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A comunidade LGBT sob governos destros e canhotos




A comunidade LGBT sob governos destros e canhotos

A queda de Morales e outras esquisitices latino-americanas



Por Sergio Viula



A direita e a esquerda, bem como tudo que fica em algum ponto entre elas, têm modos diferentes de pensar economia. Esse é ponto nevrálgico de suas disputas. Para além disso, cada uma delas tem sua própria versão de pragmatismo político, especialmente quando se trata do que todos os que experimentam o poder desejam - perpetuar-se no comando. Há quem abra mão de um cargo poderoso por motivos estratégicos, mas dificilmente deixa de participar do jogo. 

Para justificar a aquisição de novos poderes no mesmo cargo, especialmente quando se trata do mais alto cargo do Executivo - o da presidência -, o discurso pode incluir frases de efeito como "precisamos proteger a democracia", "é preciso defender o país de ameaças externas", "o povo fará prevalecer sua vontade", entre outras. A primeira geralmente justifica ações truculentas contra a oposição da parte de outros políticos ou atores da sociedade civil. A segunda é pretexto para reforçar o aparato  militar, aumentar a vigilância sobre os cidadãos e as instituições civis, e até mesmo suspender direitos fundamentais. A terceira é muito usada para desviar a atenção de fraudes no processo eleitoral. As frases de efeito podem variar, mas o objetivo desses governantes costuma ser o de se perpetuar no poder custe o que custar.

Isso, porém, não seria possível sem o estabelecimento de alianças que geralmente põem em risco a liberdade e a dignidade da população e das organizações que representam os anseios da sociedade civil. Essas alianças são geralmente cobertas por duas camadas discursivas - uma que agrada aos algozes do povo nos bastidores e outra que distrai esse mesmo povo na ribalta.

Um dos mais sagazes e perigosos desses poderes é o religioso. Em nome de seus dogmas e da manutenção do controle mental de seus seguidores, lideres católicos, protestantes, muçulmanos, budistas, hindus, etc, a depender do país em questão, são capazes de apoiar governos aberta ou veladamente violentos, desde que estes continuem transferindo dinheiro do Estado para suas organizações a título de investimento em hospitais, creches e outras iniciativas aparentemente beneficentes. 

Restauração de templos e obras de arte consideradas como patrimônio da humanidade ou de interesse da população também são ótimas "laranjas" para esse repasse de verbas milionárias. Além do ganho financeiro, essas organizações exigem fidelidade a uma agenda mínima de acordo com os interesses delas. Essa agenda tem muitas facetas, sendo a mais visível, no caso da América Latina escravizada por crenças católicas e evangélicas, aquela que esses religiosos costumam chamar de 'agenda moral'. Do alto de sua hipocrisia, caracterizada por apelos à moralidade ao mesmo tempo em que cometem os mais sórdidos atos de corrupção dentro e fora de suas instituições, esses líderes religiosos geralmente exigem dos governantes sob seu comando ou influência o impedimento de qualquer avanço no campo dos direitos femininos, dos direitos LGBT e da efetiva separação entre Estado e religião - só para citar três. Eles também trabalham bastante para impedir o avanço da ciência.

Outro poder extremamente perigoso é o dos militares. Ora, os mesmos cães de guarda que impedem a entrada de estranhos podem se tornar um perigo quando decidem atacar o próprio "dono". Apesar de nenhum presidente ser dono das Forças Armadas, a analogia se aplica. Ele é reconhecido pela Constituição (no caso do Brasil e de outros países) como o chefe das Forças Armadas. Isso deveria se traduzir em proteção para o Estado de Direito, não em subversão do mesmo por causa de interesses espúrios de líderes de alta patente, sempre prontos a exercer pressão sobre presidentes eleitos. Um governo torna-se totalmente inviável quando generais, brigadeiros e almirantes se vendem aos interesses de quem pode pagar bilhões pela sua traição. E tendo em vista que governos como os dos EUA, da Rússia, da China, da Arábia Saudita, entre outros, têm esse cacife, não é difícil entender porque tantos golpes acontecem em locais onde seus interesses políticos e econômicos se concentram.

Mas engana-se que pensa que agem sozinhos os governos externos que subsidiam golpes na América Latina, África e Ásia. Na verdade, eles contam com a conivência de muitas autoridades e figuras públicas dentro dos países que são alvos de sua cobiça. Muitos desses colaboradores internos juram que são patriotas e que estão comprometido com o bem de suas nações. Além disso, esses governos de potências imperialistas têm por trás de si corporações empresariais que acumulam receitas maiores que o PIB de vários países. O poder econômico constituído por essas corporações pode ser usado para chantagear políticos e partidos, transformando os espaços onde são exercidos os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo em balcão de compra e venda. Já vimos muito disso por aqui. E é dessa maneira que o futuro do nosso país e de nossos vizinhos latino-americanos é garantido ou comprometido, a depender dos interesses dos que detêm o capital.

Porém, ninguém se apresse em pensar que o capital só domina sociedades autoproclamadas capitalistas. De modo algum! Na verdade, o capital manda tanto em sociedades consideradas capitalistas como em sociedades consideradas socialistas, principalmente nos tempos atuais, quando o comércio vence fronteiras de todos os tipos todos os dias. 

O capital dá as cartas tanto em nações dominadas por poderes religiosos como em nações profundamente secularizadas. O que difere é a extensão de seu poder. Esta vai depender de que tipos de dispositivos cada uma dessas nações conseguiu consolidar para evitar a violação dos direitos fundamentais dos indivíduos e para promover o progresso civilizatório, que não será efetivado sem o respeito à liberdade e à dignidade humana numa perspectiva pluralista e inclusiva que não apenas tolere, mas celebre a diversidade.

A América Latina encontra-se em polvorosa no momento em que escrevo esse post

O Chile de Sebastián Piñera acaba de passar por semanas de convulsão social depois de ser assolado por políticas neo-liberais extremas que lançaram milhões na miséria. 

A Argentina, idem, mas com a diferença de que o povo argentino decidiu através do voto não renovar o mandato do presidente Maurício Macri. 

O Equador foi palco de revoltas populares contra a corrupção do governo do presidente Lenín Moreno. O saldo foi de 500 feridos e mais de mil presos. Mas, o governo recuou. Primeiro, o presidente decretou toque de recolher (13 de outubro), e, um dia depois, cedeu às pressões populares. Em seguida, anunciou a suspensão do decreto que liberava o preço dos combustíveis, cujo efeito imediato foi um aumento de mais de 120% da gasolina e do diesel, motivo central das revoltas que paralisaram o país por 11 dias. De novo, a quem interessa um aumento desses - aos donos do capital ou ao povo? 

A Bolívia, por sua vez, se tornou palco de confrontos depois que o resultado favorável a Evo Morales nas urnas foi contestado nas eleições deste ano. A crise instalada culminou em sua renúncia. O agora ex-presidente da Bolívia, primeiro indígena eleito no país, foi o chefe do Executivo  que ocupou o cargo por mais tempo - um total de treze anos. 

A renúncia de Evo foi anunciado pelo próprio neste domingo, 9/11. Ele deixou o cargo logo depois que as Forças Armadas e a Polícia pediram que ele considerasse a renúncia para evitar mais violência no país. O que muitos se perguntam é se esse posicionamento das forças de segurança bolivianas expressava mera incapacidade de conter os tumultos ou uma ameaça velada ao presidente. De qualquer modo, Morales decidiu renunciar.

Tristemente, o vácuo gerado por essa renúncia abre espaço para todo tipo de articulação entre setores sedentos pelo sangue do trabalhador boliviano e ansiosos por vampirizar as riquezas naturais daquele estratégico país.

Vale ressaltar que nenhuma dessas "crises" aconteceram sem a ingerência de agentes americanos, tanto por parte do governo como de mega corporações.

