Mostrando postagens com marcador política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador política. Mostrar todas as postagens

DYSPHORIA MUNDI - Paul B. Preciado


 Vídeo por Sergio Viula



Veja o que Judith Butler fala sobre essa obra de Paul B. Preciado:


Dysphoria mundi é um diário da violenta transição planetária que vivemos hoje. Doente de covid e trancado sozinho em seu apartamento, Paul B. Preciado registra as mudanças que estão ocorrendo em todas as esferas globais ― sociais, políticas, sexuais e ecológicas ― num texto “transgênero” que incorpora ensaio, poesia, autoficção: uma espécie de caderno filosófico-somático do processo de transformação em curso.

Para entendermos esse processo, o filósofo espanhol propõe que a noção de disforia seja pensada de maneira ampla e generalizada. “E se a ‘disforia de gênero’ não fosse um transtorno mental, mas uma inadequação política e estética de nossas formas de subjetivação em relação ao regime normativo da diferença sexual e de gênero?”, pergunta.

Atravessando os limites disciplinares e seus binarismos, Preciado nos faz ouvir o som do velho mundo desmoronando e nos compele a fundar um novo regime epistemológico antes que seja tarde demais.

“Esta obra monumental de Preciado é a de um bibliófilo que põe todos os seus recursos a serviço de um tempo e de um mundo hoje irreversivelmente deslocados. Mobilizando teorias da linguagem, consciência, tecnologia e imunologia para contar a história desse mundo, o livro estilhaça as estruturas binárias responsáveis pela destruição do amor e do futuro. Aqui uma canção, ali um poema: é um pensamento que transcende o gênero e os gêneros, que nos desfaz no melhor sentido da palavra. Um compromisso implacável contra as piores formas de dissolução.” ― Judith Butler

O que é gênero? (Judith Butler)

O que é gênero?
Judith Butler / Big Think 

Traduzido por 
Sergio Viula 



Judith Butler: O que é gênero?
Falando para o canal Big Think




Então, existem muitas teorias diferentes sobre gênero, e a minha é apenas uma delas. Às vezes, pessoas que realmente odeiam o gênero me apontam como a responsável por ter inventado isso, mas isso não é verdade. Na minha visão, todo mundo tem uma teoria sobre gênero, e o que quero dizer com isso é que todos têm certas suposições sobre o que o gênero é ou deveria ser. E, em determinado momento da vida, nos perguntamos: "Uau, de onde veio essa suposição?" (Judith ri).

Neste ponto, estou menos preocupada com qual teoria está certa ou errada, porque o ataque ao gênero também é um ataque à democracia. Temos o poder e a liberdade de criar vidas mais vivíveis para nós mesmos, onde os corpos possam ser mais livres para respirar, se mover e amar, sem discriminação e sem medo da violência.

Sou Judith Butler, professora distinta na pós-graduação da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ensino literatura, filosofia e teoria crítica, e sou mais conhecida por meus dois livros sobre gênero: Problemas de Gênero e Corpos que Importam, do início dos anos 1990. Meu trabalho foi traduzido para mais de 27 idiomas.

Eu insisto que o que significa ser mulher, ou mesmo ser homem ou qualquer outro gênero, é uma questão em aberto.

Temos uma série de diferenças biológicas, então não as nego, mas não acho que elas determinem quem somos de uma forma definitiva. No centro dessas controvérsias está a distinção entre sexo e gênero. Mas qual é essa distinção? Como devemos pensá-la?

O sexo geralmente é uma categoria atribuída a bebês, que tem importância no mundo médico e jurídico. Já o gênero é uma mistura de normas culturais, formações históricas, influência familiar, realidades psíquicas, desejos e vontades. E nós temos voz nisso.

Minha vida foi influenciada pelos anos 1960 e pelos movimentos sociais que surgiram nessa época. Cresci no lado leste de Cleveland, em uma comunidade judaica, e, quando estava no ensino médio, já era politicamente ativa. Mas também fazia cursos universitários de filosofia.

Nos meus 20 anos, percebi que não foram apenas os judeus que foram capturados e exterminados pelo regime nazista. Foram pessoas queer, gays e lésbicas, pessoas com deficiência, pessoas doentes, trabalhadores poloneses, comunistas. Minha percepção era de que era preciso ampliar a lente e entender que muitas pessoas foram alvo de políticas genocidas e que há diferentes formas de opressão. Continuo convencida de que precisamos conhecer a história para garantir que ela não se repita e que devemos buscar justiça não apenas para o grupo ao qual pertencemos, mas para qualquer grupo que sofra de maneira semelhante.

Nos anos 1970 e 1980, fiz parte de um movimento de pessoas que estavam repensando o gênero naquela época. A teoria queer estava surgindo, em um diálogo complexo com o feminismo. Questões trans ainda não haviam se tornado parte da nossa realidade contemporânea, então era um momento em que fazíamos perguntas como: "O que a sociedade fez de nós e o que podemos fazer de nós mesmos?"

Havia algumas vertentes do feminismo às quais me opus. Uma delas defendia que as mulheres eram, fundamentalmente, mães e que a maternidade era a essência do feminino. Outra via o feminismo como uma questão de diferença sexual, mas definiam essa diferença sempre presumindo a heterossexualidade. Ambas me pareceram equivocadas.

Eu sempre acreditei que as pessoas não deveriam ser discriminadas com base no que fazem com seus corpos, em quem amam, em como se movem ou como se apresentam. O que eu estava dizendo era que o sexo atribuído ao nascimento e o gênero que lhe ensinam a ser não deveriam determinar como você vive sua vida.

Às vezes, as pessoas apontam Problemas de Gênero como o marco inicial da teoria de gênero, mas outras pessoas já trabalhavam nessa área antes de mim, como Gayle Rubin, Juliet Mitchell e Simone de Beauvoir.

Simone de Beauvoir foi uma filósofa existencialista e feminista que escreveu O Segundo Sexo na década de 1940. Seu argumento central era que "não se nasce mulher, torna-se mulher" – ou seja, o corpo não é um fato imutável. Ela abriu a possibilidade de uma diferença entre o sexo atribuído ao nascimento e o sexo que se torna ao longo da vida.

Gayle Rubin, uma antropóloga, escreveu um artigo extremamente influente chamado O Tráfico de Mulheres. Ela argumentava que a família era uma estrutura cuja função era reproduzir o gênero e que um de seus objetivos era manter a heterossexualidade como norma.

Outro aspecto interessante do trabalho de Rubin foi sua relação com a psicanálise. Ela sugeriu que havia uma enorme repressão envolvida no processo de "tornar-se" homem ou mulher e que, para se conformar às normas de gênero, era necessário reprimir diversas possibilidades de ser, sentir, agir e amar que não se encaixavam nesses padrões.

Então, a antropologia, a psicanálise – tudo isso já fazia parte do debate antes de Problemas de Gênero.

Quando escrevi Problemas de Gênero, muitas pessoas tratavam o gênero como um fato natural ou uma realidade sociológica, mas não como algo que poderia ser construído e reconstruído.

A performance é importante nesse sentido: nós encenamos quem somos. E qualquer pessoa que estude performance sabe que existem performances em nossa vida que não são meras imitações, não são falsas.

Quando o filósofo J.L. Austin cunhou o termo "performativo", ele tentava entender enunciados legais. Por exemplo, quando um juiz diz "Eu os declaro marido e mulher", isso não é uma ficção – isso aconteceu de fato.

Agora, e se disséssemos que, ao vivermos nossas vidas como um determinado gênero, estamos realmente tornando esse gênero real, fazendo algo acontecer?

Quando pessoas gays e lésbicas começaram a se assumir, ou quando pessoas trans começaram a viver abertamente, algo mudou no mundo. Ao aparecer, falar e agir de certas maneiras, a realidade mudou. E continua mudando.

Estamos vendo os termos mudarem. Não falamos mais de família, mulher, homem, desejo e sexo da mesma maneira. Até mesmo o Cambridge Dictionary reconhece que algo mudou (Judith ri).

O performativo é um ato que faz algo existir ou um ato que tem consequências reais. Ele muda a realidade.

Mesmo entre pessoas progressistas e liberais que conheço, às vezes há resistência em relação aos direitos trans, direitos gays e lésbicos ou mesmo aos direitos das mulheres. Dizem que são questões secundárias ou que os incomodam.

Mas, nos EUA, aprendemos a falar de forma diferente sobre pessoas negras e sobre mulheres. E sim, pode ter sido difícil aprender a usar uma nova linguagem. Talvez tenhamos tido que ajustar nossos hábitos. Mas errar faz parte do aprendizado, especialmente quando estamos aprendendo algo novo.

Hoje, estou menos interessada em defender uma teoria sobre gênero e mais preocupada em encontrar formas criativas e eficazes de combater os ataques ao gênero.

