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A face mutante do Diabo e sua utilidade para a igreja

Por Sergio Viula



Recorte do Saltério de Winchester, uma pintura da Idade Média



As representações do Diabo foram introduzidas e modificadas ao longo do tempo no imaginário popular por artistas que compuseram alguns dos mais incríveis mosaicos, pinturas e textos na Europa.

O Diabo, como o pensam hoje as massas, não foi sempre imaginado do mesmo jeito. E mesmo nas escrituras cristãs, não existe uma descrição clara de sua criação e queda. O que o cristão mediano supõe ser um relato de sua criação e queda são originalmente passagens que falam da Babilônia e do rei de Tiro (respectivamente, Isaías 14:11-23 e Ezequiel 28:11-19). Portanto, para início de conversa, não existe qualquer passagem bíblica clara e exclusivamente dedicada a descrever a origem e a suposta queda de satanás. apesar de existirem citações sobre satanás, diabo e demônios, como veremos adiante.

Ao que parece, a igreja cristã precisava desesperadamente de um bode expiatório para explicar a origem do mal, e satanás era a opção mais conveniente. Dizer que Deus criou o mal seria colocar em dúvida a qualidade de seu caráter. Isso, porém, não resolve o problema, porque se Deus é onisciente, ele sabia o que aconteceria se criasse o tal anjo. E se Deus é onipotente (o que inclui dizer que é livre para fazer o que deseja), poderia nem ter criado esse querubim que viria a ser o diabo, para início de conversa.

De qualquer modo, a caracterização de Satanás como um poderoso rival de Deus servia (e serve) bem ao propósito de controlar as massas através do terror. À figura do diabo, está associada a ideia de inferno como um lugar ou estado de sofrimento eterno, bem como a ideia de pecado, seja como um ato de rebelião contra Deus ou como um estado de corrupção e decadência. A tríade diabo-pecado-inferno rendeu extraordinariamente mais poder, dinheiro e grandeza ao clero católico e protestante, do que a ideia de um Jesus meigo, bondoso e acolhedor.

Só para se ter uma ideia de como a centralidade de Satanás no discurso de pastores e padres hoje passa longe do lugar que ele ocupava nas escrituras cristãs, vale a pena tomarmos alguns números relacionados aos termos que se referem ao Diabo, bem como aos termos que se referem a Jeová, Jesus ou ao Espírito Santo. O termo “Deus” foi deixado de lado por poder se referir tanto ao Deus dos judeus e dos cristãos como aos Deuses dos gentios e dos pagãos. O nome de Jeová, porém, foi usado nessa pesquisa, porque era o mais usado para se referir a Deus no Velho Testamento.A palavra Senhor também foi incluída nessa busca, porque ela era usada para se referir a Deus judaico-cristão, mas não aos Deuses gentílicos ou pagãos pelos escritores da Bíblia. A busca foi feita através do site Bíblia Online, que utiliza a tradução de João Ferreira de Almeida – a preferida pelos protestantes no Brasil. E isso foi o que encontrei.

Referências ao diabo nas escrituras cristãs:

  1. A palavra diabo aparece 20 vezes no Velho Testamento e 135 no Novo Testamento (total 155).
  2. A palavra satanás aparece 15 vezes no Velho Testamento e 73 no Novo Testamento (total 88).
  3. A palavra demônio aparece 04 vezes no Velho Testamento e 104 no Novo Testamento (total: 108).
  4. O termo “espírito imundo” se referindo aos demônios aparece somente no Novo Testamento – 25 vezes (total: 25).
  5. O termo “espírito maligno” (ou espírito mau) aparece 09 vezes no Velho Testamento e 08 vezes no Novo Testamento (total: 17).
  6. O nome de Jeová é mencionado 5.817 vezes no Velho Testamento e nenhuma no Novo Testamento (Total 5.817).
  7. O termo Senhor, atribuído a Deus, aparece 6.932 vezes no Velho Testamento e 954 vezes no Novo Testamento, atribuído a Deus, a Jesus ou ao Espírito Santo (total: 7.886)
  8. O nome de Jesus é mencionado 1438 vezes no Novo Testamento (total: 1438).
  9. A palavra Cristo é mencionada 570 vezes no Novo Testamento (total: 570).
  10. O termo Espírito Santo aparece 03 vezes no Velho Testamento e 98 vezes no Novo Testamento (total: 101).
  11. O termo Espírito de Deus aparece 22 vezes no Velho Testamento e 20 vezes no Novo Testamento (total: 42).

