15 Filmes Proibidos Que Se Tornaram Clássicos Queer
15 Filmes Proibidos Que Se Tornaram Clássicos Queer
Histórias que desafiaram censores, governos, religiosos — e mudaram o cinema para sempre.

Por Sergio Viula
Durante décadas, representações LGBTQIA+ foram censuradas, cortadas, escondidas ou totalmente banidas em vários países. Ainda assim, alguns filmes ousaram ir além — e acabaram abrindo caminho para o cinema queer moderno.
Aqui estão 15 obras que sofreram perseguição quando foram lançadas, mas que hoje são celebradas como marcos históricos.
1. Anders als die Andern (1919)
Título em português: Diferente dos Outros

Um dos primeiros filmes explicitamente gays da história, escrito pelo sexólogo Magnus Hirschfeld. Mostrava a perseguição causada pelo Parágrafo 175 na Alemanha. Foi banido em 1920, e cópias foram destruídas pelos nazistas. A única versão preservada é reconstruída a partir de fragmentos.
O violinista Paul Körner, interpretado por Conrad Veidt, se apaixona por um jovem aluno e acaba vítima de chantagem e perseguição pelo Parágrafo 175, que criminalizava relações homoafetivas na Alemanha.
O filme também funcionou como uma peça educativa: Hirschfeld aparece em cena explicando que a homossexualidade não era doença nem crime, algo totalmente revolucionário em 1919. Além disso, foi usado em sessões privadas para debates sobre direitos civis, irritando autoridades conservadoras.
2. Victim (1961)
Título em português: Vítima de Chantagem
2. Victim (1961)
Título em português: Vítima de Chantagem

Primeiro filme britânico a usar a palavra “homossexual” de forma direta. Abordava chantagem contra gays numa época em que a homossexualidade era crime. Enfrentou censura e protestos, mas influenciou diretamente o debate que levou à descriminalização em 1967.
O advogado Melville Farr, vivido por Dirk Bogarde, tenta ajudar um jovem chantageado (Peter McEnery, como Barrett), mas ao fazê-lo coloca sua própria carreira e reputação em risco.
O filme também transformou seu protagonista, Dirk Bogarde, em um símbolo involuntário de coragem, já que ele próprio enfrentava rumores sobre sua sexualidade. Sua atuação sincera deu ao filme um peso político que ultrapassou o campo artístico.
3. The Killing of Sister George (1968)
Título em português: O Assassinato da Irmã George

Um dos primeiros filmes mainstream a retratar um casal lésbico. Recebeu classificação X nos EUA por mostrar cenas no Gateways Club, famoso bar lésbico de Londres. Cinemas se recusaram a exibí-lo.
4. Boys in the Band (1970)
Título em português: Os Rapazes da Banda

Marcante por colocar personagens gays complexos no centro da narrativa, sem caricaturas. Foi atacado por grupos conservadores e acusado de “imoralidade” por censores da época.
5. A Bigger Splash (1973)

Documentário em que o artista gay David Hockney interpreta a si mesmo, lidando com o fim do relacionamento com Peter Schlesinger, também ele próprio no filme, enquanto sua vida emocional se mistura ao processo artístico.

De Pier Paolo Pasolini, proibido em vários países, inclusive Brasil, Itália e Austrália. Embora não seja um “filme gay”, foi fundamental para debates sobre sexualidade, poder e censura, e muitos censores o baniram especialmente pela presença de desejos considerados “desviantes”.

Rainer Werner Fassbinder chocou censores ao retratar relações homoafetivas num ambiente de exploração, classe e vulnerabilidade. Muitos exibidores recusaram o filme; críticos conservadores pediram sua proibição.
8. Sebastiane (1976)
Título em português: Sebastiane

O filme mais abertamente homoerótico de Derek Jarman. O martírio de São Sebastião é reinterpretado como êxtase queer e sensualidade masculina. Filmado em latim vulgar, repleto de nudez e iconografia religiosa homoerótica.
Foi banido em Irlanda e Itália, sofreu cortes na Grã-Bretanha e teve cópias apreendidas pela polícia em Londres. Hoje é considerado o início do cinema queer radical europeu.
A obra também denunciou a desigualdade dentro da própria comunidade gay, mostrando como preconceitos de classe sobreviviam mesmo entre pessoas marginalizadas. Isso fez do filme um marco do realismo queer.
9. Je, tu, il, elle (1974)
Título em português: Eu, Tu, Ele, Ela

Chantal Akerman rompeu todas as regras ao dirigir e atuar em um filme sobre desejo feminino. Traz uma das cenas de sexo lésbico mais longas e explícitas já filmadas — cerca de 20 minutos, em planos estáticos e nada voyeurísticos.
10. Fire (1996)
Título em português: Fogo e Desejo

Primeiro filme comercial da Índia a retratar um relacionamento lésbico. Gerou revolta nacionalista, ataques físicos a cinemas, protestos religiosos e debates parlamentares.

