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A Religião é a Fraude Mais Duradoura da Humanidade

 A Religião é a Fraude Mais Duradoura da Humanidade




Transcrição (com subtítulos adicionados) deste vídeo publicado por Secularis (em inglês):



Religião já foi chamada de muitas coisas ao longo dos tempos, mas, em sua essência, funciona como a mais antiga fraude da história humana. Ela toma algo intangível, algo que ninguém pode provar, e o vende como se fosse a coisa mais certa e valiosa do mundo. Exige pagamento, obediência e lealdade em troca de promessas que não pode cumprir até depois da morte, quando ninguém pode verificá-las. Diferente de um golpista de rua, que desaparece após o golpe, a religião constrói uma instituição inteira para garantir que a fraude dure não apenas anos, mas gerações.

No coração de todo golpe existe um gancho. Para a religião, esse gancho é o medo: medo da morte, do castigo, de estar sozinho em um universo vasto e indiferente. As pessoas são ensinadas que, sem religião, estão perdidas, sem sentido e vulneráveis ao tormento eterno. Esse medo é combinado com uma solução exclusiva: apenas este deus específico, nesta fé específica, através destes rituais específicos pode salvar você. É a mesma tática de um fraudador que exagera ou inventa um problema e afirma que só ele pode protegê-lo.

A genialidade do esquema está no fato de não precisar mostrar resultados no presente. Um golpista que vende remédio falso pode ser desmascarado quando o produto não cura ninguém. Mas a religião promete suas recompensas após a morte, em um reino de onde ninguém pode voltar para dar testemunho. Isso a torna imune ao tipo de evidência que a desmentiria. É como vender ingressos para um espetáculo que só começa quando a plateia já não existe mais.

O fluxo constante de recursos

As religiões também dominam a arte de garantir fluxo constante de recursos. Pedem dinheiro não como transação, mas como dever sagrado: dízimos, ofertas, doações — todos apresentados como atos de devoção, não de troca financeira. E quanto mais alguém dá, mais lhe dizem que está provando sua fé. Nos sistemas religiosos mais bem-sucedidos, essa riqueza se acumula isenta de impostos, permitindo-lhes construir impérios, enquanto os fiéis são incentivados a se contentar com pouco. Não é apenas orientação espiritual, mas uma estrutura financeira projetada para extrair recursos de muitos e consolidá-los nas mãos de poucos.

A moralidade como disfarce

Um dos truques mais antigos do manual da religião é disfarçar-se de moralidade. Ao afirmar ser a fonte de todos os valores éticos, coloca-se como indispensável. Ensina-se que, sem ela, não haveria certo ou errado, justiça ou compaixão. É como um golpista convencendo você de que inventou a honestidade e, por isso, deve ser confiado totalmente. Na realidade, o comportamento moral existia muito antes da religião organizada e continua existindo em sociedades seculares que estão entre as mais éticas e pacíficas do mundo.

O controle da informação

O controle da informação também é chave para a sobrevivência da fraude. Em muitos períodos históricos, autoridades religiosas decidiram quais livros podiam ser lidos, quais ideias ensinadas e quais perguntas feitas. Quem desafiava os ensinamentos oficiais arriscava ser rotulado de herege, exilado, torturado ou morto. Ainda hoje, em alguns países, questionar dogmas religiosos pode resultar em prisão ou execução. Ao suprimir visões contrárias, a religião mantém um monopólio da verdade — não por prová-la, mas por silenciar o dissenso.

O que torna essa fraude tão eficaz é sua capacidade de adaptação. Quando a ciência refuta uma afirmação, a religião muitas vezes reinterpreta seus ensinamentos como se sempre tivesse significado aquilo. Essa mudança constante das regras impede os seguidores de perceber que o sistema estava errado desde o início. Assim, evita o colapso da mesma forma que um estelionatário habilidoso evita a prisão: mudando a história apenas o suficiente para se manter à frente da exposição.

O cerimonial como espetáculo "divino"


Os líderes religiosos também usam status e cerimônia para reforçar sua influência. Vestes elaboradas, arquitetura sagrada, títulos especiais e rituais ensaiados criam uma aura de autoridade. Esses símbolos transmitem a mensagem de que os líderes não são pessoas comuns, mas escolhidas, elevadas e ligadas ao divino. Esse espetáculo visual e emocional torna os fiéis menos propensos a questionar a autoridade, pois fazê-lo parece ser o mesmo que desafiar o divino.

