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O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?


O que a xenofobia judaica tem a ver com a homofobia dos três principais monoteísmos?




Por Sergio Viula
Originalmente publicado no AASA

Com vistas a criar e manter uma identidade nacional, os judeus recorreram ao conceito de raça eleita. Entretanto, a simples ideia de que Jeová teria escolhido Abraão, seu filho Isaque e seu neto Jacó para darem origem a um povo separado – significado primordial da palavra santo – já colocava o povo judeu em contraposição a todo e qualquer povo que não fosse judeu, obviamente.
Porque és povo santo ao Senhor teu Deus; e o Senhor te escolheu, de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe seres o seu próprio povo. Deuteronômio 14:2
O desprezo pelo não judeu, ou seja, o gentio, aquele que é de outras gentes da terra, fica claro quando Jeová proíbe que os judeus comam animal que morra espontaneamente, mas permite que os judeus o sirvam como alimento ao estrangeiro ou o vendam a este:
Não comereis nenhum animal morto; ao estrangeiro, que está dentro das tuas portas, o darás a comer, ou o venderás ao estranho, porquanto és povo santo ao Senhor teu Deus. (…) Deuteronômio 14:21
A preocupação dos escritores bíblicos era sempre a de que os judeus agissem de modo diferente, não necessariamente melhor, que os povos ao seu redor. De fato, muitas leis judaicas eram extremamente cruéis e tendenciosas. Mas, Moisés e a classe sacerdotal fazia questão que seus súditos fossem fiéis aos estatutos de Jeová, afinal essa era a garantia de que suas despensas estariam sempre cheias e prole alimentada, uma vez que eles comiam das oferendas feitas no tabernáculo e, mais adiante, no templo de Salomão. O trabalho dos sacerdotes e seus assistentes era intermediar os sacrifícios. E no caso de ofertas pacíficas, ou seja, que não fossem holocaustos, eles ganhavam uma parte. O grifo é meu:
Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quem oferecer ao Senhor o seu sacrifício pacífico, trará a sua oferta ao Senhor do seu sacrifício pacífico.
As suas próprias mãos trarão as ofertas queimadas do Senhor; a gordura do peito com o peito trará para movê-lo por oferta movida perante o Senhor. E o sacerdote queimará a gordura sobre o altar,porém o peito será de Arão e de seus filhos. 
Levítico 7:28-31
Sobre a exigência de que os judeus mantivessem hábitos e costumes diferentes dos povos ao redor, Moisés diz o seguinte:
Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Levítico 18:3
Israel, nome que um anjo supostamente teria dado a Jacó – afinal, era melhor ser chamado de “aquele que luta com Deus e prevalece” (Israel) do que “suplantador”, “usurpador” (Jacó) – veio a ser o nome do povo exclusivo de Deus; exclusividade da qual só os judeus se gabavam. Agora, imagine um povo supostamente santo, ou seja, separado dos demais para a glória de Jeová, cujo nome, cada vez que fosse mencionado, trouxesse à mente a ideia de quem tenta “furar fila”, “passar à frente”, “tomar o lugar de outro”. Não admira que tenham inventado essa história de Jacó lutando com anjo.
Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. Gênesis 32:28
Foi essa mentalidade separatista, um verdadeiro apartheidinternacional e inter-racial, de outros povos que gerou uma moral exterminadora das diferenças na teoria e na práxis judaica. Até, porque Israel não tinha território. As terras que eles estavam para invadir e usurpar (ah, Jacó!) eram de outros povos, instalados ali havia séculos. Vejamos o caso emblemático dos midianitas. Vejam que nenhum daqueles homens sobrou:
E pelejaram contra os midianitas, como o Senhor ordenara a Moisés; e mataram a todos os homens. Números 31:7
Só teve um problema: Os guerreiros de Israel pouparam as mulheres e as crianças. Moisés e o sacerdote Eleazar reprovaram esse ato de “misericórdia”, que não era tão bondoso assim. Na verdade, o interesse era de ordem sexual e escravagista. Mas, de novo, o temor de Moisés e do sacerdote Eleazar era que as mulheres ensinassem os filhos e as filhas de Israel a viverem como os filhos e as filhas de Midiã. Então, a ordem de Moisés foi clara:
Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós. Números 31:17-18
Esse “deixai-as viver para vós” significava literalmente que os homens de Israel poderiam desvirginar as meninas midianitas. Será que isso parece humanista o suficiente para você? Bem, não deveria.
O mais irônico é que o próprio Moisés, quando fugia do Egito, casou-se com Zípora, uma mulher midianita, filha de um sacerdote de Midiã chamado Reuel. Nem isso demoveria o sanguinário Moisés de praticar tanta violência contra o povo de sua própria esposa e de seu sogro, a quem ele devia a vida, pois foi ele quem o acolhera no meio do deserto quando fugia do Egito depois de matar um egípcio que maltratava um hebreu. Ah, e só para constar, seu primeiro filho, Gérson, também nasceu na terra de Midiã. (Êxodo 2:1-25)
Esse ato de poupar as virgens para uso próprio colaborou para fortalecer a ideia de que virgindade é símbolo de pureza. Se elas são consideradas mais puras porque são virgens, então, a abstinência sexual é uma forma de santidade. Não demora muito e logo se deriva daí que o ato sexual deve ser praticado dentro de limites muito rígidos e claramente estabelecidos pela lei mosaica. Mas outros aspectos da vida dos judeus não deixavam de ser afetados pela ascese javista: a dieta, a indumentária, a higiene pessoal, a quem a mãe deu à luz – menino ou menina. Sim, porque até isso entrava na lista de impurezas.
