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Mãe Trans: Quantas possibilidades!


Por Sergio Viula



Este ano, decidi fazer três postagens diferentes aqui no blog. Foram elas:

(1) As mães heterossexuais com filhos LGBT que fazem parte do coletivo Mães pela Diversidade;

(2) as mães lésbicas e bissexuais;

(3) as mães transexuais - cada uma com suas próprias especificidades.

Uma coisa, porém, todas têm em comum: Elas amam seus filhos.

E por falar em especificidades de mães transexuais, as possibilidades são inúmeras!

Só para ilustrar algumas delas, cito três realidades diferentes.


O caso das duas mães biológicas do mesmo filho


Esse é um casal considerado formado
por duas lésbicas - uma transgênera e uma cisgênera.


Começo por um casal apresentado num comercial da Dove, que chamou atenção no ano passado por ser formado por duas mulheres - uma transexual e uma cisgênera.

No vídeo, a mãe transexual diz que as pessoas perguntam qual das duas é a mãe biológica, e elas respondem: as duas.

Segundo elas, as pessoas costumam ficar confusas. Mas, cá entre nós, é muito simples de entender: a mãe trans tem a possibilidade de guardar espermatozoides antes de fazer a redesignação genital, ou simplesmente não passar pela operação, e fecundar a esposa diretamente.

Apesar da aparição e fala do casal lésbico ter sido curtíssima, o vídeo gerou polêmica entre os chatonildos conservadores.

A marca Dove, porém, merece os nossos parabéns pela iniciativa, lembrando que é preciso ampliar o espaço de fala designado a essas mulheres.

O vídeo pode ser visto abaixo em inglês:



Os dois casos em que o pai gerou e deu à luz
depois de ser fecundado por sua esposa


Casal 1



Fernando, o pai que deu à luz, e Diane a mãe que o fecundou.
Esse é um casal considerado trans heterossexual.


Se no primeiro caso citado, a mãe transgênera proveu os espermatozoides para a mãe cisgênera, no caso de Diane Rodríguez e Fernando Machado, foi bem o contrário - Fernando é que engravidou da esposa.

Isso quer dizer que Diane fecundou Fernando e que Fernando gerou e deu à luz o bebê, que é um lindo garotinho.

Para mais detalhes sobre esse casal e sua experiência de paternidade/maternidade, acesse o site da BBC: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37454111



Casal 2


Helena Freitas e Anderson Cunha
são um casal onde ambos são trans e heterossexual


Semelhantemente, o casal formado por Helena Freitas, 26 anos, e Anderson Cunha, 21, cuja história está disponível na Internet graças ao Geledés, teve um filho fecundado pela mãe e carregado no útero do pai.

Não foi fácil encontrar esse casal. Eu queria alguém que representasse a comunidade transexual e que fosse negro.

Encontrei mais facilmente algumas mulheres transexuais negras, mas que não se apresentavam como mães.

Provavelmente, essa ausência seja mais um sintoma do racismo estrutural desse país, visto que se as mulheres negras cisgêneras têm muito menos espaço na mídia do que as brancas do mesmo gênero, imaginem as mulheres transgêneras negras, então, que são atravessadas por dois preconceitos ao mesmo tempo - o racismo e a transfobia.

Felizmente, Helena e Anderson estão aí.

E, de novo, graças à coragem e à dignidade deles, somadas à disponibilidade do Geledés para produzir a entrevista. Se não fosse assim, talvez nem tomássemos conhecimento da experiência de maternidade/paternidade desse lindo casal.

A experiência deles é a seguinte: Anderson gerou de Helena - o que significa que Helena fecundou Anderson e que este gerou e deu à luz Gregório. Veja que lindinho é Gregório. O vídeo está disponível no site do Geledés. Você encontrará mais detalhes sobre a experiência do casal lá também.


O caso dos dois pais biológicos do mesmo filho


Exclusivo: O pai que deu à luz um menino. - crédito The Sun
Esse casal é considerado um casal transexual gay.

