Língua Neutra: Por Que Essa Discussão Nos Distrai do Que Realmente Importa
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Por Sergio Viula
Hoje eu quero conversar sobre um tema que voltou com força total, virou briga em rede social e já chegou até ao debate político formal: a chamada “língua neutra”.
E, antes de mais nada, precisamos colocar algumas coisas em perspectiva.
O Que Se Chama Hoje de “Língua Neutra”
A proposta da “língua neutra” parte da ideia de eliminar marcadores de gênero do português — deixar de indicar se uma palavra é masculina ou feminina. Seria algo como trocar “garoto” e “garota” por “garote”, alterando também artigos e outras terminações.
Mas, antes de discutir a solução, é importante olhar para o que realmente causa o incômodo: preconceito não nasce da gramática. Não existe neutralidade absoluta. O preconceito está na cabeça e na cultura, não no “a” ou no “o” que fecham as palavras. Mudar a Palavra Não Muda o Preconceito
Há um exemplo histórico que sempre vale lembrar: a transição de homossexualismo para homossexualidade.
A troca foi necessária, claro — o sufixo “-ismo” carregava uma conotação patologizante aplicada somente a pessoas homossexuais, já que jamais se falou “heterossexualismo”.
Ou mudávamos as duas, ou corrigíamos o erro para as duas. O problema, portanto, sempre foi valorativo, não linguístico.
Depois disso, adotaram “gay” como termo afirmativo. Nada contra: eu mesmo prefiro ser chamado de gay do que de “sodomita”, palavra tirada de um mito usado politicamente para atacar pessoas homossexuais e trans.
Mas mesmo “gay”, que originalmente só queria dizer “feliz”, passou séculos sendo usado de maneira pejorativa. E ainda é. Ou seja: não é a palavra que carrega preconceito — somos nós que carregamos para dentro dela o preconceito.
Línguas Sem Gênero Também Têm Preconceito
Outro ponto importante: nem toda língua marca gênero como o português.
O japonês não marca gênero na gramática. O inglês quase não marca. E, mesmo assim, países que falam essas línguas enfrentam preconceitos profundos.
A Índia, antes da colonização inglesa e da imposição do cristianismo, convivia muito melhor com pessoas LGBT. O problema não era a língua — eram os valores importados.
Gênero Gramatical Não É o Inimigo — a Valoração É
Se a mulher é considerada inferior ao homem, o problema está no machismo estrutural, não no fato de existirem palavras femininas e masculinas.
Mexer na estrutura inteira da língua não resolve essa desigualdade. E pior: cria uma série de complicações práticas, especialmente para quem depende de clareza linguística.
Consequências Reais na Educação e Acessibilidade
Pense em pessoas com dislexia, autistas, surdos que fazem leitura labial.
Criar novas terminações, símbolos ou trocas arbitrárias tornaria o aprendizado ainda mais difícil.
Se há algo que de fato ajudaria a inclusão, seria a obrigatoriedade da Libras em todos os níveis escolares, o que beneficia pessoas surdas — inclusive LGBT — em situações muito concretas.
Diferenças Gramaticais Entre Línguas Não Mudam Realidades
O português marca gênero em praticamente tudo. O espanhol também — mas, por exemplo, “leite” é masculino no português e feminino no espanhol. E no inglês é simplesmente “milk”.
A marcação ou ausência de marcação não reduz preconceito. Ela apenas reflete um sistema estrutural de cada língua.
E as Consequências Jurídicas e Científicas?
No Direito, gênero gramatical é essencial em áreas como previdenciário, definições legais, critérios de aposentadoria e garantias específicas. Imaginem reescrever leis inteiras e criar categorias artificiais só para caber num “neutro”. Seria um caos interpretativo e jurídico.
Na ciência, seria simplesmente inviável escrever trabalhos acadêmicos, artigos técnicos ou textos filosóficos cheios de “x” ou trocas artificiais.
O conhecimento exige clareza, não opacidade.
E a Saúde? Onde Acomodar as Pessoas?
Na saúde, o foco precisa ser acolher as pessoas conforme sua identidade de gênero real, não criar uma categoria inexistente.
Homem trans na ala masculina.
Mulher trans na ala feminina.
Simples, direto e respeitoso.
Mas e quem não se identifica com nada? Vai para onde?
Para um “setor neutro”? Isso não existe — e não pode existir por inviabilidade prática. Exigir isso não melhora a vida de ninguém.
O Cotidiano Não Aguenta Essa Artificialidade
Sou gay, uso aliança. Às vezes, alguém pergunta pela “esposa”. Eu corrijo: “É meu marido.” Pronto, conversa segue normal. Agora imagine exigir que toda pessoa, para cada palavra que disser, pare e pense: “Qual a forma neutra correta aqui para eu não ofender ninguém?”
Isso não é viável. É pedir que o idioma deixe de ser ferramenta de comunicação para virar um labirinto.
Falsos Paralelismos Que Precisamos Abandonar
Casamento igualitário incluiu mais gente sem excluir ninguém. Reformou a legislação — não a língua inteira.
Banheiros neutros não têm nada a ver com “linguagem neutra”. A solução é estrutural: cabines individuais até o chão.
Estupro não acontece por causa de banheiros sem gênero.
Tratar mulheres trans no feminino e homens trans no masculino não é justificativa para inventar um gênero inexistente. São identidades reconhecidas, não categorias novas que precisam reescrever a língua.
Para a maior parte das pessoas — especialmente em cidades pequenas, distantes dos grandes centros — esse tipo de invenção simplesmente não será absorvido. E não acrescenta nada de concreto à nossa luta.
Vamos Mirar No Alvo Certo
A discussão sobre “língua neutra” desvia energia do que realmente importa:
Direitos reais para pessoas LGBT.
Políticas públicas que salvam vidas.
Combate ao preconceito cultural, religioso e institucional.
Educação inclusiva, acessível e robusta.
As palavras importam, sim.
Mas não é mudando artigos, sufixos ou inventando novos símbolos que vamos acabar com a LGBTfobia.
A mudança precisa ser na mente, na lei e na cultura — não na gramática.
Gibraltar acaba de dar um passo decisivo na proteção dos direitos LGBTQIA+. A aprovação do Conversion Therapy (Prohibition) Act 2025 estabelece a proibição total das chamadas práticas de conversão, enviando uma mensagem firme de que qualquer tentativa de mudar ou suprimir a orientação sexual ou identidade de gênero de uma pessoa é inaceitável e criminosa.
A nova legislação torna ilegal oferecer ou realizar tratamentos, terapias ou intervenções destinadas a modificar quem alguém é. Mais do que uma simples medida legal, trata-se de uma afirmação ética: todas as pessoas merecem viver com dignidade, segurança e liberdade, sem coerção, violência ou discriminação.
O avanço celebrado hoje é fruto de anos de trabalho contínuo da comunidade local. Paul Perez, presidente do Comitê LGBTQ+ de Gibraltar, destacou a importância deste momento histórico. Segundo ele, a aprovação da lei reflete o esforço persistente de uma comunidade pequena, mas cada vez mais visível e atuante, que tem lutado por igualdade e mudanças significativas. Perez também agradeceu ao governo atual por aprovar a legislação e por enviar um sinal poderoso, tanto local quanto internacionalmente.
Gibraltar
Localização específica:
Ao sul da Espanha (faz fronteira com a cidade espanhola de La Línea de la Concepción).
É um território britânico ultramarino.
Fica a apenas 14 km do Marrocos, do outro lado do estreito.
❤️🏳️🌈❤️
A EPOA (European Pride Organisers Association) reconheceu a dedicação de voluntários, aliados e do Comitê LGBTQ+ de Gibraltar, que contribuíram diretamente para transformar a proposta em realidade. O apoio consistente dessas pessoas não apenas fortaleceu as proteções para a população LGBTQIA+ em Gibraltar, como também impulsionou avanços importantes no cenário europeu.
A proibição das práticas de conversão é um passo concreto para um futuro em que todas as pessoas LGBTQIA+ possam viver sem medo, totalmente livres de violência institucionalizada e discriminação. Gibraltar torna-se, assim, mais um exemplo de que políticas públicas comprometidas com os direitos humanos fazem diferença real na vida das pessoas.
LGBT+ na Arábia Saudita: Entre poesia antiga e repressão moderna
Por Sergio Viula
Você sabia que o amor entre pessoas do mesmo sexo já foi celebrado na cultura árabe? No século VIII, poetas como Abu Nuwas exaltavam com beleza e ousadia o amor entre homens — uma prova de que a diversidade sexual sempre existiu, mesmo em sociedades profundamente religiosas.
Mas tudo mudou com a ascensão do wahabismo, uma vertente ultraconservadora do islã que surgiu no século XVIII e passou a influenciar fortemente a política e a cultura da região. O wahabismo defende uma interpretação extremamente rígida da religião, rejeitando costumes e práticas que não estejam alinhados à sua visão literalista.
Com a fundação da Arábia Saudita em 1932, esse movimento religioso se tornou a base ideológica do Estado — e com ele veio uma repressão severa a qualquer forma de dissidência, inclusive identidades e afetos LGBTQ+.
Criminalização e punições severas
Hoje, ser LGBTQ+ na Arábia Saudita é crime — e as consequências podem ser extremas:
Prisão, tortura e até pena de morte.
Castigos físicos públicos ainda são utilizados como forma de repressão.
Casos confirmados e registros legais
Embora o governo saudita seja extremamente opaco, a pena de morte por “sodomia” está prevista na legislação baseada na Sharia, especialmente para homens casados.
