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ADOLESCÊNCIA (Netflix): Não é a exceção. Veja por quê.

Muita gente está abismada com a série Adolescência na Netflix como este crime fosse a exceção, algo novo e surpreendente. Não é. Veja por quê.







Por Sergio Viula

Hoje, vamos conversar sobre uma coisa que está na cabeça de muita gente por causa da série Adolescência, produzida pela Netflix, que fala sobre um jovem considerado um incel.

O que é um incel?

Para começar, incel é o indivíduo que é celibatário involuntariamente. Ele não quer ser celibatário, mas o é por força das circunstâncias. Na verdade, essa palavra foi criada por uma mulher que se sentia frustrada porque não conseguia um parceiro. Pasmem, mas isso foi na década de 90. Ela se dizia, então, uma celibatária contra a vontade. Talvez até de uma forma divertida. Posteriormente, porém, esse termo ganhou os fóruns da Internet – alguns até bastante esquisitos, bem underground mesmo – e passou a caracterizar aqueles homens que se sentem frustrados porque, segundo eles, não conseguem sexo, e culpam as mulheres, dizendo que elas têm expectativas muito altas, que são muito independentes e muito exigentes, e que geralmente querem caras bem-sucedidos. Na visão deles, bem-sucedidos seriam os caras bonitos e cheios de dinheiro.

Bom, para começar, quem não quer um marido desses, né? Mas não é sobre homens desejáveis que eu quero falar. Na realidade, o que acontece é que os incels geralmente apresentam essa tendência para a autovitimização. Eles acreditam que são vítimas do sistema – um sistema, segundo eles, corrompido por causa do feminismo, ou seja, da luta das mulheres por direitos iguais. Eles também têm uma visão fatalista da realidade, uma vez que acreditam que há coisas fora do controle deles que determinam a solidão na qual estão mergulhados. Esses fatores alheios à sua vontade seriam sua própria genética e sua aparência física. Outro fator fora do controle deles seria a superficialidade das mulheres, que, segundo eles, é uma das características femininas que dificultam a interação deles com o sexo feminino e a com a obtenção de relações sexuais. Lembrando que sexo é o verdadeiro objetivo final de um incel. Eles não querem manter com as mulheres uma relação multifacetada e profunda entre indivíduos em posição de igualdade; eles querem dominá-las.

Quando um incel vê uma mulher, o que ele mais quer é transar com ela. E o que ele mais odeia é justamente o fato de não conseguir transar com ela.


A terminologia incel


Os incels usam terminologias inglesas tanto para falar sobre os homens que têm vantagem como para se referir às mulheres que supostamente não dão a mínima para a existência deles. São termos como, por exemplo, "Chad". Estes são os homens considerados geneticamente privilegiados e altamente desejáveis. Por outro lado, "Stacy" seriam as mulheres que só pensam em se relacionar com os "Chads" – os homens de cuja aparência elas gostam e em cujo sucesso elas têm interesse.

Os incels acreditam também que os homens com essa aparência têm mais chances de sucesso e, consequentemente, também têm mais chances de conquistar mulheres. Afinal, eles são belos e por isso acabam sendo bem-sucedidos.

"Black pill" seria essa visão extremamente negativa, pessimista, de que a aparência é o único valor para a escolha de um parceiro. E aí, vocês podem pensar logo em "red pill", não é? Esse termo agora anda bem famosinho também. “Red pill” é essa ideia de que alguns homens "acordaram" para o fato de que estão vivendo num mundo invertido, ou seja, um mundo em que as mulheres dominam e humilham os homens em vez do contrário. 

Pare e pense sobre isso. Essa premissa é estúpida por dois motivos: Primeiro, a mulher não está dominando o homem nem o humilhando quando apenas busca emancipação e autonomia. Segundo, o homem não é naturalmente - ou por ordem divina - superior à mulher em nada. Tudo isso é mito.

A verdade é que os homens sempre se sentiram muito “garanhões”, verdadeiros reprodutores. Mas as mulheres hoje em dia não precisam deles nem mesmo para isso. Elas podem ter filhos sem precisar se deitar com quem quer que seja. Elas podem ter filhos por inseminação artificial, ou por acordos com homens da confiança delas, que podem fazer um filho e deixar a criação deste por conta delas, justamente porque elas optaram por isso. Elas também podem adotar. Enfim, existem mil métodos para que uma mulher tenha filhos, se quiser, sem precisar se casar com quem quer que seja. E ela tem todo o direito de ter ou não ter filhos, com ou sem sexo.