The Sun: https://www.thesun.co.uk/tvandshowbiz/4204993/transgender-dad-trystan-reese-and-husband-biff-show-off-their-newborn-baby-boy-leo-on-this-morning/

Trystan Reese, um pai transgênero, e seu marido Biff Chaplow apresentaram o bebê recém-nascido, Leo, aos telespectadores do programa This Morning. Trystan contou sobre o parto difícil que teve três semanas atrás, descrevendo-o como "mais doloroso do que eu poderia imaginar". Biff, que esteve ao lado de Trystan durante o nascimento, disse que sentiu uma forte conexão com o parceiro e fez um esforço extra para ser atencioso e apoiar Trystan, apesar de não ser naturalmente o tipo de pessoa que expressa muito cuidado.

Leo é o primeiro filho biológico de Trystan e Biff, que já têm dois filhos adotivos, Riley e Hailey. O casal mencionou que, se decidirem aumentar a família no futuro, optariam por adoção, já que não pretendem passar por um parto natural novamente.

Leo, portanto, foi gerado a partir de uma relação entre um homem cisgênero (Biff) e um homem transgênero (Trystan).


O que tudo isso nos diz?


Entre outras possíveis lições, a que fica mais patente, a meu ver, é que a experiência transexual de maternidade/paternidade desfaz o mito de que os papéis masculinos e femininos devem ser atribuídos ao indivíduo a partir da identidade de gênero que lhe é atribuída culturalmente a partir da constatação de sua genitália e/ou do sexo que lhe foi atribuído ao nascer. Tais construções estão cada vez mais diluídas pelas diversas possibilidades identitárias que esses casais vivenciam.


Resumindo:

No primeiro caso, as duas mulheres são mães biológicas - uma transgênera e outra cisgênera.

Nos dois casos listados como segundo tópico, não foi a mãe que deu à luz, e não foi o pai que fecundou, mas o inverso. Os dois são transexuais heterossexuais.

No terceiro caso, nem existe mãe - só pais -, sendo que um fecundou e o outro gerou. Um pai é homem cisgênero e o outro é homem transgênero. Foi o homem trans que deu à luz.

Ficou confuso? Descomplica. Aceita que a realidade é, ao mesmo tempo, muito mais complexa e muito mais simples do que você pode imaginar a partir de sua própria experiência, e não se incomode com a felicidade alheia. Celebre com essas pessoas as conquistas e realizações que elas estão vivenciando.

Então, é isso, amigo e amiga trans, cis, lésbica, gay, bissexual, etc.

E...

FELIZ DIA DAS MÃES para todas as mães transgêneras, sejam elas como forem!

E aos três pais que pegaram carona nessa matéria, em função da diversidade que eles ajudam a ilustrar, um recado carinhoso: Aguardem até o segundo domingo de agosto para receberem um delicioso FELIZ DIA DOS PAIS.

Mães lésbicas e bissexuais: a grandeza geralmente invisível dessas amazonas

Fonte da ilustração: Pará Diversidade



Por Sergio Viula


O Dia das Mães pode ser um misto de alegria e tristeza. Para os que ainda têm suas respectivas mães por perto e com saúde, é alegria. Do mesmo jeito, para as mães que sabem que seus filhos estão bem. Porém, para os filhos que perderam as mães ou vice-versa, é um dia de muita saudade. 

Todavia, uma realidade que passa despercebida por muitos é a da maternidade lésbica ou bissexual. 

O quadro é bem variado. Existem aquelas mulheres lésbicas ou bissexuais que adotaram e existem aquelas que geraram filhos biológicos depois de sua emancipação. Há também aquelas que tiveram filhos em casamentos 'heterossexuais' e que podem ter permanecido casadas ou terem se separado posteriormente.

Por causa da invisibilidade social e midiática que muitas dessas mulheres vivem, considero valiosa toda forma de publicização da maternidade lésbica ou bissexual. Esse vídeo é uma delas. Produzido pelo Hospital Albert Einstein, ele apresenta o depoimento de duas mães lésbicas casadas, que falam sobre suas experiências com a maternidade. 

Assista e emocione-se com esse casal fofo - Janaína e Lara, mães de Kaylla.