Organizações internacionais, como a ILGA World, e relatórios de governos estrangeiros, como o do U.S. Department of Justice, confirmam que:
Relações sexuais consentidas entre pessoas do mesmo sexo podem ser punidas com a morte.
O método de execução geralmente é a decapitação pública.
Embora haja registros oficiais de execuções em que a “sodomia” aparece como parte das acusações, não há casos públicos confirmados em que a pena capital tenha sido aplicada exclusivamente por relações consensuais entre adultos.
⚠️ Importante: muitas das execuções divulgadas incluíam acusações adicionais, como violência sexual, o que impede confirmar que a morte foi exclusivamente por orientação sexual ou ato consensual.
Pessoas trans: sem direitos e sem proteção
Pessoas trans não são reconhecidas legalmente no país.
Não podem retificar nome ou gênero em documentos oficiais.
Sofrem prisões arbitrárias, espancamentos, terapia de conversão forçada e humilhações públicas.
Há relatos de mulheres trans colocadas em prisões masculinas, onde enfrentam abusos físicos e sexuais.
O caso Tala Safwan
A influenciadora Tala Safwan, que tem 4,9 milhões de seguidores no TikTok, foi presa em Riade durante uma transmissão ao vivo por causa de uma simples insinuação lésbica em tom de brincadeira. O caso gerou indignação internacional e expôs a vigilância constante sobre pessoas LGBTQ+ no país.
Vozes no exílio
Muitas pessoas LGBTQ+ sauditas buscam asilo em países como Reino Unido e Canadá, onde podem viver com mais liberdade. De fora, elas pressionam por mudanças e denunciam as violações de direitos humanos praticadas pelo governo saudita.
O amor sempre existiu — e nenhuma repressão apaga a história.
A luta das pessoas LGBTQ+ sauditas mostra que resistência também floresce nos desertos mais áridos.
Para quem entende bem inglês falado, existe um podcast feito por árabes queer e de outros países com maioria muçulmana. Saiba mais aqui: THE QUEER ARABS - https://thequeerarabs.com/
📢 Quer apoiar pessoas LGBTQ+ em regimes autoritários? Compartilhe este post e amplifique essas vozes.
Estados Unidos: Do Estopim em Stonewall à Luta Contra a AIDS
Por Sergio Viula
Stonewall significa reagir! Esmaguem a opressão aos gays!
Bancada Gay contra a Guerra e o Fascismo
A história LGBTQIA+ dos Estados Unidos é marcada por momentos de resistência, coragem e conquistas que ecoaram pelo mundo todo. Um dos marcos mais importantes ocorreu em junho de 1969, quando uma batida policial no bar Stonewall Inn, em Nova York, encontrou resistência inesperada.
Durante dias, pessoas LGBTQIA+ enfrentaram a violência policial, transformando a revolta em um símbolo de libertação. Esse evento ficou conhecido como o Estopim de Stonewall e marcou o início do Movimento de Libertação Gay, que mudou para sempre a forma como a comunidade LGBTQIA+ seria vista e organizada.
Entre as figuras que se tornaram ícones desse momento histórico estão Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, mulheres trans que estiveram na linha de frente da resistência, e Harvey Milk, o primeiro homem abertamente gay a conquistar um cargo político de grande relevância nos Estados Unidos, inspirando gerações. Conquistas que mudaram a história
Batida policial contra pessoas LGBT reunidas,
geralmente em bares.
A luta que começou em Stonewall abriu caminho para avanços extraordinários:
Primeiras Paradas do Orgulho (1970): Um ano após Stonewall, a comunidade LGBTQIA+ levou sua voz para as ruas, inaugurando as tradicionais Paradas do Orgulho que hoje acontecem em todo o mundo.
Fim da política “Don’t Ask, Don’t Tell” (2011): Essa política proibia militares de se assumirem LGBTQIA+. Sua revogação significou mais liberdade e respeito para quem servia às Forças Armadas.
Casamento Igualitário (2015): A Suprema Corte dos EUA legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país, garantindo igualdade de direitos.
Avanços dos direitos trans: Nas últimas décadas, a visibilidade e os direitos das pessoas trans avançaram significativamente, apesar de retrocessos políticos recentes.
ACT UP: Luta Contra a Epidemia de AIDS
Nos anos 1980, uma nova batalha surgiu: a epidemia de AIDS devastou a comunidade LGBTQIA+, especialmente homens gays, enquanto o governo e a indústria farmacêutica permaneciam indiferentes. Em 1987, nasceu em Nova York o ACT UP – AIDS Coalition to Unleash Power, um movimento radical que não aceitou o silêncio como resposta. Táticas ousadas
O ACT UP ficou conhecido por sua ação direta radical, protestos criativos e desobediência civil. As intervenções artísticas do coletivo Gran Fury transformaram a dor em poder político, dando rosto e voz a uma comunidade ignorada pelas autoridades. Ações marcantes
“Die-in” na Bolsa de NY (1987): Ativistas deitaram-se no chão, simbolizando os corpos de quem morria sem acesso a tratamento.
“Stop the Church” (1989): Protesto histórico contra a postura da Igreja Católica em relação à AIDS e aos direitos LGBTQIA+.
Ocupações da FDA e NIH: Pressão direta sobre instituições responsáveis por regulamentar medicamentos e pesquisas.
Ícones do ACT UP
Entre as figuras centrais desse movimento estão Larry Kramer, escritor e fundador do ACT UP; Peter Staley, ex-banqueiro que se tornou ativista de destaque; Ray Navarro, artista e militante; e Sarah Schulman, escritora e historiadora que eternizou a memória dessa luta. Conquistas e Legado
O ACT UP conseguiu pressionar por medicamentos mais eficazes e acessíveis, garantiu a inclusão de mulheres, negros e pessoas pobres nos ensaios clínicos e impulsionou políticas públicas de prevenção e tratamento.
Ignorância = medo
Silêncio = morte
Lute contra a AIDS
ACT UP
Seu lema, “Silence = Death” (Silêncio = Morte), tornou-se um grito de guerra mundial, inspirando movimentos LGBTQIA+ em diversos países e deixando um legado de resistência e solidariedade que atravessa gerações.
Da Resistência ao Orgulho
Marsha P. Johnn
Sylvia Rivera
Harvey Milk, primeiro político abertamente gay eleito nos EUA
Da coragem de Stonewall à ousadia do ACT UP, a história LGBTQIA+ nos Estados Unidos é feita de luta, dor e, sobretudo, conquistas que transformaram vidas. Cada protesto, cada marcha, cada ato de desobediência civil pavimentou o caminho para os direitos que hoje celebramos — e para aqueles que ainda precisamos conquistar.
A mensagem que atravessa o tempo é clara: não existe orgulho sem resistência, e não há liberdade sem luta.
Nosso grupo é um coletivo da sociedade civil organizada formado por voluntários comprometidos com o mundo da adoção.
Prestamos serviço de preparação e acompanhamento de famílias em processo de adoção em parceria com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
⏰ REUNIÕES - Dias, horários e modalidades:
*PRESENCIAIS* Encontros de formação
💛 Curso (preparatório para a adoção): das 18 às 19h30 - Tolerância de atraso de 5min Destinado aos novatos e aos que buscam habilitação
Palestra (aprofundamento): das 19h30 às 21h - Tolerância de atraso de 15min
Destinada a quaisquer interessados nos temas, aos habilitados e aos que buscam renovação
🗺️ As reuniões presenciais, acontecem:
1) CORES VARGEM: *Espaço Lajedo* Dias: Primeiras sextas-feiras do mês Endereço: Estrada da Boca do Mato, 803 - *Vargem Pequena*, Rio de Janeiro, RJ https://www.lajedo.com.br/espacos/lajedo-4/
2) CORES COPA: (Apenas a partir de 21 de maio)
*SESC Copacabana* Dias: Terceiras terças-feiras do mês Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 - *Copacabana*, Rio de Janeiro, RJ https://www.sescrio.org.br/hoteis-sesc/hotel-sesc-copacabana/
*ON-LINE*
Reunião de acompanhamento - Terceira sexta-feira de cada mês
🤎 Pós-adoção (acompanhamento): das 18h30 às 19h30
Destinada aos que já adotaram (famílias COM filhos), com participação mediante inscrição.
💡 *Tolerância de atraso*
Para as aulas do curso preparatório é de apenas *5 min*, (considerando que cada aula dura 40min).
Para a palestra e o pós, porém, a tolerância é de *15 min*. Os que ultrapassarem esses limites poderão permanecer *sem validação da presença*! 👀
✍🏿INSCRIÇÃO
O Cores da Adoção *solicita inscrições* APENAS para o pós- adoção. As reuniões presenciais nas unidades CORES COPA e CORES VARGEM são livres à demanda espontânea, porém sujeitas à lotação dos espaços. Para participar, basta se informar no whatsapp sobre os requisitos de preparação e chegar!
— Escreve-se muito sobre o lobby gay. Ainda não encontrei ninguém que me dê um cartão de identidade no Vaticano dizendo isso. Dizem que existe. Quando se encontra uma pessoa assim, é preciso distinguir entre o fato de ser gay e o fato de fazer lobby, porque nenhum lobby é bom. Se uma pessoa é gay e busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo da Igreja Católica explica isso de forma muito bonita. Diz que essas pessoas não devem ser marginalizadas por isso. Devem ser integradas na sociedade. O problema não é ter essa tendência. Devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby — disse o papa aos jornalistas no avião que o levava de volta do Rio de Janeiro para Roma.
