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Ano que vem faço 20 anos fora do armário! 🌈

Por Sergio Viula


Andre e eu no ano de 2016



Pasmem, mas ainda existe muita gente que fica no armário por medo da opinião de fulano ou de sicrano.

Ao mesmo tempo que as pessoas falam sobre sua sexualidade cada vez mais cedo, é impressionante ver como existem outras que ainda hesitam, mesmo sendo maduras e financeiramente autossuficientes. Algumas moram sozinhas ou têm condições de viver em seu próprio canto se preciso for, mas mesmo assim ainda relutam em tomar as rédeas de sua própria vida. A troco de quê? – pergunto eu.

Ao longo desses 19 anos fora do armário (completos em 2022), já pude ouvir muitos relatos de pessoas na condição de “armarizadas”. Já encorajei muitas dessas pessoas, especialmente homens, a tomarem as devidas providências para que possam finalmente dizer “I am what I am, and what I am needs no excuses” (Sou o que sou, e o que eu sou não precisa de desculpas).



Curiosamente, mulheres parecem não ficar tão à vontade para conversar com um homem sobre seus problemas nessa área, mas um número considerável de homens já me procurou por causa de alguma entrevista publicada comigo ou alguma postagem feita por mim a respeito da minha trajetória para fora do armário. Muitos deles são pessoas com algum background religioso, principalmente evangélico. Ouvi-los falar sobre seus dramas existenciais por causa da crença religiosa é algo que me comove e enfurece ao mesmo tempo, mas vê-los desprenderem-se de tudo isso provoca em mim uma sensação deliciosa de triunfo e de alívio!

Você pode ler mais sobre minha jornada rumo à emancipação sexual aqui: EM BUSCA DE MIM MESMO (https://www.amazon.com.br/Busca-Mim-Mesmo-Sergio-Viula-ebook/dp/B00ATT2VRM).

Para a minha alegria e para a felicidade desses homens, muitos deles fizeram seu próprio trajeto para fora do armário e voltaram para me contar. Alguns se tornaram amigos e me proporcionaram a oportunidade de ver seu crescimento e amadurecimento emocional e afetivo, inclusive, assumindo relacionamentos estáveis publicamente.

Viver autenticamente o seu amor tem um sabor totalmente diferente de viver entre as sombras das masmorras da homofobia internalizada através da instilação continua de preconceito por parte da família, da igreja e de vários outros dispositivos de controle social, inclusive a escola.




Faz 19 anos que eu me livrei desse lixo tóxico produzido por homofóbicos de todos os tipos, sendo o pior deles aquele que utiliza pretextos de cunho religioso. Ano que vem, farei duas décadas fora do armário - uma data que há de ser devidamente comemorada. Alegro-me em dizer que já ultrapassei o tempo que passei dentro do sistema religioso fundamentalista. Foram 18 anos de evangelicalismo atropelados por 19 anos de liberdade cognitivo-afetiva, emocional, sexual e financeira. Não escondo o orgulho que sinto por ter feito esse movimento não só para fora do armário, mas também para fora de toda e qualquer crendice, sem a ajuda de um único ser humano.

Pelo contrário, as pessoas ligadas à igreja e à família me desestimulavam de seguir adiante. As pessoas que faziam parte da comunidade LGBT ou do movimento que leva o seu nome achavam que isso era bom demais para ser verdade. A única pessoa que se aproximou de mim para ouvir o que eu tinha a dizer (depois da minha entrevista à revista Época no final de 2004) foi Toni Reis. Ele me permitiu expor o que eu pensava e pretendia dali em diante para ele sua equipe de trabalho. Foi um encontro agradável, mas isso foi tudo. Ele também comprou dois exemplares do meu livro. Dali em diante, eu continuava travando minhas próprias batalhas para me estabilizar financeiramente e emocionalmente, mesmo cercado por um turbilhão de gente do contra.

Da minha família, as únicas exceções em termos de acolhimento na prática foram a minha avó Maria Jerônima (falecida anos depois da minha saída do armário) e minha tia Maria Eliza (filha dela). Essas duas pessoas queridas foram minhas parceiras e me apoiaram na prática, não apenas com palavras ao vento. Era amor de verdade em ação.