Aqui está o que diz Levítico 12:2-8. As partes em colchetes são comentários meus.
Fala aos filhos de Israel, dizendo: Se uma mulher conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda.
E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio.
[Entenda-se por “dias da separação da sua enfermidade” os dias do seu ciclo menstrual. Vejam que a menstruação era considerada uma terrível impureza e o parto também. Maria fez cumpriu todas essas exigências quando teve Jesus. Era ela imunda? A Igreja Católica diz que ela era virgem antes do parto, permanecendo virgem depois dele – imaculada, ou seja, sem mancha, impureza ou pecado. Contudo, ela seguiu esse procedimento com relação a si mesma e ao menino Jesus, ispis letteris. E agora, José?]
Depois ficará ela trinta e três dias no sangue da sua purificação; nenhuma coisa santa tocará e não entrará no santuário até que se cumpram os dias da sua purificação.
[Mulher em resguardo, assim como a menstruada, não participava de culto, nada de missa, nada de igreja. Você conhece alguma que siga isso hoje? Obviamente, não. Quando ficam em casa, fazem-no por conveniência, não por ascese.]
Mas, se der à luz uma menina será imunda duas semanas, como na sua separação; depois ficará sessenta e seis dias no sangue da sua purificação.
[Ou seja, se a infeliz da parturiente tivesse um filho macho, ficava imunda metade do tempo: uma semana. Mas se tivesse uma fêmea, ficava imunda por duas semanas. As meninas já nasciam rotuladas como sendo um fardo maior que os meninos.]
E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote.
[A rola é o pássaro, hein, gente! Não tem nada a ver com a rola do marido. Piadinhas à parte, esses animais eram sacrificados de modo muito semelhante aos costumes de vários povos ao redor, inclusive os africanos que sacrificam aos Orixás. Nisso, Jeová não era tão diferente dos demais Deuses, mas a oferta tinha que ser feita no tabernáculo – em qualquer outro lugar seria abominação – e realizada por um sacerdote da família de Arão, irmão de Moisés, de acordo com as prescrições para esses holocaustos no Levítico. No final das contas, muito furdunço para nada!]
O qual o oferecerá perante o Senhor, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz menino ou menina.
[A mulher só se tornava limpa de novo depois desse sacrifício de sangue. Cada vez que uma judia paria, vários animais morriam. O que tem o Flu com as valsas? kkk]
Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa.
[Como Maria e José eram pobres, foi exatamente essa oferta que eles fizeram, como se vê em Lucas 2:21-24: “E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos.” ]
Na tentativa de separar Israel dos outros povos e seus costumes, Moisés chamou de abominação coisas tão díspares quanto comida e sexo, principalmente porque os costumes desses povos estavam geralmente associados ao culto a outros Deuses – e cultuar outros Deuses significava prestar obediência a outros sacerdotes, videntes, oráculos que não os da tribo de Levi, que não por coincidência era justamente a tribo de Moisés, Arão e Miriã – todos filhos de Joquebede, como dizem os livros de Êxodo 6:26 e de Números:
E o nome da mulher de Anrão era Joquebede, filha de Levi, a qual nasceu a Levi no Egito; e de Anrão ela teve Arão, e Moisés, e Miriã, irmã deles. Números 26:59
Vejamos alguns exemplos de abominação segundo a lei mosaica:
Todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, será para vós uma abominação. Levítico 11:20
[Mas, espere um momento: não existem insetos de quatro patas. Moisés precisava ter prestado mais atenção às aulas de biologia. Pior que ele repetiu isso três versículos adiante, em Levítico 11:23]
Todo o [peixe] que não tem barbatanas ou escamas, nas águas, será para vós abominação. Levítico 11:12
[Filé de cação é abominação, hein, galera!]
Mas todo o que não tem barbatanas, nem escamas, nos mares e nos rios, todo o réptil das águas, e todo o ser vivente que há nas águas, estes serão para vós abominação. Levítico 11:10
[Casquinha de siri, risoto de camarão, moqueca de arraia, entre outras iguarias deliciosas da culinária brasileira, são abominações. Povo capixaba, baiano, carioca, cearense está todo perdido. Amazonense, paraense e outros povos que vivem perto de grandes rios e no pantanal estão lascados, porque o que eles já comeram de peixe sem escama na vida não está no gibi –tudo abominação!]
Também todo o réptil, que se arrasta sobre a terra, será abominação; não se comerá. Levítico 11:41
[Quem já comeu cobra está roubado.]
Não sacrificarás ao SENHOR teu Deus, boi ou gado miúdo em que haja defeito ou alguma coisa má; pois abominação é ao SENHOR teu Deus. Deuteronômio 17:1
[Boi manco, bode cego, só para citar dois exemplos, eram abominação, mas não foi Deus quem os fez assim? Vai entender…]
As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, nem os tomarás para ti, para que não te enlaces neles; pois abominação é ao Senhor teu Deus. Deuteronômio 7:25
[Ah, os bons católicos espanhóis que se apoderaram do ouro, da prata e das pedras preciosas que compunham as esculturas de deuses astecas, maias e incas! Eles não imaginavam que até esses metais e pedras preciosas eram abominação. E tem muito desse ouro nas próprias igrejas da Santa Madre, inclusive no Vaticano.]
Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles. Levítico 20:13