— A sociedade brasileira mudou, os jovens mudaram. O senhor não falou sobre o aborto nem sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Brasil foi aprovada uma lei que amplia o direito ao aborto e outra que contempla os casamentos entre pessoas do mesmo sexo [Nota: não foi uma lei, mas uma decisão do Conselho Nacional de Justiça; a lei ainda tramita no Congresso, mas, na prática, o casamento já é legal]. Por que não falou sobre isso?
— A Igreja já se expressou perfeitamente sobre isso, não era necessário voltar a falar sobre, assim como também não falei sobre a fraude, a mentira ou outras coisas sobre as quais a Igreja tem uma doutrina clara. Não era necessário falar sobre isso, mas sim sobre coisas positivas que abrem caminho para os jovens. Além disso, os jovens sabem perfeitamente qual é a postura da Igreja.
— Mas qual é sua postura sobre esses temas?
— A da Igreja. Sou filho da Igreja.
(A primeira versão deste post foi escrita e publicada antes das declarações que o papa deu aos jornalistas no avião. Os blogs, diferentemente dos meios impressos, permitem atualizar um texto diante de uma notícia urgente. Bergoglio agora diz que não é quem para nos julgar por sermos gays e que o problema não é ser gay, mas fazer lobby — sabe-se lá a que lobby ele se refere, o que eu conheço bem é o lobby da Igreja contra os direitos civis dos gays. Mas vejamos: “Se uma pessoa é negra e busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, “O problema não é ter essa cor de pele, o problema é fazer um lobby”. Sim, soa horrível visto assim. Mas é um avanço e é bom que tenha acontecido, porque antes ele dizia coisas piores e porque muitos de seus subordinados dizem coisas irreproduzíveis que agora, tendo em conta o que ele disse, terão de reformular. Sobre nossos direitos civis, no entanto, Bergoglio lembra que já se expressou e que continua pensando o mesmo. Que sua posição é a da Igreja. E que não mudou porque não mencionou isso no Brasil, assim como não mencionou a fraude e a mentira. Linda comparação. Isso é tudo por hoje. Haverá mais?)
Eu compreendo o alívio de muitas pessoas ao ver a Igreja Católica, pela primeira vez, emitir uma mensagem que não soa odiosa, cheia de preconceitos e violenta contra a diversidade sexual, e que reconhece que ser gay não é um pecado. Isso parece um avanço, mesmo que não seja. Compreendo também que para quem viveu toda a vida acreditando que era um erro de Deus, uma maldição, uma doença, um desvio moral ou uma aberração, ouvir o papa dizer que não somos julgados por sermos gays pode ser libertador.
Mas também é muito importante perceber que o papa continua acreditando que ser gay é uma tendência, um desvio do natural, que não podemos formar famílias, que nossas relações são inferiores e que não devemos ter os mesmos direitos civis que as outras pessoas. Não esqueçamos que, enquanto cardeal de Buenos Aires, Bergoglio liderou uma cruzada contra o casamento igualitário, convocando manifestações e pressionando deputados, senadores e juízes, além de se opor à adoção por casais gays com argumentos baseados em preconceitos que já foram amplamente refutados pela ciência.
Se, ao longo do tempo, a sociedade mudou, como ele mesmo diz, a Igreja também deveria mudar sua doutrina e seus dogmas baseados no preconceito. E enquanto isso não acontecer, as palavras bonitas e o discurso da tolerância não passam de um verniz, uma tentativa de melhorar a imagem de uma instituição que tem causado tanto sofrimento a tantas pessoas.
Como dizia Harvey Milk: "Não peçam que aceitemos menos do que a igualdade completa."
Ontem, participei desse bate-papo com a querida Karina do canal Ateu com orgulho - https://g1.globo.com/consciencia-negra/noticia/2020/11/19/nefrologista-carioca-descobre-a-primeira-medica-negra-do-brasil-e-fala-de-representatividade-numero-ainda-e-baixo.ghtml. Foi uma conversa deliciosa. Começamos com um assunto triste, que foi a morte de Karol Eller em função de seu envolvimento com uma igreja que pregava a cura gay - o que deve ter sido agravado pela convivência com bolsonaristas e fundamentalistas da bancada evangélica, com quem ela mantinha estreitas relações.
Em seguida, fomos avançando no tema LGBTQIA+, assim como em questões referentes à militância ateísta, à laicidade do Estado e à resistência frente aos ataques da bancada fundamentalista da Câmara dos Deputados contra os direitos fundamentais dos seres humanos sempre que eles são aplicados ao cidadão ou à cidadã LGBTQIA+.
A conversa durou uma hora e quarenta minutos, aproximadamente, mas passou tão rápido que eu mesmo nem me dei conta de que havíamos ido tão longe.
Recomendo que assistam à gravação da live que sigam o perfil da Karina em Ateu com Orgulho lá no Instagram.
DIA 28 DE JUNHO é o Dia Internacional ORGULHO LGBT! E temos muito do que nos orgulhar! A maioria de nós sobreviveu a uma infância e adolescência onde era cada um por si e todos contra nós. Se você foi criança antes da década de 1990, arrisco-me a dizer que você não tinha referências positivas que representassem a sua individualidade enquanto pessoa sexodiversa na TV, no rádio ou nas publições impressas. Às vezes, eu me pego pensando: Quem dera eu pudesse ter assistido algo como Heartstopper quando eu tinha 12 anos, por exemplo. Se você ainda não ouviu falar nessa série da Netflix, ela foi inspirada nessa HQ aqui: https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/3125198/brasil-registra-54-crimes-virtuais-por-minuto
Teaser official da série na Netflix
Família, escola, igreja e trabalho
A família, ambiente onde devíamos ter sido acolhidos e incentivados ao pleno desenvolvimento de nossas habilidades e de nossos afetos, foi justamente onde encontramos mais incompreensão e repressão. Se nos enfiamos no armário - muitos de nós por décadas -, foi justamente por causa de algum interdito estabelecido por nossos pais ou outras figuras de autoridade contra a diversidade sexual. Esses episódios provavelmente aconteceram diante da TV ou ao redor da mesa de jantar. O cúmulo da violência emocional já é bastante conhecido; trata-se da verbalização de frases como "prefiro um filho viciado, bandido ou até morto a um filho gay." Muitas pessoas LGBT nunca se recuperam das feridas emocionais causadas pelas atitudes de quem deveria protegê-las e orientá-las no pleno desenvolvimento de suas identidades. Ao contrário disso, as famílias muitas vezes pressionam a pessoa LGBT para que se "converta" em heterossexual (e cisgênera no caso das pessoas trans).
A escola, ambiente onde deveríamos ter sido incentivados para o pleno desenvolvimento de nossas habilidades cognitivas e psicossociais, ouvimos os primeiros xingamentos e piadas de mau gosto por parte de estranhos sobre nosso jeito de agir e de falar. Muitas vezes, até mesmo nossos gostos pessoais por cores, brinquedos, jogos, grupos musicais e outras formas de entretenimento são criticados impiedosamente. Esse tipo de censura torna-se um dos mais sórdios estímulos à autorrepressão e à autocondenação por parte das pessoas LGBT por causa da LGBTfobia externa que acaba sendo internalizada por meio dessas interações destrutivas.
A igreja, ambiente onde deveríamos supostamente ser acolhidos como filhos e filhas amadas de algum deus, convivendo fraternalmente uns dos outros, é o lugar onde ouvimos as piores recriminações. E elas vêm do lugar que simboliza autoridade máxima em termos de doutrina - o púlpito. Mas, não apenas dali. Os estudos bíblicos em pequenos grupos, os cultos realizados em casas de "irmãos", os cochichos das bilhardeiras e bilhardeiros de plantão - todos esses dispositivos de controle são usados para manter a sexodiversidade dentro de uma caixa preta que não pode ser acessada sem que alguma degraça nos sobrevenha. Curiosamente, essa mesma igreja é o lugar menos seguro para crianças e adolescentes justamente por causa do assédio sexual que estes sofrem (muitas vezes, calados) por parte de pastores, diáconos, líderes de mocidade, organizadores de acampamentos, etc. Se esses lugares já são perigosos para a criança ou adolescente heterossexual cisgênero, imagine para a criança ou adolescente LGBT! Ninguém perde coisa alguma ficando longe dessa fábrica de neuroses.
Finalmente, o trabalho - esse ambiente onde deveríamos aplicar nossas habilidades, conhecimentos e experiência, preferencialmente numa atmosfera de cooperação, visando à manutenção e à expansão da empresa que nos contratou. Não é bem isso que encontramos ali, todavia. O bullying "corporativo", geralmente, disfarçado de piada, gracejo ou mesmo de supervalorização das experiências heterossexuais no campo erótico-afetivo, romântico e familiar é um dispostivo de repressão utilizado contra as pessoas sexodiversas. Em outras palavras, quem é heterossexual e cisgênero pode falar das férias com a namorada ou namorado sem qualquer constrangimento, ou comentar sobre os filhos sem qualquer recriminação, mas nós, LGBT, somos tacitamente coagidos a não falar sobre nosso final de semana com nosso namorado ou namorada homoafetivo(a). Se falarmos, devemos estar preparados para o que virá depois, uma vez que provavelmente não teremos mais sossego depois disso. Observe que a maioria dos funcionários heterossexuais de qualquer empresa tem um porta-retrato com seu amor em cima da mesa, mas pergunte a si mesmo(a) o seguinte: Quantos LGBT fazem o mesmo tranquilamente? Garanto que são muito poucos ainda. Você pode estar dizendo a si mesmo(a) que se isso lhe acontecesse, você raclamaria com um chefe. Mas, que chefe? A maioria deles faz participa ou finge que não vê o jogo de seus "subordinados" LGBTfóbicos.