Recrutamento e doutrinação

A estratégia de recrutamento é tão sofisticada quanto qualquer campanha moderna de marketing. A religião mira nas crianças, sabendo que crenças ensinadas cedo são as mais difíceis de questionar depois. Mentes jovens são moldadas por histórias, músicas e repetição, de modo que as mensagens centrais se tornam parte da identidade da pessoa. Quando chegam à vida adulta, questionar essas crenças parece trair a família, a comunidade e a si mesmos.

A genialidade da fraude está em convencer as pessoas a defendê-la por conta própria. Os mais explorados muitas vezes tornam-se seus protetores mais leais, atacando quem critica a fé. Fazem isso não porque tenham recebido provas sólidas, mas porque todo o seu modo de ver o mundo depende de manter a crença intacta. É o mesmo mecanismo psicológico visto em vítimas de golpes financeiros que se recusam a admitir que foram enganadas, mesmo diante de evidências.

A única religião certa

Outro elemento é a exclusividade. Muitas religiões ensinam que apenas elas possuem a verdade e que todas as outras são falsas. Isso cria um sentimento de especialidade nos crentes, mas também assegura divisão. As pessoas são menos propensas a se unir contra o sistema quando estão ocupadas vendo os de fora como inimigos. Essa estratégia de dividir para conquistar mantém a fraude funcionando mesmo quando religiões concorrentes compartilham a mesma falta básica de evidências.

A manipulação emocional vai além do medo: alcança também a esperança. Fiéis recebem promessas de justiça perfeita, felicidade eterna e reencontro com entes queridos — tudo no além. São desejos humanos poderosos que nenhum sistema pode garantir plenamente. A religião os explora, oferecendo certezas onde nenhuma existe. O preço desse consolo é obediência, conformidade e, muitas vezes, uma vida inteira de investimento financeiro e emocional.

Outro aspecto que sustenta essa fraude é a manipulação da culpa. As pessoas são ensinadas a acreditar que são fundamentalmente defeituosas, pecadoras por natureza, indignas de amor ou salvação sem a ajuda da religião. Essa mensagem corrosiva destrói a autoestima e cria dependência. A religião então se apresenta como a única fonte de perdão e redenção. É uma técnica clássica de manipulação psicológica: primeiro quebrar a confiança da vítima, depois oferecer-se como a única forma de reparo.

Em muitas tradições, até pensamentos são policiados. Não basta obedecer externamente; espera-se que o fiel controle seus desejos mais íntimos e até seus sonhos. A religião se infiltra nas áreas mais privadas da mente, exigindo pureza em nível impossível de alcançar. Quando as pessoas inevitavelmente falham, são incentivadas a se sentir culpadas e buscar ainda mais a religião para conforto. Isso cria um ciclo de autoperpetuação no qual o fracasso humano normal reforça o poder da instituição.

O mito da longevidade como prova

Além disso, a religião se beneficia de sua longevidade. O simples fato de uma tradição ter sobrevivido por séculos é usado como prova de sua verdade. Mas longevidade não valida uma afirmação. Fraudes podem durar indefinidamente se forem suficientemente bem estruturadas e se transmitirem de geração em geração. Muitos mitos antigos sobre deuses hoje parecem risíveis, mas por milhares de anos foram aceitos como verdades sagradas. A religião atual só parece diferente porque ainda é amplamente praticada; um dia, pode ocupar o mesmo espaço que as lendas antigas de deuses caídos em desuso.

O engodo da justiça final

Outro pilar do sucesso da fraude é a promessa de justiça final. Em um mundo onde a injustiça é frequente, a religião afirma que todo mal será corrigido em outra vida. Essa crença desvia a atenção da necessidade de lutar por justiça real aqui e agora. Se os pobres acreditam que sua recompensa virá no paraíso, são menos propensos a desafiar sistemas econômicos que os exploram. Se os oprimidos acreditam que seus opressores serão punidos no além, podem aceitar sofrimentos intoleráveis em vez de exigir mudança. A religião assim funciona como um amortecedor social, protegendo estruturas de poder contra revoltas.

Em algumas versões, a fraude vai ainda mais longe ao justificar atrocidades. Guerras, escravidão, genocídio e perseguição foram todos defendidos com base em autoridade religiosa. Quando líderes afirmam que suas ações contam com aprovação divina, conseguem fazer com que seguidores participem de atos que, de outra forma, pareceriam moralmente repulsivos. A fraude, portanto, não é apenas passiva, mas capaz de transformar sociedades inteiras em cúmplices de violência em nome de um mito.