Minha avó Maria Jerônima 
e meu avô João Viula,
imigrantes portugueses. 
Ele faleceu com 57 anos 
e ela com quase 90.


Quem hoje vê minha família unida comigo e com meu amor Andre não imagina o que eu passei até que eles finalmente entendessem o que tudo isso significava. Eles não conseguiam pensar para além do que foram doutrinados. Durante quatro anos, eu não troquei uma palavra com eles e nem os visitei ou recebi a visita deles. Somente depois que eles reconheceram que estavam errados em seu modo preconceituoso de agir comigo, e me disseram isso face a face, e com todas as letras, é que eu voltei a me relacionar com eles. Desde então, as coisas só melhoraram.


Andre, meu filho, eu, minha mãe e meu pai.
31 de dezembro de 2021 (réveillion 2022)



Meus pais cresceram muito, mas muito mesmo. Isso não teria acontecido se eu ficasse, como muitos fazem, mendigando amor e atenção, apesar de ser tratado com pessoa de terceira categoria. E detalhe: eu pegava meus filhos toda semana para passar o sábado comigo, e nem assim baixei a cabeça para a homofobia deles ou de quem quer que fosse. Eu jamais deitaria para ser pisado por babacas de qualquer espécie, principalmente se fossem do meu sangue.

Hoje, meus filhos são adultos. Até neta, eu já tenho (Veja o Diário de um avô colorido - https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2021/04/bebe-bordo-diario-de-um-avo-colorido.html). E quando lembro de alguns daqueles idiotas evangélicos dizendo "Como é que vai ficar a cabeça dos filhos dele?", eu só penso: A deles vai muito bem, obrigado, já a de vocês continua a mesma bosta que sempre foi.


Foto que eu publiquei em 2020.



E daí? A vida seguiu em frente! Apesar de todos os obstáculos que eu tive que enfrentar, eu fiz exatamente o que eu queria, e o fiz com ética e honra, ensinando meus filhos, por palavras e atos, a serem honestos, corajosos e autênticos. O resultado é esse aí que vocês veem se me acompanham por aqui ou pelas redes sociais.

Será que a gente pode fazer tudo certo e tudo dar errado? Claro que sim. É besteira pensar que controlamos o fluxo do devir. Se tivesse dado tudo errado, apesar de eu ter feito a coisa certa, eu ainda poderia me alegrar por ter feito justamente isso: A coisa certa.

Mas, olhando ao redor, a pergunta que fica é a seguinte: Posso dizer que estou colhendo bons frutos da minha semeadura? Sem dúvida alguma que sim. E quero viver para desfrutar cada um desses momentos especiais. Por isso, faço o possível para me manter saudável e viver tudo o que puder viver hoje e daqui em diante – tudo com tranquilidade, nada de correria como se mundo acabasse amanhã para mim. Se acabar, terei feito tudo o que eu queria hoje, inclusive NADA. Como é bom fazer simplesmente NADA! Claro que não é possível fazer nada o tempo todo, e nem seria saudável, mas quando a gente pode se dar a esse luxo, para que inventar problema?


Réveillon 2022 em nossa casa.


Quando alguém me pergunta se eu sinto saudade dos meus tempos na igreja, eu respondo com uma pergunta: "Que peixe, em bom estado mental, sentiria saudade do anzol, ainda que o tenha mordido por engano, seduzido por uma isca que lhe parecesse absolutamente suculenta?"

A ficção de um deus que cuida de tudo e que está muito interessado em mim não dá nem para a saída. Ela pode parecer uma isca imperdível, mas não passa de um pretexto para fisgar a mente dos que nunca conseguem se tornar donos de si mesmos. Essas pessoas estão sempre procurando alguém a quem possam se submeter. Tolice maquiada de piedade.

Agora, imaginem as ficções sobre uma suposta vida eterna ou castigo eterno... Imaginem as primitivas e precárias ideias de pecado e salvação... Nada disso passaria pelo mais superficial exame racional. Se as pessoas usassem sua capacidade crítico-analítica para averiguar essas coisas, elas se sentiriam ridículas por terem crido nelas um dia.