[Ah, observem que a palavra abominação que os crentes de hoje tanto gostam de atribuir às relações homossexuais era a mesma usada se referir ao camarão, ao siri e à arraia? Detalhe: Vejam que não há menção às mulheres que se deitam com outras mulheres como se fossem homens. A questão primordial aqui era a homoafetividade (termo que eles desconheciam completamente). A questão era de outra ordem: a preocupação era com o “desperdício” de sêmen. Sobre isso, recomendo a leitura de uma post meu no Blog Fora do Armário - http://www.foradoarmario.net/2014/11/de-onde-vem-o-odio-de-cristaos.html.]
Não trarás o salário da prostituta nem preço de um sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto; porque ambos são igualmente abominação ao Senhor teu Deus. Deuteronômio 23:18
[Aqui a prostituta e o sodomita são postos juntos, porque a única noção que os judeus tinham das relações entre homens era a da prostituição motivada por interesses econômicos ou prostituição ritual, inclusive masculina, durante os cultos aos Deuses da fertilidade. De novo, Jeová não admite concorrentes.]
Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é. Levítico 18:23
[Auto láááá! A palavra para o sexo com animais é simplesmente confusão. O quêêêê??? Vejam o meu grifo lá. Quer dizer que oferecer um bezerro manco é abominação, mas trepar com ele é só confusão?? E tem gente que leva a sério essa joça?]
Bem, voltando à premissa básica desse artigo, tudo o que Israel fez para se diferenciar de outros povos poderia ser considerado hoje como tendo sido motivado por xenofobia. Não foi mero etnocentrismo, porque não se trata apenas de julgar outras culturas a partir da sua, o que já é suficientemente problemático, mas de exterminar todo modo de viver que não se encaixe na paranoia mosaica.
O cristianismo e o islamismo, crias não desejadas do judaísmo, têm seguido essa mesma linha no que diz respeito à sexualidade, especialmente à homossexualidade. Felizmente, percebendo a insensatez das interpretações literais desses textos, com aplicações diretas sobre os direitos civis de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), muitos rabinos têm tomado uma posição pró-casamento igualitário. Transcrevo abaixo um texto que eu considero muito interessante para essa discussão. O artigo é de autoria de Ivan Paulo Salgado sobre isso, postado no site deconchinha (http://deconchinha.com/index.php/religiao/99-a-homossexualidade-sob-a-perspectiva-do-judaismo):
A ação menos controversa e mais comum tomada pelos reconstrucionistas, conservadores, e os reformistas é apoiar a igualdade civil para gays e lésbicas. O CCAR, Conselho Rabínico Reformista, a partir 1977, passou a descriminalizar o sexo homossexual e acabou com toda a discriminação baseada na orientação sexual.
Mas como contornar a proibição aparentemente inequívoca bíblica contra a homossexualidade? Muitos que procuram estabelecer plenos direitos religiosos para gays e lésbicas apontam a natureza involuntária da homossexualidade. Os halakhic (legalistas) acreditam que como a homossexualidade se refere a alguém que, embora ordenado a fazer algo, realmente não consiga obedecer. Como no judaísmo, só se pode responsabilizar uma pessoa quanto a suas obrigações religiosas se ela pode livremente optar por cumprir. Assim, algumas autoridades judaicas argumentam que a homossexualidade não é escolhida, assim não pode ser proibida.
Na verdade, o movimento da Reforma do Judaísmo não condena o sexo homossexual, e as pessoas abertamente homossexuais são elegíveis para admissão em escolas rabínicas. Além disso, o movimento de Reforma aprova cerimônias rabínicas de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, eles não consideram o casamento homossexual como equivalente ao casamento heterossexual. Considerando que o casamento heterossexual é referido como Kiddushin (palavra hebraica para santo). Mesmo assim há rabinos que aplicam este termo para relações homossexuais.
Daniel Siegel, o diretor da escola rabínica ALEPH argumenta que Aliança para a Renovação Judaica, aprovou o casamento homossexual especificamente porque que a santidade não deve ser limitada apenas a certas pessoas e a determinadas relações. No Judaísmo reconstrucionista, o casamento homossexual é considerado um valor religioso. Usando esse princípio como ponto de partida, Rebecca Alpert argumentou que a recusa do governo israelense em reconhecer o casamento homossexual viola as liberdades religiosas.
Alguns rabinos do movimento conservador também se apoiam no conceito de que um indivíduo não tem nenhuma escolha real quanto ao sexo homossexual. Em dezembro de 2006, Comitê do Movimento Conservador aprovou duas teshuvot (posições) contraditórias sobre a homossexualidade. Rabinos, sinagogas e outras instituições conservadoras podem não permitir cerimônias de casamento homossexuais e não contratar rabinos ou cantores abertamente gays ou lésbicas. Por outro lado, podem simplesmente optar por fazê-lo. Ambas as posições são consideradas válidas.
Nos últimos anos, tem havido uma maior consciência da presença de gays e lésbicas nas tradicionais comunidades judaicas. Numerosas organizações e grupos de apoio existem para gays que estão interessados em manter um estilo de vida tradicional judaica. Steven Greenberg, rabino ortodoxo, educador e gay escreve e ministra palestras sobre as possibilidades de gays e lésbicas na comunidade ortodoxa. Finalmente, o documentário “Trembling Before G-d” (Tremendo perante Deus), sobre gays judeus ortodoxos, teve um impacto significativo no aumento da consciência sobre a homossexualidade no mundo ortodoxo Judeu.
