PARAÍSO DO TUITI traz enredo com A PRIMEIRA TRAVESTI DOCUMENTADA DO BRASIL (Xica Manicongo) - Carnaval 2025


Prepare-se para um desfile histórico! No Carnaval de 2025, a Paraíso do Tuiuti traz para a Sapucaí o enredo "Quem tem medo de Xica Manicongo?", destacando a trajetória da primeira travesti documentada no Brasil. 


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Quem foi Xica Manicongo?

Xica Manicongo: A Primeira Travesti Documentada do Brasil

Xica Manicongo é uma figura histórica fundamental para a luta LGBTQ+ no Brasil. Sua história remonta ao século XVI, no contexto da colonização portuguesa, e revela como a diversidade de gênero sempre esteve presente, mesmo sob a repressão brutal da escravidão e da Inquisição.

Origem e Chegada ao Brasil

O nome “Manicongo” sugere que Xica veio do Reino do Congo, uma poderosa monarquia localizada no território que hoje corresponde à República Democrática do Congo e Angola. Durante o século XVI, o tráfico transatlântico de escravizados já estava em pleno funcionamento, e pessoas de diversas etnias africanas eram sequestradas e trazidas para o Brasil para trabalharem sob condições desumanas.

Xica Manicongo foi levada para Salvador, na Capitania da Bahia, um dos principais portos de entrada da população escravizada no período colonial. Nessa época, Salvador já era um importante centro administrativo e comercial do domínio português, e a cidade abrigava uma grande população negra escravizada, que trabalhava nos engenhos de açúcar, na construção civil e no serviço doméstico.

Travestilidade em Pleno Período Colonial

Xica Manicongo ficou conhecida por se vestir com roupas femininas e se identificar de maneira diferente do gênero masculino que lhe havia sido imposto ao nascer. Isso indica que, mesmo em um período marcado por intensa opressão, algumas pessoas escravizadas tentavam manter sua identidade e expressões de gênero, resistindo cultural e pessoalmente à violência colonial.

A presença de pessoas com identidades dissidentes no Brasil não era rara. A cultura africana já tinha outros entendimentos sobre gênero, diferentes dos moldes binários impostos pelo cristianismo europeu. Há relatos de que, em algumas sociedades africanas, existiam funções sociais e religiosas desempenhadas por pessoas que transitavam entre gêneros. Xica pode ter trazido consigo esses valores culturais, mas foi confrontada com as rígidas normas da colônia portuguesa.

Perseguição e Julgamento pela Inquisição

A história de Xica Manicongo chegou até nós porque a pessoa foi alvo da Inquisição portuguesa, um sistema criado para punir práticas consideradas heréticas pela Igreja Católica. A “sodomia” — termo genérico que incluía qualquer relação sexual ou identidade de gênero fora dos padrões heteronormativos — era duramente reprimida.

Nos registros históricos, Xica foi denunciada por “se portar como mulher” e acabou sendo acusada de sodomia, um crime grave na época. Como punição, foi obrigada a vestir-se “de acordo com seu sexo” e, possivelmente, sofreu outras formas de repressão física e psicológica.

O Legado de Xica Manicongo

Mesmo tendo vivido em um período de extrema repressão, Xica Manicongo resistiu ao tentar expressar sua identidade de gênero em meio à escravidão e ao controle religioso. Sua história simboliza a existência e a resistência das pessoas trans e travestis no Brasil desde os primeiros séculos da colonização.

Hoje, ao ser reconhecida como a primeira travesti documentada do Brasil, Xica Manicongo se torna um ícone da memória LGBTQ+ negra e um símbolo de luta contra a opressão colonial, racista e transfóbica.

O fato de a Paraíso do Tuiuti trazer essa história para o Carnaval 2025 mostra o quanto essas narrativas estão ganhando espaço e sendo resgatadas para reforçar a luta por respeito e reconhecimento.

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O Enredo da Tuiuti

Sob a batuta do carnavalesco Jack Vasconcelos, a Tuiuti promete um desfile emocionante, celebrando a resistência e a luta pela identidade de gênero. O samba-enredo, divulgado em julho de 2024, já está disponível para audição. 

Data e Ordem do Desfile

Marque na agenda: a Paraíso do Tuiuti será a segunda escola a desfilar na terça-feira de Carnaval, 4 de março de 2025, com início previsto entre 23h30 e 23h40. 

Destaques do Desfile

A escola está preparando alas que retratam diferentes aspectos da vida de Xica Manicongo e a luta da comunidade trans ao longo da história. A comissão de frente promete uma coreografia impactante, simbolizando a resistência contra a opressão. A bateria "Super Som", sob o comando do mestre Marcão, trará paradinhas e bossas que prometem levantar o público. A rainha de bateria, Mayara Lima, será um dos destaques, esbanjando carisma e samba no pé. 

Ensaio de Rua

Recentemente, a Tuiuti realizou um ensaio de rua em São Cristóvão que mostrou a força da comunidade. O intérprete Pixulé conduziu o samba-enredo com maestria, e a harmonia entre os componentes foi destaque. A comissão de frente apresentou detalhes da coreografia, deixando claro que a escola está pronta para brilhar na Avenida. 

Com esse enredo potente e uma comunidade engajada, a Paraíso do Tuiuti promete um desfile inesquecível, celebrando a história de Xica Manicongo e reforçando a importância da diversidade e da resistência no Carnaval carioca.

Samba-enredo

Já vai aprendendo a letra para cantar junto no desfile. Veja abaixo o samba-enredo comprosto por Cláudio Russo e Gustavo Clarão para o espetacular desfile da Tuití no carnaval 2025:

Ouça o samba aqui: https://youtu.be/zRMGzAGEYrg


Só não venha me julgar Ô Ô

Pela boca que eu beijo

Pela cor da minha blusa

E a fé que eu professar

Não venha me julgar

Eu conheço o meu desejo

Este dedo que acusa

Não vai me fazer parar


Faz tempo que eu digo não

Ao velho discurso cristão

Sou Manicongo

Há duas cabeças em um coração

São tantas e uma só

Eu sou a transição

Carrego dois mundos no ombro


Vim Da África Mãe Eh Oh

Mas se a vida é vã Eh Oh

Mumunha

Jimbanda me fiz

N Ganga é raiz

Eu pego o touro na unha


A bicha, invertida e vulgar

A voz que calou o “Cis tema”

A bruxa do conservador

O prazer e a dor

Fui pombogirar na Jurema


Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha

As perseguidas na parada popular

E a Mavambo reza na mesma cartilha

Pra quem tem medo o meu povo vai gritar


Eu travesti

Estou no cruzo da esquina

Pra enfrentar a chacina

Que assim se faça


Meu Tuiuti

Que o Brasil da terra plana,

Tenha consciência humana

Chica vive na fumaça


Eh! Pajubá!

Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê

É Mojubá

Põe marafo, fubá e dendê (Pra Exu)

Este samba, composto por Claudio Russo e Gustavo Clarão

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