Muitas pessoas que se recusam a permitir que pessoas trans se definam temem que sua própria auto definição seja desestabilizada.

Mas será que o gênero de alguém é realmente necessário e universal, ou é algo que emerge de maneira complexa em cada um de nós?

A liberdade é uma luta porque há muitas forças no mundo que nos dizem para não sermos livres com nossos corpos.

Vivemos em uma democracia e assumimos que vivemos de acordo com princípios como igualdade, liberdade e justiça. Mas estamos sempre aprendendo o que esses conceitos realmente significam.

Precisamos ocupar esses conceitos e mostrar que as lutas por justiça racial, igualdade e liberdade de gênero são parte essencial de qualquer luta democrática.

*************

Via Big Think

Traduzido por Sergio Viula

Vídeo fonte: https://youtu.be/UD9IOllUR4k?si=q6EVfV-K3v0mOaBs

Dia Internacional do Orgulho LGBT: Importantes apontamentos

Por Sergio Viula







DIA 28 DE JUNHO é o Dia Internacional ORGULHO LGBT! E temos muito do que nos orgulhar! A maioria de nós sobreviveu a uma infância e adolescência onde era cada um por si e todos contra nós. Se você foi criança antes da década de 1990, arrisco-me a dizer que você não tinha referências positivas que representassem a sua individualidade enquanto pessoa sexodiversa na TV, no rádio ou nas publições impressas. Às vezes, eu me pego pensando: Quem dera eu pudesse ter assistido algo como Heartstopper quando eu tinha 12 anos, por exemplo. Se você ainda não ouviu falar nessa série da Netflix, ela foi inspirada nessa HQ aqui: https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/3125198/brasil-registra-54-crimes-virtuais-por-minuto


Teaser official da série na Netflix



Família, escola, igreja e trabalho

A família, ambiente onde devíamos ter sido acolhidos e incentivados ao pleno desenvolvimento de nossas habilidades e de nossos afetos, foi justamente onde encontramos mais incompreensão e repressão. Se nos enfiamos no armário - muitos de nós por décadas -, foi justamente por causa de algum interdito estabelecido por nossos pais ou outras figuras de autoridade contra a diversidade sexual. Esses episódios provavelmente aconteceram diante da TV ou ao redor da mesa de jantar. O cúmulo da violência emocional já é bastante conhecido; trata-se da verbalização de frases como "prefiro um filho viciado, bandido ou até morto a um filho gay." Muitas pessoas LGBT nunca se recuperam das feridas emocionais causadas pelas atitudes de quem deveria protegê-las e orientá-las no pleno desenvolvimento de suas identidades. Ao contrário disso, as famílias muitas vezes pressionam a pessoa LGBT para que se "converta" em heterossexual (e cisgênera no caso das pessoas trans).


A escola, ambiente onde deveríamos ter sido incentivados para o pleno desenvolvimento de nossas habilidades cognitivas e psicossociais, ouvimos os primeiros xingamentos e piadas de mau gosto por parte de estranhos sobre nosso jeito de agir e de falar. Muitas vezes, até mesmo nossos gostos pessoais por cores, brinquedos, jogos, grupos musicais e outras formas de entretenimento são criticados impiedosamente. Esse tipo de censura torna-se um dos mais sórdios estímulos à autorrepressão e à autocondenação por parte das pessoas LGBT por causa da LGBTfobia externa que acaba sendo internalizada por meio dessas interações destrutivas.


A igreja, ambiente onde deveríamos supostamente ser acolhidos como filhos e filhas amadas de algum deus, convivendo fraternalmente uns dos outros, é o lugar onde ouvimos as piores recriminações. E elas vêm do lugar que simboliza autoridade máxima em termos de doutrina - o púlpito. Mas, não apenas dali. Os estudos bíblicos em pequenos grupos, os cultos realizados em casas de "irmãos", os cochichos das bilhardeiras e bilhardeiros de plantão - todos esses dispositivos de controle são usados para manter a sexodiversidade dentro de uma caixa preta que não pode ser acessada sem que alguma degraça nos sobrevenha. Curiosamente, essa mesma igreja é o lugar menos seguro para crianças e adolescentes justamente por causa do assédio sexual que estes sofrem (muitas vezes, calados) por parte de pastores, diáconos, líderes de mocidade, organizadores de acampamentos, etc. Se esses lugares já são perigosos para a criança ou adolescente heterossexual cisgênero, imagine para a criança ou adolescente LGBT! Ninguém perde coisa alguma ficando longe dessa fábrica de neuroses.


Finalmente, o trabalho - esse ambiente onde deveríamos aplicar nossas habilidades, conhecimentos e experiência, preferencialmente numa atmosfera de cooperação, visando à manutenção e à expansão da empresa que nos contratou. Não é bem isso que encontramos ali, todavia. O bullying "corporativo", geralmente, disfarçado de piada, gracejo ou mesmo de supervalorização das experiências heterossexuais no campo erótico-afetivo, romântico e familiar é um dispostivo de repressão utilizado contra as pessoas sexodiversas. Em outras palavras, quem é heterossexual e cisgênero pode falar das férias com a namorada ou namorado sem qualquer constrangimento,  ou comentar sobre os filhos sem qualquer recriminação, mas nós, LGBT, somos tacitamente coagidos a não falar sobre nosso final de semana com nosso namorado ou namorada homoafetivo(a).  Se falarmos, devemos estar preparados para o que virá depois, uma vez que provavelmente não teremos mais sossego depois disso. Observe que a maioria dos funcionários heterossexuais de qualquer empresa tem um porta-retrato com seu amor em cima da mesa, mas pergunte a si mesmo(a) o seguinte: Quantos LGBT fazem o mesmo tranquilamente? Garanto que são muito poucos ainda. Você pode estar dizendo a si mesmo(a) que se isso lhe acontecesse, você raclamaria com um chefe. Mas, que chefe? A maioria deles faz participa ou finge que não vê o jogo de seus "subordinados" LGBTfóbicos.


Qual será o resultado disso tudo?

O resultado de toda essa pressão social e de muitas outras é a neurose do armário. Com isso, refiro-me à repressão e camuflagem que a pessoa LGBT acaba fazendo contra si mesma para tentar tansitar pela sociedade LGBTfóbica sem ser apontada o tempo todo como uma desviada ou pervertida. 

Mas, não pense que é confortável viver no armário para evitar confrontos. De modo algum, pois não existe um único ser humano que se reprima com sucesso por muito tempo, se é que consegue se reprimir de fato por qualquer átimo. O que acontece geralmente é que a pessoa enfiada no armário acaba recorrendo à vida dupla. Isto é, ela age como  se fosse heterossexual e cisgênera, inclusive casando-se ou namorando alguém do outro sexo, mas dá vazão ao seu real desejo em escapadelas que estão longe de ser satisfatórias. Pelo contrário, essa duplicidade cobra um preço emocional altíssimo. 

Experiências sexuais vividas às escondidas exigem um arsenal de mentiras e disfarces capaz de deixar cicratizes profundas em qualquer psiquê. Entre as pessoas que já viveram assim por algum tempo e depois saíram do armário, muitas deram um novo e belo rumo à própria vida. Porém, muitas pessoas já morreram ou ainda morrerão nessa gangorra emocional, jamais tendo experimentado o sabor da liberdade de ser e de agir de acordo com sua própria vontade sem as máscaras auto-impostas na esperança de evitar a dor da rejeição. Sair do armário pode doer, mas é uma vez só. Viver no armário é arrastar uma dor muito maior pelo resto da vida. 


Felizmente, é cada vez mais comum que as pessoas saiam do armário o mais cedo possível. É importante que se diga que essa "coisa" de sair do armário só se faz necessária porque a sociedade parte do princípio de que, via de regra, todo mundo é heterossexual e cisgênero. O nome disso é hetero-cisnormatividade. E nada poderia estar mais longe da verdade. Na realidade, a heterossexualidade exclusiva é uma ponta do espectro das nuances que caracterizam a sexualidade humana assim como a homossexualidade é outra. A maioria das pessoas está em algum lugar entre as duas. Mas, por causa do reiterado reforço dessa hetero-cisnormatividade imposta por meio de vários mecanismos e dispositivos psicossociais presentes em nossa cultura, a maioria das pesssoas LGBT precisa dizer em algum momento quem elas são e como se sentem. Sair do armário é libertador, mas também é um ato político e pedagógico ao mesmo tempo.