Aqui no Brasil, Bolsonaro, um político que sempre se valeu do Estado Democrático de Direito tão-somente para garantir sua presença no cenário político, além da inclusão de seus filhos e de outros parentes em espaços de poder, despreza esse mesmo Estado Democrático de Direito que permite sua emergência ao fazer declarações estapafúrdias em apoio a ditadores como Ustra. Não bastasse isso para criar repugnância em qualquer pessoa minimamente moral, ele se curva descaradamente a Donald Trump e aos interesses imperialistas americanos, tão claramente incompatíveis com o desejo de aproximadamente 200 milhões de brasileiros por crescimento e a autonomia. 

Sem titubear, nem mesmo por um segundo, Bolsonaro elogiou os mecanismos que levaram à inviabilização do governo de Morales. Segundo a Folha de São Paulo (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/11/apos-renuncia-de-morales-bolsonaro-comemora-grande-dia.shtml), ele voltou a usar a expressão "grande dia" com a qual debochou da decisão do ex-deputado Jean Wyllys ao deixar seu mandato por causa de ameaças de morte que culminaram em sua saída do país.

Na realidade, Bolsonaro provavelmente viu no golpe cívico-militar contra Evo Morales uma forma de espetar os milhões de brasileiros e outros latino-americanos que celebravam a saída de Lula da cadeia pela porta da frente. Soa quase como uma autopropaganda, algo como o seguinte: Na Bolívia, os militares inviabilizaram o governo de Morales com sua recusa em sair dos quartéis para garantir a ordem, mas aqui o militar sou eu. 

E para se blindar, Bolsonaro já concedeu cargos a mais de 2.500 membros das Forças Armadas em ministérios, cargos de chefia e postos de assessoramento, como diz a Folha de São Paulo. (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/10/bolsonaro-amplia-presenca-de-militares-em-30-orgaos-federais.shtml)

As Forças Armadas bolivianas não agiram sozinhas. O golpe lá Bolívia teve ampla influência de fundamentalistas. Eles chegaram a dizer descaradamente que vão "devolver deus ao palácio do governo". 

Houve também forte mobilização do discurso racista por parte da ressentida aristocracia e oligarcas bolivianos. Há relatos de pessoas de origem indígena, como é o caso do ex-presidente da Bolívia, dizendo que todos os civis de origem indígena que ainda tem algum cargo no governo ou no serviço público estão sendo perseguidos por gente ligada a oligarcas e fundamentalistas religiosos.

Ora, que sujeira existe e se perpetua nos partidos de direita, esquerda e outros não é novidade, mas é lamentável ver que muita gente permanece capturada por essa cortina de fumaça produzida por personagens que se dizem de uma ala ou de outra, deixando de perceber que os princípios democráticos e o Estado de Direito têm sido continuamente violados, seja de forma explícita ou velada, nos governos de todos esses partidos.

O grande erro desses governantes populistas, sejam quais forem seus partidos, é o culto a si mesmos como "pais insubstituíveis". Enquanto se recusam a pensar em como poderiam se reproduzir e se renovar na pessoa de novos líderes, esses 'mitos', 'libertadores' e 'messias' se entrincheiram cada vez mais nas liteiras do poder, incensados por fiéis que os adulam ao mesmo tempo em que ignoram o fato de que as estruturas sócio-político-econômicas permanecem praticamente as mesmas, apesar dos muitos anos de mandato que esses mesmos ídolos já acumularam em suas carreiras políticas.

Aliás, no que depender do Messias Bolsonaro e do Donald Trump, nós, os cidadãos que se identificam como gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, continuaremos sendo ignorados em nossas demandas, correndo o risco de termos nossas conquistas reduzidas ou suprimidas, caso isso esteja ao alcance deles. Na verdade, dificilmente encontramos presidentes mais vis do que esses dois nos 36 países e 18 territórios dependentes de alguma metrópole externa que compõem as Américas.

Trump e Bolsonaro só não fazem tudo o que desejam, porque não podem. Felizmente, ainda existem instituições democráticas estatais e da sociedade civil para detê-los, mas todos os dias, eles as submetem a pressões que podem colaborar para sua corrosão e colapso.

Em setembro desse ano, por exemplo, Donald Trump acionou a Suprema Corte do país para questionar se pessoas LGBT deveriam estar protegidas por leis trabalhistas que impeçam discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Na prática, ele está pedindo que a Suprema Corte permita que empresas tenham o poder de demitir pessoas por serem gays ou transexuais. Este tem sido apontado como o maior ataque da administração de Trump contra a comunidade LGBT até o presente momento. (https://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2019/09/governo-trump-segue-no-ataque-a-comunidade-lgbt/)

Enquanto a Suprema Corte americana discute o assunto, vários estados e cidades americanos têm agido para proibir a discriminação por orientação sexual e de gênero em seu território.






Por aqui, a Justiça ordenou que o governo federal retome os editais de séries LGBT que a Ancine vinha rejeitando por discriminação preconceituosa na administração Bolsonaro. E este é só um exemplo das muitas maneiras que o atual presidente do Brasil tem utilizado para atacar a comunidade LGBT. (https://www.cartacapital.com.br/diversidade/ancine-tera-que-retomar-editais-de-series-lgbts-decreta-justica/)


Outro exemplo é a decisão do STF de que famílias homoafetivas não podem ser excluídas de políticas públicas. Bolsonaro, com sua incurável homofobia, sempre tratou essas famílias como se não fossem famílias de fato. Ele não hesita em deixar claro que faz isso em consonância com setores fundamentalistas da ala católica e da ala evangélica no Congresso e na sociedade. Porém, graças ao STF, essas decisões inconstitucionais foram coibidas em alguma medida.
(https://oglobo.globo.com/sociedade/stf-determina-que-familias-homoafetivas-nao-podem-ser-excluidas-de-politicas-publicas-23952052)


Mas engana-se quem pensa que Trump, Bolsonaro e essa direita ridícula que eles representam são os nossos únicos problemas. A esquerda pode ser ridícula de muitas maneiras também quando se trata de garantir os direitos da população LGBT.


Retomemos a Bolívia e vejamos a quantas andavam os direitos LGBT durante a administração de Morales. Apesar de ter permanecido por 13 anos no poder, Evo não produziu avanço que se refletisse em ganho real para a vida cotidiana da comunidade LGBT boliviana.


É fato que Evo Morales criou alguma proteção contra a discriminação por orientação sexual na letra da lei, mas essa suposta proteção não se reflete nas ruas. As pessoas LGBT ainda vivem nas sombras por receio de serem atacadas, mesmo em cidades como La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Agora que o presidente boliviano renunciou e que fundamentalistas religiosos e milicianos estão agindo livremente no país com a conivência das forças de segurança, isso deve piorar.


Sem dúvida alguma, esse é um dos muitos prejuízos causados pela colonização católica espanhola. Infelizmente, não se transforma uma mentalidade excludente e perversa como essa sem políticas inclusivas. Isso foi exatamente o que o governo boliviano não fez. Apesar de seus 13 anos de poder e do massivo apoio popular, Evo Morales não atuou para criar mecanismos de combate à homofobia e transfobia no país, efetivamente.


Vale destacar que a homofobia e a transfobia não faziam parte das culturas indígenas andinas. Era bem o contrário. Antes da colonização, a homossexualidade e as expressões de gênero que se aproximam da transgeneridade como entendida hoje eram terreno pacífico entre as tribos no território que hoje é chamado de boliviano. Foi a catequização, com seu terrível desprezo por tudo o que tem a ver com a sexualidade, especialmente quando se trata de diversidade sexual, que perverteu a mentalidade dos povos indígenas, pavimentando o terreno para muita violência e morte motivadas por homofobia e transfobia - dois elementos estranhos àquelas culturas, originalmente.