Além disso, esse sistema de crenças, assim como muitos outros, acaba funcionando como o peso de um cadáver a ser carregado pela vida a fora por gente que poderia investir sua energia em coisas que realmente fizessem valer a pena viver – e digo viver no sentido mais pleno possível da palavra LIBERDADE.

A desculpa de que a religião exerce algum papel para além de controle, exploração e utilização do capital humano que se submete a ela também não passa pela peneira da experiência. Não há coisa alguma que a religião ofereça que não possa ser obtida por outros meios. Ela também não pode oferecer nada de real e útil que já não tenhamos. Repito: Não há coisa alguma que a religião possa fazer por nós que não possamos fazer sozinhos como espécie humana. Religião, qualquer que seja ela, é uma verdadeira inutilidade supervalorizada pelo mero hábito da repetição sem análise crítica. Ela gosta de posar como aquilo que parece estar acima de qualquer questionamento, mas seus pretextos não dão nem para a saída. As pessoas embarcam naquela ideia de que deve estar certo, porque todo mundo na minha bolha social diz e faz a mesma coisa, mas isso só revela a tendência para o comportamento de rebanho por parte de muitos. E se a gente pensa em rebanho, acaba pensando em pastor, pelo menos no contexto religioso.

Todavia, não existe coisa mais estúpida do que a ideia de bom pastor. Toda ovelha é, para qualquer pastor, seja ele zeloso, descuidado ou cruel, a mesma coisa: Fonte de ganho. Tudo o que o pastor quer enquanto a alimenta é tosquiar sua lã ou desossar sua deliciosa carne. No primeiro caso, ela vive para servir à indústria da lã. O pastor é seu principal elo na cadeia de produção. No segundo caso, ela paga com a própria vida pelo almoço daqueles que a alimentaram tão cuidadosamente apenas para conseguirem alguns quilos de carne a mais na balança do matadouro.


Nunca foi bondade...


Não existe essa tolice de bom pastor. Existem pessoas ingênuas (burras seria mais apropriado) que se submetem à falsa sensação de que estão sendo cuidadas, quando, na verdade, estão sendo controladas ou exploradas de uma maneira ou de outra. Manter o lobo longe do aprisco não é um ato de bondade do pastor, mas a única forma de garantir que a lã e a carne da ovelha tola e gorducha serão dele e não de outro. A competição das igrejas por membros é uma bela demonstração disso.

Se você se orgulha de ser ovelha de fulano ou de sicrano ou mesmo de Jesus, deixe esse fictício aprisco e tudo o que tiver a ver com ele para trás. O aprisco é para a ovelha o mesmo que o corredor da morte é para o condenado à cadeira elétrica - só uma forma de mantê-la sob controle até o momento de sua execução. A diferença é que o condenado que aguarda no corredor da morte não trabalha para seus executores, já a ovelha no suposto aprisco de Cristo entrega seu precioso tempo, energia e recursos financeiros a vida inteira até finalmente encontrar o destino de todos os mortais – o finamento. Enquanto isso, assim como o condenado que aguarda no corredor da morte, o humano que se diz ovelha vê apenas uma fração do que acontece do lado de fora do seu cercadinho sem ter vivido uma série de experiências deliciosas, positivas e construtivas longe do domínio desses manipuladores de mentes e castradores de existências.

Seja honesto consigo mesmo(a): Para que se submeter à liderança supostamente espiritual ou moral de quem quer que seja?

Cresça!


O sofrimento humano e as crenças





O sofrimento humano e as crenças


Por Sergio Viula
23/12/13


As crenças podem ser tão variadas quanto os seres humanos. Há até quem creia na própria crença como meio para aliviar sofrimentos e superar dificuldades pessoais. A questão já não é mais se a fé é remédio ou placebo. Afinal, placebo que ‘funciona’ é remédio, pragmaticamente falando. Mas, para funcionar é preciso que a pessoa que faz uso dele realmente acredite que se trata de um genuíno remédio, pois se o paciente suspeitar de que está diante de um mero placebo, o efeito já não será o esperado.