Gostaria de ressaltar, antes de encerrar, que este movimento pró-revisão e pró-inclusão também está se dando nos dois outros monoteísmos: o cristianismo e o islamismo. Basta, a título de exemplificação, citar a Igreja Anglicana na Inglaterra, a Igreja da Escócia (de linha presbiteriana) e a Igreja Presbiteriana dos EUA. Mas há outras, especialmente aquelas criadas com uma visão inclusiva desde o final da década de 60, como é o caso daMetropolitan Community Church, fundada por Troy Perry.
Entre os islâmicos, esse movimento ainda é muito embrionário, mas sinaliza que há uma demanda interna, muitas vezes silenciada a ferro e fogo. Vejam a reportagem Paris terá primeira mesquita na Europa aberta aos homossexuais (http://www.portugues.rfi.fr/europa/20121129-paris-tera-primeira-mesquita-na-europa-aberta-gays-e-feministas). E também uma postagem de abril de 2012, no Blog Fora do Armário (http://www.foradoarmario.net/2012/04/categorias-artigos-baladas-babados.html) que reproduzia notícia sobre o casamento de dois homens, realizado por um imã numa cerimônia íntima.
Isso acontece porque nenhuma dessas religiões é um bloco monolítico. Existem judeus, cristãos e muçulmanos progressistas e secularizados o suficiente para quererem reformas baseadas em princípios humanistas. Já os literalistas não são sempre tão literalistas assim. Eles ignoram tudo o que consideram conveniente ignorar. Um exemplo interessante é a proibição mosaica de que pessoas com necessidades especiais sejam sacerdotes, pastores ou o que o valha. O legislador foi muito claro em Levítico 21:17-20:
Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus.
[Oferecer o pão do seu Deus = exercer o sacerdócio no tabernáculo.]
Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos,
[Homens com necessidades especiais não podem ser sacerdotes, segundo a lei mosaica. Mas, um momento… nariz chato é defeito? Quem é padre ou pastor africano ou afrodescendente, dá um glória a Deus aí! E o que a mulherada está fazendo no pastorado e no sacerdócio de algumas igrejas protestantes? Moisés jamais autorizou mulheres no ministério sacerdotal. Eita, religião machista do cacete, literalmente.]
Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado.
[Testículo??? O que isso tem a ver com o exercício do sacerdócio? Pastor com vitiligo também está perdido, porque isso era visto como defeito impeditivo. Ué, anão não pode ser sacerdote ou pastor? Outra coisa, eu conheço pastor corcunda numa igreja neopentecostal que eu frequentei quando era novo convertido. E agora?]
A desculpa que eles usam quando alguém cita essas passagens absurdas é que isso fazia parte da velha aliança. Segundo eles, o sacrifício de Cristo – veja a necessidade de sempre se matar alguém para obter o favor divino, e mesmo que Cristo tenha sido o último, lá está a Eucaristia para renovar o horror da crucificação a cada missa ou culto – aboliu tudo isso ou quase tudo, porque quando se trata de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, eles querem manter o veto e expandi-lo para as lésbicas que nem sequer são citadas ali. Além disso, os conceitos contemporâneos de homossexualidade, direitos civis, casamento igualitário e famílias homoparentais são coisas com as quais Moisés nem sonhava, e que pertencem a uma moral e a uma ética que Moisés seria incapaz de conceber.
Todavia, seus sucessores tentam tornar tudo isso menos estúpido num mundo muito mais esclarecido do que aquele em que escravos supersticiosos passaram a invasores inflados pela crença de que eram o povo de propriedade exclusiva de Deus que podia matar, saquear, escravizar e fazer muitas outras coisasnada abomináveis (#sóquenão), desde que fosse para a maior glória de Jeová e para o fortalecimento do único povo portador de sua revelação – os próprios judeus.
De fato, há muita coisa a ser resgatada nesse passado (não tão distante) horripilante e cruel do judaísmo e de seus dois robustos filhotes, o cristianismo e o islamismo, mas eu prefiro deixar os mortos enterrarem seus próprios mortos, porque vive mais leve quem carrega menos peso. E religião, em última análise, é peso morto. Há, contudo, pessoas LGBT que encontram caminhos religiosos não castradores da sexodiversidade ou das identidades transgêneras. Algumas têm trabalhado duro para mudar a cara feia dos três grandes monoteísmos, bem como de religiões animistas ou politeístas que porventura tenham bebido em fontes homofóbicas e transfóbicas ao longo dos séculos.
Na verdade, tudo isso faz parte do direito humano à liberdade de crença e de agremiação. Felizmente, porém, muitas pessoas LGBT cresceram como ateias e assim permanecem, havendo também aquelas que vieram a ser ateias a partir de sua própria experiência religiosa submetida ao crivo incontornável do ceticismo. Pessoalmente, figuro nesse último segmento, valendo dizer que qualquer condescendência minha para com a ideia de que Deus ou Deuses disseram isso ou aquilo se dá apenas para o bem do argumento que norteia esse artigo. Penso que falar com Deus não faz de ninguém um doido, mas se ele responder, procure um psiquiatra.
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Leia Em Busca de Mim Mesmo.
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Aberrações homofóbicas islamitas