Podem dizer que a Bolívia incluiu a discriminação por orientação sexual em sua Constituição, mas esta é a mesma Bolívia cuja Carta Magna veta expressamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, perpetuando a noção de que duas pessoas do mesmo gênero não podem constituir conjugalidade e, consequentemente, formar um núcleo familiar.


Outra contradição diz respeito à transexualidade na Bolívia. Ao mesmo tempo em que a nação de Evo Morales permitiu que homens e mulheres transexuais tivessem  o direito de mudar de documentos, ela também impediu que essas pessoas pudessem se casar ou adotar filhos. Ora, se a cidadania não é plena, o que ela é, afinal? Uma cortina de fumaça? Um cala-boca? Uma estratégia para agradar a dois senhores - tanto os donos do poder religioso produtor de neuroses encapsuladas em dogmas quanto os cínicos que se contentam em fazer de conta que o país avançou?


A Venezuela governada por Maduro, e anteriormente por Chavéz, segue na mesma trilha. Nicolás Maduro chegou a deplorar seu adversário Henrique Capriles na campanha de 2017, dizendo:  "Eu, sim, tenho mulher. Escutaram? Eu gosto de mulheres". Na sequência, beijou sua mulher, que também é alta dirigente chavista, a senhora Cília Flores. (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/10/opinion/1491860659_262989.html)


Caprilles respondeu de modo civilizado: “Quero enviar uma palavra de rechaço às declarações homofóbicas de Maduro. Não é a primeira vez. Creio numa sociedade sem exclusão, na qual ninguém se sinta excluído por sua forma de pensar, seu credo, sua orientação sexual”.


Bem diferente de Morales, Chavéz e Maduro, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica disse que não legalizar o casamento homoafetivo seria "torturar pessoas desnecessariamente". (http://brasil.elpais.com/tag/jose_mujica/a)


Outra líder de esquerda que fez bonito foi a ex-presidente Cristina Kirchner, que aceitou ser madrinha do filho de duas lésbicas. 

E não apenas isso, tanto Pepe Mujica como Cristina Kirchner se posicionaram e trabalharam para o reconhecimento do casamento homoafetivo durante seus governos como presidentes da república.


No Equador, quem fez história recentemente foi a Corte Constitucional, que reconheceu o casamento homoafetivo em 13 de junho deste ano. A decisão é válida em todo o país. 


Agora, Equador, Brasil, Colômbia e Argentina são os quatro países que reconhecem o casamento homoafetivo em todo o território nacional. Mas, antes de concluir precipitadamente que já conseguimos o suficiente, lembre-se que a América Latina é composta por 20 países independentes. Isso quer dizer que o casamento igualitário só uma realidade nacional em 1/5 dos países latinoamericanos.








É preciso que tanto a direita como a esquerda brasileiras repensem suas atitudes para com a população LGBT. Mais do que isso, é fundamental que os cidadãos LGBT se posicionem, exijam seus direitos, e não votem em candidatos homofóbicos e transfóbicos. Caso se eleja para algum cargo, é preciso que esse cidadão ou essa cidadã LGBT trabalhe em favor da comunidade sexodiversa e transgênera, rejeitando alianças que possam transformar esses direitos em moedas de troca para capitalizar junto a setores retrógrados e obscurantistas, sejam eles quais forem.

Como disse meu amigo Julio Marinho no Twitter anteontem (9 de novembro), "Nós, os gays, apanhamos de tudo q é lado. Tenho memória, ñ esqueço a piadinha 'Pelotas exportadora de viados', 'filho gay é falta de porrada', 'no meu governo ñ faremos propaganda de opções sexuais'."



Só para não deixar dúvidas, a primeira frase foi dita pelo ex-presidente Lula; a segunda pelo atual presidente Jair Bolsonaro quando ainda era deputado federal; e a terceira foi proferida pela ex-presidenta Dilma ao se render à chantagem da ala fundamentalista liderada por Jair Bolsonaro numa manobra que ainda seria usada para elegê-lo mais tarde - a do famigerado e inexistente 'kit gay'.

Já ouvi gente de liderança LGBT dizer em defesa da inércia de governos petistas e aliados em face das demandas da comunidade LGBT o seguinte: "Não podemos pensar só na causa LGBT."

Como assim?

É justamente o contrário! Pensa-se em tudo, menos na causa LGBT.


Quando pessoas que se identificam como lideranças LGBT colocam a própria agenda que dizem defender em segundo plano, alguma coisa muito patológica deve estar em andamento no tecido social, inclusive em seu núcleo de atuação.

E por isso, digo claramente que está na hora de cobrar dos governos a efetivação plena da cidadania da população LGBT. Não nos interessa demagogia, Queremos oportunidades iguais, respeito aos nossos direitos fundamentais e a todos os outros que deles derivam. Cabe a nós mostrar que eles NÃO PODEM nos ignorar e NÃO VÃO nos enganar com medidas que maquiam mal e porcamente a homofobia e a transfobia que esses mesmos indivíduos (governantes, militares ou civis) se recusam a combater, seja de modo franco ou velado.

Não basta declarar a homofobia e a transfobia como crime de racismo se delegados se recusam a lavrar os boletins de ocorrência especificando que foi crime homofóbico ou transfóbico.

Não basta fazer congressos para saber quais são as demandas da população LGBT se depois o governo que os convocou diz que "não fará propaganda de 'opção' sexual".

Não basta criar secretarias ou departamentos pretensamente voltados para a inclusão da população LGBT se esta não consegue sequer orientação jurídica gratuita quando se vê agredida física, psicológica e moralmente por membros da sociedade civil ou até mesmo agentes do governo.

Não basta reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo se depois se permite discriminá-las em programas de habitação, educação e saúde financiados pelo poder federal, estadual ou municipal.

Não basta criar oportunidades de emprego se não houver conscientização pró-LGBT entre empregadores e dispositivos que garantam a empregabilidade dessa população, especialmente de pessoas trans e de pessoas cis gays ou lésbicas que não se enquadram no que essa sociedade homofóbica e transfóbica diz que é 'jeito de homem' e 'jeito de mulher'.

Não basta reconhecer o direito à adoção por casais cis homoafetivos ou por casais transgêneros se o governo não executa políticas de inclusão e respeito à diversidade sexual e de gênero nas escolas para onde os filhos desses casais serão enviados.

E isso é só a ponta do iceberg.

Enquanto, a população LGBT continua sendo discriminada e morta às dezenas e centenas, a maioria dos políticos não se incomoda com as bandeiras do arco-íris tremulando em seus comícios, desde que ninguém, em suas fileiras, exija que eles façam algo de concreto para efetivamente promoverem os direitos da comunidade que essas mesmas bandeiras representam.

É hora de dizer BASTA a esses canalhas, sejam do norte, do sul do leste ou do oeste. Nenhuma condescendência para com o fascismo ou para com o fundamentalismo religioso, não importa o rótulo.

STF - HOMOFOBIA É RACISMO E DISCURSO DE ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO




Por Eduardo Michels 30/08/18
https://www.facebook.com/eduardo.michels.5




STF - HOMOFOBIA É RACISMO E DISCURSO DE ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO!


Denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro (RJ), pelo crime de racismo.

Ao comentar as declarações de Bolsonaro sobre homossexuais, Barroso destacou que, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia, no ano de 2016, 343 integrantes da comunidade LGBT foram assassinados no Brasil. Em 2017, esse número saltou para 445.


"A homofobia mata e, portanto, não devemos tratar com indiferença discursos de ódio e agressão física em relação a pessoas que já sofrem outras dificuldades e outros constrangimentos. Não se trata de pré-julgamento, não se trata de juízo de culpabilidade, aqui é o momento de mero recebimento da denúncia", disse Barroso.