MORAL DA HISTÓRIA:

  • Os temos que se referem ao “inimigo” de Deus totalizam 393 ocorrências;
  • As palavras que se referem a Jeová, a Jesus ou ao Espírito Santo totalizam 15.854 ocorrências.


Isto quer dizer que os termos referentes a Jeová, Jesus e o Espírito Santo ocorrem 40 vezes mais frequentemente do que termos referentes a Satanás e aos demônios. No entanto, a igrejas têm uma fascinação pelo diabo que parece torná-lo uma figura muito mais presente em seus cultos, pregações, artigos e representações do que jamais imaginaram os autores bíblicos nos 66 livros que compõem a Bíblia protestante ou nos 73 livros que figuram na Bíblia católica. Ah, sim, porque os cristãos não têm consenso sequer sobre quais livros devem compor a Bíblia!

E por que será que isso acontece? Por que Satanás é tão popular na boca desses pregadores? Duas hipóteses são as seguintes:

Porque o Diabo na boca dos pastores e padres é reconhecidamente um excelente instrumento de controle do povo pelo medo – o que significa governar seus corpos, suas carteiras, seus votos e seus pensamentos. Os crédulos serão contra tudo aquilo que o pastor e o padre lhes dizem ser do Diabo e serão a favor de tudo daquilo que o pastor diz ser de Deus.

E também porque quanto pior for Satanás na pregação desses líderes religiosos, mais indispensáveis serão eles. Os “ungidos” serão vistos como verdadeiros heróis na fictícia luta contra o diabo. Mas nada disso sem um custo ($$$) elevadíssimo, “absolutamente justificado” pela “nobreza” da função que exercem.

E será que o diabo existe mesmo? Sim, ele existe tanto quanto a Cuca e o Saci Pererê. Quero dizer que o Diabo judaico-cristão existe de modo semelhante ao das míticas figuras do folclore brasileiro, as quais também infligiam medo sobre as mentes ingênuas dos antigos moradores do interior do nosso país. O Diabo e seus demônios – figuras míticas do judaísmo e do cristianismo – também infligem pavor sobre as mentes dos crédulos, mas são tão imaginários quanto os personagens do nosso folclore.

Mas, sabe o que é pior? Os crédulos dirão que iniciativas como a de escrever esse texto são obra do Capiroto com o objetivo de enganar os néscios. Dirão também que – se possível fosse – enganariam até os escolhidos. É fácil perceber onde isso vai dar. Para provar que é um escolhido, o ‘cabra’ tem que rejeitar qualquer questionamento sobre a validade de suas crenças. Caso contrário, ele colaborará com Satanás. Assim, está garantido o ofício e os ganhos dos que se alimentam das tesourarias desse desperdício de espaço e de tempo a que chamamos igreja, exceto por aquelas que são verdadeiras obras de arte e que poderiam ser transformadas em peças de museu muito bem preservadas e sem a menor relevância, senão a de preservar uma parte de nossa história e da arte produzida nesse período. Mas, isso só seria possível se as pessoas fossem mais céticas do que costumam ser. O problema é que crer parece mais fácil do que pensar. Deslumbrar-se é mais confortável do que analisar criticamente o que se vê.

Mas o que é que vemos, senão as obras dos próprios homens, já que Deus mesmo nunca deu as caras? Ah, mas os teólogos terão mil motivos para esse ocultamento… Sim, os teólogos, essas estranhas criaturas que pensam o impensável, dizem o indizível e descrevem o invisível. Não são por isso mesmo ainda mais extraordinárias? Chegam a ser mais incríveis do que o Deus a quem supõem conhecer. Mas, eu me pergunto quantos deles creem realmente em tudo o que dizem. Ninguém sabe… NINGUÉM mesmo.

Deus no Cérebro - BBC

Deus no Cérebro – resumo do programa


Holmer Simpson: qualquer semelhança com pessoas reais 
pode não ser mera coincidência... ;)




Rudi Affolter e Gwen Tighe experimentaram ponderosas visões religiosas. Ele é ateu. Ela é cristã. Ele pensou que tivesse morrido; ela pensou que tivesse dado à luz Jesus Cristo. Ambos têm epilepsia do lobo temporal.

Como outras formas de epilepsia, essa condição causa convulsão, mas também está associada com alucinações religiosas. Pesquisas sobre por que pessoas como Rudi e Gwen viram o que viram têm aberto todo um campo de neurociência: a neuroteologia.

A conexão entre os lobos temporais do cérebro e o sentimento religioso levou um cientista canadense a tentar estimulá-los (eles estão próximos aos seus ouvidos). 80% das pessoas sujeitas ao experimento do Dr. Michael Persinger relatam que um campo magnético artificial focado sobre aquelas áreas do cérebro dá-lhes um sentimento de ‘não estar sozinho’. Alguns deles descrevem isso como uma sensação religiosa.