Dentre as pessoas que logo cedo se assumiram e colocaram a cara no sol, algumas foram acolhidas sem maiores problemas. Porém, a maioria teve que travar alguma batalha dentro da própria casa. Nos casos mais graves, as pessoas LGBT podem sofrer represálias e até serem expulsas de casa. Mas, a maioria conseguiu refazer a vida e se estabelecer sozinha. Essas pessoas contruíram seus próprios lares e estabeleceram novas e significativas amizades tanto com outras pessoas LGBT como com pessoas heterossexuais e cisgêneras esclarecidas.


Em paralelo a todos esses enfrentamentos no plano individual, nós, LGBT, ainda travamos verdadeiras batalhas no plano coletivo. Já travamos muitas lutas para fazer valer nossos direitos mais fundamentais; direitos esses que só foram garantidos ao custo de muito esforço e graças a aliados nas mais diversas esferas de poder.


Para conhecer melhor a história da diversidade sexual e das identidades de gênero no Brasil desde o período colonial até a contemporaneidade, recomendo sem moderação o livro Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan. Não existe nada igual em português ou em qualquer outra língua a respeito da história LGBT do lado de baixo do equador.



Adquira o seu com a Companhia das Letras:
https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788547000653/devassos-no-paraiso-4-edicao-revista-e-ampliada




Como começou o Movimento LGBT?


Falando especificamente sobre a origem do Movimento LGBT moderno, algumas iniciativas heróicas e muito relevantes foram feitas na Europa, mas a luta por direitos ganhou força sem precedentes a partir do ano de 1969 com a Revolta de Stonewall, em Nova York, Estados Unidos. Esse levante aconteceu no dia 28 de junho; por isso, comemoramos o Dia Internacional do Orgulho LGBT nessa data.

No Brasil, especificamente, o Movimento LGBT, como concebido no período moderno foi deflagrado durante a Ditadura Militar (1964 a 1985). Duas publicações foram essenciais para esse despertamento: o jornal Lampião da Esquina (1978 a 1981) e o jornal ChanacomChana (1981 a 1987). O primeiro focava mais nos gays e nas travestis, enquanto o segundo era voltado para as demandas lésbicas, sendo vendido no Ferro's Bar em São Paulo. 

Apesar ter seu público majoritariamente entre lésbicas, o Ferro's Bar tentou reprimir a circulação do jornal - o que resultou num ato político promovido pelas lésbicas que deu origem ao que ficou conhecido como o Stonewall brasileiro (https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/3125198/brasil-registra-54-crimes-virtuais-por-minuto). A proibição da comercialização do periódico foi suspensa e o dia 19 de agosto ficou conhecido como o Dia do Orgulho Lésbico em São Paulo. Posteriormente, sendo adotado em todo o Brasil, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.



Fonte: 
https://jornal.usp.br/tv-usp/na-ditadura-midias-alternativas-quebraram-tabus-sobre-lgbts/




Conquistas da comunidade LGBT no Brasil:



1. criminalização da LGBTfobia;

2. reconhecimento social da identidade de gênero;

3. fim do tratamento das identidades trans como patologias;

4. fim dos tratamentos de “cura gay” por parte dos profissionais de saúde mental;

5. casamento civil igualitário;

6. permissão para casais homoafetivos adotarem crianças;

7. permissão para que crianças intersexo não tenham o sexo definido em suas certidões de nascimento;

8. procedimentos para a transição de gênero realizados pelo SUS.



Ainda há muito o que se fazer. Porém, essas vitórias para os direitos das pessoas LGBT, que nada mais são do que DIREITOS HUMANOS aplicados a indivíduos sexodiversos e que por muito tempo viveram sem quaisquer garantias civis, são fundamentais e profundamente emblemáticas. Cada uma dessas conquistas deve ser motivo de orgulho para toda a comunidade LGBT e seus aliados.


Apesar dos avanços, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBT no mundo, muitas vezes com requintes de crueldade. O site Homofobia Mata, criado por Eduardo Michels, que durante 10 anos fez a melhor pesquisa sobre violência LGBTfóbica do Brasil, tem registros detalhados desses crimes até o ano em que ele se 'aposentou' da pesquisa: algum momento entre 2018-2019. Confira.


Mas, quando pensamos em outros países, temos, por um lado, motivos para celebração e, por outro lado, motivos para lamentação e luta. Entre os casos que nos alegram, podemos citar países progressistas e inclusivos como a Holanda, o Canadá, a Noruega. Só para citar três. Existem mais, é claro. Entre os casos que nos entristecem profundamente e que devem nos inspirar a lutar pelo fim da LGBTfobia em todo o mundo, encontram-se os países mais terrivelmente fundamentalistas e implacavelmente LGBTfóbicos, como a Arábia Saudita, o Qatar, o Irã, entre outros.


Atualmente, 69 países ainda condenam cidadãos LGBT por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Até há pouco tempo, eram 71, mas Angola, Moçambique e Butão, que condenavam a sexodiversidade, baniram as leis absurdas. Que os demais sigam esse bom e justo exemplo.








Não basta descriminalizar a sexodiversidade


É preciso manter em mente que não basta não prender ou não condenar pessoas LGBT ao cárecere ou à morte. É preciso garantir seus direitos fundamentais em todos os países - direitos como os que já foram conquistados no Brasil e citados anteriormente nesse artigo.


Ainda existem muitas pessoas LGBT confinadas em campos de refugiados para não perderem suas vidas em suas próprias comunidades ou pelas mãos de seus prórpios parentes LGBTfóbicos. Um lamentável exemplo de campo de refugiados que atualmente conta com um grande número de pessoas LGBT é o campo de Kakuma no Quênia. Locais como esse deveriam proteger essas pessoas e proporcionar-lhe transição segura para locais onde elas pudessem morar, trabalhar e atingir sua autorrealização sem risco de morte, mas isso não está acontecendo e as autoridades internacionais parecem não se importar ao ponto de agir.


Por tudo isso e muitas outras coisas não mencionadas aqui por falta de espaço, é preciso celebrar o Dia do Orgulho LGBT com muita alegria e com muito orgulho próprio, fortalecendo a resistência contra a LGBTfobia que ainda grassa em certos ambientes. 

É preciso que as organizações que se colocam como representantes do Movimento LGBT organizado trabalhem de fato para combater essas injutiças, inclusive movendo processos contra pessoas ou instituições que façam demonstrações públicas de LGBTfobia, como foi o caso da cantora gospel Bruna Karla, que fez declarações extremamente homofóbicas numa entrevista veiculada pela Internet ao se referir a um "amigo" seu que é gay e que estava organizando seu casamento há alguns meses. Gente que faz esse tipo de discurso LGBTfóbico, especialmente em veículos de comunicação com amplo alcance, incluindo aqui as redes sociais, tem que ser processada. E os recursos obtidos com esses processos devem ser investidos em programas ou projetos que visem ao esclarecimento da população em geral e à capacitação de pessoas LGBT, especificamente, para profissionalização e inclusão no mercado de trabalho, a fim de que atinjam autonomia financeira.



LGBTfobia governamental



Damares e Jair Bolsonaro:
Dois inimigos declarados da comunidade LGBT

É notória a prevaricação do governo federal, capitaneada por Jair Bolsonaro e sua trupe de incompententes e desonestos. Estes devem ser alvo de reiteradas ações no Judiciário a fim de obrigá-los a cumprirem suas obrigações no que tange à comunidade LGBT. Tolerância zero para com fascistas e outros desse tipo. O mesmo deve ser aplicado a qualquer governo em nível estadual ou municipal.



O Estado não é vaca leiteira. O Estado corresponde ao conjunto de instituições no campo político e administrativo que organiza o espaço de um povo ou nação. 



É possível que também existam pessoas, inclusive LGBT, apenas funcionando como "cabides de emprego" em organizações vinculadas ao poder público. Em vez de trabalharem de fato para a inclusão e o bem-estar social de pessoas LGBT, esses servidores ou ocupantes de cargos comissionados só fazem isso mesmo: ocupam um cargo, quando deveriam realizar de fato o ofício confiado a elas. Em outras palavras, garantem seus salários, mas não cumprem suas obrigações. Refiro-me, especialmente, a organizações que são financiadas com dinheiro público, tais como coordenadorias e secretarias municipais e estaduais, bem como suas semelhantes na esfera federal. Esses órgãos geralmente estabelecidos por meio de lei ou decreto deveriam servir ao propósito de garantir os direitos das pessoas LGBT no âmbito do Estado, mas o que vemos muitas vezes é o contrário: Os responsáveis por seu funcionamento não cumprem seu papel - o que constitui crime de prevaricação (quando apenas deixam de fazer o que devem) ou peculato (quando se beneficiam pessoalmente dos poderes que seus cargos lhe conferem).  Devem ser advertidos - para começo de conversa - e processados se não fizeram os devidos ajustes de conduta, sendo eventualmente substituídos por quem tenha a competência e o compromisso de fazer o que o cargo determina.