"O modo como nessas declarações foram tratadas pessoas negras, quilombolas e as pessoas de orientação sexual gay comporta o recebimento da denúncia", concluiu Barroso.


Leia Mais aqui: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/denuncia-de-bolsonaro-divide-1a-turma-do-stf-mas-julgamento-e-suspenso/

CONEXÃO REPÓRTER: ROBERTO CABRINI INVESTIGA A HOMOFOBIA NO BRASIL

http://www.sbt.com.br/sbtvideos/programa/149/Conexao-Reporter.html


Domingo passado, 05/04/15, o programa Conexão Repórter, produzido e apresentado pelo jornalista Roberto Cabrini no SBT, apresentou uma das mais sangrentas chagas sociais do nosso país: a homofobia. O jornalista confrontou pensamentos, discursos e práticas de dois deputados com abordagens diametralmente opostas sobre a cidadania LGBT e os direitos que a acompanham: Jair Bolsonaro e Jean Wyllys. 

O programa foi tema de diversas postagens nas redes sociais, mas devido ao horário, que é muito tarde, muitas pessoas não puderam assisti-lo. Por isso, o Blog Fora do Armário registra essa excelente obra de investigação jornalística que certamente contribui para esclarecer um tema muitas vezes mal compreendido ou ignorado por boa parte da população brasileira.

Assista e tire suas próprias conclusões.

Tatiana Lionço é alvo de nova armação de Jair Bolsonaro

Liberdade de crença e de expressão: não farás falso testemunho ao teu próximo


Escrito por Daniela Novais 
19/08/2012



Crédito : Savio Ivo


Por Tatiana Lionço

O Deputado Federal Jair Bolsonaro usou dinheiro público para editar um vídeo difamatório contra acadêmicos e ativistas comprometidos com a defesa de direitos humanos e com o enfrentamento da homofobia no país. A partir de imagens veiculadas pela TV Câmara, relativas ao Seminário Diversidade se aprende na infância, ocorrido em maio na própria Câmara dos Deputados, o Jair Bolsonaro editou as falas, descontextualizou argumentos e atribuiu legendas interpretativas que distorcem o sentido que os próprios participantes do evento atribuem aos seus posicionamentos públicos. Além disso, o vídeo veiculado no canal de youtube do Deputado abriu precedente para uma sequência de narrativas difamatórias.

PT repudia nova manifestação homofóbica de Bolsonaro

Rui Falcão, presidente nacional do PT (Foto: Mário Agra/PT)


24/11/11 - 20h24

PT repudia nova manifestação homofóbica de Bolsonaro


Partido fará representação contra o deputado na Comissão de Ética da Câmara. Leia nota assinada por Rui Falcão.


NOTA

O Partido dos Trabalhadores repudia com veemência a nova manifestação preconceituosa, discriminatória e homofóbica do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), desta vez proferida na Tribuna da Câmara dos Deputados, onde atacou os programas federais contra a homofobia e agiu com total desrespeito à pessoa da presidenta Dilma Rousseff.

O PT reafirma com orgulho suas bandeiras históricas contra qualquer tipo de discriminação e preconceito. Esta deve ser uma luta permanente de toda a sociedade que se queira democrática, tolerante e que respeite as diferenças, como, aliás, é da tradição cultural brasileira.

O PT pediu ao líder de sua bancada na Câmara, deputado Paulo Teixeira, que represente contra Jair Bolsonaro na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, a fim de que responda por seu comportamento reiteradamente homofóbico e não condizente com a dignidade e a responsabilidade que se espera dos homens públicos.

Rui Falcão
Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores
São Paulo, 24 de novembro de 2011

Estudantes expulsam Bolsonaro de palestra por conta de seu racismo e homofobia


Estudantes expulsam Bolsonaro de Universidade no Rio


19/09/2011


O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) teve de sair escoltado da Universidade Federal Fluminense (UFF). Bolsonaro participava de uma palestra na UFF quando estudantes e ativistas dos direitos LGBT iniciaram protesto contra a sua presença.

Pra esquentar o clima, os vereadores Renatinho (PSOL) e Leonardo Giordano (PT) entregaram uma moção de repúdio aprovada pela Câmara Municipal de Niterói. Bolsonaro rasgou a moção de repúdio, os protestos avançaram e a palestra teve de ser interrompida.

A moção de repúdio se deu por conta das declarações "homofóbicas e racistas" que Bolsonaro deu ao programa "CQC.

Até quando esse caluniador e difamador vai continuar falando m. impunemente?

Bolsonaro mente pra diabo!



Bolsonaro distribui panfleto antigay em escolas do Rio


Por Thiago Araújo em 11/05/2011

Após a aprovação da união estável homoafetiva, Jair Bolsonaro deve ter soltado os cachorros em casa.

Tanto que mandou imprimir 50 mil cópias de um panfleto contra o plano nacional que defende os direitos dos gays. O deputado federal eleito pelo PP do Rio está distribuindo o material em residências e escolas do Estado.

“Apresento alguns dos 180 itens deste que chamo Plano Nacional da Vergonha, onde meninos e meninas, alunos do 1º Grau, serão emboscados por grupos de homossexuais fundamentalistas, levando aos nossos inocentes estudantes a mensagem de que ser gay ou lésbica é motivo de orgulho para a família brasileira”, diz o folheto.

De acordo com a leitura de Bolsonaro, que é capitão da reserva do Exército, o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do governo cria de “cotas para professor gay”, “batalhões policiais gays nos Estados”, “Bolsa Gay” e “MST Gay”.

Um dos textos da cartilha de Jair Bolsonaro associa a homossexualidade à pedofilia
O principal alvo, no entanto, é o que o deputado chama de “kit gay”, material didático antidiscriminação preparado pelo Ministério da Educação que será distribuído a escolas públicas. No material há filmes em que adolescentes descobrem que são gays.

“Querem, na escola, transformar seu filho de 6 a 8 anos em homossexual. Com o falso discurso de combater a homofobia, o MEC, na verdade incentiva a homossexualidade nas escolas públicas do 1º grau e torna nossos filhos presas fáceis para pedófilos”, escreveu.

O MEC diz que o material, de uso opcional, ainda está sob análise, mas deve ser distribuído no segundo semestre em escolas do ensino médio, cujos alunos têm 14 anos ou mais.

O deputado não revelou quanto gastou para produzir o material, mas já disse que pretende repassar a conta para os cofres públicos: fala em incluir a despesa em sua verba de gabinete e pedir reembolso da Câmara.

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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

Bolsonaro sempre foi um canalha oportunista, explorando o ódio e a desinformação para atacar minorias e alimentar sua base reacionária. Esse episódio do panfleto contra os direitos LGBTQIA+ é apenas mais uma prova do seu modus operandi: espalhar mentiras absurdas para demonizar um grupo vulnerável e sabotar qualquer avanço social.

As acusações ridículas sobre "cotas para professores gays", "MST Gay" e "batalhões policiais gays" não passam de invenções paranoicas para assustar eleitores ignorantes e justificar sua cruzada homofóbica. E o pior: ele não apenas espalhou esse lixo, mas ainda teve a cara de pau de tentar enfiar a conta no bolso do contribuinte.

O "kit gay" nunca existiu como ele dizia. O que existia era um material educativo para combater o preconceito e ensinar respeito, algo que Bolsonaro jamais entendeu, porque sua carreira inteira foi construída sobre o desprezo pela diversidade e pelos direitos humanos. Ele não lutava contra a "ideologia de gênero" – ele lutava pelo direito de discriminar, de manter sua visão retrógrada e violenta como norma.

Se havia alguma dúvida sobre a periculosidade desse sujeito, aqui está a prova: um deputado que deliberadamente espalhava fake news para alimentar a intolerância e usava dinheiro público para isso. E esse era apenas o começo de sua escalada para o poder.