A falácia do Deus das lacunas

A religião também tira proveito do mistério. Onde há lacunas no conhecimento humano, ela se insere como explicação. Antes de a ciência revelar causas naturais para relâmpagos, doenças ou movimento dos planetas, eram atribuídos aos deuses. À medida que o conhecimento avança, a religião recua, mas sempre encontra novos espaços de sombra para ocupar. Esse “Deus das lacunas” garante que a fraude nunca precise admitir derrota total, apenas redirecionar suas afirmações.

O senso de pertencimento como forma de aprisionamento

A força final dessa fraude é sua capacidade de oferecer identidade e comunidade. Pertencer a uma religião muitas vezes significa pertencer a uma família extensa de crentes que compartilham valores, costumes e um senso de propósito. Isso satisfaz necessidades sociais profundas, mas também funciona como uma forma de aprisionamento. Quando questionar a religião significa arriscar perder amigos, família e posição social, poucos ousam fazê-lo. Assim, a fraude se protege não apenas através da teologia, mas através da estrutura emocional e social que cria.

A falsa necessidade de religião

O aspecto mais insidioso da religião como fraude é sua habilidade de se apresentar não como uma escolha, mas como uma necessidade. Muitas pessoas crescem acreditando que rejeitar a religião é o mesmo que rejeitar a própria moralidade, identidade cultural ou até mesmo sua família. Isso transforma o ato de questionar a fé em algo que parece impensável, quase uma traição pessoal. Ao tornar-se inseparável da vida cotidiana, a fraude deixa de ser percebida como tal.

Supostas experiências com o divino ou o sobrenatural

Outro recurso poderoso é a apropriação de experiências pessoais intensas. Momentos de êxtase, tranquilidade profunda ou sentimentos de conexão podem ocorrer naturalmente em seres humanos por meio da música, meditação, arte ou até estados alterados de consciência. A religião reivindica essas experiências como prova de sua verdade exclusiva. Assim, sensações internas, que são fenômenos psicológicos e fisiológicos, são interpretadas como confirmação de dogmas. O que é apenas a mente humana funcionando de maneiras complexas é usado como evidência de uma intervenção sobrenatural.

A difamação da dúvida

A religião também se sustenta ao transformar dúvidas em pecados. Enquanto a busca por verdade normalmente valoriza o ceticismo, a religião muitas vezes retrata perguntas difíceis como perigosas ou proibidas. Isso transforma o processo natural de investigação em algo que deve ser reprimido. Ao estigmatizar a dúvida, garante-se que os seguidores permaneçam dentro dos limites estabelecidos, mesmo quando percebem contradições ou inconsistências. A fraude se mantém não porque seja convincente, mas porque questioná-la é condenado.

Religião e política

Em sociedades onde a religião tem poder político, sua fraude se consolida ainda mais. As instituições religiosas fazem alianças com governos, recebendo privilégios legais e proteção em troca de apoio moral às autoridades. Isso cria um círculo vicioso: o Estado legitima a religião, e a religião legitima o Estado. Juntas, reforçam a ideia de que obedecer tanto à lei quanto ao dogma é dever absoluto, esmagando alternativas ou dissidência.

Os rituais como técnica de condicionamento

A perpetuação da fraude religiosa também depende da repetição ritual. Orar diariamente, frequentar cultos semanais, jejuar em épocas específicas, participar de peregrinações — todos esses atos, repetidos ao longo da vida, reforçam crenças de forma automática. Mesmo quando o fiel não está refletindo sobre os dogmas, o simples ato de praticar constantemente cria um condicionamento profundo. A repetição transforma a crença em hábito e o hábito em certeza psicológica.

E quando tudo isso falha, há sempre a ameaça do castigo. Se recompensas celestiais não forem suficientes para manter os seguidores alinhados, punições infernais são apresentadas como o destino dos que duvidam ou se desviam. O medo de sofrimento eterno, retratado em detalhes vívidos em muitas tradições, é um dos dispositivos de coerção mais poderosos já inventados. Nenhuma prisão terrena pode competir com a ideia de tortura infinita. Assim, mesmo quando não há provas, a ameaça funciona como um grilhão invisível na mente do crente.

Ostracismo para quem abandona a religião

A fraude é tão bem estruturada que até as tentativas de sair dela podem reforçá-la. Quando alguém deixa a religião e experimenta dificuldades naturais da vida, essas dificuldades podem ser reinterpretadas como punição divina. Se, ao contrário, algo positivo acontece, pode ser visto como um teste ou um chamado para retornar. Em ambos os casos, a religião reivindica autoridade sobre os eventos, tornando quase impossível escapar de sua lógica circular.

