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METAFÍSICA DA EXPLORAÇÃO -- O deus dos oprimidos é inconscientemente uma imagem ideal daquilo que os miseráveis gostariam de ser.



Por Marcia Eberlin - via Facebook em 15/08/14



METAFÍSICA DA EXPLORAÇÃO -- O deus dos oprimidos é inconscientemente uma imagem ideal daquilo que os miseráveis gostariam de ser. A colorida fantasia da opulência divina e a bem-aventurança espiritual, que os “pobres de espírito” usufruirão nos recantos celestiais, são apenas um reflexo distorcido do desejo inconsciente que as massas têm de usufruírem materialmente o estilo burguês de vida.

Infelizmente a alienação religiosa é por demais cruel, enquanto a riqueza é dividida entre os membros da classe dominante, aos oprimidos sobram apenas migalhas da produção material. O pior é que, pela potência ideológica de tal engodo, o explorado ainda acredita que está trabalhando para a glória do “reino de Deus”.

Essa exploração velada, feita pela classe dominante, foi percebida profundamente pelo filósofo Marx. Sobre tal manipulação ele escreveu as seguintes palavras:

" Se minha própria atividade não me pertence, mas é uma atividade alienada, forçada, a quem ela pertence? A um ser outro que não eu. O que é esse ser? Os deuses? É evidente, nas mais primitivas etapas de produção adiantada, por exemplo, construção de templos etc., no Egito, Índia, México, e nos serviços prestados aos deuses, que o produto pertencia a estes. Mas os deuses nunca eram por si só os donos do trabalho; tampouco o era a natureza (...) O ser estranho a quem pertencem o trabalho e o produto deste, a quem o trabalho é devotado e para cuja fruição se destina o produto do trabalho, só pode ser o próprio homem. Se o produto do trabalho não pertence ao trabalhador, mas o enfrenta como uma força estranha, isso só pode acontecer porquê há um outro homem que não o trabalhador. Se sua atividade é para ele um tormento, ela deve ser uma fonte de satisfação e prazer para o outro. Não os deuses nem a natureza, mas só o próprio homem pode ser essa força estranha acima dos homens "(Manuscritos Econômicos e Filosóficos – p.98).

Como a religião é sempre o reflexo distorcido das classes que dominam, historicamente a mesma sempre esteve ao lado dos mais fortes, por isso, o trabalho alienado, distante de sua fonte humana, sempre foi justificado pelas variadas religiões como algo pertencente aos deuses. Daí a ideia do senso comum, de que a exploração, ao contrário de ser um “mal”, é uma forma de “purificação espiritual” e, portanto, uma coisa agradável aos deuses. Quantas pessoas no Brasil são ensinadas a se conformarem com seu "carma", para assim ganharem o direito de uma melhor reencarnação? Quantos outros são convencidos de que seu sofrimento e escassez material e cultural são subprodutos de um plano divino maior? Enquanto "mega- igrejas" são erguidas por nossos sorridentes pastores televisivos, gráficas imensas rodam a todo vapor novos livros "psicografados", padres cantores tornam-se abruptamente celebridades, entre outras façanhas inumeráveis de nosso crescente mercado da "fé", o homem comum se vê cada vez mais distante de usufruir o próprio trabalho de suas mãos. Com a desculpa de salvarem a nossa "alma", esses agentes do "mundo espiritual" perpetuam, às custas de nossa "santa alienação dirigida", a nossa fatídica resignação "cristã". Por quanto tempo os pastores tosquiaram as ovelhas?

Catolicismo e Sexualidade

Texto do antigo blog ainda na UOL



A visão católica de sexualidade e, consequentemente de casamento, é a de que a união sexual visa tão-somente a reprodução. Mas, o que dizer dos milhares (talvez milhões) de casais que não procriam ou das inúmeras relações sexuais que um casal realiza sem a mínima possibilidade de procriar?

Os mais tradicionalistas alegam que a Bíblia fala contra a homossexualidade, mas geralmente eles concentram-se em cinco ou seis passagens que têm diversas outras conotações. No Levítico, por exemplo, a passagem que diz que um homem não se deitará com outro homem está no mesmo capítulo que passagens que falam contra a mistura de sementes diferentes numa mesma lavoura, uso de roupas que combinem tecidos diferentes, proibição de que mulheres em seu período menstrual entrem no templo ou se aproximem de outras pessoas, sob a alegação de que são imundas etc. Dá para levar isso a sério depois de todo o "Esclarecimento" do século XIX, XX e já iniciado XXI?

De fato, a defesa bíblica à escravidão é mais forte do que suas contradições à homossexualidade, e ninguém mais apela à Bíblia para justificar a escravidão. O Vaticano, inclusive, chegou a ser uma voz contrária à escravidão num dado momento da história, apesar de ter se beneficiado da escravidão direta ou indiretamente. Paulo, que muita gente admira foi um dos mais soberbos e cínicos apóstolos [na verdade, autoproclamado apóstolo, uma vez que não fazia parte dos doze] - esse mesmo Paulo que tantos admiram corroborava a escravidão em suas cartas: "Escravos, obedecei a vossos senhores terrenos com temor e tremor, com um coração puro, como obedeceis a Cristo...". Agora isso é coisa que se leve à serio tomando chicote no lombo e sendo tolhido em toda a sua dignidade? É fácil para o burguesinho, versado em judaísmo e helenismo, falante de várias línguas, e sustentado pela boa vontade de um bando de cristãos do primeiro século...