O trabalho levanta a perspectiva de que somos programados para acreditar em deus, de que a fé é uma habilidade que os humanos desenvolveram ou receberam. E a epilepsia do lobo temporal (ELT) poderia ajudar a desvelar o mistério.


Líderes religiosos



A História está cheia de figuras carismáticas. Poderiam algumas delas ter sido epiléticas? As visões que tiveram personagens bíblicos como Moisés ou São Paulo são consistentes com as de Rudi e Gwen, mas não há como diagnosticar ELT em pessoas que viveram tanto tempo atrás.

Existem, porém, exemplos mais recentes, como um dos fundadores do Movimento Adventista do Sétimo Dia, Ellen White, nascida em 1827. Ela sofreu um ferimento cerebral com a idade de nove que mudou totalmente sua personalidade. Ela também começou a ter poderosas visões religiosas.
Representantes do Movimento duvidam que Ellen White tenha sofrido de ELT, dizendo que o ferimento dela e suas visões são inconsistentes com a condição, mas o neurologista Gregory Holmes acredita que isso explique a condição dela.


Melhor que sexo



A primeira evidência clínica a ligar os lobos temporais com as sensações religiosas surgiu através do monitoramento de como os pacientes de ELT respondiam a grupos de palavras. Num experimento onde as pessoas foram expostas a palavras neutras (mesa), palavras eróticas (sexo) ou palavras religiosas (deus), o grupo de controle ficou mais excitado pelas palavras sexualmente carregadas. Isso foi tomado como uma resposta à flor da pele. As pessoas com epilepsia do lobo temporal não compartilharam esse aparente senso de prioridades. Para elas, as palavras religiosas geravam a maior reação. Palavras sexuais eram menos excitantes do que as neutras.


Faz de conta


Se a atividade anormal de pacientes com ELT altera sua resposta a conceitos religiosos, poderiam padrões cerebrais artificialmente produzidos fazer o mesmo por pessoas sem tal condição médica? Essa é a questão que Michael Persinger se pôs a explorar, usando um capacete desenhado para concentrar os campos magnéticos nos lobos temporais do usuário.

Seus voluntários para a experiência não foram avisados a respeito do propósito específico do teste; somente que o experimento pretendia observar o relaxamento. 80% dos participantes relataram sentir alguma coisa quando os campos magnéticos eram aplicados. Persinger chama uma das sensações mais comuns de ‘sensação de presença’, como se alguém mais estivesse com eles na sala, quando não há ninguém de fato.

Horizon apresentou o Dr. Persinger a um dos mais renomados ateus britânicos, Professor Richard Dawkins. Ele concordou em tentar essa técnica em Dawkins para ver se conseguiria proporcionar-lhe um momento de sentimento religioso. Durante a sessão que durou 40 minutos, Dawkins achou que os campos magnéticos ao redor do seu lobo temporal afetavam sua respiração e membros. Ele não encontrou deus.

Persinger não se sentiu desencorajado pela imunidade de Dawkins aos poderes do capacete magnético. Ele acredita que a sensibilidade dos nossos lobos temporais ao magnetismo varia de pessoa a pessoa. Pessoas com ELT podem ser especialmente sensíveis aos campos magnéticos; o Professor Dawkins está bem abaixo da média, aparentemente. Esse é um conceito ao qual, clérigos como o bispo Stephen Sykes, dão algum crédito também: poderia haver uma coisa tal como um talento para a religião?


Imagem Cerebral


Sykes, porém, vê uma grande diferença entre uma ‘presença sentida’ e uma genuína experiência religiosa. Cientistas como Andrew Newberg querem apenas observar o que acontece durante momentos de fé. Ele trabalhou com o budista, Michael Baime, para estudar o cérebro durante a meditação. Injetando indicadores radioativos na corrente sanguínea de Michael à medida que ele chegava ao nível de um transe meditativo, Newberg conseguiu usar um scanner cerebral para formar uma imagem do cérebro durante o clímax religioso.

Os padrões do fluxo sanguíneo mostraram que os lobos temporais estavam certamente envolvidos, mas também que os lobos parietais pareciam completamente desligados. Os lobos parietais nos dão a sensação de tempo e lugar. Sem eles, podemos perder nosso senso de self (eu, ego, mim mesmo). Seguidores de muitas das fés mundiais consideram um senso de insignificância pessoal e união com uma deidade como algo a ser perseguido, buscado. O trabalho de Newberg sugere uma base neurológica para o que a religião tenta gerar.