Sublimação dos instintos mais nobres

Por fim, talvez a característica mais notável da religião como fraude seja sua capacidade de convencer pessoas inteligentes, compassivas e bem-intencionadas a defendê-la. Não é apenas um truque barato que engana ingênuos, mas um sistema refinado que explora os instintos humanos mais nobres: a busca por significado, a necessidade de pertencimento, o desejo de justiça. Esses impulsos legítimos são sequestrados e usados como combustível para uma estrutura que, em última análise, serve a interesses de poder e controle.

A religião como dispositivo cultural

Essa fraude monumental também encontra força em sua diversidade de formas. Religiões diferem em rituais, mitologias e símbolos, mas compartilham a mesma estrutura subjacente: a promessa de soluções sobrenaturais para problemas humanos. Essa diversidade permite que cada cultura tenha sua versão local da fraude, tornando-a mais fácil de aceitar. A pessoa pode rejeitar uma religião estrangeira como falsa, mas dificilmente questiona aquela em que nasceu, porque foi moldada desde cedo para vê-la como natural e inevitável.

Ao longo da história, a religião mostrou habilidade em se apropriar de avanços humanos para perpetuar sua influência. Festas pagãs foram convertidas em feriados religiosos. Costumes culturais foram rebatizados como tradições sagradas. Até descobertas científicas, quando não puderam mais ser negadas, foram reinterpretadas como compatíveis com antigas escrituras. Esse parasitismo cultural garante que a religião sempre encontre um espaço para sobreviver, mesmo em épocas de mudança.

Um dos aspectos mais cruéis da fraude é o modo como ela explora o luto. A morte de entes queridos é uma das experiências mais dolorosas da existência humana, e a religião capitaliza sobre isso ao oferecer garantias de reencontro no além. Embora não haja provas para sustentar tais afirmações, a necessidade emocional é tão forte que muitos aceitam a promessa sem questionar. Dessa forma, a dor pessoal se torna uma oportunidade de fortalecimento para a instituição.

Outro elemento é o uso da linguagem sagrada. Palavras arcaicas, textos considerados intocáveis, cânticos repetidos em línguas mortas — tudo isso cria uma aura de mistério e profundidade. Mesmo quando o conteúdo é banal ou contraditório, o modo como é apresentado inspira reverência. É como um mágico que distrai a plateia com gestos elaborados para esconder a simplicidade do truque. A linguagem sagrada funciona como fumaça e espelhos para manter a ilusão.

Sexualidade e religião

Também não se pode ignorar a manipulação sexual presente em muitas tradições religiosas. O controle sobre o corpo — o que vestir, com quem se relacionar, quando e como ter intimidade — é uma das formas mais diretas de manter poder sobre indivíduos. Ao transformar desejos naturais em fontes de culpa e vergonha, a religião prende os fiéis em uma luta interminável contra si mesmos. A solução, claro, é sempre mais obediência e submissão à instituição.

Quanto mais influente, mais coercitiva

A religião ainda se beneficia da ilusão de unanimidade. Quando uma comunidade inteira parece acreditar, a pressão social faz com que o indivíduo também aceite a crença, mesmo que em privado duvide dela. Esse efeito de massa cria uma rede de reforço mútuo, onde cada fiel fortalece a fé dos outros simplesmente por demonstrar conformidade externa. A fraude se mantém não porque todos realmente acreditam, mas porque todos acreditam que todos acreditam.

O fracasso profético e a volta por cima

Além disso, a religião é mestre em redefinir fracassos como sucessos. Quando uma profecia não se cumpre, é reinterpretada como simbólica. Quando uma oração não é atendida, dizem que a resposta foi “não” ou que havia um propósito oculto. Quando líderes religiosos são flagrados em escândalos, a culpa é atribuída à falibilidade humana, nunca ao sistema em si. Dessa forma, a fraude é protegida contra falsificação: nenhum evento pode contar contra ela, pois qualquer resultado é reinterpretado como confirmação.

Por que a religião é a maior fraude já concebida pela humanidade?

Por tudo isso, a religião não é apenas uma fraude qualquer, mas a mais duradoura, abrangente e sofisticada já concebida pela humanidade. Ela sobreviveu a impérios, revoluções e eras de esclarecimento porque é adaptável, porque fala diretamente aos medos e desejos mais profundos, e porque se enraíza em estruturas sociais e emocionais. Enquanto houver incerteza, sofrimento e busca por significado, a religião terá terreno fértil para perpetuar sua ilusão.

Em última análise, a religião se sustenta não porque prove suas afirmações, mas porque satisfaz necessidades humanas que são reais: a necessidade de consolo diante da morte, de ordem em meio ao caos, de pertencimento em meio à solidão. Essas necessidades são legítimas, mas a religião as explora oferecendo respostas falsas. Como um charlatão que vende água milagrosa a um doente desesperado, ela lucra com a vulnerabilidade humana.

