
Por Sergio Viula
Durante décadas, representações LGBTQIA+ foram censuradas, cortadas, escondidas ou totalmente banidas em vários países. Ainda assim, alguns filmes ousaram ir além — e acabaram abrindo caminho para o cinema queer moderno.
Aqui estão 15 obras que sofreram perseguição quando foram lançadas, mas que hoje são celebradas como marcos históricos.
1. Anders als die Andern (1919)
Título em português: Diferente dos Outros

Um dos primeiros filmes explicitamente gays da história, escrito pelo sexólogo Magnus Hirschfeld. Mostrava a perseguição causada pelo Parágrafo 175 na Alemanha. Foi banido em 1920, e cópias foram destruídas pelos nazistas. A única versão preservada é reconstruída a partir de fragmentos.
2. Victim (1961)
Título em português: Vítima de Chantagem

3. The Killing of Sister George (1968)
Título em português: O Assassinato da Irmã George

Um dos primeiros filmes mainstream a retratar um casal lésbico. Recebeu classificação X nos EUA por mostrar cenas no Gateways Club, famoso bar lésbico de Londres. Cinemas se recusaram a exibí-lo.
A obra também abriu discussões sobre a forma como Hollywood representava mulheres queer — muitas vezes de modo sensacionalista — e provocou debates dentro do próprio movimento lésbico sobre visibilidade e estereótipos.
4. Boys in the Band (1970)
Título em português: Os Rapazes da Banda

Marcante por colocar personagens gays complexos no centro da narrativa, sem caricaturas. Foi atacado por grupos conservadores e acusado de “imoralidade” por censores da época.
Embora celebrado hoje, muitos espectadores gays dos anos 70 interpretaram o filme como um espelho desconfortável da autodepreciação gerada pela homofobia internalizada. Isso fez da obra um documento emocional raro da pré-revolta de Stonewall.
5. A Bigger Splash (1973)

Documentário em que o artista gay David Hockney interpreta a si mesmo, lidando com o fim do relacionamento com Peter Schlesinger, também ele próprio no filme, enquanto sua vida emocional se mistura ao processo artístico.
6. Salò o le 120 giornate di Sodoma (1975)
Título em português: Salò ou os 120 Dias de Sodoma

De Pier Paolo Pasolini, proibido em vários países, inclusive Brasil, Itália e Austrália. Embora não seja um “filme gay”, foi fundamental para debates sobre sexualidade, poder e censura, e muitos censores o baniram especialmente pela presença de desejos considerados “desviantes”.
7. Fox and His Friends (1975)
Título em português: O Amigo Alemão

Rainer Werner Fassbinder chocou censores ao retratar relações homoafetivas num ambiente de exploração, classe e vulnerabilidade. Muitos exibidores recusaram o filme; críticos conservadores pediram sua proibição.
A violência do filme foi lida como metáfora do autoritarismo moderno, e seu radicalismo estético fez com que críticos debatessem por décadas se se trata de arte política ou provocação extrema.
8. Sebastiane (1976)
Título em português: Sebastiane

O filme mais abertamente homoerótico de Derek Jarman. O martírio de São Sebastião é reinterpretado como êxtase queer e sensualidade masculina. Filmado em latim vulgar, repleto de nudez e iconografia religiosa homoerótica.
Foi banido em Irlanda e Itália, sofreu cortes na Grã-Bretanha e teve cópias apreendidas pela polícia em Londres. Hoje é considerado o início do cinema queer radical europeu.
A obra também denunciou a desigualdade dentro da própria comunidade gay, mostrando como preconceitos de classe sobreviviam mesmo entre pessoas marginalizadas. Isso fez do filme um marco do realismo queer.
9. Je, tu, il, elle (1974)
Título em português: Eu, Tu, Ele, Ela

Chantal Akerman rompeu todas as regras ao dirigir e atuar em um filme sobre desejo feminino. Traz uma das cenas de sexo lésbico mais longas e explícitas já filmadas — cerca de 20 minutos, em planos estáticos e nada voyeurísticos.
Foi banido em vários países e exibido apenas em museus nos EUA. Hoje é clássico absoluto do cinema feminista e queer.
A radicalidade linguística e visual de Jarman transformou o filme em manifesto — um ataque direto à repressão religiosa e moral que moldava a sexualidade na Europa.
10. Fire (1996)
Título em português: Fogo e Desejo

Primeiro filme comercial da Índia a retratar um relacionamento lésbico. Gerou revolta nacionalista, ataques físicos a cinemas, protestos religiosos e debates parlamentares.
Após batalhas judiciais, foi exibido com classificação adulta. Em 2018, quando a Índia revogou leis anti-LGBT, juristas citaram “Fire” como obra cultural que ajudou a mudar consciências.
11. Personal Best (1982)
Título em português: Lado a Lado

Drama esportivo sobre duas atletas que se apaixonam. Inovou ao mostrar corpos femininos como fortes, potentes e desejantes. Cinemas se recusaram a exibir o filme; vários países exigiram cortes por “excesso de erotismo entre mulheres atletas”.
Hoje é celebrado como precursor da representação queer no esporte.
12. Cruising (1980)
Título em português: Parceiros da Noite

Retrato polêmico do submundo gay de Nova York. Grupos LGBT protestaram na época temendo reforço de estigmas, enquanto conservadores queriam banir o filme por “imoralidade”.
13. Querelle (1982)


Documentário sobre o ballroom queer de Nova York. Enfrentou pressões morais, censura e tentativas de proibição em estados norte-americanos conservadores pela presença de pessoas trans, drags e cultura negra. Os participantes queer interpretam a si mesmos, incluindo Pepper LaBeija, Dorian Corey, Venus Xtravaganza e Willi Ninja, revelando suas vidas na cena ballroom de Nova York.
Com visual expressionista e atmosfera de sonho, Querelle redefiniu a estética queer dos anos 80 e virou obra cult após a morte prematura de Fassbinder.
15. Happy Together (1997)
Título em português: Feliz Juntos

Wong Kar-wai retrata o amor tumultuado entre dois homens de Hong Kong vivendo na Argentina. Enfrentou censura e cortes na China e em outros países asiáticos.
O filme se tornou referência global de cultura ballroom, influenciando moda, música e debates sobre apropriação cultural, especialmente após o surgimento de voguing na mídia mainstream.
O cinema queer sempre abriu caminho na base da coragem
Esses 15 filmes foram atacados, banidos, mutilados por censores, criticados por religiosos, ignorados por distribuidores e usados como arma política.
Mas sobreviveram. E hoje inspiram novas gerações.
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