Qual será o resultado disso tudo?
O resultado de toda essa pressão social e de muitas outras é a neurose do armário. Com isso, refiro-me à repressão e camuflagem que a pessoa LGBT acaba fazendo contra si mesma para tentar tansitar pela sociedade LGBTfóbica sem ser apontada o tempo todo como uma desviada ou pervertida.
Mas, não pense que é confortável viver no armário para evitar confrontos. De modo algum, pois não existe um único ser humano que se reprima com sucesso por muito tempo, se é que consegue se reprimir de fato por qualquer átimo. O que acontece geralmente é que a pessoa enfiada no armário acaba recorrendo à vida dupla. Isto é, ela age como se fosse heterossexual e cisgênera, inclusive casando-se ou namorando alguém do outro sexo, mas dá vazão ao seu real desejo em escapadelas que estão longe de ser satisfatórias. Pelo contrário, essa duplicidade cobra um preço emocional altíssimo.
Experiências sexuais vividas às escondidas exigem um arsenal de mentiras e disfarces capaz de deixar cicratizes profundas em qualquer psiquê. Entre as pessoas que já viveram assim por algum tempo e depois saíram do armário, muitas deram um novo e belo rumo à própria vida. Porém, muitas pessoas já morreram ou ainda morrerão nessa gangorra emocional, jamais tendo experimentado o sabor da liberdade de ser e de agir de acordo com sua própria vontade sem as máscaras auto-impostas na esperança de evitar a dor da rejeição. Sair do armário pode doer, mas é uma vez só. Viver no armário é arrastar uma dor muito maior pelo resto da vida.
Felizmente, é cada vez mais comum que as pessoas saiam do armário o mais cedo possível. É importante que se diga que essa "coisa" de sair do armário só se faz necessária porque a sociedade parte do princípio de que, via de regra, todo mundo é heterossexual e cisgênero. O nome disso é hetero-cisnormatividade. E nada poderia estar mais longe da verdade. Na realidade, a heterossexualidade exclusiva é uma ponta do espectro das nuances que caracterizam a sexualidade humana assim como a homossexualidade é outra. A maioria das pessoas está em algum lugar entre as duas. Mas, por causa do reiterado reforço dessa hetero-cisnormatividade imposta por meio de vários mecanismos e dispositivos psicossociais presentes em nossa cultura, a maioria das pesssoas LGBT precisa dizer em algum momento quem elas são e como se sentem. Sair do armário é libertador, mas também é um ato político e pedagógico ao mesmo tempo.
Dentre as pessoas que logo cedo se assumiram e colocaram a cara no sol, algumas foram acolhidas sem maiores problemas. Porém, a maioria teve que travar alguma batalha dentro da própria casa. Nos casos mais graves, as pessoas LGBT podem sofrer represálias e até serem expulsas de casa. Mas, a maioria conseguiu refazer a vida e se estabelecer sozinha. Essas pessoas contruíram seus próprios lares e estabeleceram novas e significativas amizades tanto com outras pessoas LGBT como com pessoas heterossexuais e cisgêneras esclarecidas.
Em paralelo a todos esses enfrentamentos no plano individual, nós, LGBT, ainda travamos verdadeiras batalhas no plano coletivo. Já travamos muitas lutas para fazer valer nossos direitos mais fundamentais; direitos esses que só foram garantidos ao custo de muito esforço e graças a aliados nas mais diversas esferas de poder.
Para conhecer melhor a história da diversidade sexual e das identidades de gênero no Brasil desde o período colonial até a contemporaneidade, recomendo sem moderação o livro Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan. Não existe nada igual em português ou em qualquer outra língua a respeito da história LGBT do lado de baixo do equador.
Falando especificamente sobre a origem do Movimento LGBT moderno, algumas iniciativas heróicas e muito relevantes foram feitas na Europa, mas a luta por direitos ganhou força sem precedentes a partir do ano de 1969 com a Revolta de Stonewall, em Nova York, Estados Unidos. Esse levante aconteceu no dia 28 de junho; por isso, comemoramos o Dia Internacional do Orgulho LGBT nessa data.
No Brasil, especificamente, o Movimento LGBT, como concebido no período moderno foi deflagrado durante a Ditadura Militar (1964 a 1985). Duas publicações foram essenciais para esse despertamento: o jornal Lampião da Esquina (1978 a 1981) e o jornal ChanacomChana (1981 a 1987). O primeiro focava mais nos gays e nas travestis, enquanto o segundo era voltado para as demandas lésbicas, sendo vendido no Ferro's Bar em São Paulo.
Apesar ter seu público majoritariamente entre lésbicas, o Ferro's Bar tentou reprimir a circulação do jornal - o que resultou num ato político promovido pelas lésbicas que deu origem ao que ficou conhecido como o Stonewall brasileiro (https://amp-mg.jusbrasil.com.br/noticias/3125198/brasil-registra-54-crimes-virtuais-por-minuto). A proibição da comercialização do periódico foi suspensa e o dia 19 de agosto ficou conhecido como o Dia do Orgulho Lésbico em São Paulo. Posteriormente, sendo adotado em todo o Brasil, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.
3. fim do tratamento das identidades trans como patologias;
4. fim dos tratamentos de “cura gay” por parte dos profissionais de saúde mental;
5. casamento civil igualitário;
6. permissão para casais homoafetivos adotarem crianças;
7. permissão para que crianças intersexo não tenham o sexo definido em suas certidões de nascimento;
8. procedimentos para a transição de gênero realizados pelo SUS.
Ainda há muito o que se fazer. Porém, essas vitórias para os direitos das pessoas LGBT, que nada mais são do que DIREITOS HUMANOS aplicados a indivíduos sexodiversos e que por muito tempo viveram sem quaisquer garantias civis, são fundamentais e profundamente emblemáticas. Cada uma dessas conquistas deve ser motivo de orgulho para toda a comunidade LGBT e seus aliados.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBT no mundo, muitas vezes com requintes de crueldade. O site Homofobia Mata, criado por Eduardo Michels, que durante 10 anos fez a melhor pesquisa sobre violência LGBTfóbica do Brasil, tem registros detalhados desses crimes até o ano em que ele se 'aposentou' da pesquisa: algum momento entre 2018-2019. Confira.
Mas, quando pensamos em outros países, temos, por um lado, motivos para celebração e, por outro lado, motivos para lamentação e luta. Entre os casos que nos alegram, podemos citar países progressistas e inclusivos como a Holanda, o Canadá, a Noruega. Só para citar três. Existem mais, é claro. Entre os casos que nos entristecem profundamente e que devem nos inspirar a lutar pelo fim da LGBTfobia em todo o mundo, encontram-se os países mais terrivelmente fundamentalistas e implacavelmente LGBTfóbicos, como a Arábia Saudita, o Qatar, o Irã, entre outros.
Atualmente, 69 países ainda condenam cidadãos LGBT por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Até há pouco tempo, eram 71, mas Angola, Moçambique e Butão, que condenavam a sexodiversidade, baniram as leis absurdas. Que os demais sigam esse bom e justo exemplo.
Não basta descriminalizar a sexodiversidade
É preciso manter em mente que não basta não prender ou não condenar pessoas LGBT ao cárecere ou à morte. É preciso garantir seus direitos fundamentais em todos os países - direitos como os que já foram conquistados no Brasil e citados anteriormente nesse artigo.
Ainda existem muitas pessoas LGBT confinadas em campos de refugiados para não perderem suas vidas em suas próprias comunidades ou pelas mãos de seus prórpios parentes LGBTfóbicos. Um lamentável exemplo de campo de refugiados que atualmente conta com um grande número de pessoas LGBT é o campo de Kakuma no Quênia. Locais como esse deveriam proteger essas pessoas e proporcionar-lhe transição segura para locais onde elas pudessem morar, trabalhar e atingir sua autorrealização sem risco de morte, mas isso não está acontecendo e as autoridades internacionais parecem não se importar ao ponto de agir.
Por tudo isso e muitas outras coisas não mencionadas aqui por falta de espaço, é preciso celebrar o Dia do Orgulho LGBT com muita alegria e com muito orgulho próprio, fortalecendo a resistência contra a LGBTfobia que ainda grassa em certos ambientes.
É preciso que as organizações que se colocam como representantes do Movimento LGBT organizado trabalhem de fato para combater essas injutiças, inclusive movendo processos contra pessoas ou instituições que façam demonstrações públicas de LGBTfobia, como foi o caso da cantora gospel Bruna Karla, que fez declarações extremamente homofóbicas numa entrevista veiculada pela Internet ao se referir a um "amigo" seu que é gay e que estava organizando seu casamento há alguns meses. Gente que faz esse tipo de discurso LGBTfóbico, especialmente em veículos de comunicação com amplo alcance, incluindo aqui as redes sociais, tem que ser processada. E os recursos obtidos com esses processos devem ser investidos em programas ou projetos que visem ao esclarecimento da população em geral e à capacitação de pessoas LGBT, especificamente, para profissionalização e inclusão no mercado de trabalho, a fim de que atinjam autonomia financeira.
LGBTfobia governamental
Damares e Jair Bolsonaro:
Dois inimigos declarados da comunidade LGBT
É notória a prevaricação do governo federal, capitaneada por Jair Bolsonaro e sua trupe de incompententes e desonestos. Estes devem ser alvo de reiteradas ações no Judiciário a fim de obrigá-los a cumprirem suas obrigações no que tange à comunidade LGBT. Tolerância zero para com fascistas e outros desse tipo. O mesmo deve ser aplicado a qualquer governo em nível estadual ou municipal.
