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Adeus, Papa Francisco: uma despedida com esperança e preocupação

Adeus, Papa Francisco: uma despedida com esperança e preocupação





Por Sergio Viula


Hoje, o mundo se despede de um líder religioso que, com todas as suas contradições, marcou uma virada simbólica no modo como a Igreja Católica trata as pessoas LGBTQIA+. O Papa Francisco faleceu nesta manhã, deixando para trás um legado que merece ser reconhecido — especialmente por quem, como nós, viveu (e muitas vezes sobreviveu) aos discursos de ódio de líderes religiosos.

Francisco não mudou a doutrina da Igreja. Continuou a chamar a homossexualidade de “pecado”. Mas também foi o primeiro Papa a dizer, com o peso do Vaticano nas costas, que “ser homossexual não é crime”, e que as leis que criminalizam nossa existência são “injustas” e precisam ser abolidas.

Foi ele quem disse:

"Deus ama todos os seus filhos como eles são."

E também:

“Quem sou eu para julgar?” — frase que virou manchete no mundo todo em 2013, e ecoou como um sopro de humanidade numa instituição tantas vezes marcada pela exclusão.

Foi durante seu pontificado que vimos o Papa declarar que pessoas LGBTQIA+ têm direito a uma família, e que o Estado deve garantir uniões civis que protejam direitos como saúde, herança e dignidade. Ele nunca abençoou nossos casamentos — ao contrário, reafirmou que a Igreja não pode “abençoar o pecado” —, mas condenou com firmeza a marginalização, a violência e a criminalização de pessoas como nós.

Francisco também alertou os próprios bispos:

“Eles precisam passar por um processo de conversão. Todos devem agir com ternura.”

E agora… quem virá?

A morte do Papa Francisco não é apenas o fim de um pontificado. Para muitos LGBTQIA+ católicos ou ex-católicos, é a perda de uma figura que, mesmo sem romper com a ortodoxia, ofereceu uma fresta de escuta, uma migalha de acolhimento, um gesto simbólico de respeito. Não é suficiente, mas é bem diferente das torturas inquisitoriais que fizeram vítimas "sodomitas" até mesmo aqui no Brasil

📚 Casos documentados de perseguição por sodomia no Brasil

🔹 Moleque escravo (nome não registrado)1678, Sergipe del Rey
Um jovem escravizado foi açoitado até a morte após ser acusado de manter relações sodomíticas com o Capitão Pedro Gomes. O caso foi denunciado ao Santo Ofício por um frei e está registrado nos arquivos da Inquisição de Lisboa.

🔹 André Lessa1593, Pernambuco
Comerciante acusado de sodomia, foi preso durante a primeira visitação da Inquisição a Salvador. Seu caso é um dos primeiros registros de perseguição a homossexuais no Brasil colonial.

🔹 Daniel Pereiraséculo XVII, Recife
Escravizado acusado de sodomia, foi condenado pelo Tribunal do Santo Ofício em Lisboa. Seu processo revela as severas punições aplicadas a pessoas negras e escravizadas sob tais acusações.

🔹 Frei Lucas de Sousaséculo XVII, Belém do Pará
Clérigo acusado de sodomia, foi preso e enviado aos cárceres da Inquisição em Portugal. Seu caso destaca a perseguição a membros do clero envolvidos em relações homoeróticas.

O luto é real. Mas a preocupação também.

Quem herdar a mitra agora? Será alguém disposto a continuar — ou ao menos não desfazer — esse movimento de escuta e inclusão? Ou voltaremos a ouvir apenas o silêncio dos dogmas e o som mórbido de vozes homofóbicas e transfóbicas ecoando da catédra e dos concílios?

Francisco, com todos os seus limites, deixou uma mensagem clara: a dignidade humana vem antes do julgamento moral. E isso, vindo de dentro do Vaticano, foi e é revolucionário.

Hoje, deixamos um agradecimento sem genuflexões, mas continuamos atentos, pois o que virá depois, dependerá de muitos fatores. Mas, a verdade é que Francisco deixou uma marca que ninguém mais poderá apagar. A questão que fica é se vão aprofundar ou apenas deixar de lado o legado dele nesse sentido.

💬 Para não esquercer:

Tempos de despedida são também tempo de reafirmações. Nenhum ser humano em sã consciência deve ceder um milímetro sequer à ideia absurda e perversa de que sua orientação sexual ou identidade de gênero devam ser curadas, convertidas ou transformadas — seja por métodos ilusoriamente chamados de “espirituais”, seja por práticas falsamente revestidas de “ciência”.

Ódio e preconceito disfarçados de teologia ou de psicologia não resistem à menor análise crítica. Além disso, essa é uma questão de de respeito básico à dignidade humana, de reafirmação dos direitos à auto-expressão e à autonomia individual. A sexualidade é parte integrante da personalidade, identidade e modus operandi de todos os indivíduos e deve ser vivenciada entre os limites da liberdade individual e do respeito à dignade alheia.

Tudo o que a Igreja Católica, todas as demais religiões, os Estados e as sociedades precisam fazer é nos deixar em paz. Gays, lésbicas, bissexuais, pessoas trans, queer e todas as identidades da comunidade LGBTQIA+ têm o direito inegociável de viver como bem entenderem sem discriminação alguma, nem mesmo aquela que vem disfarçada sob o manto da suposta piedade religiosa.