Reconhecer a religião como fraude não significa desprezar as pessoas que acreditam nela. Pelo contrário, é compreender que elas foram presas em um sistema projetado para capturar suas emoções mais profundas. Muitos fiéis são pessoas boas, movidas por intenções sinceras, que apenas desconhecem a natureza enganosa da estrutura que os envolve. A crítica não deve ser dirigida contra os crentes, mas contra a máquina que perpetua suas ilusões.

É importante também entender que a religião não detém monopólio sobre as coisas que valoriza. O sentido da vida pode ser encontrado na arte, na ciência, nos relacionamentos humanos, na busca por conhecimento e na construção de sociedades mais justas. A compaixão e a ética não dependem de mandamentos divinos; elas emergem de nossa capacidade natural de empatia e de cooperação. A comunidade pode ser construída não apenas em templos, mas em qualquer espaço onde seres humanos se reúnam com propósito e solidariedade.

Assim, expor a religião como fraude não significa esvaziar a vida de significado, mas libertar o indivíduo para encontrar significados mais autênticos. Significa trocar promessas vazias por realidades possíveis. Significa assumir responsabilidade por nosso destino, em vez de entregá-la a autoridades invisíveis. Significa, em última instância, crescer como espécie e como indivíduos, reconhecendo que não precisamos de mitos para viver com dignidade.

A religião, enquanto fraude, perdurará enquanto as pessoas não tiverem coragem de encará-la como tal. Mas cada vez que alguém ousa questionar, cada vez que um grupo escolhe viver baseado em razão e compaixão em vez de dogma, a fraude perde um pouco de sua força. A verdade não precisa de ameaças ou promessas para se sustentar; ela se mantém sozinha, sustentada pela realidade.

Chegará o dia em que a humanidade olhará para trás e verá a religião como vê hoje outras superstições antigas — compreendendo como pôde dominar mentes por tanto tempo, mas sem desejar revivê-la. Nesse dia, a maior fraude da história terá finalmente perdido seu poder. E o que restará será algo muito mais valioso: a liberdade de viver plenamente no único mundo que realmente temos.

De teísta a ateu, sem deixar um só elo daquelas correntes inteiro

De teísta a ateu, sem deixar um só elo daquelas correntes inteiro

Aquilo que você sempre quis perguntar a um ateu que já foi pastor e nuca teve oportunidade.


Por Sergio Viula




Essa semana, eu tive a oportunidade de manter uma das conversas mais extraordinárias que já tive pelo chat do Facebook. Israel Russo, organizador de O Mundo de Is. Essa conversa foi dividida em dois dias e entrou pela madrugada. https://www.facebook.com/OMundodeIs/

Israel é um jovem amazonense cuja sensibilidade e inteligência são admiráveis. Ávido leitor, ele devora as letras que falam sobre ateísmo, ciência, entre outros temas. Já trocamos muitas figurinhas pelas redes sociais. Essa semana, ele decidiu fazer uma entrevista comigo, via chat do Facebook, mas não para pedir orientação ou desabafar, como os casos aos quais me referi antes. O que ele tinha em mente buscar era mais informações sobre minha visão a respeito do ateísmo, das religiões e da vida de um modo geral. Sua intenção era publicar essa conversa no Mundo de Is – o que ele acaba de fazer.



Israel Russo (Is)

Apesar das respostas condensadas ao máximo, a entrevista não é curta. Também não posso dizer que seja superficial. Procuramos colocar nela o essencial, com linguagem bem acessível e com exemplos de fácil compreensão.

Dê uma passadinha no Mundo de Is e leia a entrevista na íntegra. Se curtir o conteúdo, compartilhe, para que mais gente tenha acesso a essas informações. Espero que essa entrevista colabore para a travessia de muitos para fora das masmorras dos dogmas religiosos e para a superação de seus efeitos colaterais, mesmo que seja apenas com mais uma gotinha de ceticismo.

VEJA A ENTREVISTA AQUI:

IS ENTREVISTA SERGIO VIULA
https://www.facebook.com/OMundodeIs/photos/a.404157399786293.1073741854.152423821626320/462664243935608/?type=3

Leia esse texto como se fosse um bate-papo entre amigos.

Bom domingo e boa semana para todos e todas!