Drama esportivo sobre duas atletas que se apaixonam. Inovou ao mostrar corpos femininos como fortes, potentes e desejantes. Cinemas se recusaram a exibir o filme; vários países exigiram cortes por “excesso de erotismo entre mulheres atletas”.

Retrato polêmico do submundo gay de Nova York. Grupos LGBT protestaram na época temendo reforço de estigmas, enquanto conservadores queriam banir o filme por “imoralidade”.

De Fassbinder, baseado em Jean Genet. Mistura homoerotismo, crime, traição e teatralidade. Foi censurado em vários países europeus por “degeneração moral”.

Documentário sobre o ballroom queer de Nova York. Enfrentou pressões morais, censura e tentativas de proibição em estados norte-americanos conservadores pela presença de pessoas trans, drags e cultura negra. Os participantes queer interpretam a si mesmos, incluindo Pepper LaBeija, Dorian Corey, Venus Xtravaganza e Willi Ninja, revelando suas vidas na cena ballroom de Nova York.
Com visual expressionista e atmosfera de sonho, Querelle redefiniu a estética queer dos anos 80 e virou obra cult após a morte prematura de Fassbinder.
15. Happy Together (1997)
Título em português: Feliz Juntos

Wong Kar-wai retrata o amor tumultuado entre dois homens de Hong Kong vivendo na Argentina. Enfrentou censura e cortes na China e em outros países asiáticos.
O cinema queer sempre abriu caminho na base da coragem
Esses 15 filmes foram atacados, banidos, mutilados por censores, criticados por religiosos, ignorados por distribuidores e usados como arma política.
Mas sobreviveram. E hoje inspiram novas gerações.
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3. The Killing of Sister George (1968)
Título em português: O Assassinato da Irmã George

Um dos primeiros filmes mainstream a retratar um casal lésbico. Recebeu classificação X nos EUA por mostrar cenas no Gateways Club, famoso bar lésbico de Londres. Cinemas se recusaram a exibí-lo.
A atriz June "Sister George", interpretada por Beryl Reid, enfrenta crises pessoais enquanto vive um relacionamento turbulento com sua companheira Alice “Childie” McNaught, papel de Susannah York.
A obra também abriu discussões sobre a forma como Hollywood representava mulheres queer — muitas vezes de modo sensacionalista — e provocou debates dentro do próprio movimento lésbico sobre visibilidade e estereótipos.
A obra também abriu discussões sobre a forma como Hollywood representava mulheres queer — muitas vezes de modo sensacionalista — e provocou debates dentro do próprio movimento lésbico sobre visibilidade e estereótipos.
4. Boys in the Band (1970)
Título em português: Os Rapazes da Banda

Marcante por colocar personagens gays complexos no centro da narrativa, sem caricaturas. Foi atacado por grupos conservadores e acusado de “imoralidade” por censores da época.
Um grupo de amigos gays se reúne para uma festa: Michael (Kenneth Nelson), Harold (Leonard Frey), Emory (Cliff Gorman), Donald (Frederick Combs), entre outros — todos personagens queer vividos por atores gays ou aliados — e tensões profundas emergem ao longo da noite.
Embora celebrado hoje, muitos espectadores gays dos anos 70 interpretaram o filme como um espelho desconfortável da autodepreciação gerada pela homofobia internalizada. Isso fez da obra um documento emocional raro da pré-revolta de Stonewall.
Embora celebrado hoje, muitos espectadores gays dos anos 70 interpretaram o filme como um espelho desconfortável da autodepreciação gerada pela homofobia internalizada. Isso fez da obra um documento emocional raro da pré-revolta de Stonewall.
5. A Bigger Splash (1973)

