely, Vice-Presidente e Oficial-Chefe no Human Rights Campaign, disse: “Apesar do progresso feito nos níveis locais, estaduais e federal, americanos transgêneros enfrentam discriminação no ambiente de trabalho em índices alarmantes".

“A recente decisão do EEOC no [caso] Holder versus Macy, que entendeu que a discriminação contra trabalhadores transgêneros é proibida, uma vez que ela é uma forma de discriminação sexual, foi importante; porém, temos um caminho a percorrer até que possamos acabar com o ciclo de discriminação, desemprego, e subemprego de trabalhadores qualificados que estão dispostos e são capazes de contribuir com a sociedade de maneiras significativas e produtivas.”

O relatório completo (PDF) com uma análise aprofundada pode ser encontrado no site do MAP.
https://www.lgbtmap.org/transgender-workers

Um relatório do Reino Unido publicado em agosto sobre crimes de ódio anti-LGBT em Londres também demonstrou que, apesar do número de crimes reportados à polícia estarem em declínio, a comunidade LGBT anda experimenta altos níveis de abuso, com 75% das pessoas trans e uma em cada oito das pessoas gays sendo vítimas de crimes de ódio a cada ano no Reino Unido.
https://www.thepinknews.com/2013/08/09/study-one-in-eight-gay-people-and-75-of-trans-people-the-target-of-hate-crime-each-year-in-uk/ 

Outra pesquisa publicada em agosto revelou que uma grande maioria dos britânicos LGBT ainda vivem sob o medo de discriminação.
https://www.thepinknews.com/2013/08/25/survey-homophobic-discrimination-still-expected-by-a-majority-of-gay-uk-citizens/


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Eu esperava que os leitores mesmos fizessem uma comparação crítico-analítica com a situação dos transgêneros brasileiros, mas só para garantir, decidi levantar essas 'lebres' aqui:

1. Os pesquisadores estão falando de transgêneros americanos (capacitados) que ficam desempregados ou são demitidos simplesmente por serem transgêneros. No Brasil, a maioria dos transgêneros sequer consegue terminar o ensino fundamental e mais raramente ainda o médio. Universidade ou curso técnico ou politécnico são coisas ainda mais distantes para essas pessoas. Os principais motivos são: bullying transfóbico, falta de apoio familiar, falta de recursos, e depressão como consequência dessa falta de senso de pertença.

O que precisamos?

De políticas de Estado que garantam a permanência dessas pessoas na escola e favoreçam seu ingresso na universidade, assim como orientação legal, psicológica, médica e vocacional através dos aparelhos do Estado, alguns deles já disponíveis, mas não contemplando as especificidades dessa população.

2. Nos EUA, as pessoas transgêneros são muito organizadas e mobilizadas. Aqui, as coisas não são bem assim. Temos algumas e alguns transexuais e travestis lutando de modo mais organizado por direitos nos últimos anos. A maioria se aliena, não consegue entrar nas rodas de discussão dos que tomam decisões ou simplesmente se contenta em fazer uma ou outra postagem nas redes sociais. É preciso mais mobilização. Na maioria das cidades (inlusive capitais), não se tem referenciais com os quais os transgêneros possam se identificar como lideranças político-sociais. É preciso que haja mais ação e visibilidade. Sem mobilização, nada se consegue.

O que fazer?

Buscar informações sobre grupos que defendam os direitos trans e juntar-se a eles. Isso gera formação pessoal e fortalecimento da comunidade trans.

3. As pessoas transgêneros nos EUA e na Europa já têm se assumido como sujeitos de seus próprios discursos há bastante tempo. No Brasil, a maioria ainda é objeto do discurso alheio, seja científico, político ou cultural. No entanto, já temos indivíduos transgêneros capazes de produzirem textos: livros, artigos, roteiros para teatro, etc. Contudo, quando procuro fontes de autoria dessas pessoas, não encontro.

É verdade que o mercado já é difícil para quem é G ou L, imaginem para quem é T!!! Tudo indica que sofram discriminação ainda maior. Mas, como diz o surrado ditado: a união faz a força.

O que falta?

Gente que escreva, mesmo sem ter a menor garantia de que será publicado. Ovo não posto não faz omelete. Escrever, escrever, escrever. E submeter a quem possa publicar. E se não houver quem publique entre as editoras mais consolidadas e tradicionais ou mesmo as mais recentes e voltadas para a comunidade LGBT, a saída é buscar patrocínio para publicação independente.