Observatório da Imprensa: O Estado laico em xeque






Sexta-feira, 26 de Julho de 2013 | ISSN 1519-7670 - Ano 17 - nº 756

‘OI’ NA TV

O Estado laico em xeque
Por Lilia Diniz em 26/07/2013 na edição 756

Fonte: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/educacao-e-cidadania/caderno-da-cidadania/o_estado_laico_em_xeque/


Na semana em que o papa Francisco chegou ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Observatório da Imprensa exibido pela TV Brasil na terça-feira (23/7) discutiu a postura da mídia brasileira diante do preceito do Estado laico, tema tratado no programa em diversas ocasiões. Assegurada pela Constituição Federal, a laicidade é posta em xeque diariamente: das cédulas de real, que ostentam a frase “Deus é fiel”, ao crucifixo pendurado no plenário do Supremo Tribunal Federal, passando pelos recentes projetos de “cura gay” e “bolsa estupro”. Outra barreira à laicidade são os variados feriados religiosos do calendário brasileiro. No Rio de Janeiro, sede da JMJ, a prefeitura decretou dois dias de feriado integral e mais dois períodos parciais. Realizado desde 1986, o encontro de jovens católicos espera reunir, de acordo com estimativas dos organizadores, mais de 2 milhões de peregrinos de todo o mundo.

Alberto Dines recebeu no estúdio do Rio de Janeiro o historiador Daniel Aarão Reis. Professor titular de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), Aarão pesquisa a História das Esquerdas no Brasil. Em São Paulo participaram Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ), e o filósofo Roberto Romano. Autor de três livros, colunista da Carta Capital e do portal iGay, Jean Wyllys participa de movimentos que combatem a homofobia, a intolerância e o fundamentalismo religioso, entre outros temas. Roberto Romano é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e tem doutorado na Escola de Altos Estudos de Paris. É professor titular da Unicamp na área de Ética e Filosofia Política. Escreveu vários livros e artigos sobre ética e teoria do Estado.

No editorial que abre o programa (ver íntegra abaixo), Dines comentou que o Estado laico é “continuamente atravessado pela transformação da nossa mídia eletrônica em púlpito religioso”. Dines ressaltou que esse tema já foi tratado no programa por várias vezes: “Nossa insistência justifica-se duplamente: se o Estado democrático de direito é por obrigação isonômico, as concessões e a programação das emissoras de rádio e televisão devem obedecer aos mesmos critérios igualitários em matéria religiosa. Não é o que acontece”.

A reportagem exibida antes do debate no estúdio entrevistou Leonardo Maciel, presidente da RioEventos, órgão da prefeitura carioca encarregado dos preparativos da JMJ. Maciel explicou que o volume de fiéis confirmados para o encontro justifica o feriado: “É o maior evento que o país já recebeu. Não há na história do país um evento dessa magnitude, com essa quantidade de turistas que vem ao Rio de Janeiro. É impossível que um evento dessa magnitude, tal qual uma Olimpíada, chegar a uma cidade sem que essa cidade se adapte a isso, então você tem que tomar medidas para que [tudo] ocorra sem transtornos”. Maciel garantiu que a prefeitura apoia grandes iniciativas, independentemente do caráter religioso.


Romper a tradição


Para a professora de Filosofia da USP Roseli Fischmann, historicamente a laicidade do Estado brasileiro nunca chegou a se concretizar. “No Império era natural essa ligação íntima, uma ligação plena do Império e da igreja católica. Dentro dos governos que são aristocráticos, então isso se aplica. E, logicamente, quando se implanta a República, a primeira coisa a ser negada é essa, porque a República traz essa certeza de que todos somos livres e iguais. Esse é um ponto crucial. Se somos iguais, não há espaço para essa diferenciação da aristocracia desde o nascimento”, lembrou a professora. Para ela, a igreja católica continua solicitando não direitos, mas privilégios ao Estado.

Roseli Fischmann destacou que o Estado é “de todos e de todas”, por isso a laicidade é importante: “Aquilo que é colocado, não quer dizer que se deva seguir. Nós vemos [isso], por exemplo, na discussão relativa à homossexualidade, só para pegar um exemplo recente que causou muito debate. [Aceitar] que exista esse reconhecimento da plena igualdade [não significa estar] de acordo ou querendo para si. É importante entender que a lei, por existir para todos e para todas, não se coloca como uma coisa impositiva, ao contrário: ela continua mantendo a possibilidade de escolha”.

O programa também entrevistou a professora Maria Clara Bingemer, do departamento de Teologia da PUC-Rio. A estudiosa explicou que os ocidentais, de maneira geral, estão marcados pelo cristianismo histórico porque esta corrente configurou, não só a fé e a religião, como também a cultura. “O comportamento dos cristãos sempre foi contra corrente. Acho que, por isso também, os órgãos públicos e a mídia ficam muito em cima da igreja, para ressaltar quando ela tropeça. E ela tropeça porque é humana”, disse a professora.