A luta continua


Como se vê, temos muitos motivos pelos quais nos orgulharmos, mas também muitas lutas que precisamos continuar travando. E precisamos fazer isso sem nos descuidarmos de nossa própria vida. Afinal, temos pouco tempo para viver. Quem chegar aos 90 ou mais, ainda terá vivido pouco. Imaginem quem viver até os 40 anos de idade. E, cá para nós, a gente nunca sabe se vai estar o primeiro ou no segundo grupo. Por isso, não podemos adiar nossa autorrealização em nome de ideologias, partidos, organizações ou figuras políticas quaisquer que sejam elas. A vida passa rápido e logo seremos apenas mais um CPF cancelado, como diz aquele fascista do qual nos livraremos em outubro pelos meios democráticos mais legítimos - as eleições.


Uma imagem vale mais que mil palavras.




Então, lute, proteste, celebre! Porém, acima de tudo, VIVA sua vida da melhor maneira possível, respeitando a sua própria individualidade como ser fundado e atravessado pela diferença. Afinal, nem as impressões digitais dos meus dois polegares são idênticas - quanto menos esses mais 9 bilhões de indivíduos que respiram o oxigênio desse lindo planeta.

Empodere-se com leituras que abordem os interesses de nossa comunidade. Na Internet, você pode encontrar muita coisa boa em texto, podcast e vídeo. Não dê IBOPE para os detratores. Fortaleça nossos concidadãos LGBT e os canais que valorizam a nossa subjetividade e a nossa comunidade. 

Uma boa lista de livros autorados por pessoas LGBT ou que entendem bem a nossa realidade, mesmo não sendo LGBT necessariamente. pode ser acessada aqui no site da Companhia das Letras:

https://www.companhiadasletras.com.br/evento/leiacomorgulho

Eu mesmo comprei uma penca de livros esse mês por aqui. 

Também recomendo muitíssimo o livro de Letícia Lanz, O Corpo da Roupa, que só pode ser adquirido por aqui: O CORPO DA ROUPA (https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-leticia-lanz-2-edico-original-_JM) . Ela também escreveu A CONSTRUÇÃO DE MIM MESMA (https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-leticia-lanz-2-edico-original-_JM). Li esse também e recomendo. O primeiro é uma obra fantástica sobre gênero e o segundo é autobiográfico e tocante. Letícia Lanz é uma pessoa trans com excelente formação e entende muito bem do que está falando.

Tem SORTEIO DE LIVRO  no meu INSTAGRAM! Começa hoje, domingo, 26/06/22, e termina na terça-feira, dia 28/06/22, quando farei uma live às 22h para anunciar os vencedores. Serão dois livros. Saiba mais nesse meu vídeo aqui no Instagram: 
https://www.instagram.com/tv/CfRS0U6haAX/?utm_source=ig_web_copy_link


***********

LEIA MAIS LIVROS COM TEMÁTICA LGBT. 🌈
Deixo aqui um link para os meus livros (ebook no Amazon):
https://www.amazon.com.br/Sergio-Viula/e/B00ASO8T24/ref=aufs_dp_fta_dsk

***********



Parada LGBT de São Paulo 2022


Orgulhe-se de suas cores não apenas durante uma das mais de 270 paradas do orgulho LGBT que acontecerão esse ano no Brasil. Afinal, todo dia é uma nova oportunidade para ser e fazer a diferença no mundo! Viva seu dia-a-dia bem out and proud! (Não entendeu, joga no Google). 😂😂😂😂

Ano que vem faço 20 anos fora do armário! 🌈

Por Sergio Viula


Andre e eu no ano de 2016



Pasmem, mas ainda existe muita gente que fica no armário por medo da opinião de fulano ou de sicrano.

Ao mesmo tempo que as pessoas falam sobre sua sexualidade cada vez mais cedo, é impressionante ver como existem outras que ainda hesitam, mesmo sendo maduras e financeiramente autossuficientes. Algumas moram sozinhas ou têm condições de viver em seu próprio canto se preciso for, mas mesmo assim ainda relutam em tomar as rédeas de sua própria vida. A troco de quê? – pergunto eu.

Ao longo desses 19 anos fora do armário (completos em 2022), já pude ouvir muitos relatos de pessoas na condição de “armarizadas”. Já encorajei muitas dessas pessoas, especialmente homens, a tomarem as devidas providências para que possam finalmente dizer “I am what I am, and what I am needs no excuses” (Sou o que sou, e o que eu sou não precisa de desculpas).



Curiosamente, mulheres parecem não ficar tão à vontade para conversar com um homem sobre seus problemas nessa área, mas um número considerável de homens já me procurou por causa de alguma entrevista publicada comigo ou alguma postagem feita por mim a respeito da minha trajetória para fora do armário. Muitos deles são pessoas com algum background religioso, principalmente evangélico. Ouvi-los falar sobre seus dramas existenciais por causa da crença religiosa é algo que me comove e enfurece ao mesmo tempo, mas vê-los desprenderem-se de tudo isso provoca em mim uma sensação deliciosa de triunfo e de alívio!

Você pode ler mais sobre minha jornada rumo à emancipação sexual aqui: EM BUSCA DE MIM MESMO (https://www.amazon.com.br/Busca-Mim-Mesmo-Sergio-Viula-ebook/dp/B00ATT2VRM).

Para a minha alegria e para a felicidade desses homens, muitos deles fizeram seu próprio trajeto para fora do armário e voltaram para me contar. Alguns se tornaram amigos e me proporcionaram a oportunidade de ver seu crescimento e amadurecimento emocional e afetivo, inclusive, assumindo relacionamentos estáveis publicamente.

Viver autenticamente o seu amor tem um sabor totalmente diferente de viver entre as sombras das masmorras da homofobia internalizada através da instilação continua de preconceito por parte da família, da igreja e de vários outros dispositivos de controle social, inclusive a escola.




Faz 19 anos que eu me livrei desse lixo tóxico produzido por homofóbicos de todos os tipos, sendo o pior deles aquele que utiliza pretextos de cunho religioso. Ano que vem, farei duas décadas fora do armário - uma data que há de ser devidamente comemorada. Alegro-me em dizer que já ultrapassei o tempo que passei dentro do sistema religioso fundamentalista. Foram 18 anos de evangelicalismo atropelados por 19 anos de liberdade cognitivo-afetiva, emocional, sexual e financeira. Não escondo o orgulho que sinto por ter feito esse movimento não só para fora do armário, mas também para fora de toda e qualquer crendice, sem a ajuda de um único ser humano.

Pelo contrário, as pessoas ligadas à igreja e à família me desestimulavam de seguir adiante. As pessoas que faziam parte da comunidade LGBT ou do movimento que leva o seu nome achavam que isso era bom demais para ser verdade. A única pessoa que se aproximou de mim para ouvir o que eu tinha a dizer (depois da minha entrevista à revista Época no final de 2004) foi Toni Reis. Ele me permitiu expor o que eu pensava e pretendia dali em diante para ele sua equipe de trabalho. Foi um encontro agradável, mas isso foi tudo. Ele também comprou dois exemplares do meu livro. Dali em diante, eu continuava travando minhas próprias batalhas para me estabilizar financeiramente e emocionalmente, mesmo cercado por um turbilhão de gente do contra.

Da minha família, as únicas exceções em termos de acolhimento na prática foram a minha avó Maria Jerônima (falecida anos depois da minha saída do armário) e minha tia Maria Eliza (filha dela). Essas duas pessoas queridas foram minhas parceiras e me apoiaram na prática, não apenas com palavras ao vento. Era amor de verdade em ação.


Minha avó Maria Jerônima 
e meu avô João Viula,
imigrantes portugueses. 
Ele faleceu com 57 anos 
e ela com quase 90.


Quem hoje vê minha família unida comigo e com meu amor Andre não imagina o que eu passei até que eles finalmente entendessem o que tudo isso significava. Eles não conseguiam pensar para além do que foram doutrinados. Durante quatro anos, eu não troquei uma palavra com eles e nem os visitei ou recebi a visita deles. Somente depois que eles reconheceram que estavam errados em seu modo preconceituoso de agir comigo, e me disseram isso face a face, e com todas as letras, é que eu voltei a me relacionar com eles. Desde então, as coisas só melhoraram.


Andre, meu filho, eu, minha mãe e meu pai.
31 de dezembro de 2021 (réveillion 2022)



Meus pais cresceram muito, mas muito mesmo. Isso não teria acontecido se eu ficasse, como muitos fazem, mendigando amor e atenção, apesar de ser tratado com pessoa de terceira categoria. E detalhe: eu pegava meus filhos toda semana para passar o sábado comigo, e nem assim baixei a cabeça para a homofobia deles ou de quem quer que fosse. Eu jamais deitaria para ser pisado por babacas de qualquer espécie, principalmente se fossem do meu sangue.