Mas a escravidão não foi a única loucura a ser abolida. O mesmo se deu com o antissemitismo, a proibição de que as mulheres falassem na igreja, etc. Tudo isso foi usado em nome da Bíblia e depois abandonado em nome do bom senso. Por isso, a sexualidade é a próxima fronteira a ser derrubada para que haja verdadeira justiça no trato da igreja com os clérigos e leigos que comungam com ela, bem como com os não-religiosos.

Pedir que os homossexuais suprimam sua identidade sexual é uma violência, uma crueldade. Quanto mais aprendemos sobre a sexualidade humana, mais chegamos à conclusão de que a atração pelo mesmo gênero é algo que nasce com o ser humano ou que se desenvolve tão cedo que não é o que a maioria de nós consideraria como uma "escolha" manipulável mais do que nascer negro, judeu ou mulher.

O celibato católico NÃO é tão velho quanto a igreja. Durante oito séculos a igreja não teve nenhuma determinação papal contra o casamento dos clérigos. De fato, pelo menos três papas tiveram filhos que os sucederam no trono papal. Portanto, foi por motivos políticos e econômicos - não escriturísticos - que a igreja estabeleceu a regra celibatária. O ponto é que que a privação de companheiro(a) devidamente reconhecido e aceito leva à clandestinidade, e essa clandestinidade pode levar a comportamento nocivo, seja hétero ou homossexual. A igreja precisa reconhecer a legitimidade do amor em qualquer modalidade, desde que sejam legalmente responsáveis por si mesmas as partes envolvidas.

Quanto às mulheres, se a igreja não reconhecê-las como sacerdotisas - gays ou heterossexuais - sofrerá perdas ainda maiores. Donald Cozzens cita um prognóstico feito por um vigário-geral aposentado: "A redução de sacerdotes não será resolvida orando por mais vocações. As mulheres são as que identificam e nutrem vocações, e elas não estão fazendo mais isso. Elas dizem: 'Uma igreja que não aceita minhas filhas não vai levar meu filho.".

Agora, por que um ateu como eu está interessado nesse assunto eclesiástico? Obviamente, porque não é meramente eclesiástico, mas social, político, cultural. Que a igreja sofra solução de continuidade não me preocupa mais do que se o presidente americano George Bush comeu bacon com ovos no café da manhã. Mas que homossexuais crentes em sua religião possam ver-se integralmente e naturalmente envolvidos no ministério para o qual se sentem vocacionados é uma questão que não exige fé, mas bom senso! Agora que a religião é essencialmente motivada pelo binômio culpa-medo, disso não duvido e, por isso, preferiria que as pessoas resolvessem seus dilemas existenciais - ou que pelo menos convivessem com eles - sem se submeterem a outros.

Entendo que para alguns bons seres humanos - e eu sou amigo, filho, pai, neto, sobrinho etc de alguns deles - a ideia de que não haja um deus lá em cima com agentes visíveis (padres, pastores, rabinos, pais-de-santo etc) e invisíveis (seus anjos e mensageiros espirituais) aqui em baixo parece assustadora. É o velho medo que os indefesos seres humanos - diante de um universo misterioso e grandioso em todos os seus fenômenos - nutrem. Medo esse que foi acrescido de culpa no dia em que alguém surgiu com a ideia de que talvez fenômenos como doenças, inundações e secas seriam vingança de uma divindade irada contra os pobres mortais por causa de alguma "querela sagrada" do tipo: não coma isso, não faça aquilo, não pense ou deseje aquiloutro.

Esse medo do desconhecido presente ou futuro e essa culpa, como se houvesse sempre algo a ser confessado, são as poderosas forças que mantém as igrejas abertas e abarrotadas ainda hoje, pois mesmo naquelas em que o interesse seja tão-somente a prosperidade financeira, o que paira na mente do indivíduo é o medo - neste caso, medo da desgraça financeira num mundo que muda o tempo todo.

Mas como os homens não podem viver sem ilusão alguma. a religião se torna esse último galho ao qual muitos se agarram tentando evitar a correnteza do rio da vida. Todos temos ilusões em alguma medida, mas nenhuma pode ser tão castradora de individualidade quanto aquela que em nome de um deus ordena que eu deixe de ser homem. Sim, porque com suas proibições de ordem sexual, incentivo ao jejum, à vigília, à penitência, à supressão do desejo, à negação de mim mesmo para ser semelhante a um pai celestial ou seu filho igualmente divino, o cristianismo me impõe limites insuportáveis enquanto ser humano, ser terreno, ser de afecções, de memória, de razão, e dono de uma corporalidade bela e pujante.

Prefiro dizer não à castração absolutamente desnecessária, despropositada e inútil da religião de um modo geral e dizer sim a tudo o que for belo, virtuoso e vital à minha própria humanidade e à humanidade dos meus semelhantes. Sou contra aquilo que vilipendie o ser humano e, por isso, sou contra o abuso sexual ou moral de qualquer ordem. Sou contra a exploração financeira que o homem ocidental sofre a cada dia. Sou contra o que oprime o homem, não contra o que o liberta!!! Adoro ser gente, ser humano, mesmo sendo tão frágil.

Não preciso nem dizer aos que amam a si mesmos, à vida e a alguns [é impossível amar todos] outros seres humanos que aproveitem o dia... mas só para não perder o costume: Carpe Diem!!!

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