Homossexual atirado de prédio em território dominado 
por extremistas muçulmanos do Estado Islâmico



Por Sergio Viula

Essa semana, um amigo me marcou numa postagem que falava sobre extremistas islâmicos enforcando homossexuais em países dominados pelo fanatismo muçulmano. A foto seguia mesma linha da foto acima. Deixei uma carinha de tristeza lá, mas não teci comentários. Afinal, não é de hoje que se sabe o que muçulmanos homofóbicos são capazes de fazer quando estão empoderados de alguma maneira, seja pelo viés do terrorismo paralelo ou da violência estatal ("terrorismo legalizado") em países dominados por imãs e aiatolás, só para citar dois.

Logo depois de eu ter dado uma carinha triste para a postagem, um muçulmano que se apresenta como "mais liberal" escreveu comentários que ignoravam o drama dessas pessoas perseguidas, enquanto tentava salvaguardar suas próprias crenças.

Depois de tentar tampar o sol com uma peneira - sem sucesso, para quem tem uma capacidade mínima de interpretação de texto - ele se valeu de um termo de semântica duvidosa: islamofobia. 

Não é de hoje que a estratégia de muitos muçulmanos é chamar de "islamofobia" qualquer sinal de questionamento a suas crenças ou qualquer denúncia feita contra as [cruéis] violações praticadas contra os direitos básicos dos indivíduos, desde que realizadas em nome de Alá e de seu profeta. Fizeram isso quando tentaram minimizar o ataque terrorista à sede do semanário Charlie Hebdo. E não foi apenas nesse caso.

O absurdo dessa tentativa de silenciamento

O que eles não percebem é que isso equivale a tentar desviar a atenção de um flagrante estupro, alegando que acusar o criminoso é um mero ato de misandria.

Aos que possam ignorar o significado de misandria, trata-se do deprezo ou ódio ao que é masculino por si só.

Não é difícil entender a analogia. Esconder a hediondez do ato do estuprador recorrendo à misandria como cortina de fumaça é um absurdo inaceitável. Por si só, ele já desqualifica o indivíduo que se vale dele. 

Pois bem, quando alguém alega que uma justa e necessária denúncia de violação aos direitos humanos não passa de um ato de islamofobia, essa pessoa pode e deve ser imediatamente posta sob suspeição, tanto em relação à sua intencionalidade como em termos de sua estratégia de argumentação. 

Apesar de ter pensado nessas coisas e ter comentado algumas delas com o amigo que me marcara na postagem, decidi não perder meu tempo com o tal muçulmano autodeclarado mais "equilibrado" ou "progressista", que preferiu acusar o Brasil e o México de matarem mais homossexuais do que qualquer país islâmico, em vez de condenar a homofobia estatal praticada com o apoio do aparato jurídico nesses países muçulmanos

E não são poucos os países nos quais pessoas LGBT vivem em constante ameaça sob todos os pontos de vista. O cinturão islâmico vai do norte da África até o Oriente Médio, estendendo-se para o sul e para o norte da Ásia, uma vez que muitas ex-repúblicas soviéticas são majoritariamente muçulmanas e são governadas por extremistas como Razman Kadyrov, responsável pelo sobejamente conhecido "expurgo gay" (https://theintercept.com/2020/07/11/chechenia-exterminio-homossexuais/) denunciado pelos principais jornais do mundo.


Todos os países em verde são dominados pela religião islâmica e por governos islâmicos



Além de não se solidarizar incondicionalmente com os enforcados e atirados de prédios naquela postagem, o tal muçulmano "mais progressista" ignorou outros pontos quando tentou usar o mau exemplo das sociedades mexicana e brasileira para desviar a atenção do tema central da postagem. 

E por que digo isso? 

Porque se você for alvo de homofobia ou transofobia no Brasil ou no México, que são sociedades secularizadas e com vários direitos garantidos aos cidadãos LGBT por meio da lei ou da jurisprudência, você poderá recorrer à polícia e ao sistema jurídico contra os crimes motivados por esse tipo ódio - o que não acontece nos países islâmicos, onde os cidadãos LGBT, especialmente os homens gays, são presos imediatamente se forem a uma delegacia reportar qualquer violência sofrida por homofobia ou transfobia. 

Isso ocorre em países islâmicos porque as leis vigentes ali determinam que tais pessoas, se identificadas, sejam presas e castigadas. Não é preciso ser muito inteligente para ver a diferença; basta não ser um completo hipócrita.

Com a intenção de alertar o meu amigo, comentei os seguintes pontos em mensagem privada:
 
"Não espere de muçulmanos devotos ou de pessoas muito simpatizantes ao islamismo qualquer parceria contra o totalitarismo islâmico. Eles vão deixar de lado o papo sobre o totalitarismo e vão focar no que eles gostam de chamar de islamofobia, que é o jeito mais fácil de calar quem disser que o Islã tem homofobia, sim."

E acrescentei: "Eu condeno esses livros e todas as escrituras de tradição que eles têm como sendo fábulas perigosas sobre as quais se pode construir muito fascismo."