Rio de Janeiro terá campanha anti-homofobia


Diante da polêmica suscitada pelo deputado federal Jair Bolsonaro, o governador Sérgio Cabral, em reunião com o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos, Rodrigo Neves; o superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos, Cláudio Nascimento; e o prefeito Eduardo Paes, aprovou a campanha publicitária do Programa Rio Sem Homofobia.

Em 16 de maio, haverá uma solenidade no Palácio Guanabara para o lançamento oficial da campanha. Serão apresentadas peças publicitárias e o plano de mídia, que abrangerá todo o estado.

Nazifacistas são presos em ato pró-Bolsonaro em São Paulo



Estrelas ninjas encontradas com manifestantes Nazistas


Manifestação em favor do deputado Jair Bolsonaro termina em tumulto e detenções na Paulista, em SP

SÃO PAULO - A manifestação em defesa do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) realizada neste sábado na avenida Paulista, em São Paulo, acabou em confusão e detenções. O protesto foi organizado por grupos conhecidos como "ultradefesa", "união nacionalista" e "carecas". Eles afirmam defender os "direitos da família".

Onze manifestantes foram levados pela polícia para identificação e averiguação, após serem identificados por investigadores como suspeitos de outros crimes. O deputado envolveu-se em uma polêmica ao participar do programa 'CQC' e dizer que seus filhos não correm o risco de 'namorar negras'.

Além disso, pedaços de madeira, metal e "estrelas ninja" foram apreendidos pelas autoridades, que policiaram a área e formaram um cinturão para evitar o confronto com um grupo de ativistas gays, que compareceram para denunciar a homofobia. O grupo anti-Bolsonaro, com cerca de 50 pessoas, chamou o protesto de "racista" e "fascista".

Além do policiamento em todo o trecho da Paulista, cerca de 30 policiais civis e militares, alguns à paisana, circularam no vão do MASP, onde o protesto aconteceu. De acordo com policiais que estavam no local após a dispersão da manifestação, oito pessoas foram identificadas por envolvimento em atividades sob investigação, que incluem a participação violenta em outros protestos de caráter racista ou homofóbico, inclusive no manuseio de artefatos explosivos. Um deles foi identificado como "Johnny". Outras três pessoas seriam do movimento anarquista e se recusaram a informar ou mostrar documento de identificação.

No programa 'CQC', da TV Bandeirantes, no mês passado, Bolsonaro afirmou que não discutiria "promiscuidade" ao ser perguntado pela cantora Preta Gil, sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra. Bolsonaro também disse, no programa, que os filhos dele não são gays porque tiveram uma boa educação.

Bolsonaro e Fascismo: Leia esse texto



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Livre pensar, direitos humanos e transformação social


sexta-feira, 1 de abril de 2011

JAIR BOLSONARO É PORTA-VOZ DE MUITOS BRASILEIROS


O silêncio pode em algumas situações significar perigosa conivência. Por essa razão, não penso ser desejável e adequado simplesmente ignorar o episódio apenas com intuito de não jogar mais holofotes sobre alguém que pretende se alimentar dessas luzes da audiência. Ao contrário: há algumas reflexões importantíssimas que merecem ser feitas, a partir das lamentáveis e criminosas declarações feitas pelo capitão-deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ) ao programa CQC, exibido pela TV Bandeirantes na segunda-feira, dia 28 de março.

Ao responder a questionamento da cantora Preta Gil sobre a possibilidade de um filho dele namorar uma negra e vociferar, em horário nobre, que "não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu", Bolsonaro explicitou - e não pela primeira vez - duas ordens de preconceitos, simultaneamente: homofobia e racismo. Ardiloso, não demorou a avisar que "não havia entendido a pergunta" e tentou desculpar-se com o movimento negro, intensificando no entanto as investidas intolerantes contra homossexuais.

A estratégia é pensada: racismo, no Brasil, é crime inafiançável e tipificado pela Lei 7716, de 5 de janeiro de 1989. A pena pode chegar a cinco anos de prisão. A homofobia, ao contrário, ainda não é juridicamente considerada um crime. Daí a necessidade premente de aumentar a pressão sobre o Senado Federal em favor da aprovação do Projeto de Lei 122/2006, que criminaliza as práticas homofóbicas e as iguala ao crime de racismo.

No início do ano, por iniciativa da senadora Marta Suplicy (PT/SP), a proposta foi desarquivada e deverá ser analisada pela comissão de Direitos Humanos da casa, antes de chegar ao plenário. Aprová-la representaria, na avaliação do Movimento Não à Homofobia, "colocar o Brasil na vanguarda da América Latina, assim como o Caribe, como um país que preza pela plenitude dos direitos de todos seus cidadãos, rumo a uma sociedade que respeite a diversidade e promova a paz".

Liberdade de expressão???

Diante das reações imediatas e intensas dos movimentos sociais e dos setores progressistas da sociedade, e mais uma vez ardiloso, Bolsonaro apelou para o desgastado argumento do "estou sendo censurado, quero ter garantido meu direito à liberdade de expressão". Falso. O capitão-deputado mistura, no dito popular, alhos com bugalhos e procura confundir para tentar convencer. No limite, trocando em miúdos, o que ele faz é reivindicar o direito de ter preconceitos e de manifestá-los pública e impunemente. Estapafúrdio, um contra-senso. Uma atrocidade e aberração.

Porque certamente a Constituição Federal estabelece, em seu capítulo primeiro, artigo quinto, inciso nono que "é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença". No entanto, como bem lembra o advogado Rogério Faria Tavares em artigo publicado pelo Observatório da Imprensa, "o cidadão que, no ato de expressar-se, violar a integridade de qualquer outro membro do referido elenco de direitos, não está resguardado por qualquer garantia constitucional: incorre em flagrante desrespeito à Carta de 88 e deve sofrer as consequências correspondentes". O especialista completa: "quando o ato de expressar-se se dá fora do contexto jurídico apropriado, sua qualificação é outra: "abuso," "infração" ou "crime".

Direitos estão associados a deveres e a responsabilidades. A liberdade de expressão, pilar fundamental e insubstituível da democracia, uma das razões de ser do regime democrático, não é absoluta e deve estar conectada harmonicamente a outros preceitos constitucionais também importantíssimos para o funcionamento do Estado de Direito. A prerrogativa de dizer não pode atentar contra a dignidade de outro ser humano. Para construir uma analogia e guardadas as diferenças e devidas proporções: admitir que, em nome da liberdade de expressão, Bolsonaro pode vir a público para manifestar intolerâncias contra negros e homossexuais seria como aceitar que Hitler estava correto ao professar em seus discursos agressões contra os judeus, ciganos, imigrantes, mulheres, portadores de deficiência física, negros e homossexuais... Pois é...

Estimular o debate????

Não procede também a "justificativa" anunciada pelo CQC para convidar o capitão-deputado para a entrevista: o programa alegou que, por ser uma figura polêmica e sem papas na língua, Bolsonaro ajudaria a enfrentar tabus e a incentivar o debate. O "confundir para explicar" se manifesta novamente. Não há dúvidas que, em democracias, pluralidade e contraditório precisam ser fomentados, mas dentro dos marcos constitucionais e civilizatórios, da legítima e desejável divergência racionalizada, sem que representem apologia da intolerância, do preconceito e, no limite, do crime. É isso: debater significa apresentar ideias e argumentos - não incitar ou cometer crimes.

Lembra o jornalista Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania, que "toda vez em que você critica pessoas publicamente por suas características intrínsecas, tais como cor da pele, origem geográfica, crença religiosa ou comportamento sexual, entre outros, está, sim, discriminando, pondo à parte e condenando pessoas por uma faceta delas que não têm como mudar".