Assim mesmo é com a fé: é preciso que a pessoa acredite realmente que os conteúdos de sua crença têm correspondência no mundo real, ou seja, que não são apenas ideais.

Crenças podem ser belas sob o ponto de vista estético.

Como não considerar belos os paramentos sacerdotais do catolicismo, do islamismo, do candomblé, da umbanda, que são indubitavelmente muito mais belos do que o mero paletó da maioria dos pastores protestantes ou mesmo do que a estola negra dos reformados? E o que dizer da maioria de seus templos, rituais, dietas, etc.?

Crenças podem ser boas sob o ponto de vista filantrópico.

Pessoas que acreditam ter a missão de aliviar o sofrimento que grassa pelo mundo a fora podem fazer muito bem ao próximo, ainda que esse conceito de bem possa ser questionado quando ambições pós-morte entram na economia desses atos de ‘caridade’.

Crenças podem ser consideradas tipos de ‘saberes’, especialmente do ponto de vista dos foucaultianos e das tradições.

Elas baseiam-se em oralidade, tradições escritas, rituais, preceitos e outros conteúdos. Algumas vezes podem envolver até conhecimentos sobre saúde, tais como ervas que curam e coisas a serem evitadas para a preservação do corpo e da mente.

Claro que o oposto também ocorre: crenças podem ser feias, cruéis, venenosas, destrutivas ao corpo e à mente. Rituais de iniciação que colocam em risco a integridade física e mental de crianças, adolescentes, nubentes, e por aí vai.

Um preço alto


De uma coisa, porém, qualquer crença carece: liberdade de pensamento. No momento em que o indivíduo crê, ele começa a usar o conteúdo de sua crença como crivo da verdade. Ela passa a ser o contrapeso da balança, a peneira, a régua, o esquadro e o compasso, através dos quais tudo será medido, pesado, julgado. Tudo estará sujeito à crença em primeiro lugar e mesmo que o indivíduo reveja algum conceito, isso geralmente se dará com base na própria crença, isto é, haverá alguma justificativa baseada nos conteúdos dessa mesma fé.

O ser humano que nutre alguma crença no sobrenatural, e daí deduz regras para a vida, parâmetros para a análise do que acontece ao seu redor e para a interpretação de si mesmo e de sua relação com esse derredor, terá sua percepção e sua razão dominadas pelos fantasmas evocados dessas mesmas crenças – o que também determinará, em grande parte, suas ações e reações a tudo isso.

Essa dinâmica interior é tão intensa e aparentemente tão real que o indivíduo que passa por tais experiências [na verdade, psíquicas] tende a ver uma espécie de confirmação da veracidade de suas crenças em tudo o que acontece a ele mesmo e aos que o cercam.

Hoje, presenciei uma situação assim: um jovem que aspira à felicidade e a uma vida equilibrada com a pessoa que ele ama; trabalhador; sofrido por acumular várias decepções na vida; pensando que havia finalmente encontrado a pessoa certa para compartilhar seus dias e se aprumar, sofreu a decepção de vê-la arruinar tudo, numa espécie de crise psicótica [sei lá que nome dar a isso].

Amando-a e querendo continuar com ela, mas vendo que não podia fazer nada contra a ira, a ofensa e a agressão, especialmente porque não queria revidar, queria apenas apaziguar os ânimos, ele entra numa espécie de colapso nervoso e não consegue parar de chorar e de falar desesperadamente.

Ela, que tem um background evangélico pentecostal, compartilha da ideia de que o diabo existe, pode possuir corpos, e que só Deus pode libertar. Contudo, considera que não tem sido boa bastante para contar com o favor divino e acha que também tem sua cota de demônios.

Ele, que tem um background de umbanda ou candomblé [não está claro], acredita que ela tenha um encosto para agir assim, do nada.

Acreditando que o Deus judaico-cristão possa lhe oferecer uma vida melhor do que os Deuses africanos, desesperado por ajuda e tendo sido cercado por quatro ou cinco crentes na hora do desespero, acaba por pedir oração. Foi o suficiente para que o circo fosse armado. Ele, cuja fé inclui a incorporação, se submetia àqueles cuja fé inclui o exorcismo. Prato cheio para mais gritaria.