O Estado não é vaca leiteira. O Estado corresponde ao conjunto de instituições no campo político e administrativo que organiza o espaço de um povo ou nação.
É possível que também existam pessoas, inclusive LGBT, apenas funcionando como "cabides de emprego" em organizações vinculadas ao poder público. Em vez de trabalharem de fato para a inclusão e o bem-estar social de pessoas LGBT, esses servidores ou ocupantes de cargos comissionados só fazem isso mesmo: ocupam um cargo, quando deveriam realizar de fato o ofício confiado a elas. Em outras palavras, garantem seus salários, mas não cumprem suas obrigações. Refiro-me, especialmente, a organizações que são financiadas com dinheiro público, tais como coordenadorias e secretarias municipais e estaduais, bem como suas semelhantes na esfera federal. Esses órgãos geralmente estabelecidos por meio de lei ou decreto deveriam servir ao propósito de garantir os direitos das pessoas LGBT no âmbito do Estado, mas o que vemos muitas vezes é o contrário: Os responsáveis por seu funcionamento não cumprem seu papel - o que constitui crime de prevaricação (quando apenas deixam de fazer o que devem) ou peculato (quando se beneficiam pessoalmente dos poderes que seus cargos lhe conferem). Devem ser advertidos - para começo de conversa - e processados se não fizeram os devidos ajustes de conduta, sendo eventualmente substituídos por quem tenha a competência e o compromisso de fazer o que o cargo determina.
A luta continua
Como se vê, temos muitos motivos pelos quais nos orgulharmos, mas também muitas lutas que precisamos continuar travando. E precisamos fazer isso sem nos descuidarmos de nossa própria vida. Afinal, temos pouco tempo para viver. Quem chegar aos 90 ou mais, ainda terá vivido pouco. Imaginem quem viver até os 40 anos de idade. E, cá para nós, a gente nunca sabe se vai estar o primeiro ou no segundo grupo. Por isso, não podemos adiar nossa autorrealização em nome de ideologias, partidos, organizações ou figuras políticas quaisquer que sejam elas. A vida passa rápido e logo seremos apenas mais um CPF cancelado, como diz aquele fascista do qual nos livraremos em outubro pelos meios democráticos mais legítimos - as eleições.
Uma imagem vale mais que mil palavras.
Então, lute, proteste, celebre! Porém, acima de tudo, VIVA sua vida da melhor maneira possível, respeitando a sua própria individualidade como ser fundado e atravessado pela diferença. Afinal, nem as impressões digitais dos meus dois polegares são idênticas - quanto menos esses mais 9 bilhões de indivíduos que respiram o oxigênio desse lindo planeta.
Empodere-se com leituras que abordem os interesses de nossa comunidade. Na Internet, você pode encontrar muita coisa boa em texto, podcast e vídeo. Não dê IBOPE para os detratores. Fortaleça nossos concidadãos LGBT e os canais que valorizam a nossa subjetividade e a nossa comunidade.
Uma boa lista de livros autorados por pessoas LGBT ou que entendem bem a nossa realidade, mesmo não sendo LGBT necessariamente. pode ser acessada aqui no site da Companhia das Letras:
Eu mesmo comprei uma penca de livros esse mês por aqui.
Também recomendo muitíssimo o livro de Letícia Lanz, O Corpo da Roupa, que só pode ser adquirido por aqui: O CORPO DA ROUPA (https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-leticia-lanz-2-edico-original-_JM) . Ela também escreveu A CONSTRUÇÃO DE MIM MESMA (https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-827981469-livro-o-corpo-da-roupa-leticia-lanz-2-edico-original-_JM). Li esse também e recomendo. O primeiro é uma obra fantástica sobre gênero e o segundo é autobiográfico e tocante. Letícia Lanz é uma pessoa trans com excelente formação e entende muito bem do que está falando.
Tem SORTEIO DE LIVRO no meu INSTAGRAM! Começa hoje, domingo, 26/06/22, e termina na terça-feira, dia 28/06/22, quando farei uma live às 22h para anunciar os vencedores. Serão dois livros. Saiba mais nesse meu vídeo aqui no Instagram:
Orgulhe-se de suas cores não apenas durante uma das mais de 270 paradas do orgulho LGBT que acontecerão esse ano no Brasil. Afinal, todo dia é uma nova oportunidade para ser e fazer a diferença no mundo! Viva seu dia-a-dia bem out and proud! (Não entendeu, joga no Google). 😂😂😂😂
Che Guevara com aparência mais aceitável pela burguesia
Muitas pessoas ficam divididas entre o desprezo e a admiração por Che Guevara, o mais famoso revolucionário Cubano e latino-americano por extensão.
De um lado há os que condenam o sexismo extremamente homofóbico que caracterizava o movimento de Guevara. Do outro lado, há quem tente minimizar os horrores da violência homofóbica perpetrados por ele e seus seguidores, assim como por outros movimentos revolucionários inspirados em seu exemplo em toda a América Latina.
Recomendo muito a leitura integral do texto de James N. Green citado abaixo (em inglês).
"Quem é o Macho que Quer me Matar?" Homossexualidade Masculina, e a Luta Armada Brasileira das décadas de 1960 e 1970.
“Who Is the Macho Who Wants to Kill Me?” Male Homosexuality, Revolutionary Masculinity, and the Brazilian Armed Struggle of the 1960s and 1970s James N. Green
Trecho a partir da página 456, com recortes:
"Se a masculinização de algumas mulheres militantes permitu que elas assumissem papéis de liderança nas organizações de luta armada, a feminização de homens revolucionários estava fora de questão. Noções culturais abrangentes rotulavam os homens homossexuais como efeminados, passivos, vacilantes e não confiáveis, enquanto os marxistas os viam como, inerentemente, pequenos burgueses e traidores em potencial. Essas duas tradições combinadas excluíam a possibilidade de homens homossexuais se tornarem revolucionários. Nada simbolizava mais a ideia de que um revolucionário masculino precisava de uma forma específica de masculinidade, as quais eram imagens e noções mais do que prevalentes em Che Guevara, a figura icônica do movimento de guerrilha latino-americano nas décadas de 1960 e 1970. 'El hombre nuevo' (o homem novo) promovido por Che e imitado por seus seguidores era viril, barbudo, agressivo e obstinado pelo sacrifício em favor da causa, adiando os prazeres mundanos no presente pelo glorioso futuro socialista."
[...]
"Ele era um rebelde com uma causa que estava disposto a abandonar seu país e amigos, pegar um rifle e oferecer sua vida pela revolução."
O retrato estilizado de Che que se tornou tão onipresente até o final da década de 1960 também se fundia com o símbolo mais velho, mais poderoso e mais abrangente da civilização Ocidental, notadamente o sacrifício, o sofrimento, e finalmente o martírio de Cristo. O corpo seminu do revolucionário assassinado estendido sobre uma maca rústica na Bolívia rural oferecia significados simbólicos e míticos adicionais. Essa imagem cristã, colocada como uma camada sobre a figura de um revolucionário marxista, também exercia forte apelo a centenas, senão milhares, de jovens brasileiros que havia se juntado à Esquerda através de suas experiências com a Juventude Universitária Católica e mais tarde com a Ação Popular. [...] Che Guevara tornou-se um símbolo ecumênico do tipo de revolucionário dedicado ao povo da América Latina em revolta.
A historiadora Florencia Mallon documentou o impacto da imagem de Che entre seus apoiadores, militantes e lideranças do MER (Movimento da Esquerda Revolucionária), que se engajou numa luta armada no Chile no final da década de 1960 e na década de 1970. [...] Mallon argumenta que a liderança central do MER cultivou uma associação entre suas personas como a encarnação do que eu chamo masculinidade revolucionária e as imagens de Che, 'e extraiu autoridade pessoal dela.'
[...] Além disso, como Mallon nos lembra, os imitadores de Che, enquanto cultivavam essa imagem revolucionária, impunham a heterossexualidade compulsória e rejeitavam o comportamento de gênero transgressor.
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Che Guevara criou o único programa de trabalhos forçados para gays na América Latina
Che Guevara montou o primeiro campo de trabalho forçado de Cuba para pessoas vistas pelo Estado como delinquentes.
Esse primeiro campo de trabalhos forçados foi erguido em Guanahacabibes (1960-1961). A inciativa foi de Ernesto "Che" Guevara, que acreditava na rejeição dos “crimes contra a moral revolucionária” através do trabalho. Essa experiência viria a inspirar a criação das Unidades de Assistência Militar à Produção (UMAP).
De acordo com a revista Época, em entrevista ao escritor Pedro Juan Gutiérrez, "a experiência da guerrilha, que dominava a estrutura política do movimento, conferiu à Revolução Cubana um forte sentido de masculinidade. Uma das muitas vítimas do agravamento da homofobia pós-revolução foi o poeta Reinaldo Arenas. Apesar de ter apoiado a revolução nos primeiros anos, ele não foi poupado. Sofreu com a censura e a repressão, sendo perseguido, preso, torturado e forçado a abandonar seu trabalho, como conta sua biografia Antes que anoiteça. Arenas só conseguiu uma autorização para sair do país nos anos 1970. Mudou-se para Nova York, onde foi diagnosticado com aids."
Destaco o seguinte trecho dessa matéria, agora referindo-se ao escritor peruano Mário Vargas Llosa:
"O escritor peruano Mario Vargas Llosa alega que um dos motivos que o fizeram desacreditar na Revolução Cubana e na ideologia socialista foram as Umaps e a repressão homossexual. Ele se deparou com as instituições de recuperação em suas muitas viagens à ilha na década de 1960. Chegou a manifestar seu espanto em uma carta a Fidel. O líder, então, o chamou para uma reunião com outros intelectuais queixosos. A reunião durou 12 horas, mostrando que ele não estava aberto ao diálogo."