RESUMINDO de modo muito superficial, porque o objetivo não é aprofundar muito mais do que isso agora:

TRANSGÊNEROS, UNI-VOS! E não desprezeis o apoio dos aliados, sejam outros transgêneros ou cisgêneros. ;)

TRAVESTIS ENVELHECEM? - por Pedro Paulo Sammarco Antunes




O AUTOR:

Pedro Paulo Sammarco Antunes
Doutorando em Psicologia Social pela PUC-SP
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7470523395189975
Telefone: 11 99121 5435


EVENTO NA MARTINS FONTES PAULISTA:






SINOPSE

Este livro tem o objetivo de conhecer o período do processo de vida, chamado de velhice e envelhecimento daquelas que foram designadas como travestis. Devido ao número quase inexistente de pesquisas sobre envelhecimento e velhice de travestis, fez-se necessário esse estudo, que não pretende esgotar o tema, mas sim iniciar uma importante discussão. Os aspectos de gênero, bem como os de velhice foram relacionados. O autor percebe que tanto o gênero como a velhice são compostos por atos, que constantemente reiterados, dão a impressão que há uma essência natural de gênero e velhice, inerentes a todos os corpos, manifestando-se ao longo da vida e faz isso através de um levantamento de demandas e necessidades em relação às travestis.

ADQUIRA O SEU AQUI:

Martins Fontes: https://www.martinsfontespaulista.com.br/travestis-envelhecem--712660/p

Amazon: https://www.amazon.com.br/Travestis-Envelhecem-Pedro-Sammarco-Antunes/dp/8539105276

Principal manual de psiquiatria deixa de considerar doentes os transgêneros

Mais um ponto final na luta dos homossexuais

Com décadas de atraso, principal manual de psiquiatria deixa de considerar doentes os transgêneros

Até década de 70, homossexualidade também era entendida como transtorno mental. Mudança veio após ativismo de movimento gay

Histórico controverso nos corredores da Associação de Psiquiatria Americana, entidade que publica o manual de transtornos mentais



LEIA A MATÉRIA NA ÍNTEGRA AQUI:
https://oglobo.globo.com/saude/mais-um-ponto-final-na-luta-dos-homossexuais-7059597



Direitos gays. Revisão da bíblia psiquiátrica vem após mudanças legais, 
como a aprovação da união homossexual em alguns países 
Elaine Thompson / AP



A homossexualidade era entendida como uma doença mental até 1973 e estava no mesmo grupo que necrofilia, pedofilia, zoofilia e outras mais pela chamada “Bíblia da psiquiatria”: o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais” (DSM). Uma forte reação de acadêmicos e ativistas conseguiu na época remover o termo do manual. Quarenta anos depois, a mesma publicação, que influencia profissionais de todo o mundo, realizará outra grande mudança. A partir do ano que vem, os transgêneros — grupo que inclui travestis, drag queens, transformistas e transexuais — serão retirados da classificação de doenças mentais.

A revisão da Associação Americana de Psiquiatria (APA), que coordena o manual com o apoio de 1.500 especialistas de 39 países, vem na esteira de recentes mudanças legais sobre os direitos dos homossexuais. Em 2010, o governo francês retirou a transexualidade das patologias psiquiátricas. Nesta semana, a Câmara de Deputados do Uruguai aprovou o casamento gay, e o projeto será enviado ao Senado. A lei já vale para Argentina, Islândia, Portugal, Suécia, Noruega, entre outros. No Brasil, a Justiça analisa caso a caso.
A médica e política americana Dana Beyer, transexual e ativista da causa, há uma década está no grupo de trabalho para a revisão do DSM-5, que foi aprovado este mês e será publicado em maio de 2013.

— Houve grande resistência nos primeiros anos por pesquisadores mais velhos e conservadores, mas isto foi diminuindo ao longo dos anos — comentou Dana por email. — Muitas das mudanças foram impulsionadas na última década pelo reconhecimento de que nós, gays e transgênero, nascemos assim.

Dana lembra que, apesar da remoção da homossexualidade do DSM-2, de 1973, o termo continuou presente como uma subcategoria, a “homossexualidade egodistônica”, até 1987. Já o DSM-5 trocou o Transtorno de Identidade de Gênero por Disforia de Gênero, entendida como uma condição, e não mais um transtorno. Manteve ainda o “distúrbio transvéstico” (antes fetichismo transvéstico).

— Precisamos removê-lo na próxima revisão — afirmou Dana. — A principal diferença é que a decisão de 1973 foi o que impulsionou o movimento gay, já essa revisão é uma aproximação da conclusão do movimento de direitos civis dos transgêneros.

i terão mais atenção no DSM-5. Além de três, serão quatro diferentes transtornos, com especial foco em crianças e adolescentes.

Além disso, como militantes e alguns especialistas temiam, o autismo passará e figurar como espectro autista, num único quadro de transtorno. Isto acarreta na reuniam de outros distúrbios e leva ao desaparecimento de algumas síndromes, como a de Asperger. Em vez disso, haverá gradações, de leve a grave, dos sintomas autistas.

“Com os avanços da clínica e do conhecimento científico, as mudanças eram inevitáveis”, justificou, num comunicado oficial, o presidente da Associação de Psiquiatria Americana, Dilip Jeste.

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