Tive compaixão do rapaz. Decidi intervir. Pedi que parassem de gritar e me deixassem conversar com ele. Falei carinhosamente que ele não precisava se sujeitar a essa humilhação, que tudo isso não passava de um tipo de colapso. Disse-lhe que a sobrecarga emocional, o sofrimento acumulado e a crise daquele momento eram pesados demais para que ele carregasse tudo isso sozinho. Ele precisava conversar. Disse-lhe – prostrado e em profundo sofrimento sob o eco de “liberta, Jesus” – que sua imaginação o estava traindo. Pedi que ele se controlasse, porque tudo se ajeitaria. Disse-lhe que ele só precisava relaxar e que não devia deixar as pessoas trata-lo como possuído por algo maligno, que seus deuses não eram piores do que o deus deles. Ele se acalmou.

Os crentes não gostaram nada disso. Quiseram me convencer de que eu ‘sabia’ a ‘verdade’ e que não podia renega-la. Talvez tenham pensado, a partir de suas crenças (de novo!), que o 'demônio' podia estar se aquietando para não me dar motivos para crer. Afinal, a presença do demônio seria uma prova da existência de Deus – pensam os próprios exorcistas. Mais uma vez, a crença ditava juízos a partir de uma razão viciada em encarar mitos como realidades autônomas.

Pessoalmente, já não sabia de quem sentir mais compaixão. Tentei convencê-los de que aquela gritaria exorcista só piorava o estado do rapaz. Disse que não estavam ajudando o moço a superar a dor, mas multiplicando seu sofrimento em meio a tudo aquilo. Como já era previsível, não me deram ouvidos.

O rapaz continuou implorando “eu quero Deus”.

Saí, dizendo que não sabia quem seria pior nessa história toda – deus ou o diabo.

Que deus é esse que não age. Que deus é esse que precisa dessa gritaria toda para ouvir um pedido? E que demônio é esse que não obedece ao seu Criador? O povo gritava a ficar rouco. Sem exagero algum, as alas psiquiátricas de qualquer hospital pareceria menos louca.

Senti muita pena do rapaz e dos exorcistas de plantão. No fundo, sei que todos eles querem o melhor. É por amor que fazem isso. Mas, amor sem conhecimento pode ser instrumento de sujeição, tanto de si mesmo a outros quanto de outros a si mesmo.

Mas era justamente o “filtro” da crença que não permitia que “possuído” e “exorcistas” vissem a contradição em que estavam envolvidos. Tudo fazia sentido de acordo com suas crenças: o mal que ele sofria era obra do capeta; a solução era Jesus. Ele mesmo deve ter achado que essa crença ‘limpinha’ – sem charuto, sem cachaça, sem defumador – só podia ser melhor do que a dele. Ledo engano. Os crentes têm outros vícios – entre eles, o da contradição: Deus pode fazer todo o bem que deseja, mas não faz. Agora, se Deus não faz o bem, podendo fazê-lo, então não pode ser bom. Contudo, eles continuam cantando “louvai ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre.” (Salmos 136:1)

A música amolece o coração e sua repetição entorpece o entendimento.

O resumo da ópera é que o rapaz continua cheio de problemas e frustrações, enquanto os exorcistas seguem cheios de fantasias e ilusões. E grande parte desses sofrimentos e fantasias é fruto das crenças que cada um abraçou ao longo da vida.

Todos eles precisam mais da psicanálise do que imaginam. A moça, talvez até de psiquiatria.

Viver dói. As crenças poderiam anestesiar a dor de alguma forma [placebo], mas ao mesmo tempo em que aliviam algumas, criam outras – a pior delas é a ideia de que não posso conduzir minha vida de modo belo, bom e sábio sem as muletas da fé. Pessoas que, do ponto de vista existencial, têm capacidade para andar sozinhas, para correr, pular, chutar, mas preferem mancar apoiados na fé. Pior ainda: sentem-se gratas por aquilo de que não precisam. Até estranham que outros não tenham muletas ou que - por via das dúvidas- façam uso delas, mas sem muita convicção.