E eu recordo cá com meus botões que, em 1992, ao apoiar a decisão da escola Ursa Maior, na capital paulista, de recusar a matrícula da aluna Sheila Carolina de Oliveira, 5 anos, por ser portadora do vírus da Aids, o então presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SEMESP), José Aurélio de Camargo, afirmou sem pudores que "a criança aidética já nasce com atestado de óbito assinado e portanto não precisa estudar". Abjeto, de embrulhar o estômago. Recuou em seguida, lamentando "o mal-entendido e dizendo que apenas desejava incentivar o debate sobre a doença". Cinismo leviano levado às últimas consequências. A propósito: o argumento do CQC ao explicar o espaço oferecido a Bolsonaro é de natureza bastante semelhante, não?

É preciso considerar ainda mais uma confusão deliberadamente incentivada pelo programa. Não raro, os professores nos deparamos em sala de aula com falas do tipo "você viu a reportagem feita pelo CQC? Ficou boa aquela entrevista feita pelo CQC, não?". Ora, entrevista e reportagem são conceitos e técnicas pertencentes ao campo do jornalismo (que faz pensar e incentiva reflexões); o CQC é um programa de entretenimento (que espetaculariza, provoca sensações e cutuca os instintos mais primitivos). Espertamente, o programa movimenta-se para se apropriar da chancela de credibilidade e reconhecimento sociais de que o jornalismo ainda dispõe. Faz humor (e nem vou entrar no mérito do tipo e da qualidade do humor que faz), mas alega informar. Mais uma vez, é preciso estar atento e saber separar o joio do trigo.

Ventos do fascismo

Não menos importante: Jair Bolsonaro cumpre atualmente o seu sexto mandato como deputado federal e recebeu em 2010, na última disputa, 120.646 votos, alcançando o posto de décimo-primeiro mais votado no Rio de Janeiro. "Logo, tem adeptos fiéis. Conta com financiadores perseverantes", reforça Saul Leblon, na Agência Carta Maior. Sugiro exercício bem simples: acompanhar cartas sobre o assunto que têm sido publicadas pelos jornais, nas seções dos leitores. Boa parte delas tece elogios à postura de Bolsonaro. Cuidado: o capitão-deputado está longe de ser uma caricatura; ao contrário, publiciza, reverbera e amplifica aquilo que muita gente no Brasil infelizmente pensa e defende: extermínio de pobres, perseguição às minorias, pena de morte, tortura, racismo, homofobia, ditadura...

Bolsonaro funciona como porta-voz de setores representativos e significativos da sociedade brasileira (só para lembrar, ao abrir a caixa de Pandora na eleição presidencial de 2010, José Serra conquistou cerca de 44% dos votos no segundo turno). O comportamento do capitão-deputado e as falas dele - e o respaldo social que recebem - nos levam a duas importantes reflexões finais. Primeiro: conseguimos, os setores progressistas, vencer a disputa presidencial nas três últimas eleições - mas estamos certamente falhando na construção de hegemonia de valores e princípios. Segundo (e como consequência da anterior): os ventos do fascismo insistem em soprar despudoradamente por aqui.

Casal de sargentos gays responde a Bolsonaro

Fernando Alcântara e Laci Marinho 
fotografados por Felipe Costa



Por Rudolfo Lago


Em entrevista ao Congresso em Foco, Fernando Alcântara e Laci Marinho, um casal de sargentos do Exército, dizem que as falas do deputado fluminense são uma reação de uma cúpula conservadora das Forças Armadas que a cada dia se torna mais minoria.

Para Fernando e Laci, sargentos e gays, Bolsonaro é porta-voz de uma minoria da cúpula do Exército que tem uma visão autoritária e conservadora do mundo.


**********

Laci Marinho, nascido no Rio Grande do Norte há 39 anos, é um sargento do Exército. Fernando Alcântara, pernambucano de 37 anos, foi, até o ano passado, também sargento do Exército. Eles são a prova viva de que o ódio do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) aos homossexuais não é, como ele esforça-se para expressar, um sentimento comum a todo e qualquer soldado das Forças Armadas. Porque Laci e Fernando são, eles próprios, homossexuais. Eles são um casal. “A verdade é que a visão ultrapassada de Bolsonaro reflete hoje o pensamento de uma minoria dentro das Forças Armadas. Mas, infelizmente, uma minoria que tem muita influência”, diz Fernando. Para ele, esse pensamento conservador, resquício da mentalidade de militares mais velhos, que fizeram sua carreira durante a ditadura, é muito forte na cúpula das Forças Armadas, entre os seus comandantes. Na tarde de sexta-feira (1), ele e Laci deram uma entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.

Para Fernando e Laci, Bolsonaro tem sido uma espécie de porta-voz não formal do pensamento dessa elite militar. “Eles armam o circo, e Bolsonaro, o palhaço, se apresenta”, ataca Laci.

Fernando e Laci tornaram-se famosos em agosto de 2008. Na capa da revista Época, eles viraram o primeiro casal de homossexuais a assumir claramente a sua opção. A entrevista que deram à revista foi a forma escolhida pelo casal para denunciar a situação que viviam. Por conta da sua opção sexual, os dois vinham sendo perseguidos. A homossexualidade foi a desculpa encontrada, contam eles, principalmente para calar Fernando. Considerado então um militar de reputação ilibada, com várias condecorações, Fernando tornou-se responsável por uma seção do Exército que autorizava, no plano de saúde, cirurgias de alto custo. Verificou a existência de um esquema de fraudes nessas autorizações. Ao denunciar o fato, ele conta que começou a ser perseguido. “Fizeram uma devassa na minha vida para encontrar fragilidades. E a fragilidade encontrada foi a minha homossexualidade”, diz ele.

Companheiro de Fernando, Laci era mais frágil. Tinha a saúde afetada por um problema neurológico. Iniciou-se um processo para minimizar os problemas de saúde de Laci, para obrigá-lo a trabalhar mesmo doente. Como Laci não conseguia comparecer ao serviço quando estava doente, foi considerado desertor, e chegou a passar 58 dias preso. Por conta da homossexualidade, foi Laci quem primeiro chamou a atenção. Nas suas horas de folga, ele tinha uma banda, onde fazia cover da cantora Cassia Eller. Hoje, ele tenta obter a reforma – aposentadoria – por conta da doença. Já Fernando preferiu desistir de enfrentar um processo disciplinar e deixou o Exército.

Para ambos, sua situação, por mais que os tenha feito sofrer, é o sinal de que as mudanças que acontecem na sociedade refletem-se também nas Forças Armadas. E a agressividade de Bolsonaro é uma reação a essas mudanças. Ou talvez, como sugere Laci, uma reação particular de cunho psicológico. “Tenho plena convicção de que ele é um gay internalizado. Que, sozinho, em frente ao espelho, ele diz: “Eu sou uma bichona!’”.

Na entrevista abaixo, percebe-se que Fernando é mais falante que Laci, mas também bem mais diplomático:

Congresso em Foco - Toda vez que surgem polêmicas como essas das declarações de Jair Bolsonaro, vem a ideia de que a carreira militar é incompatível com a homossexualidade. Como vocês respondem a isso?

Fernando - O deputado Bolsonaro é uma voz remanescente de uma turma que está vinculada a um pensamento ultrpassado, arbitrário, antidemocrático. A questão da opção sexual jamais vai definir o caráter de qualquer profissional, independentemente do ramo de trabalho. O que existe nas Forças Armadas é um grande tabu, vinculado à ideia da necessidade de uma certa virilidade para o combate. Dissemina-se que um homossexual não teria a autoridade necessária para o comando.

E isso é verdade?