Hoje, meus filhos são adultos. Até neta, eu já tenho (Veja o Diário de um avô colorido - https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2021/04/bebe-bordo-diario-de-um-avo-colorido.html). E quando lembro de alguns daqueles idiotas evangélicos dizendo "Como é que vai ficar a cabeça dos filhos dele?", eu só penso: A deles vai muito bem, obrigado, já a de vocês continua a mesma bosta que sempre foi.


Foto que eu publiquei em 2020.



E daí? A vida seguiu em frente! Apesar de todos os obstáculos que eu tive que enfrentar, eu fiz exatamente o que eu queria, e o fiz com ética e honra, ensinando meus filhos, por palavras e atos, a serem honestos, corajosos e autênticos. O resultado é esse aí que vocês veem se me acompanham por aqui ou pelas redes sociais.

Será que a gente pode fazer tudo certo e tudo dar errado? Claro que sim. É besteira pensar que controlamos o fluxo do devir. Se tivesse dado tudo errado, apesar de eu ter feito a coisa certa, eu ainda poderia me alegrar por ter feito justamente isso: A coisa certa.

Mas, olhando ao redor, a pergunta que fica é a seguinte: Posso dizer que estou colhendo bons frutos da minha semeadura? Sem dúvida alguma que sim. E quero viver para desfrutar cada um desses momentos especiais. Por isso, faço o possível para me manter saudável e viver tudo o que puder viver hoje e daqui em diante – tudo com tranquilidade, nada de correria como se mundo acabasse amanhã para mim. Se acabar, terei feito tudo o que eu queria hoje, inclusive NADA. Como é bom fazer simplesmente NADA! Claro que não é possível fazer nada o tempo todo, e nem seria saudável, mas quando a gente pode se dar a esse luxo, para que inventar problema?


Réveillon 2022 em nossa casa.


Quando alguém me pergunta se eu sinto saudade dos meus tempos na igreja, eu respondo com uma pergunta: "Que peixe, em bom estado mental, sentiria saudade do anzol, ainda que o tenha mordido por engano, seduzido por uma isca que lhe parecesse absolutamente suculenta?"

A ficção de um deus que cuida de tudo e que está muito interessado em mim não dá nem para a saída. Ela pode parecer uma isca imperdível, mas não passa de um pretexto para fisgar a mente dos que nunca conseguem se tornar donos de si mesmos. Essas pessoas estão sempre procurando alguém a quem possam se submeter. Tolice maquiada de piedade.

Agora, imaginem as ficções sobre uma suposta vida eterna ou castigo eterno... Imaginem as primitivas e precárias ideias de pecado e salvação... Nada disso passaria pelo mais superficial exame racional. Se as pessoas usassem sua capacidade crítico-analítica para averiguar essas coisas, elas se sentiriam ridículas por terem crido nelas um dia.

Além disso, esse sistema de crenças, assim como muitos outros, acaba funcionando como o peso de um cadáver a ser carregado pela vida a fora por gente que poderia investir sua energia em coisas que realmente fizessem valer a pena viver – e digo viver no sentido mais pleno possível da palavra LIBERDADE.

A desculpa de que a religião exerce algum papel para além de controle, exploração e utilização do capital humano que se submete a ela também não passa pela peneira da experiência. Não há coisa alguma que a religião ofereça que não possa ser obtida por outros meios. Ela também não pode oferecer nada de real e útil que já não tenhamos. Repito: Não há coisa alguma que a religião possa fazer por nós que não possamos fazer sozinhos como espécie humana. Religião, qualquer que seja ela, é uma verdadeira inutilidade supervalorizada pelo mero hábito da repetição sem análise crítica. Ela gosta de posar como aquilo que parece estar acima de qualquer questionamento, mas seus pretextos não dão nem para a saída. As pessoas embarcam naquela ideia de que deve estar certo, porque todo mundo na minha bolha social diz e faz a mesma coisa, mas isso só revela a tendência para o comportamento de rebanho por parte de muitos. E se a gente pensa em rebanho, acaba pensando em pastor, pelo menos no contexto religioso.

Todavia, não existe coisa mais estúpida do que a ideia de bom pastor. Toda ovelha é, para qualquer pastor, seja ele zeloso, descuidado ou cruel, a mesma coisa: Fonte de ganho. Tudo o que o pastor quer enquanto a alimenta é tosquiar sua lã ou desossar sua deliciosa carne. No primeiro caso, ela vive para servir à indústria da lã. O pastor é seu principal elo na cadeia de produção. No segundo caso, ela paga com a própria vida pelo almoço daqueles que a alimentaram tão cuidadosamente apenas para conseguirem alguns quilos de carne a mais na balança do matadouro.


Nunca foi bondade...


Não existe essa tolice de bom pastor. Existem pessoas ingênuas (burras seria mais apropriado) que se submetem à falsa sensação de que estão sendo cuidadas, quando, na verdade, estão sendo controladas ou exploradas de uma maneira ou de outra. Manter o lobo longe do aprisco não é um ato de bondade do pastor, mas a única forma de garantir que a lã e a carne da ovelha tola e gorducha serão dele e não de outro. A competição das igrejas por membros é uma bela demonstração disso.

Se você se orgulha de ser ovelha de fulano ou de sicrano ou mesmo de Jesus, deixe esse fictício aprisco e tudo o que tiver a ver com ele para trás. O aprisco é para a ovelha o mesmo que o corredor da morte é para o condenado à cadeira elétrica - só uma forma de mantê-la sob controle até o momento de sua execução. A diferença é que o condenado que aguarda no corredor da morte não trabalha para seus executores, já a ovelha no suposto aprisco de Cristo entrega seu precioso tempo, energia e recursos financeiros a vida inteira até finalmente encontrar o destino de todos os mortais – o finamento. Enquanto isso, assim como o condenado que aguarda no corredor da morte, o humano que se diz ovelha vê apenas uma fração do que acontece do lado de fora do seu cercadinho sem ter vivido uma série de experiências deliciosas, positivas e construtivas longe do domínio desses manipuladores de mentes e castradores de existências.

Seja honesto consigo mesmo(a): Para que se submeter à liderança supostamente espiritual ou moral de quem quer que seja?

Cresça!


Sociólogo francês Éric Fassin diz que o arco-íris está no centro da política

O arco-íris no centro da política

Para sociólogo francês, a bandeira do ‘casamento igualitário’ - já hasteada em 14 países - transcendeu o universo das minorias e assumiu a vanguarda na transformação da sociedade
27 de abril de 2013 | 17h 48


Ivan Marsiglia - O Estado de S.Paulo

Tão logo foi ratificado pelo Parlamento da França na terça-feira, o projeto que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por casais homossexuais desencadeou protestos violentos. Em Paris, manifestantes atiraram garrafas, latas e pedaços de metal na polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo e prendeu 12 pessoas. Os distúrbios foram ainda mais violentos em Lyon, no centro-oeste do pais, onde 44 foram detidos.








Marcos Müller/ Estadão

Promessa de campanha do presidente François Hollande, eleito pelo Partido Socialista em maio de 2012, o projeto enfrentou resistência da Igreja Católica francesa, da União pelo Movimento Popular, legenda do ex-presidente Nicolas Sarkozy, e da Frente Nacional, de extrema direita. A votação dividida na Assembleia Nacional - 331 votos à favor e 225 contra - já prenunciava a situação da causa do "casamento igualitário", como preferem seus defensores, não só na França, mas no mundo: um cenário de vitórias sucessivas, quase sempre apertadas. Já são 14 os países que adotaram legislação semelhante, na maioria democracias avançadas como Holanda, Noruega, Dinamarca, Suécia, Islândia, Canadá, Bélgica, Nova Zelândia, Portugal e Espanha, mas também Africa do Sul, Argentina e Uruguai. No Brasil, embora o Supremo Tribunal Federal tenha reconhecido, em maio de 2011, a união homoafetiva estável, a decisão não é equivalente a uma lei sobre o assunto.

Para o sociólogo francês Éric Fassin, a bandeira da igualdade de direitos para os homossexuais adquiriu centralidade única na política contemporânea: "Hoje, a principal divisão ideológica entre a direita e a esquerda na França se dá na questão do casamento igualitário". Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Paris VIII, Fassin se dedica a pesquisar a interface política entre as questões sexuais e raciais e afirma que o mito de uma "democracia sexual" no Ocidente serviu muitas vezes para justificar a xenofobia - travestida de defesa dos ‘nossos’ valores contra os ‘deles’. Autor, entre outros livros não traduzidos no Brasil, de Liberdade, Igualdade, Sexualidade: Atualidade Política das Questões Sexuais (2004) e A Inversão da Questão Homossexual (2008), o professor afirma que a empedernida reação à extensão de direitos às minorias acabou por revelar "a cultura hétero que organiza toda nossa vida cotidiana e até as disciplinas que estudam a sociedade, como a sociologia da família ou a antropologia do parentesco".