Todo ser humano deveria caminhar pelas próprias pernas, lançando tais muletas por terra, criando seu próprio caminho a cada passo que dessem, fosse no dia da alegria ou da tristeza, do prazer ou da dor, porque a vida não é só uma coisa nem [só] outra. E todas elas terminam quando a morte chega – todas igualmente. Impreterivelmente.

Emancipar-se das crenças é sinal de amadurecimento, mas ser adulto dói. A maioria prefere viver eternamente sob a tutela de pais/mães imaginários, cercados de 'irmãos' que também se consideram filhos destes.

Não digo isso com arrogância. Digo-o com tristeza, porque sei que nenhuma evidência, argumento ou lição na vida – ao contradizer a crença – será sequer levado a sério pela maioria das pessoas. E a razão é simples: a maioria crê em alguma entidade imortal, sejam vários deuses ou um só, imanentes ou transcendentes, pessoais ou impessoais; bajulados por um séquito de colaboradores e contrariados por um ou mais adversários contumazes, sejam lá quais forem seus nomes.

Muita gente pensa que a vida sem fé no sobrenatural é mais difícil. Esse é outro juízo equivocado nascido da crença; apenas outro mecanismo de defesa. E não me surpreenderia que a maioria das pessoas nem sequer chegasse a ler metade desse texto. As mais resistentes talvez cheguem ao fim, mas com aquele pensamento nada original: “quando as coisas apertarem, ele vai correr para Deus. Todo mundo pode ser ateu em tempos de paz. Quero ver na hora da dor."

Dizendo isso, apenas revelam que não podem conceber um ser humano absolutamente desprovido de crença no sobrenatural, no divino, no pós-morte, etc. Elas pensam que, bem lá no fundo, deve existir uma fagulha de fé que – se alimentada pela lenha da necessidade – há de se tornar numa fornalha de devoção. Esse é apenas um dos modos como quem crê lida com o desconforto de ver que há quem viva sem o menor vestígio de fé. E isso diz muito mais a respeito dos que creem do que a respeito dos que não.

Ironicamente, enquanto sofro por esse rapaz, essa moça e demais envolvidos, nutrindo o desejo de que todos eles se emancipem das crenças que iludem sua percepção e juízo, cerceando sua liberdade, acho que isso dificilmente acontecerá. Estatisticamente, é uma minoria que desperta do sono dogmático.

A vida, porém, ignorando teístas e ateus, segue sempre adiante, mas nunca em linha reta.

Terremoto e tsnumani: O mundo abalado!



Incêndio por causa do terremoto no Japão

Um terremoto de 8,9 graus na escala Richter atingiu o Japão na madrugada dessa sexta feira (11/03/2011). O tremor ocorreu por volta das 3 horas da tarde (horário do Japão), na costa noroeste do país. O epicentro foi há 129 quilômetros da costa do Japão e a 24 quilômetros de profundidade, uma distância relativamente curta para um terremoto dessa magnitude. A rede de TV japonesa NHK transmitiu ao vivo o momento em que o tsunami chegou a Sendai, cidade da costa do Japão.

De acordo com testemunhas o terremoto durou aproximadamente 2 minutos e vários japoneses correram para as ruas com medo de serem atingidos por possíveis desmoronamentos.

A previsão é que por volta das 6 horas da manhã a tsunami chegue há costa da Indonésia, Filipinas e Papua Nova Guiné. Esses três países que ficam na costa do oceano índico e correm risco de serem atingidos pelas ondas gigantes. Também existe a possibilidade do Havaí ser atingido.

As redes de televisão de todo o mundo estão transmitindo ao vivo. Abaixo, disponibilizamos alguns vídeos que mostram flagrantes do terremoto e do tsunami que atingiu o Japão.


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO

O Japão enfrenta hoje uma das piores catástrofes naturais já vistas: terremoto e tsunami varrem cidades inteiras. E o terremoto não parou. Há lugares tremendo de 10 em 10 minutos. Quem pode garantir que novos tsunamis não venham a ocorrer?