Nem só de mães 'comuns' se faz a invisibilidade da maternidade lésbica ou bissexual. Na verdade, existem mulheres famosas com essas orientações sexuais que são igualmente ignoradas por boa parte do público ou que quase totalmente são esquecidas no dia das mães. 

Veja essa lista publicada pelo Guia Gay São Paulo com 8 lésbicas ou bissexuais famosas que têm filhos. Outras mulheres poderiam ser acrescentadas aí. Afinal, cada vez mais casais homoparentais optam por ter filhos, seja qual for o método. 

Guia Gay São Paulo: http://www.guiagaysaopaulo.com.br/noticias/cidadania/8-maes-lesbicas-ou-bissexuais-famosas-para-celebrar!

Ah, e não podemos esquecer das lésbicas e dos gays solteiros que optam pela monoparentalidade. 


Avanços jurídicos no Brasil


O reconhecimento jurídico da maternidade por duas mães ao mesmo tempo foi concedido pela primeira vez em 2010 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Rio Grande do Sul. 

O casal que protocolou a demanda já tinha 10 anos de vida em comum. As crianças em questão eram dois meninos, registrados como filhos de Luciana Maidana, que é psicóloga. Contudo, ela e a esposa Lídia Guterres, fisioterapeuta, desejavam obter autorização para alterar o registro civil dos meninos, de modo que ambos passassem a ser filhos das duas. 

O STJ concedeu o pedido e as duas crianças passaram a ter direitos assegurados em relação às duas mães, inclusive o direto à pensão, caso o casal se separasse, e, não menos importante, o direito à herança.

Fica aqui o lembrete: Foi graças ao Judiciário que essas e outras garantias jurídicas foram conquistadas. O Congresso Nacional, que deveria ser vanguardista nisso, tem se revelado uma das mais atrasadas instituições no que se refere a garantir os direitos das pessoas LGBT, com suas especificidades, justamente por estar profundamente contaminado com visões fundamentalistas e patologicamente conservadoras, promovidas por deputados e senadores eleitos por setores LGBTfóbicos. Esses parlamentares formam bancadas dispostas a burlar a Constituição com o objetivo de impedir avanços quanto à regulamentação dos direitos referentes às pessoas LGBT que ainda precisam ser assegurados por meio de leis.

Graças ao Poder Judiciário, entretanto, os processos protocolados por cidadãos e organizações LGBT têm sido brindados com decisões favoráveis. Porém, restam outros tipos de processo. Esses, sim, podem ser trabalhosos e dispendiosos. Trata-se dos procedimentos reprodutivos para a maternidade lésbica ou bissexual. Nesse sentido, vale a pena ler o artigo Maternidade intitulado A saga de lésbicas que querem ter uma família, publicado pelo site Sou Betina: https://soubetina.com.br/familialesbica/


Lésbicas de Portugal 
fazendo história 


Em Portugal, por exemplo, duas mulheres questionaram o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA) a respeito da possibilidade de terem um filho por meio de "partilha biológica de maternidade". 

Em janeiro de 2017, o CNPMA, em resposta a essa demanda, publicou um parecer que dizia que se duas mulheres quiserem ter um filho através da “partilha biológica de maternidade”, elas poderão fazê-lo. 

A decisão, “completamente nova”, de acordo com o presidente do CNPMA, Eurico Reis, “seguramente”, abre as portas ao primeiro de muitos casos.

Conforme publicação do portal de notícia Público, a “partilha biológica de maternidade” é a possibilidade de as duas mulheres de um casal candidato à aplicação de técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) contribuírem biologicamente para a concepção da criança com o recurso dos ovócitos da “mulher A” e transferência embrionária — depois da inseminação com espermatozóides do dador — para o útero da “mulher B”.

De acordo com o artigo, o documento publicado pelo CNPMA não deixa dúvidas: “Não está legalmente vedada a possibilidade de atender a um projecto de maternidade biologicamente partilhado por um casal de mulheres através do recurso a fertilização recíproca.” 