Faço um adendo: Estou me referindo ao islamismo aqui por ser este o tema da discussão, mas isso vale para o cristianismo e o judaísmo também. Aliás, todo e qualquer progressismo ou liberalismo nos três monoteísmos aí citados deve-se ao secularismo e ao humanismo secular, não aos profetas e/ou messias que tenham dado origem ou sido o tema dos escritos sagrados dessas religiões.

Dez países muçulmanos condenam pessoas homossexuais à pena de morte. São eles: 

1. Iêmen
2. Irã
3. Iraque
4. Arábia Saudita
5. Mauritânia
6. Qatar
7. Nigéria
8. Somália
9. Sudão
10. Emirados Árabes

Em todos esses países, a condenação à morte está nas próprias leis que regem cada uma dessas nações. Não se trata de terrorismo do Estado Islâmico como organização usurpadora de poder político. Trata-se de governos reconhecidos mundialmente. Aliás, sobre o Estado Islâmico, vale lembrar que eles executam gays sob os aplausos dos "piedosos" seguidores de Alá e de seu profeta em muitos dos locais onde conseguem entrar (vide BBC - https://www.bbc.com/portuguese/internacional-36516950).


E as comunidades inclusivas?

Que bom que já existem uns pouquíssimo ambientes onde gays não serão decapitados, mas acolhidos sem a imposição de "modificarem" sua sexualidade. Porém, é preciso dizer que as comunidades religiosas consideradas mais progressistas que suas equivalentes mais tradicionais não estão isentas de uma série de discursos e comportamentos alienados em diversos pontos. 

Elas podem promover mais inclusão? Sim. Todavia, isso não as libera do compromisso de denunciarem abertamente os crimes praticados tanto pelo profeta a quem honram como por seus sucessores. 

Na verdade, muitas vezes, essas comunidades ditas inclusivas servem mais ao propósito de tornar as aberrações doutrinárias e históricas do islamismo mais palatáveis ao mundo secularizado do que ao propósito de expurgar os fundamentos desse ódio todo e de abolir outros comportamentos castradores das liberdades individuais, beneficiando os próprios muçulmanos com uma reforma radicalmente libertária.

A vida nunca será melhor se for construída sobre a fantasia

A fantasia pode servir aos propósitos do lúdico, do divertimento, mas se alguém leva a fantasia a sério, como se ela retratasse a realidade, essa pessoa vai labutar no erro. E isso vai trazer problemas sérios mais cedo ou mais tarde. 

As pessoas que colocam a fé acima de tudo, especialmente quando ela abrange todos os aspectos da vida, como é o caso da fé islâmica, judaica e cristã, sejam elas "progressistas" ou não, dificilmente priorizarão o conhecimento verdadeiro sobre a crença, quando o conhecimento disputar com o que elas consideram como fundamental para a preservação de sua própria fé. E isso é muito perigoso.

Outra coisa que muitos muçulmanos interessados em transformar a história do islamismo em algo mais palatável costumam fazer é alegar leniência por parte de Maomé para com alguns homossexuais que ele teria encontrado pelo caminho, ignorando os incontáveis homens gays que foram mortos exatamente por causa dele e de seus parentes e amigos mais próximos.


Havia homens que amavam outros homens no tempo de Maomé?


Mas é claro que sempre existiram gays nos territórios dominados pelos homens de Maomé. Disso, não resta dúvida. Recomendo a leitura do artigo "A história gay secreta do Islã" (https://asiaticospeladiversidadeblog.wordpress.com/2019/05/16/a-historia-gay-secreta-do-isla/). Isso, porém, não significa que o Islã seja inclusivo por si só. Pelo contrário, se o profeta preferido dos muçulmanos tivesse enfatizado que os homens poderiam amar homens ou mulheres e que as mulheres também poderiam amar mulheres ou homens com os mesmo direitos garantidos, não haveria espaço algum para a homofobia demonstrada por muçulmanos, individualmente, ou nacionalmente. É justamente porque aconteceu o contrário que tais coisas são viáveis nesses círculos valendo-se dos textos que eles consideram sagrados.


A história gay secreta do Islã:
https://asiaticospeladiversidadeblog.wordpress.com/2019/05/16/a-historia-gay-secreta-do-isla/


Além disso, faço questão de ressaltar que apenas transar aqui e ali com alguém do mesmo sexo não chega nem perto do ideal de direitos iguais a que aspiramos atualmente. Homens que conseguem encontrar outros homens para sexo ou até mesmo romance existem e resistem até nas piores sociedades do mundo em termos de violações aos Direitos Humanos. Isso, porém, pode custar-lhes a vida. O que queremos vai muito além disso. Queremos a plena igualdade de direitos com todas as liberdades civis garantidas.


Marcado outra vez numa dessas publicações

Hoje, fui marcado novamente numa dessas publicações, mas não pelo amigo que me marcara antes. Agora, trata-se de um homem gay e muçulmano muito engajado na defesa das crenças islâmicas. Transcrevo aqui a minha resposta, apenas poupando o nome de quem me marcou. 

O texto no qual ele me marcou foi escrito por alguém que procurava defender o "histórico de leniência" do fundador do Islã - o ilustre profeta Maomé. 

Minha resposta foi a seguinte:

Eu conheço a história de muitas culturas que eram amplamente tolerantes aos homossexuais antes de serem  influenciadas pelo islamismo, especialmente no norte da África. Porém, ressalto que qualquer liberdade sexual ali jamais se deveu ao islamismo em si. 