Não aceitaremos menos do que isso. E seguiremos atentos, firmes e fora do armário.

Papa Francisco fala besteira sobre identidade gênero e educação




Por Sergio Viula
Com informações de O Globo


De acordo com o jornal O Globo, noticiando a partir da cidade do VATICANO, o Papa Francisco teria criticado escolas que ensinam a liberdade de gênero em uma reunião a portas fechadas na Polônia. O próprio Vaticano teria divulgado uma transcrição da reunião (já filtrada, é claro, e mesmo assim ridícula). A divulgação foi feita na última terça-feira.

O jornal reproduziu os seguintes trechos da fala do PAPA FRANCISCO:

"Hoje, as escolas ensinam para as crianças - para as crianças! - que qualquer um pode escolher seu gênero".

O Globo diz que "sem especificar, o Papa culpou livros didáticos fornecidos por 'pessoas e instituições que doam dinheiro'. Francisco criticou o ensino da liberdade de gênero, que chamou de 'colonização ideológica' apoiada por 'países muito influentes', sem entretanto dizer quais".

"Um dos casos dessa colonização é - digo claramente com todas as letras - o gênero", disse o Papa aos bispos poloneses, segundo a reportagem.

Segundo Francisco, ensinar crianças que elas podem escolher o gênero é "terrível".

A escolha das palavras "colonização ideológica" e "terrível" usadas na fala de Francisco fazem lembrar o tom de Bento XVI, quando disse que evitar o comportamento gay é como salvar florestas. Claro que orientação sexual e gênero não são temas correlatos, mas estão no mesmo horizonte interpretativo de "desvio" e de "pecado" na mentalidade desses senhores de batina.

O jornal informa que o líder da Igreja Católica teria discutido o assunto com o Papa Emérito Bento XVI, que renunciou ao cargo em 2013. Bento XVI, cá entre nós, não é a melhor fonte para aconselhamento no que diz respeito às liberdades individuais. Além disso, se Francisco pretendesse (e duvido muito) fazer reformas na Igreja, ele provavelmente não buscaria conselhos de quem adoraria devolver o mundo à Idade Média, como pudemos ver em toda a trajetória de Ratzinger (Bento XVI), que foi a sombra de João Paulo II, tornou-se Papa, renunciou e agora fica à sombra de Francisco.

O trecho publicado sobre esse encontro com Bento XVI foi o seguinte:

"Conversando com o Papa Bento, que está bem e com a mente clara, ele me disse: 'Santidade, isso é a época do pecado contra Deus, O Criador, ele é inteligente! Deus fez o homem e a mulher, Deus fez o mundo deste jeito, deste jeito, deste jeito e nós estamos fazendo o contrário".

Sexualidade, gênero, orientação sexual, performatividade de gênero - a Igreja Católica erra mais quando abre a boca sobre tudo isso do que quando silencia a respeito de todas as atrocidades já praticadas contra LGBT no mundo, inclusive por ela mesma (vide as masmorras da Inquisição, a mais visível das violências, sem contar as violências cotidianas que falas como essa de Francisco acabam autorizando ou legitimando).

Sobre a educação para a diversidade sexual e de gênero, sugiro a leitura desse texto que resgata interessantes pontuações feitas por ninguém menos que PUC- RS (Pontifícia Universidade Católica). Chega a ser irônico que a mesma fonte possa dar dois tipos de água tão diferentes.
"A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou nota em que afirma que "a introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas trará consequências desastrosas para a vida das crianças e das famílias”.

Leia eesse artigo: De onde vem o ódio de cristãos fundamentalistas contra os homossexuais e outros indivíduos que escapam à heteronormatividade? - Respondendo uma pergunta no Facebook: https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2014/11/de-onde-vem-o-odio-de-cristaos.html

Durante a leitura, mantenha em mente que "cristãos fundamentalistas" refere-se a católicos, evangélicos e outros que se agarram a interpretações radicais, geralmente colocando grupos sociais, cuja identidade e/ou comportamento desafia sua limitadíssima visão de mundo no tocante à diversidade em todos os sentidos, como responsáveis por catástrofes que vão da "destruição da tradicional família cristã" até o fim do mundo. Ui, que meda!

Apesar de tanta tolice e do grande número dos que a reproduzem aqui e ali, mais do que nunca, nossa resposta a esses retrógrados segregadores e sufocadores das liberdades individuais precisa ser a de SERMOS tudo o que queremos ser ou que já somos em nosso melhor estilo. ;)

Quer saber mais sobre isso? Participe do [SSEX BBOX]. Vai ser em novembro desse ano (2016): 2ª Conferência Internacional SSEX BBOX.



Leia mais sobre esse assunto: http://oglobo.globo.com/sociedade/religiao/papa-horrivel-que-as-criancas-aprendam-que-podem-escolher-seu-genero-19837125#ixzz4P36DRZyx


LEIA: EM BUSCA DE MIM MESMO.
https://www.amazon.com.br/Busca-Mim-Mesmo-Sergio-Viula-ebook/dp/B00ATT2VRM


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