Na entrevista a seguir, Éric Fassin explica por que os religiosos desta vez não foram os responsáveis pela polêmica, mas pegaram carona nela; afirma que a adoção de crianças por casais gays incomoda por enterrar de vez "a ilusão de que a filiação é fundada biologicamente", o que põe em risco certa concepção arcaica de nação; e diz que rever as concepções "naturais" que temos sobre o casamento, a família e a filiação pode ajudar na necessária reinvenção de nossas sociedades.

Por que mesmo na França, com sua longa tradição na defesa dos direitos humanos, o tema do casamento gay é tão sensível?

Antes de qualquer coisa, há por trás disso uma lógica política. A questão do casamento igualitário é, hoje, a principal diferença entre a direita e a esquerda na França. Todo o resto, de Nicolas Sarkozy a François Hollande, é continuidade: seja em se tratando de economia, nas proposições de austeridade e competitividade tributárias da mesma política neoliberal, seja no debate sobre a imigração - a expulsão de imigrantes não diminuiu no atual governo e a perseguição cotidiana aos ciganos inclusive se intensificou. Foi sobre o casamento, então, que se fixou a clivagem ideológica. Os protestos aos quais estamos assistindo se explicam pelo fato de que todas as forças se concentram, num ambiente no resto consensual, nessa única batalha. Veja que até mesmo em matéria de laicidade, já não há diferença entre os diversos partidos políticos: Hollande propõe hoje uma lei contra o uso do véu islâmico exatamente como o fizeram Sarkozy em 2010 e Jacques Chirac em 2004...

Mas os protestos ocorridos essa semana não aparentam ter origem exclusivamente religiosa, certo?

Na França, a religião não é o motor primeiro da hostilidade ao tema da igualdade de direitos. É algo que não entendemos bem 15 anos atrás, contra o PaCS (Pacto Civil de Solidariedade, votado em 1999 durante o governo Lionel Jospin, que previa uma parceria contratual entre duas pessoas maiores, independente do sexo, que inspirou o debate sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil). A Igreja, na verdade, se aproveita dessa polêmica para existir politicamente. E Sarkozy soube preparar bem o terreno com sua política de identidade nacional, que repousava sobre duas heranças: a laica, contra "eles", os outros, estrangeiros, etc., e a cristã, por "nós", nossos valores. Era um ato de legitimação política da Igreja. Em retribuição, o lobby religioso dá hoje sua bênção à oposição.

O que incomoda mais, a questão reprodutiva, as relações homossexuais em si ou a adoção de crianças por casais do mesmo sexo?

Nos EUA, o casamento em si é que está no coração da controvérsia. Já na França, é a filiação, o acesso à adoção e à assistência médica para as crianças. Por que isso? Ocorre que na França a filiação define, por sua vez, a família e a nacionalidade. Estendê-la aos homossexuais significa desnaturalizá-la de vez, dissipando a ilusão de que a filiação é fundada biologicamente. Do lado inverso, naturalizar a filiação significa dar um fundamento biológico à ideia de nação. Ainda hoje fala-se muito na França de "franceses de estirpe" em oposição a "franceses de origem estrangeira". E naturalizar a filiação é atribuir a ela um caráter racista, que distingue dois tipos de cidadãos, os "naturais" e os de raízes estrangeiras.

Logo após a votação no Senado, o antigo primeiro ministro Jean-Pierre Raffarin acusou os defensores do casamento gay de provocar uma ‘crise social’ e promover ‘uma injustiça contra as crianças, que não conhecerão nem papai nem mamãe’. O que achou dessa declaração?

De um lado, ela joga com o medo, a retórica reacionária de que permitir a adoção por casais gays é entrar em "terreno escorregadio". Por outro lado, está aí a reivindicação de uma visão biologizante da filiação. "Nem papai, nem mamãe"? A única filiação então é a dos genitores? Como fica isso então em relação aos filhos adotivos? No caso da adoção, os genitores não têm papel na filiação, sejam os pais adotivos de sexos diferentes ou não. A frase de Raffarin é uma negação do direito. Não contente em fazer a defesa de "verdades naturais", biológicas, pretende que elas produzam verdades sociais. Vê-se aqui o quão atual é o debate sobre o casamento igualitário, e quanto a resistência a ele significa uma resistência à noção de igualdade e um retorno ao determinismo biológico.

Em um artigo de 2012, o sr. se perguntava se a oposição ao casamento gay seria, em si, uma forma de homofobia. Como responderia a essa questão hoje?

Os que se opõem ao casamento igualitário fazem uso da ideia de natureza, o que é contraditório, uma vez que tanto o casamento quanto a família são instituições sociais. Falar em "instituição natural" é uma contradição em termos. Portanto, julgar que a extensão do casamento aos homossexuais não seria natural é o mesmo que dizer que a homossexualidade vai contra a natureza. Na época dos primeiros debates sobre o PaCS era possível posicionar-se de maneira hostil ao casamento sem ser homofóbico - mas isso porque não havíamos refletido suficientemente sobre isso. Hoje, todo o mundo já debateu todos os argumentos. Recusar a igualdade de direitos é optar conscientemente pela homofobia política. Veja que interessante: tanto na França como nos EUA pouco menos da metade da população é contrária ao casamento igualitário. Entre os americanos, essa proporção é praticamente a mesma dos que se declaram homofóbicos. Na França, ao contrário, a se supor pelas pesquisas, pouquíssimos se dizem homofóbicos. É um dado revelador da hipocrisia francesa.

Por falar em pesquisas, no início dessa semana só 25% dos franceses se declaravam satisfeitos com o governo Hollande. A polêmica afetou sua popularidade?

O casamento igualitário não é a causa da impopularidade do presidente da república, até porque os eleitores de esquerda são majoritariamente favoráveis. Quanto aos de direita, hostis ao tema, de todo modo não apoiariam Hollande. O que explica sua rejeição é o fato de que a volta ao poder dos socialistas não significou uma verdadeira alternância. Lembremo-nos de que o slogan da campanha Hollande era le changement c’est maintenant (a mudança é agora). A defesa do casamento igualitário é, por isso, o único fator que limita sua impopularidade - porque aí, sim, houve mudança. Há quem diga, inclusive, que sua defesa da nova lei serve apenas para fazer os eleitores de esquerda esquecerem as renúncias que fez na volta ao poder. É um fato, mas prefiro que o governo distraia os franceses com a questão do casamento do que expulsando imigrantes ou perseguindo ciganos.

Além da França, outros 14 países aprovaram leis semelhantes, inclusive nossos vizinhos, a Argentina e o Uruguai. Parece haver uma movimentação internacional em torno do tema. Por que o casamento gay virou a principal bandeira de seus ativistas, mais importante até que as leis anti-homofobia?

No primeiro país, a Holanda, a legalização data de 2001 e, de lá para cá, a multiplicação tem sido bastante rápida. São oito países na Europa, mas também na América do Norte e do Sul, além da Oceania. Isso ocorreu porque os ativistas gays se apoiaram em princípios democráticos como a igualdade de direitos. É uma eficácia ainda mais impressionante quando se leva em conta a enormidade de lutas progressistas que fracassaram nos últimos anos. E mais: trata-se de um desafio enorme simbolicamente, daí a resistência feroz que enfrenta por toda a parte. Outro fator que contribui para sua implementação é o fato de ela não custar quase nada - de certa maneira, portanto, é uma reivindicação compatível com as políticas neoliberais. Ainda que o exemplo da direita francesa, partidária do neoliberalismo, tenha se aliado aos conservadores religiosos para combatê-la.

Em A Inversão da Questão Homossexual o sr. diz que os debates em torno da causa marcam uma ruptura histórica: após um século de estudos da psicanálise, da antropologia e da sociologia sobre a homossexualidade, atualmente é a política lésbica e gay que põe em questão essas disciplinas e a própria sociedade. Por quê?

Veja o exemplo francês: é a homofobia que se esconde hoje em dia, não a homossexualidade. Nos EUA, o humorista Steven Colbert chegou a dizer: "Na França, aquele pessoal com cartazes cor-de-rosa dançando ao som do grupo Abba são os manifestantes antigays!" A homofobia se travestiu: em vez de deixar sua violência sair do armário, percebeu que já tinha perdido a batalha. Dizendo de outra maneira, a questão hoje não é mais "como alguém pode ser homossexual?", mas "como alguém pode ser homofóbico?". As reivindicações gays revelaram o que ninguém percebia em nossa sociedade: é a cultura hétero que organiza toda nossa vida cotidiana, a família e até as disciplinas que estudam a sociedade, como a sociologia da família ou a antropologia do parentesco. O que não conseguíamos ser capazes de perceber, de pensar, passa rapidamente a ser visível, "pensável". Tudo isso que nos parecia "natural" revela-se como mera convenção, arbitrária e portanto modificável.