Religião como produtora e mantenedora do machismo


A frustação maior desses caras é que eles acham que a mulher existe para servi-los. Isso também é um reflexo dessa cultura judaico-cristã e até islâmica, que é desgraçadamente misógina, que coloca a mulher como serva do homem. O homem seria o cabeça do lar, o senhor da mulher. E existem passagens absurdas, inclusive no Novo Testamento, que falam sobre isso - que o homem é a cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da igreja.

Ora, se Jesus pode mandar na igreja como ele bem entender, então o homem pode mandar também na mulher. E se a igreja deve ficar submissa a Cristo, a mulher deve permanecer submissa ao homem. Quem nunca ouviu isso que me atire a primeira pedra?


Icels precisam de ajuda, mas não os subestime


Um incel que ainda não chegou às vias de fato no crime, pode e deve receber atendimento psicossocial em liberdade, é claro. Mas existem incels que já violentaram e até mataram mulheres. Estes devem receber esse tratamento já encarcerados, porque cometeram crimes. Não podem ficar inseridos no meio social e nem ter acesso algum à Internet. Vale ressaltar que a violência cometida por esses caras pode ser de vários tipos: violência verbal, simbólica, sexual, chegando à tortura e ao assassinato, como foi o caso do garoto que, lá na série da Netflix, mata a colega de escola a facadas. Ainda que isso possa parecer a exceção, isso é, na verdade, o resultado final de um longo processo de desumanização da mulher e da redução de sua existência a servir o homem em tudo, inclusive sexualmente, querendo ela ou não.


Os estereótipos criados pelo machismo são o estopim


O machista gosta de pensar que as mulheres têm que ser servas submissas, e que toda mulher que não se encaixa nesse perfil é fútil, interesseira, vulgar, e assim vai: "Não se dá o respeito", como eles adoram dizer por aí. E, pior, algumas mulheres, imbecilmente, repetem isso.

Não! Isso está estupidamente errado. Toda mulher merece respeito, e nenhuma mulher é obrigada a fazer seja lá o que for para ter o seu direito à dignidade garantido. Ela pode tomar as decisões que bem entender. E se essas decisões implicarem em quebra da lei, ela será punida nas bases da lei, assim como o homem. Ela terá oportunidades idênticas ao homem na sociedade, desde que essa sociedade seja saudável. Se não for saudável, equilibrada e justa, então essas mulheres não terão as mesmas oportunidades e sua luta por emancipação estará mais do que justificada. Isso é o que vemos em sua pior configuração no Afeganistão, mas não sew enganem: O Brasil ainda está muito aquém do que devia ser nesse quesito.

Os homens em geral, mas os incels, principalmente, muitas vezes, reduzem as mulheres à categoria de um prêmio. Isso fica muito claro quando homens com dinheiro e poder oferecem coisas muito boas e caras a certas mulheres interesseiras. Assim que elas aceitam essa barganha, elas se tornam seus troféus. Aliás, se você está preocupado em ter uma boa relação, devia ficar feliz que mulheres assim já sejam eliminadas do seu leque de opções, porque elas vão atrás desses trastes imprestáveis, geralmente por interesse “comercial”. Você devia ficar feliz por não cair nessa armadilha, pois essa mulher que não está disponível para você significa, na verdade, menos um problema na sua vida, meu caro.

Todavia, isso não dá direito a um incel ou qualquer outro homem de cometer um crime contra essa mulher nem de atacar aquele que a tem como parceira, simplesmente por não ter conseguido o que este agora exibe orgulhosamente por onde passa.  De um modo geral, nenhum ato de violência que não seja em legítima defesa e com força proporcional pode ser justificado.

Vale ressaltar que toda essa neurose incel começa com a cultura da masculinidade tóxica. E aí eu quero colocar a palavra machismo bem grande aqui: MACHISMO MATA. Isso não é novidade. Sempre foi assim com os machistas. Machistas são homens que acham que as mulheres estão a seu serviço e, portanto, têm que fazer o que eles querem.

Vocês estão muito impressionados com adolescentes numa série, mas os homens estão matando mulheres que não querem namorar com eles faz tempo. Eles as matam só porque elas terminaram um relacionamento ou porque se recusaram a começar. Por tudo e por nada, elas se tornam alvos da misógina desses machos escrotos. A torto e a direito, esses caras estão entrando em lojas e matando; em shoppings e matando; em estacionamentos e matando; na casa delas e matando; envenenando mulheres que nem imaginam que uma gentileza aparente esconde um plano macabro. Teve um que deixou o gás ligado para que a mulher morresse intoxicada, enquanto ele tinha tempo de escapar da cena do crime. E para que um bandido desses faça isso com a própria companheira, basta que ela esteja dormindo ou tenha sido dopada. Assim, quando o “incidente” for investigado, ainda vai ter gente achando que se trata de um acidente causado pela própria mulher por descuido. O azar desses homens é que, às vezes, há dispositivos de segurança que eles ignoram e que podem gravar o que eles estão fazendo, como foi o caso desse cara, desse imbecil inútil, que foi preso depois de matar a mulher intoxicada por gás doméstico.