[Adendo: Ser tolerante não significa ser justo e igualitário. A ideia de tolerância pressupõe a ideia de que algo não é bom o suficiente para ser totalmente incluído, mas também não é ruim o suficiente para ser definitivamente extirpado. Tolerância não é suficiente.]

Na realidade, os homossexuais desfrutavam de muita liberdade para aquela época em várias dessas culturas antes das invasões maometanas, só passando a serem perseguidos por ordem dos líderes muçulmanos e de seus títeres.

Esse texto [no qual ele me marcara] sub-repticiamente tolera homofobia por parte do texto sagrado dos muçulmanos e de seu profeta em muitos sentidos. Alguns muçulmanos poderiam até achar que, nós gays, deveríamos ser gratos a Maomé lendo esse texto. Porém, a própria ideia de que Maomé decidia quem viveria e quem morreria já é um absurdo totalmente ridículo. E o que mais me espanta é o fato de muitos muçulmanos ficarem recorrendo a essas ideias de "leniência" por parte desses assassinos "sacralizados", em vez de combaterem frontalmente governos genocidas apoiados por líderes muçulmanos, mesquitas e pessoas comuns com ideias perigosamente incendiárias com relação aos seus concidadãos LGBT. 

Fico especialmente irritado quando muçulmanos gays defendem, de alguma maneira, esses bandidos homofóbicos como se tais criminosos possuíssem alguma luz que os dignificasse. 

Quando gays fazem isso em defesa de seus algozes, vejo um caso nítido da "síndrome de Estocolmo" - aquela que é caracterizada por uma relação de solidariedade entre o sequestrado e seus sequestradores. 

Nenhum homossexual, em qualquer lugar do mundo, teria o menor direito se o planeta fosse dominado pelo Islã. O texto escrito pelo tal muçulmano "progressista" presta um desserviço à história. Se, por um lado, devemos resgatar as histórias de amor entre homens e entre mulheres LGBT, por outro, precisamos preservar o REGISTRO HISTÓRICO DA PERSEGUIÇÃO ÀS LIBERDADES E DIREITOS SEXUAIS DAS PESSOAS LGBT por Maomé e seus sucessores. 

Além disso, se eu não tenho o menor apreço pelo cristianismo e suas lideranças [apesar de serem muito mais secularizados hoje do que o bloco islâmico], o que faz alguém pensar que eu vou ter o mínimo de tolerância com culturas e sistemas religiosos, políticos ou econômicos, baseados nessa visão ridiculamente primitiva do suposto profeta árabe e de seus seguidores?  

A própria ideia de submissão que já está na raiz da palavra Islã é uma contradição a tudo que eu defendo como liberdade e autonomia individuais.  





É justo reconhecer o direito de um muçulmano viver "livremente" a sua homossexualidade, apesar da sua religião, ou tentando harmonizar as duas.  E, diga-se de passagem, é o que eu faço quando eu vejo um cristão realizando a mesma compatibilização em relação a suas crenças e sua sexualidade. Isso, porém,  não significa que eu tenha o menor apreço pelo islamismo ou pelo cristianismo. Também não acho que este gay será tão pleno quanto ele seria se abandonasse tanto uma como outra religião.

Aliás, essa harmonização que permite que se tenha até mesmo vida pública assumida por um indivíduo gay e muçulmano ao mesmo tempo só é possível em países secularizados, ou seja aqueles cujos sistemas jurídico-político-econômicos encontram-se livres das garras do islamismo como tal.

Espero que eu tenha conseguido me fazer entender claramente nesse assunto, porque não vou entrar nesse joguinho de quem mata mais ou qual das duas religiões é a pior. Para mim, nenhuma das duas presta. Contudo, quem domina blocos inteiros no mundo, quase uniformemente e com tanta letalidade, é o islamismo. E isso não pode continuar a ser tolerado em nome de algum tipo de fábula antiga a respeito de Maomé ou de Alá.

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O meu comentário foi até aí. Postei hoje (03/04/21) por volta das 9:30 da manhã. Porém, ao procurar a postagem agora, às 17:22, não a encontrei mais. 

Provavelmente, o muçulmano muito 'resolvido' que escreveu o post ao qual me referi no comentário acima, ou o outro que me marcou, optou pelo meu silenciamento.  Na realidade, eles não resistem a uma discussão que não parta do princípio de que o Islã seja uma revelação divina e não uma construção humana que já custou e continua custando muito sangue humano.

De qualquer modo, eu já tinha copiado o texto do meu comentário para fazer essa postagem, só por via das dúvidas. E, para deixar claro de uma vez, repito que nenhuma divindade, texto, tradição ou ritual JAMAIS se colocará acima dos direitos individuais fundamentais de cada ser humano na minha estrutura de pensamento ou modus operandi.

O direito à crença ou à não-crença deve ser preservado, mas NENHUMA violência pode ser aceita com base no direito à liberdade de consciência. A vida e as liberdades que permitem sua preservação e autorrealização sempre virão em primeiro lugar.

Paris terá primeira mesquita na Europa aberta aos homossexuais

Paris terá primeira mesquita na Europa aberta aos homossexuais




Os homossexuais muçulmanos enfrentam o problema de encontrarem lugares de culto onde não tenham medo de serem discriminados.