Documentário em que o artista gay David Hockney interpreta a si mesmo, lidando com o fim do relacionamento com Peter Schlesinger, também ele próprio no filme, enquanto sua vida emocional se mistura ao processo artístico.
Sua abordagem aberta sobre amores gays e relações afetivas levou a cortes, acusações de “obscenidade” e restrições de exibição.
6. Salò o le 120 giornate di Sodoma (1975)
Título em português: Salò ou os 120 Dias de Sodoma
6. Salò o le 120 giornate di Sodoma (1975)
Título em português: Salò ou os 120 Dias de Sodoma

De Pier Paolo Pasolini, proibido em vários países, inclusive Brasil, Itália e Austrália. Embora não seja um “filme gay”, foi fundamental para debates sobre sexualidade, poder e censura, e muitos censores o baniram especialmente pela presença de desejos considerados “desviantes”.
Embora não tenha protagonistas explicitamente gays, dois dos jovens prisioneiros submetidos aos abusos — interpretados por Paolo Bonacelli e Umberto Paolo Quintavalle — são envolvidos em situações homoeróticas impostas pelos fascistas.
O filme também captou a tensão entre vida privada e vida artística num período em que artistas queer começavam a ganhar reconhecimento público, mas ainda enfrentavam vigilância moral.
7. Fox and His Friends (1975)
Título em português: O Amigo Alemão
7. Fox and His Friends (1975)
Título em português: O Amigo Alemão

Rainer Werner Fassbinder chocou censores ao retratar relações homoafetivas num ambiente de exploração, classe e vulnerabilidade. Muitos exibidores recusaram o filme; críticos conservadores pediram sua proibição.
Franz “Fox” Biberkopf, vivido por Rainer Werner Fassbinder, é um homem simples que se apaixona por Eugen, interpretado por Peter Chatel, um parceiro que explora sua vulnerabilidade após ele ganhar na loteria.
A violência do filme foi lida como metáfora do autoritarismo moderno, e seu radicalismo estético fez com que críticos debatessem por décadas se se trata de arte política ou provocação extrema.
A violência do filme foi lida como metáfora do autoritarismo moderno, e seu radicalismo estético fez com que críticos debatessem por décadas se se trata de arte política ou provocação extrema.
8. Sebastiane (1976)
Título em português: Sebastiane

O filme mais abertamente homoerótico de Derek Jarman. O martírio de São Sebastião é reinterpretado como êxtase queer e sensualidade masculina. Filmado em latim vulgar, repleto de nudez e iconografia religiosa homoerótica.
O santo, interpretado por Leonardo Treviglio, é um soldado cuja beleza e espiritualidade despertam o desejo do comandante Severus (Barney James) e dos demais soldados, criando tensão erótica e religiosa.
Foi banido em Irlanda e Itália, sofreu cortes na Grã-Bretanha e teve cópias apreendidas pela polícia em Londres. Hoje é considerado o início do cinema queer radical europeu.
A obra também denunciou a desigualdade dentro da própria comunidade gay, mostrando como preconceitos de classe sobreviviam mesmo entre pessoas marginalizadas. Isso fez do filme um marco do realismo queer.
9. Je, tu, il, elle (1974)
Título em português: Eu, Tu, Ele, Ela

Chantal Akerman rompeu todas as regras ao dirigir e atuar em um filme sobre desejo feminino. Traz uma das cenas de sexo lésbico mais longas e explícitas já filmadas — cerca de 20 minutos, em planos estáticos e nada voyeurísticos.
A personagem Julie, interpretada pela própria diretora Chantal Akerman, vagueia até reencontrar sua ex-amante, interpretada por Claire Wauthion, com quem vive uma intensa reconciliação erótica.
Foi banido em vários países e exibido apenas em museus nos EUA. Hoje é clássico absoluto do cinema feminista e queer.
A radicalidade linguística e visual de Jarman transformou o filme em manifesto — um ataque direto à repressão religiosa e moral que moldava a sexualidade na Europa.
Foi banido em vários países e exibido apenas em museus nos EUA. Hoje é clássico absoluto do cinema feminista e queer.
A radicalidade linguística e visual de Jarman transformou o filme em manifesto — um ataque direto à repressão religiosa e moral que moldava a sexualidade na Europa.
10. Fire (1996)
Título em português: Fogo e Desejo