Fonte: https://www.publico.pt/2017/05/06/sociedade/noticia/uma-crianca-pode-ter-duas-maes-biologicas-conselho-de-pma-nao-se-opoe-1771007

Enquanto essas mulheres fantásticas avançam com seus projetos de vida e conquistam direitos relativos à maternidade absolutamente inovadores, seja do ponto de vista jurídico ou do científico, muitas pessoas insistem em se perguntar, algumas vezes por ignorância, outras vezes por malícia, se uma criança educada e nutrida por uma mulher lésbica ou bissexual solteira, ou ainda por duas mães casadas, poderia carecer de algo importante para sua formação.

Todavia, os filhos de lésbicas vão muito bem, obrigado.

Graças a vários estudos realizados nos Estados Unidos a respeito da experiência da maternidade lésbica, já se pode responder com segurança a esse tipo de questionamento. 

E a resposta é simples: Ao contrário do que muitos lesbofóbicos gostariam de ver, filhos de mães lésbicas não apresentam qualquer comportamento fora do comum em função de sua filiação a uma ou a duas mães lésbicas ou bissexuais. 

Quem souber ler em inglês encontrará alguns desses estudos no National Longitudinal Lesbian Family Study: https://www.nllfs.org/publications/

Se não puder ler em inglês, não desanime. Existe uma tese de doutorado na Biblioteca Digital da USP que aborda a maternidade lésbica: "Duas Mães? Mulheres Lésbicas e Maternidade". Acesse aqui: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6136/tde-29042012-124625/pt-br.php


Nas telonas do cinema ou na telinha do Netflix


"Minhas Mães e meu Pai" é uma produção americana que estreou em 2010. O filme foi apresentado em diversos cinemas do mundo, colocando esse tema na telona e entrando na corrida pelo Oscar. Agora, o filme pode ser assistido no Netflix. Para saber mais sobre o filme, acesse a Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/831948-filme-sobre-familia-com-maes-lesbicas-entra-na-corrida-do-oscar.shtml
  

E não deixe de procurar pelo filme no menu do Netflix.


Minhas Mães e Meu Pai: Estrelado por Annette Bening e por Julianne Moore.



Já é amanhã, garota!

O dia das mães está aí. Amanhã, dia 13 de maio de 2018, é o seu dia, mãe de qualquer orientação sexual! Parabéns a você que é mãe lésbica ou bissexual e está investindo seu tempo e amor para desenvolver seres humanos saudáveis e inteligentes, apesar de toda a ignorância e preconceito que ainda se apresentam aqui e ali nessa linda e árdua jornada de vocês.


Uma homenagem para além do convencional no Dia das Mães



A foto da esquerda foi tirada no início da década de 1970 
e a segunda, no meio dessa mesma década.


Katia, eu e mamãe esperando Simone.

Tia Maria Antônia e tio José, tios da minha mãe

Pais e filhos: tio José e tia Maria Antônia tiveram Isa, que casou com César (no carro) e gerou Fernando. Os outros três somos eu e minhas irmãs. Minha mãe na foto e meu pai fotografando.

Avó Maria Elisa,  mãe da minha mãe

DIA DOS PAIS, DAS MÃES, NATAL E CONGÊNERES

CANSADO DE DIA DOS PAIS, DAS MÃES, NATAL 
E CONGÊNERES


Honestamente, não parei para pensar mais que três minutos antes de escrever esse post. Escrevo simplesmente a partir de um certo cansaço de certos costumes sedimentados, sempre às custas de muita propaganda porque interessa vender, como a celebração do Dia dos Pais, Dia das Mães e Natal. Tem coisa mais chata do que TER que comprar presentes, TER que planejar almoços ou sair para almoçar, TER que ver a cara de um monte de gente que você geralmente pagaria para não ter que encontrar? Sinceramente, não há datas mais estressantes do que essas.

Pior ainda, é ver um monte de gente falando em pai ou em mãe, e o seu já ter morrido. Ou o pai e a mãe ainda estarem vivos, mas sem filho, porque o que eles tinham já morreu. Isso é uma tortura. Até falar em sala de aula sobre isso é extremamente temerário, sensível. E como se não bastasse o sofrimento dessas pessoas nos Dia dos Pais, Dia das Mães, Natal, ainda tem o Dia de Finados para enterrar ainda mais o pobre coitado numa tristeza que mistura saudade, revolta e depressão, dependendo do perfil do indivíduo ou de como se deu sua perda.