De que maneira tal mudança de parâmetros afeta questões como a imigração e a xenofobia, como o sr. chegou a dizer?

Durante os anos 2000, políticos xenófobos e racistas buscaram legitimar sua voz nas sociedades ocidentais pela instrumentalização do que chamo de "democracia sexual": dizendo que o sexismo e a homofobia eram mazelas ‘deles’ e não ‘nossas’, os espíritos libertos. Assim, falava-se o tempo todo na Europa sobre como o véu islâmico é um símbolo do patriarcado atrasado deles, assim como casamentos forçados ou a poligamia. Insistíamos o tempo todo que tais violências contra mulheres e homossexuais estavam restritas aos bairros de imigrantes ou estrangeiros. Ora, fazer esse discurso hoje em dia ficou mais difícil. Tanto que a heroína do movimento anticasamento igualitário, Frigide Barjot, foi ao congresso da União das Organizações Islâmicas da França buscar o apoio ‘deles’ para a causa! E já provoca inquietação em alguns imaginar qual será o resultado dessa mudança na retórica conservadora. Ou seja, como será reposta a oposição entre ‘nós’ e ‘eles’ sem o pretexto da democracia sexual.

Em um texto sobre a obra de Michel Foucault, o sr. afirma que não se trata de pensar a invenção de uma cultura gay em torno do casamento e da família, mas de ‘uma cultura inventiva a partir da atualização homossexual dessas instituições’. Tal transformação é possível? Qual seria o resultado dela?

Ela é a mais difícil, mas também a mais necessária, em minha opinião. Na França, como teria sido absurdo denunciar o casamento igualitário como um projeto de normalização da homossexualidade, o argumento que se usou contra, tanto à direita como à esquerda, foi o da defesa da "ordem simbólica". Mas uma vez vencida a batalha, é preciso enfrentar a questão. E aproveitar este momento para questionar de fato as noções de casal, de família, casamento e filiação. Se em vez de presumir que já sabemos do que estamos falando, como se fosse algo óbvio, tomarmos consciência de que cabe a nós dar-lhes sentido, abre-se um espaço. Se não um espaço de reinvenção radical, pelo menos de um pouco de bricolagem, de improvisação. Já vimos, em outras ocasiões, como o divórcio, a possibilidade de outros casamentos engendraram novas experiências sociais. Por que não poderia ocorrer novamente, a partir da abertura do casamento e da família aos casais do mesmo sexo?

A RAZÃO COMUNICATIVA E OS DIREITOS DAS MINORIAS



A RAZÃO COMUNICATIVA E OS DIREITOS DAS MINORIAS
https://www.amazon.com.br/Raz%C3%A3o-Comunicativa-Direitos-Minorias-ebook/dp/B00B609BNU


O fundamentalismo religioso e seu desafio ao estabelecimento dos direitos civis das minorias sexuais na perspectiva da política comunicativa proposta por Habermas.

***********

Essa monografia tem como objetivo identificar de que maneira se pode legitimar direitos, a partir da Teoria Discursiva de Habermas, levando em conta conceitos como validade e legitimidade, discursos de bem e de discursos de justiça, procedimentalização da razão pública, bem como verificar e analisar a influência do fundamentalismo religioso, especificamente católico e evangélico, na arena pública e no espaço privado dos cidadãos designados como LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), com enfoque principal, mas não exclusivo sobre os homossexuais.

O tema é construído a partir da leitura de textos de Habermas e, ocasionalmente, comentaristas, bem como de uma retrospectiva das conquistas da população LGBT. Serão citados dados sobre a luta da população LGBT e das organizações que pretendem representa-la, assim como alguns dos insistentes ataques histórica e atualmente promovidos por lideranças religiosas coloquialmente chamadas de “fundamentalistas” que influenciam os rumos da política em diversas instâncias de poder no Brasil, principalmente no parlamento federal. A presente pesquisa dialoga com o conceito de razão comunicativa, conforme desenvolvido por Jürgen Habermas, filósofo alemão nascido em 1929 na cidade de Düsseldorf, problematizando três direitos reivindicados pela população LGBT, e que são frequentemente atacados por alguns segmentos evangélicos e católicos mais extremistas: (1) a criminalização da homofobia, (2) o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Por Sergio Viula

https://www.amazon.com.br/Raz%C3%A3o-Comunicativa-Direitos-Minorias-ebook/dp/B00B609BNU

Época Negócios: MARCAS SE DÃO BEM COM AÇÕES PARA O PÚBLICO GAY

MARCAS SE DÃO BEM COM AÇÕES PARA O PÚBLICO GAY

Conheça as ações criadas por diferentes marcas para conquistar esse consumidor, responsável por movimentar 150 bilhões de reais por ano no Brasil.


 
Fonte: Época Negócios
https://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Vida/noticia/2012/08/marcas-se-dao-bem-com-acoes-para-o-publico-gay.html


PARADA LGBT de São Paulo

 
Responsáveis por movimentar R$ 150 bilhões por ano só no Brasil, o público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) tem se tornado cada vez mais importante para a economia. Donos de bom poder aquisitivo, fiéis às suas marcas preferidas e muito interessados em inovação, gastam até 30% mais em bens de consumo, 43% mais com lazer e 64% a mais com cosméticos dos que os heterossexuais, segundo pesquisa da consultoria InSearch.

Também são conhecidos por investir mais na própria educação e ter mais disponibilidade para se dedicar a carreira. Potencial que se explica principalmente pela diferença no estilo de vida - como a maior parte deles não tem filhos, sobra mais dinheiro para viagens, roupas, lazer e investimento no desenvolvimento pessoal.
 
No Rio de Janeiro, considerado hoje um dos principais destinos no mundo para o público LGBT, o impacto desse público na economia é evidente. Segundo dados divulgados pela Embratur, em 2010, 890 mil pessoas participaram da Parada Gay realizada na cidade, o que corresponde a 20% do total de visitantes ao Rio no ano. O mesmo levantamento indica que os homossexuais gastam três vezes mais e permanecem 2,5 vezes mais tempo na cidade do que heterossexuais.
 
As marcas já se conscientizaram da necessidade de criar ações focadas nos homossexuais porque não querem perder a chance de vender para um contingente estimado em 18 milhões de pessoas. O desafio é justamente como estabelecer essa comunicação e agregar ao negócio valores que se identifiquem com os desse público.
 
A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, criou uma Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual no ano passado, que promove cursos de capacitação para empresários e funcionários de estabelecimentos comerciais. Um dos principais pontos abordados é a importância de tratar bem todo turista independentemente da sua opção sexual, já que é nas sutilezas e no tratamento igualitário que uma empresa consegue encantar esse consumidor.
 
Esqueça campanhas mirabolantes. Dados do mercado e a experiência de quem sabe como lidar com esse consumidor mostram que o investimento financeiro é melhor aproveitado se utilizado em qualidade e inovação - duas características das quais os homossexuais não abrem mão. "As empresas precisam tratar esse público de forma mais natural, sem se preocupar com constrangimento. Quanto mais aberta for a cultura, menos ela será constrangedora.", diz Luiz Redeschi, organizador da Expo Business LGBT, evento criado no ano passado para para incentivar o mercado voltado para o público LGBT e promover a troca de experiências entre empresas interessadas nesse consumidor.
 
O resultado do evento no ano passado foi tão positivo que a segunda edição ganhou mais um dia - acontece entre os dias 10 e 11 de agosto - no Centro Fecomércio de Eventos, em São Paulo. Segundo Redeschi, o público do evento se divide entre empresas que querem se mostrar abertas a esse público e não sabem como e outras que criam políticas para funcionários do mesmo sexo. "Existe uma falta de preparo geral. Para um casal homossexual é constrangedor chegar a um hotel e a atendente não oferecer a opção de uma cama de casal, por exemplo. São ações simples que fazem diferença, mas que algumas empresas não percebem", afirma.
 
Para conhecer algumas ações que deram certo e colher dicas de como uma empresa pode ter mais sucesso na relação com a comunidade LGBT, Época NEGÓCIOSconversou com algumas companhias que criaram ações de sucesso. Confira:
American Airlines

 
LAYOUT DO SITE RAINBOW, DA AMERICAN AIRLINES, 
FOCADO NO PÚBLICO HOMOSSEXUAL (FOTO: REPRODUÇÃO)

 
Em 2006, a American Airlines lançou o site Rainbow, uma página com conteúdo e promoções específicas para o público LGBT. Em abril deste ano, a empresa lançou também versões em português e espanhol. "Nós fomos a primeira empresa a garantir que os casais homossexuais que fossem agendar uma viagem de lua de mel, por exemplo, pudessem se registrar como casais do mesmo sexo ao fazer uma reserva", afirma o diretor de vendas para o Brasil, Dilson Vercosa.