É impressionante também a quantidade de enchentes que estão ocorrendo no Brasil, matando centenas e centenas de pessoas, desalojando milhares, acabando com o patrimônio conquistado por pessoas que tiveram que suar muito para conquistarem o que tinham. Não têm mais nada.

Vários países estão em alerta, inclusive os EUA e países que têm o litoral banhado pelo Oceano Pacífico, porque o que aconteceu no Japão pode acontecer por lá também.

Nessa hora, um monte de gente vem com teorias escatológicas - e me refiro à escatologia como o "estudo ou conhecimento das coisas do fim". Essas pregações enlouquecidas deixam as pessoas que acreditam nesses profetas de última hora ainda mais tensas. O grande profeta deste século, porém, foi Al-Gore, que quase foi presidente dos EUA, perdendo numa eleição duvidosa para George Bush.

Al-Gore, ignorando qualquer "profetismo apocalíptico" produziu o filme "Uma Verdade Inconveniente", no qual denuncia o avanço do aquecimento global e atribui grande parte dele à indústria e à poluição causada por ela e por seus produtos. Para produzir e vender, florestas são destruídas, gases tóxicos são lançados na atmosfera, lixo em toda parte, águas dos rios e mares são poluídas. Tudo isso enquanto, consumidores ávidos por novidades fúteis continuam consumindo e poluindo desnecessariamente o planeta. 

É verdade que o fenômeno do aquecimento global não se deve somente à ação destrutiva do homem, mas que essas ações podem estar acelerando o processo, isso podem. 

É impressionante ver as cenas no Japão e em cidades alagadas por enchentes e comparar com as imagens do filme e as informações dos estudos científicos sobre as mudanças climáticas.

E não adianta clamar a Deus ou aos Deuses. Eles não podem ouvir. E por que não  podem? Não podem porque não estão lá nem aqui. Quem escapa com vida, escapa como um peixe que, por pouco, não é engolido pela rede que retira centenas de outros do meio do mar. Enquanto estes sufocam fora d'água, os que escaparam (se pudessem pensar como os humanos) diriam: "Foi um milagre! Se não fosse Deus, eu estaria morto agora." E dizendo isso, não percebem que depõem contra a própria divindade que pretendem glorificar, enquanto sentem-se privilegiados por algum tipo de plano divino que os inclui no livramento e  deixa os demais se ferrarem. E entre os que se ferram, muitos deles são exatamente aqueles que citam o salmo 91 de cor: "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará".

Fica aqui o alerta: Cuidar da natureza no que estiver ao nosso alcance é proteger a nós mesmos, posto que somos natureza ou - se preferirem - a natureza também é homem. Além disso, estudar e conhecer (em vez de crer) sobre como o planeta está se comportando e o que pode acontecer em função dessas mudanças. Isso pode nos ajudar a prevenir desastres maiores, deixando as áreas de risco e buscando áreas mais seguras. É importante não se arriscar em nome de divindade alguma, porque na hora do "pega pra capar", nem os templos escapam. E se os deuses não protegem suas casas de oração ou meditação, como protegerão a minha ou a sua? Fica de pé aquilo que a natureza mesma não destrói. Os deuses - imaginários como são - não podem interferir na realidade. Depois que estão em segurança, os humanos fazem interpretações mirabolantes a respeito dos acontecimentos naturais, tentando dar um sentido espiritualizado ao que é simplesmente e absolutamente natural - terrivelmente natural.

Amanhã ou depois pode ser eu. Pode ser você. E não adianta dizer "Deus me livre!". O que a gente precisa é estudar e trabalhar para estabelecer  comunidades humanas em locais menos arriscados, mas nenhum lugar é absolutamente seguro. Isso é verdade para homens, zebras, frangos, peixes, minhocas. Tudo natureza... O sobrenatural é apenas fruto da inquieta imaginação humana.

Natureza: essa coisa fascinante e assustadora ao mesmo tempo. 

Fé demais não cheira bem...



As igrejas têm estratégias diferentes de exploração da fé, mas todas elas são um deboche à racionalidade.