Meu dia dos pais vai ser simples, mas nada divertido. Estarei com meu pai Estarei com meu filho e provavelmente com minha filha. OK, sou um dos poucos sortudos que, aos 45 anos, ainda tem pai e mãe e, mesmo sendo gay, tem dois filhos. Isso não é problema. O problema é ter que passar tempo com outras pessoas que vêm a reboque e que não me interessam minimamente e poderiam respirar bem longe de mim.

Em vez de ser um momento de descontração, esse tipo de ‘celebração’ acaba se tornando MAIS UM compromisso numa agenda que já tem UM PORRADA de outros nem sempre agradáveis para cumprir.


Qualquer semelhança é... parentesco mesmo.


Amo meus filhos, amo meu pai. Eles também me amam. E todos nós temos defeitos ou características que não se encaixam perfeitamente no modo de pensar uns dos outros. Isso é uma típico de qualquer grupo social, inclusive a família. Existem, porém, aqueles que têm ou tiveram pais ou mães que não perderiam nada para os maiores psicopatas do cinema. O que faz uma pessoa assim diante de tanta pressão social para reconhecer as qualidades do progenitor?

Bem, eu prefiro abraçar meu pai e meus filhos à hora que eu quiser – e olha que eu faço muito isso – a ter que cumprir uma agenda social só porque todos os MACAQUINHOS estão fazendo a mesma coisa e, como eu sou MACAQUINHO também, preciso fazer isso senão a MACACADA fica absolutamente transtornada diante da exceção.

E TUDO ISSO SE TRATA APENAS DE MOVIMENTAR O COMÉRCIO E ESCOAR A PRODUÇÃO INDUSTRIAL. Nós é que fazemos o nosso melhor para dar a essa data uma aura de afetividade. JÁ É TRABALHO suficiente para quem pode e deve amar o ano todo e de muitas maneiras diferentes, dispensando completamente essas formalidades desgastantes que sempre atraem algumas moscas indesejadas à mesa do almoço.

SP: Caminhada contra a Homofobia foi um sucesso

Mães e filhos participam de caminhada contra a homofobia em São Paulo

Passeata no centro da capital paulista pediu a criminalização da homofobia e lembrou vítimas da discriminação

Agência Brasil - 13/05/2012

FONTE: IG

Para celebrar o Dia das Mães e antecipando o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia, que será comemorado dia 17 de maio, dezenas de mães e manifestantes do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) participaram, na noite de domingo (13), de uma caminhada pela rua Augusta, no centro de São Paulo. O destino é o Largo do Arouche.


 
Foto: AEMães e filhos participam de passeata em protesto contra a homofobia, na região da avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo


A caminhada, segundo os manifestantes, pede a criminalização da homofobia e homenageia vítimas da discriminação. A rua Augusta foi escolhida pela região paulistana ser muito frequentada pela população LGBT e por ter sido palco de vários atos de violência contra homossexuais.

“O objetivo principal (da caminhada) é dar visibilidade à violência cometida contra a população LGBT. Essa caminhada é um ato solene, passando por locais onde aconteceu, aqui em São Paulo, algum ato de violência contra essa população”, explicou Franco Reinaudo, coordenador geral de Assuntos da Diversidade Sexual da prefeitura de São Paulo.

Segundo Reinaudo, um trabalho feito pela prefeitura de São Paulo, denominado Mapa da Homofobia, registrou que mais de 200 casos de violência contra a população LGBT foram denunciados ao órgão só em janeiro deste ano, número bem superior a janeiro do ano passado, quando foram registradas 50 denúncias de violência, sejam elas xingamento ou violência física. De acordo com ele, isso significa que as pessoas estão denunciando mais a violência contra homossexuais, mas demonstra também motivo de preocupação, já que se trata de um número elevado de casos.