Embora a empresa não divulgue o impacto financeiro de ações como essas, Vercosa afirma que a experiência ao longo dos anos mostrou que os consumidores gays estão entre os mais leais e entusiasmados. "Eles expressam sua lealdade de forma intensa, repetida e promovem a marca entre amigos e a família", diz. "Por que qualquer empresa iria esquecer seus consumidores, principalmente os que valorizam a sua marca?", diz.
 
Para Vercosa, as marcas precisam ser autênticas e sensíveis para escutar os desejos e necessidades dos seus consumidores e oferecer a mesma qualidade de atendimento para todos. "A comunidade LGBT que viaja pela American Airlines não quer ser tratada de forma diferente. Eles querem ser reconhecidos e tratados de forma justa e igualitária, o que é uma boa lição para todos os publicitários", diz.
 
Mas para dar certo, essas ações precisam estar ligadas à cultura da empresa, alerta o executivo. Segundo ele, não adianta criar políticas de atendimento para homossexuais se existe discriminação dentro da própria empresa. "Nós lançamos o site Rainbow, 20 anos depois de criar práticas que tratam os homossexuais de forma igualitária dentro da American Airlines", afirma.

A American Airlines mantém dentro da empresa um grupo chamado Gleam, responsável por criar programas e políticas específicas para os funcionários homossexuais. "Uma boa forma de se aproximar desse público é apoiando ONGs, causas do movimento LGBT e criando ações pelas redes sociais", sugere Vercosa, que destaca ainda que a equipe de vendas também deve ser bem treinada para não cometer gafes no atendimento

 
Tel Aviv, Israel

O PORTA-VOZ DA PREFEITURA DE TEL AVIV, ADIR STEINER, DURANTE A CAMPANHA TEL-AVIV GAY VIBE (FOTO: DIVULGAÇÃO)
 
Até 2009, a cidade de Tel Aviv, em Israel, recebia poucos turistas gays. O motivo? "As pessoas do mundo todo achavam que a cidade era um lugar totalmente diferente do que ela realmente é", diz o porta-voz da prefeitura de Tel Aviv e responsável pelo Departamento de Liberdade da Informação da cidade, Adir Steiner. Para mudar esse cenário, Steiner e outros ativistas lançaram em 2009, com apoio do escritório de turismo local e da prefeitura da cidade, a marca Tel-Aviv Gay Vibe. Foi o suficiente para em 3 anos a cidade ser eleita o "melhor destino gay do mundo" na eleição anual realizada pelo site de turismo Gay Cities em parceria com a American Airlines.
 
Entre as ações da campanha estavam a participação em diferentes feiras de turismo internacional, a divulgação das atrações da cidade com foco no público LGBT para jornalistas e publicações especializadas do mundo todo e um intenso trabalho de comunicação nas redes sociais. "Nós descobrimos que é muito importante para o turista homossexual ter informações sobre onde sair enquanto estiver de férias", diz Steiner.
 
Ele também criou um trabalho com os comerciantes locais ensinando algumas regras básicas para melhor recepcionar a comunidade LGBT, especialmente durante da parada gay local, que é uma das maiores do mundo. "Nós demos bandeiras do arco-íris para eles pendurarem na entrada dos estabelecimentos e mostrar que estamos orgulhosos de receber esse público na nossa cidade", explica.
 
Depois de ser eleita o melhor destino gay em 2011, a Parada Gay de Tel Aviv se tornou uma das maiores do mundo, com 150 mil participantes por ano. Desse total, 20 mil são turistas. Os comerciantes locais sentiram o impacto positivo da eleição no caixa. "Os homossexuais gastam 30% a mais quando viajam", diz.Steiner. Para ele, não são necessárias estratégias mirabolantes para conquistar esse consumidor. "A verdade é que nem todo turista gay quer consumir produtos ou serviços específicos para gays. O que ele quer é não ser excluído de nenhum negócio", diz.



Dell


 
FUNCIONÁRIOS DA DELL CONSEGUIRAM INCLUIR OS CÔNJUGES DO MESMO SEXO NO PLANO DE SAÚDE OFERECIDO PELA EMPRESA (FOTO: INTERNET/REPRODUÇÃO)


A fabricante de computadores Dell criou dentro dos escritórios da empresa em todo o mundo, a partir de 2006, grupos de funcionários que pudessem debater políticas e ações para fortalecer diferentes minorias, como mulheres, portadores de deficiência e homossexuais. O que começou de forma tímida, ganhou corpo dentro da empresa. O grupo Pride, que representa a comunidade LGBT, tem hoje 200 participantes e comemora como principal conquista a inclusão de cônjuges do mesmo sexo no plano de saúde oferecido pela empresa.
 
Nas reuniões quinzenais, tambem são discutidas políticas e ações para promover a inclusão e a diversidade dentro da companhia, que podem resultar em cartazes informativos, palestras ou eventos para abordar diferentes questões da temática homossexual com os demais funcionários. "O grupo permite que as pessoas trabalhem mais à vontade, sem precisar esconder suas preferências, o que torna o ambiente de trabalho melhor", diz o diretor financeiro da Dell e responsável pelo Pride no Brasil, Cláudio Mello.
 
Isso não significa, porém, que não exista resistência. A diretora de RH da Dell Brasil, Luciana Madrid, diz que entre os profissionais que trabalham na fábrica, por exemplo, a aceitação é um pouco mais difícil. No entanto, ela afirma que uma pesquisa de clima revelou que a comunidade LGBT sente um clima amigável dentro da empresa. "O grupo reúne profissionais de áreas muito diferentes, o que promove um intercâmbio que não aconteceria naturalmente", diz. "Hoje os profissionais se sentem à vontade para levar os parceiros do mesmo sexo a um happy hour ou para convidá-los a participar de uma ação do dia das mães ou dos pais", diz.
 
Embora não tenha produtos focados especificamente no público gay, a Dell chamou a atenção com suas ações para esse público. Após a marca divulgar suas ações na Expo Business LGBT do ano passado, Redeschi, coordenador do evento, diz ter recebido uma série de contatos de homossexuais interessados em se candidatar a uma vaga na empresa.



Tecnisa

 
CAMPANHA DA TECNISA PARA O PÚBLICO HOMOSSEXUAL (FOTO: REPRODUÇÃO)


Em 2003, a construtora Tecnisa começou a publicar anúncios em sites da comunidade gay e obteve excelente retorno, o que incentivou a companhia a aumentar o investimento nesse público.

Além de oferecer treinamento específico sobre o assunto para os funcionários, a empresa começou a prestar atenção nas preferências desse público na hora de comprar um apartamento. A empresa percebeu que uma das tendências mais adotadas pelo público gay era a customização dos apartamentos. Eles também gostam de cozinha americana, banheira de hidromassagem, ducha higiênica, closet, salas espaçosas, espaço gourmet, academia e piscina com raia. A partir dessa percepção a empresa pode planejar melhor novos lançamento e direcionar melhor as vendas para esses clientes.
 
O ponto alto foi uma campanha de divulgação de um empreendimento focada nesse público em 2009. A propaganda mostrava duas cuecas penduradas em um varal com a frase "Mais cedo ou mais tarde, vocês vão morar juntos". A repercussão positiva fez com que a empresa fosse reconhecida como gay friendly e se tornasse referência entre o público LGBT.


----------------------------------------------
COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Serviços e negócios voltados para o público LGBT são fundamentais para o fomento da cultura LGBT. Em contrapartida, o Pink Money é muito bem-vindo aos cofres das empresas e das prefeituras e governos estaduais. Porém, nada é mais urgente do que a garantia dos direitos das pessoas LGBT. As duas coisas estão em esferas diferentes: a primeira, na esfera econômica. A segunda, na esfera política e jurídica. Mas, é surpreendente que a cidade que hospeda a maior parada gay do Brasil (já foi considerada a maior do mundo, talvez ainda seja), e realiza alguns dos maiores negócios voltados para esse público, só agora tenha realizado seu primeiro casamento civil entre dois homens. Está de parabéns a juíza com parecer favorável do Ministério Público, a juíza Adriana Nolasco da Silva, da 1° vara do Fóro Distrital de Cajamar, autoriza a celebração de casamento civil direto entre casal homossexual no Estado de São Paulo. Veja mais: http://www.ethosonline.com.br/?pg=noticias_cont&id=2049

Sigamos em frente com Pink Money, mas também com um arco-íris de direitos civis!

Postagens mais visitadas