Primeiro filme comercial da Índia a retratar um relacionamento lésbico. Gerou revolta nacionalista, ataques físicos a cinemas, protestos religiosos e debates parlamentares.
Radha (interpretada por Shabana Azmi) e Sita (interpretada por Nandita Das) desenvolvem um relacionamento amoroso enquanto vivem em casamentos opressivos na Índia tradicional.
Após batalhas judiciais, foi exibido com classificação adulta. Em 2018, quando a Índia revogou leis anti-LGBT, juristas citaram “Fire” como obra cultural que ajudou a mudar consciências.
Após batalhas judiciais, foi exibido com classificação adulta. Em 2018, quando a Índia revogou leis anti-LGBT, juristas citaram “Fire” como obra cultural que ajudou a mudar consciências.
A obra também questiona a linguagem do próprio cinema: o corpo feminino não é objeto, mas sujeito do desejo, e a mise-en-scène minimalista virou referência internacional.
11. Personal Best (1982)
Título em português: Lado a Lado
11. Personal Best (1982)
Título em português: Lado a Lado

Drama esportivo sobre duas atletas que se apaixonam. Inovou ao mostrar corpos femininos como fortes, potentes e desejantes. Cinemas se recusaram a exibir o filme; vários países exigiram cortes por “excesso de erotismo entre mulheres atletas”.
Duas atletas, Chris Cahill (Mariel Hemingway) e Tory Skinner (Patrice Donnelly), vivem um romance enquanto tentam equilibrar ambição esportiva, disciplina e afeto durante o treinamento olímpico.
Hoje é celebrado como precursor da representação queer no esporte.
Hoje é celebrado como precursor da representação queer no esporte.
O filme também ampliou o debate sobre direitos das mulheres na Índia, conectando opressão patriarcal, casamento arranjado e autonomia afetiva.
12. Cruising (1980)
Título em português: Parceiros da Noite
12. Cruising (1980)
Título em português: Parceiros da Noite

Retrato polêmico do submundo gay de Nova York. Grupos LGBT protestaram na época temendo reforço de estigmas, enquanto conservadores queriam banir o filme por “imoralidade”.
O policial infiltrado Steve Burns, interpretado por Al Pacino, investiga assassinatos em clubes leather, envolvendo-se com frequentadores queer como Ted Bailey, vivido por Don Scardino, e outros homens da cena underground.
Também desmontou o mito de que mulheres fortes precisavam ser sexualmente “neutralizadas” no cinema, algo comum em Hollywood até então.
13. Querelle (1982)
13. Querelle (1982)

O marinheiro Querelle, interpretado por Brad Davis, envolve-se sexual e emocionalmente com vários homens, incluindo o estalajadeiro Nono (Günther Kaufmann) e o policial Mario (Burkhard Driest), em uma trama de desejo e traição.
Com o passar dos anos, o filme se tornou documento histórico raro do pré-HIV, registrando ambientes da cena leather que desapareceriam poucos anos depois.
14. Paris Is Burning (1990)

Documentário sobre o ballroom queer de Nova York. Enfrentou pressões morais, censura e tentativas de proibição em estados norte-americanos conservadores pela presença de pessoas trans, drags e cultura negra. Os participantes queer interpretam a si mesmos, incluindo Pepper LaBeija, Dorian Corey, Venus Xtravaganza e Willi Ninja, revelando suas vidas na cena ballroom de Nova York.
Com visual expressionista e atmosfera de sonho, Querelle redefiniu a estética queer dos anos 80 e virou obra cult após a morte prematura de Fassbinder.
15. Happy Together (1997)
Título em português: Feliz Juntos

Wong Kar-wai retrata o amor tumultuado entre dois homens de Hong Kong vivendo na Argentina. Enfrentou censura e cortes na China e em outros países asiáticos.
O casal Ho Po-wing, interpretado por Leslie Cheung, e Lai Yiu-fai, vivido por Tony Leung Chiu-wai, tenta reconstruir a relação na Argentina, mas enfrenta rupturas, reconciliações e um amor que se torna insustentável.
O filme se tornou referência global de cultura ballroom, influenciando moda, música e debates sobre apropriação cultural, especialmente após o surgimento de voguing na mídia mainstream.
O filme se tornou referência global de cultura ballroom, influenciando moda, música e debates sobre apropriação cultural, especialmente após o surgimento de voguing na mídia mainstream.
O cinema queer sempre abriu caminho na base da coragem
Esses 15 filmes foram atacados, banidos, mutilados por censores, criticados por religiosos, ignorados por distribuidores e usados como arma política.
Mas sobreviveram. E hoje inspiram novas gerações.
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