Fernando - Existem líderes militares históricos, comandantes de grandes exércitos, que eram homossexuais. O caso, por exemplo, de Alexandre, o Grande. A tropa, de um modo geral, conhecia a sua orientação sexual, e isso jamais o impediu de ter grandes vitórias militares. É verdade, era um outro tempo, uma outra cultura. Essa perseguição à homossexualidade cresce com o cristianismo. Mas o fato é que a opção homossexual de Alexandre, o Grande, o não o impediu de ser um grande soldado. Além disso, é uma grande mentira achar que os únicos dois homossexuais no Exército éramos eu e o Laci.

Vocês não são um caso isolado, então?

Fernando - Estamos longe de sermos um caso isolado. O fato de nós dois termos saído do armário, como se diz, não significa que eu deva cobrar o mesmo de outros que não queiram fazê-lo. Mas a gente conhece ene casos de até generais que são homossexuais. Eu já vivi experiências muito desconfortáveis de ter sido assediado dentro da caserna. E nem por isso deixei de obedecer ao comando dessas pessoas. Claro, não se pode aceitar assédio, porque é um comportamento que não cabe em nenhuma profissão. Mas não é pelo fato de ser homossexual que essa pessoa não tenha capacidade de comando.

Há, então, um comportamento hipócrita?

Fernando - E que se torna extremamente autoritário para quem enfrentar a hipocrisia e assumir a verdade das suas opções. As Forças Armadas estão inseridas na nossa sociedade. Não pode prevalecer essa visão ultrapassada de Bolsonaro de uma instituição à parte do resto da sociedade, com regras e leis próprias.

Mas Bolsonaro certamente deve falar por uma parcela da sociedade e das Forças Armadas ...

Fernando - O que eu acredito é que o Bolsonaro queria ganhar exposição. Duvido que ele tivesse mesmo confundido a palavra negra dita por Preta Gil pela palavra gay. Isso é altamente improvável. Ele realmente buscou uma aparição pública. É típico de políticos inescrupulosos como ele. O Bolsonaro é que é o verdadeiro Tiririca. E aqui não quero de modo algum desmerecer o Tiririca. É que o palhaço, de fato, é ele. É claro que existem, sim, débeis mentais – não dá para usar outra palavra – que votam nele. Afinal, me parece que ele já tem sete mandatos. Mas isso precisa mudar. E está mudando.

Mas ainda seria muito forte o preconceito nas Forças Armadas?

Fernando - Quantos comandantes negros nós tivemos? Quantas mulheres em postos de comando? Ninguém. Mas eu acredito que a fala de Bolsonaro hoje é representativa de um pequeno grupo. Mas de um pequeno grupo que ainda tem muita capacidade de influência. Não é muito diferente de como pensam os principais comandantes e generais do Exército. O Bolsonaro funciona como um mal necessário. Ele não reflete o comportamento institucional do Exército que até, por força da disciplina, evita se manifestar em questões polêmicas. Como o Bolsonaro não tem esse compromisso, aciona-se ele. Curioso que o Bolsonaro se diga representante dos militares, enalteça tanto os militares, e já há muito tempo ele não seja um militar.

Ele não seria tanto assim representante dos militares?

Fernando - Não no sentido de realmente discutir e ser capaz de concretizar os anseios dos militares. Por que, por exemplo, ele não discute o fato de o soldado, na ativa, não poder votar e ser votado? O soldado é cidadão de segunda classe? Por que não discute o absurdo de um soldado ser preso disciplinarmente e não ter direito a habeas corpus? De não ser julgado pela mesma justiça dos demais cidadãos? Por que não discute os códigos militares obsoletos? A questão da remuneração dos militares, cada vez mais aviltada?

Laci – Eu penso que Bolsonaro, na verdade, é um malandro que finge ser representante dos militares para viver de dinheiro público. Como militar, que eu ainda sou, eu vejo que ele é totalmente desacreditado na instituição. Ele é usado pela cúpula para dar esses recadinhos, pra fazer esse auêzinho. Mas, no meio, ele é desacreditado. Acham que ele é um palhaço.

Fernando – A gente fica buscando algo de concreto que ele tenha feito pela família militar, e não acha.

Laci – Ele tem o circo montado. Ele é o palhaço para angariar os votinhos dele. Na verdade, eu tenho plena convicção de que, na verdade, o Bolsonaro é um gay internalizado, um homossexual dentro de uma concha.

Você tem convicção disso? Que o ódio dele aos homossexuais vem daí?

Laci – Ele vê no espelho um homossexual e quer matar, destruir ele mesmo. A voz dele tem que ecoar para os quatro cantos do mundo e dizer: “Eu não sou isso! Eu não sou isso!”. Mas quando ele olha no espelhinho dentro de casa, ele deve dizer: “Eu sou uma bichona!” Ele deve ficar com vontade de quebrar o espelho. Garanto que ele quebrou muitos espelhos na cada dele.

Fernando – Quando você é heterossexual convicto, porque a homossexualidade vai lhe incomodar tanto?

Em contrapartida, como, de fato, repercute no meio militar a situação de vocês? Há apoio a vocês no meio militar?

Fernando – Às vezes, é difícil para a sociedade civil entender o que acontece no meio militar. A obediência no meio militar se dá muitas vezes pelo medo. Um comandante pode mandar prender um soldado por até 30 dias sem dar satisfação a ninguém. Então, as pessoas se retraem. Elas dão apoio velado. Nós sentimos que tivermos um grande apoio, mesmo que velado. E houve gente que se expôs e deu apoio explícito. E pagaram um preço alto por isso. Por exemplo, um major médico que atendeu o Laci e viu que ele estava doente, e que não era verdade a história de deserção, que teve prejuízos sérios por essa posição.

O que pode acontecer com quem claramente se manifesta, por exemplo, a favor de vocês?
Fernando – Há diversas formas de punição, também veladas. Pode-se alegar um outro motivo para punir. Ou mesmo criar dificuldades para a vida do militar. Imagine o transtorno que é para um militar, por exemplo, que está com a sua vida estruturada, filhos na escola, ser de uma hora para outra transferido para outra cidade. Muitas vezes, alega-se a necessidade dessa transferência para punir alguém. E o soldado, para manter a sua vida estável, se cala. É mais fácil a pessoa se acovardar. No caso do Laci, 18 médicos se envolveram para criar a história de que ele era um desertor. Cumprimento do dever não tem outro nome, às vezes, que covardia, não ter coragem de reagir a isso. Por outro lado, se você reage, acontece como está acontecendo conosco. O que eu vou fazer da vida? Eu tenho 15 anos de vida no Exército, com uma ficha considerada irrepreensível, diversas condecorações. Nunca fiz outra coisa. Não sei fazer outra coisa. Então, a gente não pode ser tão taxativo ao condenar quem se cala. Mas não deixa de ser uma forma de covardia.

Quando vocês entraram no Exército, vocês já tinham assumido a orientação sexual de vocês? Como isso surgiu?

Fernando – No meu caso, foi muito difícil a descoberta da homossexualidade. Eu vim de uma família muito católica, muito conservadora. A Igreja é muito perversa nesse sentido, de que tudo é pecado, que se desvia da dita normalidade. Então, no meu caso, essa descoberta durou muito tempo. Quando eu entrei no Exército, eu ainda não tinha essa convicção do que de fato eu era como ser humano. Eu sentia necessidade de experimentar, mas não tinha coragem. O despertar aconteceu já nas Forças Armadas. E o que isso mudou na minha carreira militar? Nada. Isso me traz uma mágoa muito grande. Por que, de uma hora para outra, eu já não era mais o soldado de ficha ilibada, com medalhas por bons serviços prestados à Nação?

E no seu caso, Laci?

Laci – Para mim, foi uma coisa mais natural. Antes de entrar no Exército, já sentia atração por pessoas do mesmo sexo. Na minha juventude, meus relacionamentos eram com mulheres, mas eu tinha atração por homens. Eu não tive problema na cabeça com relação a isso. Se eu gostasse de uma mulher, ficaria com uma mulher. Se gostasse de um homem, ficaria com um homem. Na minha cabeça, era assim.