Laicismo e democracia


No debate no estúdio, o professor Roberto Romano explicou que o termo “laico” tem origem na palavra latina laos, que significa o povo, potência maior na democracia ateniense. Na Idade Média, implantou-se a doutrina de que quanto mais perto de Deus, mais alta a posição hierárquica na sociedade. “Embaixo de tudo estava o leigo, o laos, que não tinha direito nenhum e não tinha condição de ser autônomo. Essa doutrina que foi gerada no helenismo e na Idade Média veio até hoje. Em muitos Estados você tem essa visão bastante deturpada do povo como aquele que deve receber ordens e não tem dignidade. Isso quer dizer o seguinte: laicismo significa exatamente o sinônimo de democracia”, sintetizou Romano. Na ausência da laicidade, poderes “extra povo” dominam a cena política.

Para o professor, existem formas avançadas de laicismo, como nos Estados Unidos. Lá, igreja e Estado estão explicitamente separados, embora tenham ocorrido tentativas, sobretudo nos governos Bush, de “misturar as águas”. Roberto Romano ressaltou que um Estado laico absoluto será sempre difícil porque há uma permeabilidade das religiões na vida social e, por consequência, na estrutura do Estado. “Os religiosos elegem seus representantes no Executivo e no Legislativo e, portanto, procuram influenciar a vida política e estatal para as suas visões”, disse o filósofo. Roberto Romano ressaltou que a igreja católica, desde o século 19, se apresenta como uma conquistadora das massas:

“Esse evento do Rio de Janeiro não é diferente: é colocar a massa na rua para mostrar que a superioridade da igreja é inconteste em relação do Estado. É bom lembrar que no século 19 a igreja tomou o costume de dedicar países inteiros ao Sagrado Coração de Jesus, em expiação e reconhecimento da sua soberania eclesiástica. O Sacre Coeur de Paris é uma consagração da França pelos pecados da Comuna de Paris e da Revolução Francesa. O Equador foi consagrado ao Sagrado Coração de Jesus e o Cristo Redentor nada mais é do que isso. Se você olhar lá tem o Sagrado Coração de Jesus”, citou Romano.


As massas tomam a rua


Na avaliação de Dines, os feriados determinados pela prefeitura do Rio de Janeiro em razão da Jornada Mundial da Juventude acabam sendo um privilégio para a igreja católica. Daniel Aarão ressaltou que durante a instalação da República algumas lideranças, animadas pelos propósitos positivistas, idealizaram uma República laica, mas as tradições se mostraram mais fortes e acabaram predominando. A igreja católica continuou influindo através de canais e ramificações e condicionando o Estado na sua atuação. “Nesse megaevento do Rio de Janeiro eu acredito que seja prudente decretar o feriado porque os transportes da cidade não têm condições de [operar] em situação normal”, avaliou Aarão. O historiador ressaltou que em outros feriados católicos, como o de Nossa Senhora Aparecida, os não crentes e os ateus são obrigados a respeitar a data.

Daniel Aarão vê com naturalidade os movimentos de massa das igrejas, mas observou que as confissões não podem transformar os eventos um fator para colonizar o Estado: “O princípio da laicidade do Estado, ao contrário do que muitos religiosos entendem, não é um princípio antirreligioso. É um princípio a-religioso. Ele quer fazer da religião um assunto da esfera privada de cada um. Cada um pode ter a sua crença, pode sse manifestar na rua, em casa, onde quiser. O problema é manter o Estado neutro em relação às diversas confissões religiosas e também em relação àqueles que não têm religião nenhuma”.

O deputado Jean Wyllys destacou que, em todo o mundo, Estados colocaram o preceito da laicidade nas suas Constituições para poder impedir as guerras religiosas e dar alguma neutralidade ao Estado frente às diferentes crenças. De fato, a única Constituição radicalmente laica do Brasil foi a de 1891, após a proclamação da República. “É a única que não faz qualquer referência a Deus. De lá para cá a igreja católica renovou seus signos de influenciar o Estado e a palavra Deus voltou ao preâmbulo e a outras partes da Constituição. No Brasil, não só a igreja católica tenta solapar essa laicidade que implicaria uma neutralidade do Estado frente às crenças mas, recentemente, dos anos 1980 para cá, as igrejas neopentecostais vem renovando os seus meios de influenciar o Estado e de orientar as políticas públicas”, criticou o deputado.