Auto-Flagelação e a Afirmação da Morte


Depois do carnaval, vem a quarta-feira de cinzas que inaugura a Quaresma - os quarenta dias antes da Páscoa que, por sua vez, inclui a sexta-feira da paixão (morte de Jesus), o sábado de aleluia (com o tradicional linchamento de Judas) e finalmente o domingo da "ressurreição", que deveria ser o ponto alto da festa cristã, mas não consegue concorrer pela atenção dos fiéis como tudo o que vem antes, afinal são 40 dias falando de morte contra um falando de "ressurreição", que ainda é projetar a vida real para um além-mundo - o que constitui negação da vida aqui e agora (a única de que temos certeza).

Portanto, quando a morte, o martírio e a tortura são sinais de fé, o que se pode esperar dos mais "devotados" a essa mesma fé? Veja que a igreja católica não se opõe aos absurdos das penitências radicais. Na Espanha, as pessoas que se auto-flagelaram (veja o video) foram para dentro da igreja terminar o ritual. Nenhum bispo, padre, frade ou outro oficial da igreja se pôs a orientar essas pessoas ou corrigir esse absurdo. Pelo contrário, tem frade ajudando a furar as costas do fanático. A igreja capitaliza em cima disso. E isso acontece tanto na Espanha (Europa) como nas Filipinas (Ásia).

Se essas pessoas colocassem toda essa energia canalizada contra si mesmas, por causa da neurose dessa religiosidade, a favor da vida realmente, imagine quanta coisa maravilhosa elas poderiam criar no campo das ciências, da tecnologia, da filosofia, das artes!!! Isso tornaria o mundo melhor e os seres humanos mais felizes. Infelizmente, continuam ignorantes e odiando a si mesmos em nome de um amor por uma "divindade" que deixa claro a que absurdos podem chegar a fé e a sublimação por meio do mito religioso.

As coisas que você verá nesse vídeo não são retratos da Idade Média. Elas estão acontecendo hoje. Observe as pessoas à volta e suas vestimentas. Poderiam estar em qualquer grande cidade do mundo.


Encontro de Ateus





Hoje, segunda-feira, apresentei minha primeira palestra do Encontro da Nova Consciência no Encontro de Ateus. Foi muito bom estar com meus queridos ateus de Campina Grande e adjacências! Foi bom ouvir os preletores anteriores: Rogério, Thomaz, Alexei e Kelmer. As participações da platéia foram muito interessantes também. Aprendi muito com todos! Quando tomei a palavra, apresentei o tema "Imortalidade da Alma: Abusos Históricos e Contemporâneos. Foi muito bom ver que o pessoal ficou atento e curtindo, apesar do cansaço por terem ficado sentados por tanto tempo. A minha já era a quarta fala dentre as programadas. Isso sem contar as participações espontâneas. :)

Ao fim, apresentei o livro. Várias pessoas compraram e algumas já pediram para levar mais amanhã, quando falarei sobre "Razão e Emoção: Técnicas de Manipulação Mental". Não trouxe muitos por não querer carregar peso de volta.

Tem sido muito produtivo participar dos Encontros. E amanhã tem mais. Quando chegar ao Rio, publicarei as fotos. Estou sem o cabo da câmera para fazer a transferência para o computador.

Se você é de Campina Grande e está acessando esse post antes das 14h de terça, dia 08, não deixe de participar. As palestras do Encontro de Ateus começarão às 14h. Mesmo que chegue atrasado(a), compareça. Será um prazer ter você conosco!

Se está longe de Campina Grande, acompanhe as notícias por aqui. É sempre um prazer ter você aqui!


Algumas fotos abaixo:



Campina Grande - PB (vista da janela do meu quarto)


Um livro para levar para a cama... ;)


Rogério (coordenador do Encontro de Ateus)


Tomaz Passamani


Alexei Dodsworth


Ricardo Kelmer (à esquerda) e Rogério (à direita)



Eu (Sergio Viula)



Téo Lorent


Sidney Santos



Eu, Rogério, Alexei, Tomaz, Téo, Ricardo e Sidney



Participantes do Encontro de Ateus e Agnósticos



Participantes do Encontro de Ateus e Agnósticos


Abraço a todos e todas que leem esse blog e igualmente aos que participaram dos eventos!!!

Sergio Viula

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