O Castrismo e sua perseguição aos gays
O site do El País publicou matéria sobre um projeto de reforma da Constituição que acabaria com a discriminação sexista contra casais do mesmo sexo. Infelizmente, como ficou demonstrado posteriormente, essa tentativa foi frustrada, tendo sido rejeitada pelo governo depois de pressão exercida por igrejas evangélicas no país.
El País: "Uma das páginas mais obscuras do castrismo foi a existência, entre 1965 e 1968, das Unidades Militares de Ajuda à Produção, campos de trabalhos forçados para a “reeducação” de indivíduos que o regime do Fidel Castro considerava extraviados com relação à moral revolucionária. As tenebrosas UMAP recebiam delinquentes comuns, dissidentes políticos, religiosos e homossexuais, entre outros. Estima-se que nelas foram encerrados cerca de 30.000 cubanos, sendo 800 deles especificamente por serem gays."
"O historiador Abel Serra Madero, estudioso das UMAPs, conta ao EL PAÍS que os detentos chegavam a ser torturados nesses centros, e critica o fato de o Governo cubano nunca ter pedido perdão por isso, e muito menos indenizado as vítimas. 'Sempre tentaram demonstrar que as UMAPs foram um erro, e Fidel Castro se isentou das responsabilidades dizendo que estava muito ocupado governando e não sabia o que acontecia ali. Mas não foram um erro isolado. As UMAPs foram um fenômeno sistêmico da revolução'."
"Emilio Izquierdo, diretor da associação UMAP Miami, que denuncia o ocorrido nos campos de trabalhos forçados, considera que eles foram 'um crime contra a humanidade que deveria ser julgado como tal'. Izquierdo, de 70 anos, passou dois anos preso numa UMAP da província de Camagüey por ser dissidente político e recorda a crueldade especial com que os detentos homossexuais eram tratados. 'Eram separados do resto e faziam equipes de trabalho composto só por gays, dividindo-os em grupos diferentes os ativos e os passivos e submetendo-os a todo tipo de insultos, surras e trancamento em calabouços'."
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Comentário deste blogueiro
E Cuba, considerada revolucionária por tanta gente e tendo Che Guevara como um ícone (discutível) de libertação, continua sendo homofóbica e transfóbica apesar do rosto supostamente inclusivo que Mariela Castro, filha o ex-presidente Raúl Castro, vem dando ao regime ao reivindicar igualdade de direitos para a comunidade LGBT no país.
Verdade é que nem Che Guevara e nem os irmãos Castro (Fidel e Raúl) deveriam ser considerados dignos de apreço pela comunidade LGBT. Talvez, a única que mereça apreço até o momento seja Mariela Castro, mas é preciso ver que posturas ela vai manter ou abandonar em relação à luta pelo reconhecimento da cidadania plena aspirada por pessoas LGBT naquela controversa ilha.
Felizmente, no Brasil, muitos setores da esquerda se abriram para considerar a diversidade sexual como parte de sua pauta, mas isso ainda é muito pouco. A maior parte da conversa não vira ação concreta. É preciso que a esquerda realmente se comprometa com essas pautas. Os direitos das pessoas LGBT não podem ser moedas de troca úteis na hora de negociar votos com os que criminosamente transforma igrejas em currais eleitorais.
De qualquer modo, o que você nunca verá: Sergio Viula com uma camisa ou outra bugiganga qualquer com a cara de Che Guevara e seus fantoches homofóbicos. Vale para quaisquer outros, não importando suas linhas políticas, filosóficas ou religiosas.
Quando a polícia ordenou que o prefeito de uma cidade no sul da Espanha retirasse a bandeira do arco-íris hasteada para celebrar o Orgulho LGBT+ na sexta-feira, porque era ilegal, mais de 300 casas da vila mostraram seu apoio à causa, pendurando suas próprias bandeiras do arco-íris.
A informação vem da agência Reuters. https://www.reuters.com/article/us-spain-lgbt-flags/spanish-village-makes-its-own-rainbow-after-councils-gay-pride-flag-banned-idUSKBN23Z0RX
Uma mulher passa pelas bandeiras do arco-íris
colocadas numa rua durante o Dia Internacional do Orgulho LGBT,
em Villanueva de Algaidas, sul da Espanha, no dia 28 de junho de 2020.
Foto: REUTERS/Jon Nazca
Quando chegou o dia das celebrações do Orgulho LGBT na Espanha no domingo passado, a vila andaluza de Villanueva de Algaidas, perto de Málaga, foi inundada de bandeiras penduradas nas varandas, janelas e até num bar. O gesto foi uma resposta solidária ao prefeito e à comunidade LGBT+ na vila.
Juan Civico, um prefeito socialista que administra a vila com seus 4.000 habitantes, só descobriu que as autoridades estavam proibidas de hastear bandeiras que não fossem oficiais, ou seja, da Espanha, suas regiões e da União Europeia, quando colocou uma no prédio da prefeitura. A questão foi levantada quando três pessoas deram queixa do prefeito.
“Depois das queixas, estudamos o que devíamos fazer. Nós vimos que sob a lei, tínhamos que remover a bandeira. Mas as pessoas podem colocar o que quiserem em suas varandas", disse Civico.
Logo em seguida, Antonio Carlos Alcántara, que tem uma loja no litoral de Torremolinos, a 62 km de distância da vila em questão, decidiu publicar na página do Facebook da Câmara Municipal uma mensagem anunciando que se alguém de Villanueva de Algaidas quisesse hastear uma bandeira do arco-íris, poderia falar com ele. Depois disso, Antonio recebeu 100 pedidos de bandeiras, mas antes que o Dia do Orgulho LGBT+, ele acabou vendendo outras 300 depois de dirigir até a vila.
Por causa disso, o pacato vilarejo foi dominado pelas cores do arco-íris.
Piedad Queralta, que pendurou duas bandeiras em sua casa, disse o seguinte:
“Eu acho que as pessoas deveriam ser livres para amar quem elas quiseram desde que isso não prejudique ninguém", disse ela.
Em 2005, a Espanha se tornou o terceiro país do mundo a legalizar o casamento homoafetivo, depois da Holanda e da Bélgica.
Um relatório de 2013 reportou que uma pesquisa feita pelo Pew Research Center (sediado nos EUA) descobriu que 88% dos espanhóis aceitavam a homossexualidade, o que tornava o país um dos mais inclusivos dos 39 pesquisados.
Antonio Ferre, da Federação da Diversidade Andaluza LGBT+, disse que a iniciativa dos moradores da vila foi "especialmente comovente".