A caminhada reuniu muitas mães, como é o caso de Gislaine Cristina Araújo, promotora de merchandising. O filho dela, Alexsandro dos Santos Ferraz, 18 anos, é homossexual. “Quando ele tinha 14 anos, ele resolveu chegar em mim para conversar. Quando ele me disse [que era homossexual], eu respondi a ele que ele era meu filho e que o amava”, disse.

Alexsandro lembra desse momento. “Foi difícil [contar para a minha mãe], principalmente pelo fato de ser filho único. Sabemos que nenhuma mãe quer isso para um filho. Tive que ter muita coragem para chegar nela e dizer que sou homossexual e me sinto bem assim”, falou. Passado esse medo de ter contado para a mãe que era homossexual, o maior receio dele hoje é com relação à agressão física. “Tenho medo mesmo é da agressão física. Agressão verbal não, porque não dou atenção. Mas da agressão física sim, já que há muitos gays sendo agredidos”, disse.

Gislaine contou não ter problemas para encarar a homossexualidade do filho, mas que enfrenta o mesmo medo do filho: da “violência gratuita” direcionada atualmente à população LGBT. “Temos que respeitar as pessoas. Uma gosta do São Paulo, outra gosta do Corinthians. Um gosta de doce, outro de salgado. Por que tratar os homossexuais como se fosse uma coisa de outro mundo?”



Foto: AEMães e filhos durante a passeata


Outro caso é o da empresária Clarice Pires, mãe de Yuri Pires, também homossexual. “Eu tinha medo de contar para os irmãos dele e da reação deles”, disse Clarisse, quando soube da homossexualidade do filho. “Mas, graças a Deus, os irmãos se abraçaram e só disseram: ‘Você é meu irmão’”.

Para outras mães como ela, que tem filhos homossexuais, Clarice dá o recado. “As mães têm que amar seus filhos. Se ele nasceu homossexual, é um ser humano e isso não vai desvalorizá-lo. Não pense que ele é homossexual, mas em tudo de bom que ele é. Antes de ser homossexual, ele tem muitos valores”.

Mas aceitar a homossexualidade do filho não é uma tarefa fácil para todas as mães. Não são todas que fazem isto naturalmente. “Há mães que tentam o suicídio quando sabem que o filho é gay”, disse Edith Modesto, mãe de Marcelo Modesto, homossexual. Pelo menos dois casos de mães que tentaram o suicídio foram relatados recentemente para o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), uma organização não governamental fundada por Edith e que foi criada para acolher os pais que desconfiam ou tem filhos homossexuais.

Para Edith, é muito difícil uma mãe aceitar que um filho é homossexual porque “o preconceito está internalizado em todos nós”. “Aprendemos que as pessoas têm que ser heterossexuais”, disse.

A drag queen Tindry, como é conhecida Albert Roggenbuck, disse participar da caminhada hoje para reforçar a luta contra a homofobia e “por uma sociedade que respeite as diferenças”. Para Tindry, a aprovação da lei criminalizando a homofobia (criminalizando a aversão ou o ódio direcionado à população LGBT) pode ajudar a combater a violência. “Quando se criminalizou o racismo, as pessoas começaram a pensar duas vezes antes de ofender um negro. As mulheres também contam com a Lei Maria da Penha. Para nós, isso também seria muito importante”, disse.

Para Heloisa Gama Alves, coordenadora de Políticas para a Diversidade Sexual da Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, o grande número de casos de mortes e de ataques à população LGBT só poderá ser combatido com políticas públicas, educação e sensibilização da sociedade. “Está na hora de enfrentarmos essa questão no sistema educacional de maneira mais clara e contundente”, disse.

Heloisa também defendeu a aprovação da lei que criminaliza a homofobia, atualmente em tramitação no Congresso Nacional, como fundamental para diminuir a violência. “É uma pena que o Congresso feche os olhos para essas mortes. A criminalização não vai acabar com a homofobia, mas é uma forma dessas pessoas que matam e agridem serem punidas de forma eficaz”, defendeu.

Segundo a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, várias cidades do interior de São Paulo também organizaram atividades e caminhadas para comemorar a data, entre elas, Araraquara, Bauru, Botucatu, Piracicaba e Santos.

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