Fonte: RFI
https://www.rfi.fr/pt/europa/20121129-paris-tera-primeira-mesquita-na-europa-aberta-gays-e-feministas


Paris vai ganhar nesta sexta-feira a primeira mesquita ultraprogressista da Europa. A sala de orações será instalada na casa de um monge budista na perifeira leste da capital francesa. A nova mesquita vai acolher homossexuais, transgêneros, transexuais e feministas. As mulheres serão encorajadas a conduzirem as orações. As autoridades muçulmanas da França condenam a iniciativa.

"Trata-se de uma mesquita radicalmente aberta, uma mesquita onde as pessoas podem vir como são", explica Ludovic-Mohamed Zahed, o iniciador do projeto. Para a primeira oração, nesta sexta-feira, o franco-argelino de 35 anos espera 20 muçulmanos.

Mas o número de fieis dessa mesquita atípica pode aumentar rapidamente, avalia esse pesquisador em antropologia e psicologia. Ele lembra que sua associação "Homossexuais Muçulmanos da França", que conta hoje com 325 integrantes, foi criada em 2010 com um pequeno grupo de 6 pessoas.

O monge budista zen Federico Joko Procopio, militante dos direitos dos homossexuais, bissexuais e transgêneros, empresta à mesquita uma sala de seu dojo (lugar dedicado à prática da meditação) por solidariedade. "Além dessa causa comum, há ainda o símbolo importante de uma religião que estende a mão para outra religião sobre um tema que é mais do que delicado", explicou ele.

Até agora, Ludovic-Mohamed Zahedrezava rezava toda sexta-feira junto com milhares de fieis na Grande Mesquita de Paris. Ele diz que apreciava o anonimato do local e o conteúdo, nunca político, dos sermões. Mas ele diz que esse tipo de combinação é raro e, mesmo misturados à multidão, certos indivíduos, transexuais em transição ou homens efeminados, são "detectados imediatamente". Seu objetivo então é oferecer um local a todos aqueles que poderiam não se sentir à vontade em lugares de culto tradicionais.

"Esse tipo de espaço faz falta na França", considera Lounès, de 38 anos, que prefere manter o anonimato. Ele está estudando atualmente para poder conduzir as orações na futura mesquita. "Há muitas pessoas que abandonam a religião porque encontram interlocutores violentos", diz.


Rejeição


Essa iniciativa não teve o apoio de nenhuma instituição muçulmana. Muitos imãs e personalidade do Islã na França acreditam que o projeto vai contra a religião.

"Há muçulmanos homossexuais, isso existe, mas abrir uma mesquita é uma aberração, porque a religião não é isso", avalia Abdallah Zekri, presidente do Observatório dos atos islamofóbicos, sob a autoridade do Conselho francês do Culto Muçulmano, instância oficial do Islã na França.

"Nós não culpabilizamos os homossexuais, mas não podemos conceder um lugar a essa prática a ponto de deixar que ela se torne um aspecto da sociedade", afirma Dalil Boubakeur, reitor da Grande Mesquita de Paris. Para ele, essa mesquita não poderá ser reconhecida. "É algo extracomunitário", diz.

Em pleno debate sobre o casamento homossexual, um projeto do governo que deve ser discutido no parlamento no início de 2013 e ao qual os representantes de todas as religiões monoteístas são contrários, a abertura dessa mesquita provoca debates acalorados.

Ainda mais que Ludovic-Mohamed Zahed, que se casou religiosamente em fevereiro com um outro homem - com o qual ele já tinha se casado no civil na África do sul - está associado a essa questão na mídia. No entanto, Zahed garante que "é uma coincidência do calendário". Além disso, esse novo espaço de oração, "que não é uma mesquita para gays", não tem como objetivo celebrar casamentos homossexuais. "Não precisamos de uma mesquita para isso."

Ludovic-Mohamed Zahed comemora o fato de ter começado a receber, além das ameaças, emails com encorajamentos e questões.


Islã para todos



Mesquitas abertas as todos os fieis já existem na África do Sul, nos Estados Unidos e no Canadá, mas a de Paris será a primeira na Europa. A associação "Muçulmanos por valores progressistas", lançada em 2007 nos Estados Unidos, recenseou cerca de dez lugares de culto similares na América do Norte.

"O objetivo desses muçulmanos que se autodenominam progressistas não é somente defender uma minoria sexual no contexto de uma interpretação do Islã que eles consideram intolerante e obsoleta a partir de sua experiência da discriminação", explica Florence Bergeaud-Blackler, pesquisadora do Instituto de Pesquisas e Esetudos sobre o Mundo Árabe e Muçulmano. "Eles querem reformar, promover um Islã que inclua valores progressistas", acrescenta.

Apesar de serem poucos, com cerca de 1.500 integrantes nos Estados Unidos, "Muçulmanos por valores progressistas" querem encarnar um "Islã alternativo". "Cada vez mais muçulmanos nos veem como os representantes do Islã do século 21", enfatiza Ani Zonneveld, presidente e co-fundadora da associação.

"Mesmo sendo ainda ultraminoritários e não tendo muito peso na paisagem religiosa muçulmana, eles fazem reflexões a partir de bases teológicas sólidas", aponta Florence Bergeaud-Blackler. Ela acredita que a mensagem deles tem um impacto que não pode ser negligenciado no campo religioso.

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