Na sua cabeça. E na prática?

Laci – Na prática, a gente começou o relacionamento em 1997. Foi o primeiro relacionamento assim.

E a perseguição, como começou?

Fernando – O ano que marcou tudo foi 2006. Desde 2001, o Laci tinha um problema neurológico que o afastava de algumas atividades. Ele tem umas síncopes, umas vertigens, que o atacam de vez em quando. E durante muito tempo, o Exército aceitou isso. Em 2006, ele ficou de cama um bom tempo. Mas, na verdade, a perseguição começou sobre mim.

Sobre você?

Fernando – Eu era gerente de um sistema de saúde que autorizava cirurgias de algo custo. E verifiquei que havia um esquema de fraudes. A coisa foi tomando uma proporção muito grande que saiu do controle. Como começou a crescer, atingir muita gente, começaram uma verdadeira devassa na minha vida para me atacar. Buscavam um ponto fraco. E o ponto fraco foi a questão da homoafetividade. Antes de nós começarmos a nos relacionar, nós morávamos juntos, numa república. E, embora depois a gente não confirmasse a nossa relação, começaram os comentários. A coisa foi ganhando uma proporção cada vez maior. Aí, para encobrir a corrupção que havia na questão da autorização para cirurgias de alto custo, começou a perseguição. “Tem que perseguir esses dois viados filhos da puta”, como disseram. A coisa começou com punições rotineiras. Chegou atrasado, não fez determinado exercício, etc. A maioria abaixa a cabeça. E isso é a razão dos diversos suicídios que acontecem no meio militar. A diferença é que não abaixamos a cabeça. Ao contrário, fomos cada vez reagindo mais. A gente resolveu enfrentar a situação. E a gente percebeu que a forma melhor de enfrentar era dizer a verdade. Porque a verdade incomoda muito. Então, procuramos a revista Época para explicitar a verdade. Nós já tínhamos procurado o Ministério Público. Mas a justiça é extremamente lenta. Então, nós fomos à imprensa para denunciar nossa situação como forma de nos defendermos.

E isso resolveu?

Fernando - Houve mais perseguição. Houve uma ordem para sermos transferidos, para nos separar. Eu iria para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, e ele para o estado de São Paulo. A Procuradoria dos Direitos do Cidadão barrou essa transferência. E, aí, diante da doença do Laci, foi mais fácil partir para cima dele. Dizer que não havia doença nenhuma, e caracterizar as ausências dele como deserção. Puniram ele para me calar. Quando a coisa se tornou insuportável, procuramos a revista Época. Nosso relacionamento e a denúncia do que estávamos passando virou capa da revista. Foi aí que eu creio que se armou uma armadilha para nós.

Que armadilha?

Fernando – Nós fomos convidados a ir a São Paulo para dar uma entrevista ao programa de Luciana Gimenez, na rede TV!, logo depois da publicação da revista. O Laci, para o Exército, era tido como foragido, porque ele era classificado como desertor. Para ir para São Paulo, providenciamos a saída por Goiânia, porque se saíssemos por Brasília, Laci seria preso no aeroporto. Nós combinamos rotas de fuga com a emissora para o caso de se tentar cumprir a ordem de prisão de Laci. Mas, ao contrário, enquanto o programa acontecia, a emissora foi sendo cercada. Um aparato extremamente desproporcional. Laci saiu da emissora preso. Ele foi primeiro para um hospital militar em São Paulo. Mas, no dia seguinte, às 6h, um helicóptero pousou e nos levou para o aeroporto. De lá, fomos colocados num avião Bandeirantes, de lançamento de tropa de paraquedistas, e não sabíamos para onde nós iríamos. Passa tudo pela cabeça da gente nessa hora. Nos levaram para Belo Horizonte. Eu só fiquei mais tranquilo depois que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) entrou e nos protegeu. Mas, quando chegou o fim de semana, estávamos já em Brasília, levaram Laci para o quartel. Deram uma surra nele. Tortura. Saco plástico na cabeça. Ficou lá preso 58 dias. Até que o Superior Tribunal Militar mandou que ele fosse solto. Foi uma grande vitória. Abre precedentes para outros casos de deserção, porque há um entendimento firmado de que o desertor tem que ficar 60 dias preso pelo menos esperando o processo. Essa decisão abre precedentes para outras. Enfim, nós tivemos situações constrangedoras, mas muita coisa foi conquistada. Nossa história vai ser levada até maio para a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Nossa proposta é condenar o país por esses abusos. Porque o Exército é uma instituição do governo brasileiro. A estrutura governamental foi extremamente condescendente com esse estado de coisas.

O desejo de vocês, ao final do processo, é a reincorporação às Forças Armadas?

Fernando – No caso do Laci, ele ainda é soldado.

Na ativa?

Laci – Estou na ativa. De licença médica, agora.

Fernando – Eu saí. Fui obrigado a sair. Eles começaram um processo de expulsão. Seria um processo demorado. Enfrentar esse processo iria me atrapalhar. Na defesa de Laci. Eu depois escrevi um livro. Eles me deram uma porta de saída. Eu saí.

Laci – No meu caso, há um processo de reforma, por meus problemas de saúde. Eu, normalmente, já deveria ter sido reformado – aposentado. Mas isso não aconteceu por conta dessa perseguição.

Fernando – O que a gente sofreu, não há dinheiro que pague. Vai ficar marcado para o resto das nossas vidas. O reconhecimento da perseguição homofóbica ajudaria a diminuir esse sentimento de injúria que sofremos. E serviria como exemplo para outros casos não aconteçam. Porque, insisto, o nosso caso não é um caso isolado.

Fonte: Congresso em Foco

Jean Wyllis: Bolsonaro é “covarde”

Jean Wyllis: Bolsonaro é “covarde”

Bolsonaro é demente ou está debochando, diz Jean Wyllys


Foto: Internet


por André Mascarenhas, no Estadão
30 de março de 2011 


O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) classificou de “estratégia” o fato de Jair Bolsonaro (PP-RJ) ter recuado da declaração de que seria “promiscuidade” se seu filho se apaixonasse por uma negra, dada ao programa CQC da TV Bandeirantes. Bolsonaro afirmou não ter entendido a pergunta de Preta Gil, mas Wyllys vê cálculo político na justificativa do colega.

“É preciso desmascarar a tentativa dele de se safar do crime de racismo. É deboche à inteligência das pessoas dizer que ele se confundiu. Não dá pra confundir mulher negra com homossexual como ele está querendo dizer. Ou ele é demente ou está debochando”, afirmou o deputado do PSOL ao Radar Político.

Wyllys, que é homossexual assumido, afirmou serem naturais as novas declarações de Bolsonaro atacando os homossexuais. Nessa quarta-feira, durante o velório do ex-vice-presidente José Alencar, Bolsonaro afirmou que estava “se lixando” para o movimento gay.

“Ele está invocando essa homofobia odiosa porque sabe que a violência contra homossexual goza de mais aceitação pela sociedade. Ele sabe que foi traído pela língua e que pode ser cassado pelo racismo, então ele está tentando dizer que é ‘só’ homofóbico. Ele está com medo e é covarde”, disse Wyllys.

O deputado do PSOL lamentou ainda as manifestações favoráveis a Bolsonaro em rede sociais na internet e chegou a comparar a atitude do deputado com a propaganda nazista. “Há precedente na história de essas ideias terem eco na sociedade porque as pessoas têm ódios adormecidos. Temos sempre que lembrar que parte da Alemanha foi conivente com o Holocausto e a máquina nazista de assassinar judeus e homossexuais. Temos que lutar contra essas declarações porque isso desperta o que há de pior nas pessoas.”

Fonte: https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/jean-wyllis-bolsonaro-e-covarde.html

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