A comunidade LGBT sob governos destros e canhotos A queda de Morales e outras esquisitices latino-americanas
Por Sergio Viula
A direita e a esquerda, bem como tudo que fica em algum ponto entre elas, têm modos diferentes de pensar economia. Esse é ponto nevrálgico de suas disputas. Para além disso, cada uma delas tem sua própria versão de pragmatismo político, especialmente quando se trata do que todos os que experimentam o poder desejam - perpetuar-se no comando. Há quem abra mão de um cargo poderoso por motivos estratégicos, mas dificilmente deixa de participar do jogo. Para justificar a aquisição de novos poderes no mesmo cargo, especialmente quando se trata do mais alto cargo do Executivo - o da presidência -, o discurso pode incluir frases de efeito como "precisamos proteger a democracia", "é preciso defender o país de ameaças externas", "o povo fará prevalecer sua vontade", entre outras. A primeira geralmente justifica ações truculentas contra a oposição da parte de outros políticos ou atores da sociedade civil. A segunda é pretexto para reforçar o aparato militar, aumentar a vigilância sobre os cidadãos e as instituições civis, e até mesmo suspender direitos fundamentais. A terceira é muito usada para desviar a atenção de fraudes no processo eleitoral. As frases de efeito podem variar, mas o objetivo desses governantes costuma ser o de se perpetuar no poder custe o que custar. Isso, porém, não seria possível sem o estabelecimento de alianças que geralmente põem em risco a liberdade e a dignidade da população e das organizações que representam os anseios da sociedade civil. Essas alianças são geralmente cobertas por duas camadas discursivas - uma que agrada aos algozes do povo nos bastidores e outra que distrai esse mesmo povo na ribalta. Um dos mais sagazes e perigosos desses poderes é o religioso. Em nome de seus dogmas e da manutenção do controle mental de seus seguidores, lideres católicos, protestantes, muçulmanos, budistas, hindus, etc, a depender do país em questão, são capazes de apoiar governos aberta ou veladamente violentos, desde que estes continuem transferindo dinheiro do Estado para suas organizações a título de investimento em hospitais, creches e outras iniciativas aparentemente beneficentes. Restauração de templos e obras de arte consideradas como patrimônio da humanidade ou de interesse da população também são ótimas "laranjas" para esse repasse de verbas milionárias. Além do ganho financeiro, essas organizações exigem fidelidade a uma agenda mínima de acordo com os interesses delas. Essa agenda tem muitas facetas, sendo a mais visível, no caso da América Latina escravizada por crenças católicas e evangélicas, aquela que esses religiosos costumam chamar de 'agenda moral'. Do alto de sua hipocrisia, caracterizada por apelos à moralidade ao mesmo tempo em que cometem os mais sórdidos atos de corrupção dentro e fora de suas instituições, esses líderes religiosos geralmente exigem dos governantes sob seu comando ou influência o impedimento de qualquer avanço no campo dos direitos femininos, dos direitos LGBT e da efetiva separação entre Estado e religião - só para citar três. Eles também trabalham bastante para impedir o avanço da ciência. Outro poder extremamente perigoso é o dos militares. Ora, os mesmos cães de guarda que impedem a entrada de estranhos podem se tornar um perigo quando decidem atacar o próprio "dono". Apesar de nenhum presidente ser dono das Forças Armadas, a analogia se aplica. Ele é reconhecido pela Constituição (no caso do Brasil e de outros países) como o chefe das Forças Armadas. Isso deveria se traduzir em proteção para o Estado de Direito, não em subversão do mesmo por causa de interesses espúrios de líderes de alta patente, sempre prontos a exercer pressão sobre presidentes eleitos. Um governo torna-se totalmente inviável quando generais, brigadeiros e almirantes se vendem aos interesses de quem pode pagar bilhões pela sua traição. E tendo em vista que governos como os dos EUA, da Rússia, da China, da Arábia Saudita, entre outros, têm esse cacife, não é difícil entender porque tantos golpes acontecem em locais onde seus interesses políticos e econômicos se concentram. Mas engana-se que pensa que agem sozinhos os governos externos que subsidiam golpes na América Latina, África e Ásia. Na verdade, eles contam com a conivência de muitas autoridades e figuras públicas dentro dos países que são alvos de sua cobiça. Muitos desses colaboradores internos juram que são patriotas e que estão comprometido com o bem de suas nações. Além disso, esses governos de potências imperialistas têm por trás de si corporações empresariais que acumulam receitas maiores que o PIB de vários países. O poder econômico constituído por essas corporações pode ser usado para chantagear políticos e partidos, transformando os espaços onde são exercidos os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo em balcão de compra e venda. Já vimos muito disso por aqui. E é dessa maneira que o futuro do nosso país e de nossos vizinhos latino-americanos é garantido ou comprometido, a depender dos interesses dos que detêm o capital. Porém, ninguém se apresse em pensar que o capital só domina sociedades autoproclamadas capitalistas. De modo algum! Na verdade, o capital manda tanto em sociedades consideradas capitalistas como em sociedades consideradas socialistas, principalmente nos tempos atuais, quando o comércio vence fronteiras de todos os tipos todos os dias. O capital dá as cartas tanto em nações dominadas por poderes religiosos como em nações profundamente secularizadas. O que difere é a extensão de seu poder. Esta vai depender de que tipos de dispositivos cada uma dessas nações conseguiu consolidar para evitar a violação dos direitos fundamentais dos indivíduos e para promover o progresso civilizatório, que não será efetivado sem o respeito à liberdade e à dignidade humana numa perspectiva pluralista e inclusiva que não apenas tolere, mas celebre a diversidade. A América Latina encontra-se em polvorosa no momento em que escrevo esse post. O Chile de Sebastián Piñera acaba de passar por semanas de convulsão social depois de ser assolado por políticas neo-liberais extremas que lançaram milhões na miséria. A Argentina, idem, mas com a diferença de que o povo argentino decidiu através do voto não renovar o mandato do presidente Maurício Macri. O Equador foi palco de revoltas populares contra a corrupção do governo do presidente Lenín Moreno. O saldo foi de 500 feridos e mais de mil presos. Mas, o governo recuou. Primeiro, o presidente decretou toque de recolher (13 de outubro), e, um dia depois, cedeu às pressões populares. Em seguida, anunciou a suspensão do decreto que liberava o preço dos combustíveis, cujo efeito imediato foi um aumento de mais de 120% da gasolina e do diesel, motivo central das revoltas que paralisaram o país por 11 dias. De novo, a quem interessa um aumento desses - aos donos do capital ou ao povo? A Bolívia, por sua vez, se tornou palco de confrontos depois que o resultado favorável a Evo Morales nas urnas foi contestado nas eleições deste ano. A crise instalada culminou em sua renúncia. O agora ex-presidente da Bolívia, primeiro indígena eleito no país, foi o chefe do Executivo que ocupou o cargo por mais tempo - um total de treze anos. A renúncia de Evo foi anunciado pelo próprio neste domingo, 9/11. Ele deixou o cargo logo depois que as Forças Armadas e a Polícia pediram que ele considerasse a renúncia para evitar mais violência no país. O que muitos se perguntam é se esse posicionamento das forças de segurança bolivianas expressava mera incapacidade de conter os tumultos ou uma ameaça velada ao presidente. De qualquer modo, Morales decidiu renunciar. Tristemente, o vácuo gerado por essa renúncia abre espaço para todo tipo de articulação entre setores sedentos pelo sangue do trabalhador boliviano e ansiosos por vampirizar as riquezas naturais daquele estratégico país. Vale ressaltar que nenhuma dessas "crises" aconteceram sem a ingerência de agentes americanos, tanto por parte do governo como de mega corporações. Aqui no Brasil, Bolsonaro, um político que sempre se valeu do Estado Democrático de Direito tão-somente para garantir sua presença no cenário político, além da inclusão de seus filhos e de outros parentes em espaços de poder, despreza esse mesmo Estado Democrático de Direito que permite sua emergência ao fazer declarações estapafúrdias em apoio a ditadores como Ustra. Não bastasse isso para criar repugnância em qualquer pessoa minimamente moral, ele se curva descaradamente a Donald Trump e aos interesses imperialistas americanos, tão claramente incompatíveis com o desejo de aproximadamente 200 milhões de brasileiros por crescimento e a autonomia. Sem titubear, nem mesmo por um segundo, Bolsonaro elogiou os mecanismos que levaram à inviabilização do governo de Morales. Segundo a Folha de São Paulo (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/11/apos-renuncia-de-morales-bolsonaro-comemora-grande-dia.shtml), ele voltou a usar a expressão "grande dia" com a qual debochou da decisão do ex-deputado Jean Wyllys ao deixar seu mandato por causa de ameaças de morte que culminaram em sua saída do país. Na realidade, Bolsonaro provavelmente viu no golpe cívico-militar contra Evo Morales uma forma de espetar os milhões de brasileiros e outros latino-americanos que celebravam a saída de Lula da cadeia pela porta da frente. Soa quase como uma autopropaganda, algo como o seguinte: Na Bolívia, os militares inviabilizaram o governo de Morales com sua recusa em sair dos quartéis para garantir a ordem, mas aqui o militar sou eu. E para se blindar, Bolsonaro já concedeu cargos a mais de 2.500 membros das Forças Armadas em ministérios, cargos de chefia e postos de assessoramento, como diz a Folha de São Paulo. (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/10/bolsonaro-amplia-presenca-de-militares-em-30-orgaos-federais.shtml) As Forças Armadas bolivianas não agiram sozinhas. O golpe lá Bolívia teve ampla influência de fundamentalistas. Eles chegaram a dizer descaradamente que vão "devolver deus ao palácio do governo". Houve também forte mobilização do discurso racista por parte da ressentida aristocracia e oligarcas bolivianos. Há relatos de pessoas de origem indígena, como é o caso do ex-presidente da Bolívia, dizendo que todos os civis de origem indígena que ainda tem algum cargo no governo ou no serviço público estão sendo perseguidos por gente ligada a oligarcas e fundamentalistas religiosos. Ora, que sujeira existe e se perpetua nos partidos de direita, esquerda e outros não é novidade, mas é lamentável ver que muita gente permanece capturada por essa cortina de fumaça produzida por personagens que se dizem de uma ala ou de outra, deixando de perceber que os princípios democráticos e o Estado de Direito têm sido continuamente violados, seja de forma explícita ou velada, nos governos de todos esses partidos. O grande erro desses governantes populistas, sejam quais forem seus partidos, é o culto a si mesmos como "pais insubstituíveis". Enquanto se recusam a pensar em como poderiam se reproduzir e se renovar na pessoa de novos líderes, esses 'mitos', 'libertadores' e 'messias' se entrincheiram cada vez mais nas liteiras do poder, incensados por fiéis que os adulam ao mesmo tempo em que ignoram o fato de que as estruturas sócio-político-econômicas permanecem praticamente as mesmas, apesar dos muitos anos de mandato que esses mesmos ídolos já acumularam em suas carreiras políticas. Aliás, no que depender do Messias Bolsonaro e do Donald Trump, nós, os cidadãos que se identificam como gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, continuaremos sendo ignorados em nossas demandas, correndo o risco de termos nossas conquistas reduzidas ou suprimidas, caso isso esteja ao alcance deles. Na verdade, dificilmente encontramos presidentes mais vis do que esses dois nos 36 países e 18 territórios dependentes de alguma metrópole externa que compõem as Américas. Trump e Bolsonaro só não fazem tudo o que desejam, porque não podem. Felizmente, ainda existem instituições democráticas estatais e da sociedade civil para detê-los, mas todos os dias, eles as submetem a pressões que podem colaborar para sua corrosão e colapso. Em setembro desse ano, por exemplo, Donald Trump acionou a Suprema Corte do país para questionar se pessoas LGBT deveriam estar protegidas por leis trabalhistas que impeçam discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Na prática, ele está pedindo que a Suprema Corte permita que empresas tenham o poder de demitir pessoas por serem gays ou transexuais. Este tem sido apontado como o maior ataque da administração de Trump contra a comunidade LGBT até o presente momento. (https://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2019/09/governo-trump-segue-no-ataque-a-comunidade-lgbt/) Enquanto a Suprema Corte americana discute o assunto, vários estados e cidades americanos têm agido para proibir a discriminação por orientação sexual e de gênero em seu território.