Um Estado, muitas religiões


Na opinião de Wyllys, em um país com uma formação multicultural e plurirreligiosa como o Brasil, é inconcebível deixar que correntes religiosas majoritárias influenciem o Estado e suas políticas. Por outro lado, não se pode negar a tradição dos santos católicos no cotidiano: “Não quer dizer que no feriado de Nossa Senhora Aparecida todas as pessoas se dirijam à basílica. Muito pelo contrário, elas vão para o futebol, para a praia, elas aproveitam o feriado”. Para o deputado, não é possível separar toda a identidade e a cultura brasileira da influência das religiões, mas é preciso perseguir a laicidade em nome do Direito de crer e de não crer dos indivíduos. Formado dentro dos preceitos do catolicismo e admirador da arte sacra, o deputado diz que muito dos seus valores vêm do cristianismo.

Dines ponderou que existe uma inegável herança da religião na cultura brasileira, mas que as confissões devem se afastar do Estado. Um dos exemplos desta proximidade é a presença do deputado Marcos Feliciano à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Impregnado de doutrinas religiosas radicais, o pastor enfrentou forte oposição e, no entanto, permanece no cargo. Para o deputado Jean Wyllys, o fato é inaceitável: “Eu acho inadmissível tanto que a igreja católica tente influenciar as políticas de Estado quanto os neopentecostais, sobretudo os fundamentalistas religiosos como o deputado-pastor Marcos Feliciano, [queiram fazê-lo] sem considerar, por exemplo, o conhecimento, os saberes dos povos, a própria ciência moderna. Ele desconsidera tudo isso para fazer uma interpretação literal da Bíblia e tentar, a partir dela, legislar para um povo que é plurirreligioso”, sublinhou o deputado.

Jean Wyllys lembrou que, interessados na capacidade de transformar fiéis em eleitores, diversos partidos convidaram pastores carismáticos para fazer parte de seus quadros e ressaltou que a consequência disso para a laicidade do Estado é grave. “Esses pastores tomaram gosto pela política e começaram a desenvolver uma fantasia totalitarista de que vão transformar o Brasil em uma teocracia cristã. Isso é apavorante. Não é uma teoria da conspiração minha. Eu tenho visto isso todos os dias nos discursos feitos aqui”, disse o deputado. Para ele, a bancada neopentecostal fere os princípios da Constituição ao trabalhar contra a promoção do bem de todos, sem discriminação.

“Há deputados que subiram na tribuna da Câmara para dedicar o mandato a Jesus, por incrível que pareça, e para dizer que ele vai conduzir o mandato de acordo com o que está na Bíblia. Eu não tenho nada contra a Bíblia, pelo contrário, é um livro maravilhoso do ponto de vista literário e histórico, mas ele fundamenta a crença de um grupo de pessoas. Pode ser o grupo majoritário, mas ainda é de um grupo de pessoas”, afirmou o deputado. Para ele, é preciso defender as minorias das paixões das maiorias.


Os púlpitos eletrônicos


Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 694, exibido em 23/7/2013

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Esta edição foi gravada para ser exibida num dos feriados decretados pela prefeitura do Rio de Janeiro, para facilitar a mobilidade das legiões de jovens peregrinos de todas as partes do mundo que se reúnem no Rio na 28º Jornada Mundial da Juventude que, como sempre, será assistida pelo sumo pontífice.

É a primeira viagem ao exterior do primeiro papa nascido nas Américas, o jesuíta argentino Francisco, eleito em março deste ano. As emocionadas homenagens e as devoções produzidas por um evento religioso dessa dimensão constituem uma oportunidade para mostrar ao mundo um Rio de Janeiro diferente daquele que aparece durante o carnaval.

É também uma oportunidade para voltarmos a examinar, com a merecida seriedade, a questão do Estado secular e laico, previsto em nossa Constituição, e continuamente atravessado pela transformação da nossa mídia eletrônica em púlpito religioso pelas confissões majoritárias: católicos e evangélicos.

A nossa insistência justifica-se duplamente: se o Estado democrático de direito é por obrigação isonômico, as concessões e a programação das emissoras de rádio e televisão devem obedecer aos mesmos critérios igualitários em matéria religiosa.

Não é o que acontece. Além disso, qualquer fissura no edifício republicano – por mais insignificante que seja – tenderá a ser continuamente ampliada.

É um risco que não vale a pena correr, sobretudo em momentos tão tensos como os que estamos vivendo.

Para avaliar e refletir sobre uma questão tão delicada e transcendental, contamos com a colaboração do deputado federal Jean Wyllys, do filósofo Roberto Romano e, aqui ao meu lado, do historiador Daniel Aarão Reis.

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