Evolução religiosa



Se a função cerebral oferece uma compreensão de como experimentamos a religião, será que ela diz algo sobre por que o fazemos? Há evidência de que as pessoas com fé religiosa não têm mais vida saudável. Isso parece indicar um benefício para a sobrevivência das pessoas religiosas. Poderia a crença religiosa ter evoluído devido a isso?

O Professor Dawkins (que reconhece a evolução como explicação do desenvolvimento humano) pensa que poderia haver uma vantagem evolucionária, não por se acreditar em deus, mas por se possuir um cérebro com a ‘capacidade’ de acreditar em deus. Que tal fé exista é um produto do esforço da inteligência. O Professor Ramachandran nega que a descoberta sobre como o cérebro reage à religião renegue o valor da fé. Ele sente que os circuitos cerebrais como os que Persinger e Newberg identificaram, poderiam constituir uma antena para nos tornar receptivos a deus. O Bispo Sykes, por sua vez, pensa que a religião não tem nada a temer a respeito dessa neurociência. A ciência existe para buscar explicar o mundo ao nosso redor. Para ele, pelo menos, ela pode coexistir com a fé.


Fonte: https://www.bbc.co.uk/science/horizon/2003/godonbrain.shtml


Tradução para o português: Sergio Viula


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Cada vez mais a ciência avança em sua capacidade de compreender o cérebro humano. E quanto mais ela avança, mais esclarece que não existe nada de espiritual ou (para além do físico) nas experiências humanas, inclusive aquelas chamadas sobrenaturais ou religiosas. A fé e as sensações que a acompanham são produtos do cérebro. Não existe uma alma revestida de carne que tenha habilidades próprias e independentes do corpo. Aquela ideia de que a alma pode sair do corpo, seja pela projeção astral, seja definitivamente por meio da morte, é pura balela. As chamadas experiências de quase morte são mera produção cerebral. A própria crença em deus é fruto da imaginação humana que também é ferramenta da inteligência, logicamente. Nenhuma sensação, visão, sonho, transe, língua estranha ou qualquer outro “fenômeno” (veja-se fenômeno aqui como aparência, aquilo que aparece) tem origem em algo transcendental, metafísico, divino. É tudo produção cerebral. E quanto mais descontente com a própria vida o indivíduo for, quanto mais infeliz no mundo e nas relações com as pessoas ao seu redor, quanto mais culpado por coisas que nem erro constituem, mais esse indivíduo produzirá esse tipo “experiência” “sobrenatural” para suportar a própria dor.

O problema é que adiar para mundos vindouros a felicidade que deveria ser vivida aqui e agora não resolve nada. Pode até gerar mais problemas emocionais que conduzirão a outros, tais como: financeiros, familiares, amorosos, etc. O mesmo cérebro que tem a capacidade de produzir uma “experiência”, e acreditar nela, acaba sendo – por isso mesmo – afetado por ela. E aí, minha gente, ninguém segura. Tudo é possível ao que crê: renunciar a família, enfiar-se num convento, dizer que é noiva de Cristo, adorar vaca, pensar que já foi Cleópatra em vida passada, comer biscoito de trigo pensando que é carne humana, tomar uma dose de vinho crente que é sangue de gente, falar enrolado e pensar que o espírito de algum escravo torturado está em seu corpo, fazer doações ilimitadas para padres, pastores e gurus viverem luxuosamente, jogar avião em prédio, assassinar friamente criancinhas na escola, jurar para si mesmo que deixou de ser gay, destruir obras de arte por associá-las ao demônio, pensar que o diabo pode atingi-lo e fazer qualquer coisa para garantir que não (corrente dos 70 pastores, fogueira santa, amuletos, sacrifícios), a lista é interminável!!!

A maior parte dos problemas que as pessoas vivem seria resolvida com apenas o aumento da felicidade. Aqui e agora. E essa felicidade pode ser cultivada através do equilíbrio e da integração das diversas áreas da vida humana. Se os “The Beatles” estavam certos, all you need is love, comece por amar a si mesmo. Fique longe dessa conversa de que “quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna.” (João 12.25). Esse tipo de pregação da morte, negação da vida, desprezo pelo que é humano e valorização do que é divino, celestial, pós-morte é caminho certo para comportamentos esquizofrênicos e sentimentos egodistônicos. Ame-se e faça da sua vida uma verdadeira obra de arte!

Assim, vai ser fácil amar os outros, mesmo que nem todos, porque é provavelmente impossível amar todo mundo. Mas é possível respeitar o outro em sua busca pessoal pela felicidade, enquanto eu mesmo busco a minha. E isso não basta?


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