Por aqui, a Justiça ordenou que o governo federal retome os editais de séries LGBT que a Ancine vinha rejeitando por discriminação preconceituosa na administração Bolsonaro. E este é só um exemplo das muitas maneiras que o atual presidente do Brasil tem utilizado para atacar a comunidade LGBT. (https://www.cartacapital.com.br/diversidade/ancine-tera-que-retomar-editais-de-series-lgbts-decreta-justica/)
Outro exemplo é a decisão do STF de que famílias homoafetivas não podem ser excluídas de políticas públicas. Bolsonaro, com sua incurável homofobia, sempre tratou essas famílias como se não fossem famílias de fato. Ele não hesita em deixar claro que faz isso em consonância com setores fundamentalistas da ala católica e da ala evangélica no Congresso e na sociedade. Porém, graças ao STF, essas decisões inconstitucionais foram coibidas em alguma medida.
Mas engana-se quem pensa que Trump, Bolsonaro e essa direita ridícula que eles representam são os nossos únicos problemas. A esquerda pode ser ridícula de muitas maneiras também quando se trata de garantir os direitos da população LGBT.
Retomemos a Bolívia e vejamos a quantas andavam os direitos LGBT durante a administração de Morales. Apesar de ter permanecido por 13 anos no poder, Evo não produziu avanço que se refletisse em ganho real para a vida cotidiana da comunidade LGBT boliviana.
É fato que Evo Morales criou alguma proteção contra a discriminação por orientação sexual na letra da lei, mas essa suposta proteção não se reflete nas ruas. As pessoas LGBT ainda vivem nas sombras por receio de serem atacadas, mesmo em cidades como La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Agora que o presidente boliviano renunciou e que fundamentalistas religiosos e milicianos estão agindo livremente no país com a conivência das forças de segurança, isso deve piorar.
Sem dúvida alguma, esse é um dos muitos prejuízos causados pela colonização católica espanhola. Infelizmente, não se transforma uma mentalidade excludente e perversa como essa sem políticas inclusivas. Isso foi exatamente o que o governo boliviano não fez. Apesar de seus 13 anos de poder e do massivo apoio popular, Evo Morales não atuou para criar mecanismos de combate à homofobia e transfobia no país, efetivamente.
Vale destacar que a homofobia e a transfobia não faziam parte das culturas indígenas andinas. Era bem o contrário. Antes da colonização, a homossexualidade e as expressões de gênero que se aproximam da transgeneridade como entendida hoje eram terreno pacífico entre as tribos no território que hoje é chamado de boliviano. Foi a catequização, com seu terrível desprezo por tudo o que tem a ver com a sexualidade, especialmente quando se trata de diversidade sexual, que perverteu a mentalidade dos povos indígenas, pavimentando o terreno para muita violência e morte motivadas por homofobia e transfobia - dois elementos estranhos àquelas culturas, originalmente.
Podem dizer que a Bolívia incluiu a discriminação por orientação sexual em sua Constituição, mas esta é a mesma Bolívia cuja Carta Magna veta expressamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, perpetuando a noção de que duas pessoas do mesmo gênero não podem constituir conjugalidade e, consequentemente, formar um núcleo familiar.
Outra contradição diz respeito à transexualidade na Bolívia. Ao mesmo tempo em que a nação de Evo Morales permitiu que homens e mulheres transexuais tivessem o direito de mudar de documentos, ela também impediu que essas pessoas pudessem se casar ou adotar filhos. Ora, se a cidadania não é plena, o que ela é, afinal? Uma cortina de fumaça? Um cala-boca? Uma estratégia para agradar a dois senhores - tanto os donos do poder religioso produtor de neuroses encapsuladas em dogmas quanto os cínicos que se contentam em fazer de conta que o país avançou?
A Venezuela governada por Maduro, e anteriormente por Chavéz, segue na mesma trilha. Nicolás Maduro chegou a deplorar seu adversário Henrique Capriles na campanha de 2017, dizendo: "Eu, sim, tenho mulher. Escutaram? Eu gosto de mulheres". Na sequência, beijou sua mulher, que também é alta dirigente chavista, a senhora Cília Flores. (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/10/opinion/1491860659_262989.html)
Caprilles respondeu de modo civilizado: “Quero enviar uma palavra de rechaço às declarações homofóbicas de Maduro. Não é a primeira vez. Creio numa sociedade sem exclusão, na qual ninguém se sinta excluído por sua forma de pensar, seu credo, sua orientação sexual”.
Bem diferente de Morales, Chavéz e Maduro, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica disse que não legalizar o casamento homoafetivo seria "torturar pessoas desnecessariamente". (http://brasil.elpais.com/tag/jose_mujica/a)
Outra líder de esquerda que fez bonito foi a ex-presidente Cristina Kirchner, que aceitou ser madrinha do filho de duas lésbicas. E não apenas isso, tanto Pepe Mujica como Cristina Kirchner se posicionaram e trabalharam para o reconhecimento do casamento homoafetivo durante seus governos como presidentes da república.
No Equador, quem fez história recentemente foi a Corte Constitucional, que reconheceu o casamento homoafetivo em 13 de junho deste ano. A decisão é válida em todo o país.
Agora, Equador, Brasil, Colômbia e Argentina são os quatro países que reconhecem o casamento homoafetivo em todo o território nacional. Mas, antes de concluir precipitadamente que já conseguimos o suficiente, lembre-se que a América Latina é composta por 20 países independentes. Isso quer dizer que o casamento igualitário só uma realidade nacional em 1/5 dos países latinoamericanos.
É preciso que tanto a direita como a esquerda brasileiras repensem suas atitudes para com a população LGBT. Mais do que isso, é fundamental que os cidadãos LGBT se posicionem, exijam seus direitos, e não votem em candidatos homofóbicos e transfóbicos. Caso se eleja para algum cargo, é preciso que esse cidadão ou essa cidadã LGBT trabalhe em favor da comunidade sexodiversa e transgênera, rejeitando alianças que possam transformar esses direitos em moedas de troca para capitalizar junto a setores retrógrados e obscurantistas, sejam eles quais forem.
Como disse meu amigo Julio Marinho no Twitter anteontem (9 de novembro), "Nós, os gays, apanhamos de tudo q é lado. Tenho memória, ñ esqueço a piadinha 'Pelotas exportadora de viados', 'filho gay é falta de porrada', 'no meu governo ñ faremos propaganda de opções sexuais'."
Só para não deixar dúvidas, a primeira frase foi dita pelo ex-presidente Lula; a segunda pelo atual presidente Jair Bolsonaro quando ainda era deputado federal; e a terceira foi proferida pela ex-presidenta Dilma ao se render à chantagem da ala fundamentalista liderada por Jair Bolsonaro numa manobra que ainda seria usada para elegê-lo mais tarde - a do famigerado e inexistente 'kit gay'.
Já ouvi gente de liderança LGBT dizer em defesa da inércia de governos petistas e aliados em face das demandas da comunidade LGBT o seguinte: "Não podemos pensar só na causa LGBT."
Como assim?
É justamente o contrário! Pensa-se em tudo, menos na causa LGBT. Quando pessoas que se identificam como lideranças LGBT colocam a própria agenda que dizem defender em segundo plano, alguma coisa muito patológica deve estar em andamento no tecido social, inclusive em seu núcleo de atuação. E por isso, digo claramente que está na hora de cobrar dos governos a efetivação plena da cidadania da população LGBT. Não nos interessa demagogia, Queremos oportunidades iguais, respeito aos nossos direitos fundamentais e a todos os outros que deles derivam. Cabe a nós mostrar que eles NÃO PODEM nos ignorar e NÃO VÃO nos enganar com medidas que maquiam mal e porcamente a homofobia e a transfobia que esses mesmos indivíduos (governantes, militares ou civis) se recusam a combater, seja de modo franco ou velado.
Não basta declarar a homofobia e a transfobia como crime de racismo se delegados se recusam a lavrar os boletins de ocorrência especificando que foi crime homofóbico ou transfóbico.
Não basta fazer congressos para saber quais são as demandas da população LGBT se depois o governo que os convocou diz que "não fará propaganda de 'opção' sexual".
Não basta criar secretarias ou departamentos pretensamente voltados para a inclusão da população LGBT se esta não consegue sequer orientação jurídica gratuita quando se vê agredida física, psicológica e moralmente por membros da sociedade civil ou até mesmo agentes do governo.
Não basta reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo se depois se permite discriminá-las em programas de habitação, educação e saúde financiados pelo poder federal, estadual ou municipal.
Não basta criar oportunidades de emprego se não houver conscientização pró-LGBT entre empregadores e dispositivos que garantam a empregabilidade dessa população, especialmente de pessoas trans e de pessoas cis gays ou lésbicas que não se enquadram no que essa sociedade homofóbica e transfóbica diz que é 'jeito de homem' e 'jeito de mulher'.
Não basta reconhecer o direito à adoção por casais cis homoafetivos ou por casais transgêneros se o governo não executa políticas de inclusão e respeito à diversidade sexual e de gênero nas escolas para onde os filhos desses casais serão enviados.
E isso é só a ponta do iceberg.
Enquanto, a população LGBT continua sendo discriminada e morta às dezenas e centenas, a maioria dos políticos não se incomoda com as bandeiras do arco-íris tremulando em seus comícios, desde que ninguém, em suas fileiras, exija que eles façam algo de concreto para efetivamente promoverem os direitos da comunidade que essas mesmas bandeiras representam.
É hora de dizer BASTA a esses canalhas, sejam do norte, do sul do leste ou do oeste. Nenhuma condescendência para com o fascismo ou para com o fundamentalismo religioso, não importa o rótulo.