Mas tudo isso vem da cultura machista, do ressentimento contra a mulher como pessoa autônoma. Por isso, o ódio desses homens contra o feminismo. Eles desprezam o direito da mulher à viver emancipada, de ser dona de si mesma. A igualdade de gênero no sentido de que tanto o macho quanto a fêmea devem ter as mesmas oportunidades, e que não há motivo para se fazer distinção entre eles é algo que esses machistas odeiam.

O machismo, que é a ideia de que o homem é superior à mulher, gera a misoginia, que é o ódio à mulher e a tudo o que é feminino. Essa misoginia pode se tornar o gatilho para o crime. Em poucas palavras: O machismo pensa a mulher como inferior, mas a mulher não se submete. Então, ele passa a odiá-la, e para se livrar do objeto do seu ódio, ele pode chegar a matá-la.

Se a mulher não se submete a esse tipo de homem, ele a ameaça e até assassina. Se ela se submete, passa a viver numa relação tóxica - o que não a ajuda, de modo algum, a escapar da opressão e dos maus tratos domésticos.


O macho heterossexual e o macho homossexual


Agora, uma coisa que é muito curiosa é a diferença entre esse tipo de homem heterossexual e os homens que não o são. Vamos recortar aqui esses machistas misóginos que acham que a heterossexualidade é a norma e que, por isso, toda mulher tem que ser dele. 

Mas, antes, vale abrir um parêntese aqui: A mulher lésbica.

Esses machos misóginos são lesbofóbicos. Eles acreditam que a mulher lésbica é assim por falta de macho que a dobre. A partir daí, basta que ele dê mais um passo nessa neurose para concluir que ele próprio poderia ser o “remédio para o problema dela” - problema que ele inventou, porque ser lésbica não é problema algum, exceto na cabeça doentia dele e de outros imbecis como ele. Esse macho adoecido pelo machismo pode inclusive violentá-la na expectativa de que depois de conseguir o que ele verdadeiramente deseja - a gratificação sexual -, ela passe a gostar da “fruta” que ele tem para oferecer, mas não é isso que acontece: A mulher lésbica violentada é uma mulher traumatizada, assim como qualquer mulher. Pode, inclusive, sofrer mais por nunca ter desejado homem algum, para começo de conversa.

Retomando a questão do homem heterossexual machista em contrayst com o homem homossexual, note que quando um gay quer um homem para chamar de seu, ele o conquista por outros meios. Ele recorre à sedução, a um papo legal, a uma troca de fotos, ou a alguma coisa que vai fazer com que esse homem deseje ficar com ele. Até mesmo uma passada de mão aqui ou ali porque o cara está dando mole para ele. Tipo, o cara está olhando, está fazendo gestos como “pega aqui, pega ali”. Aí, ele vai lá e pega, e aí as coisas acontecem. Nunca é algo como o que um incel e outros machistas fazem com as mulheres. Um gay não vai pensar algo do tipo: "Este homem me deve isso porque ele foi feito para esse propósito. Ele foi criado para mim". E isso se dá porque não existe essa cultura na cabeça do homossexual. Não existe essa ideia de que um homem foi feito com o propósito de ser dele, ou que ele foi feito com o propósito de pertencer ao outro. Não. Ele entende que as pessoas vão ser o que são: Podem ser amantes dele, podem não ser, podem nem sequer gostar daquilo que ele tem para oferecer, e não tem nada de errado com isso. Ele sabe disso e, mesmo sendo vilipendiado, humilhado, pisado desde pequenininho, às vezes já dentro de casa pelos familiares, ele não cresce para se tornar um frustrado ao ponto de querer matar alguém porque não lhe correspondeu aqui ou ali. Isso é curioso, porque se tudo se resumisse a uma relação entre violência/rejeição e produção de mais violência, os homens gays seriam os maiores assassinos do mundo. E não o são!


O que poderia ser a razão para essa diferença, então?

Uma possível razão para isso, e que pode ser uma forma de explicar por que as coisas costumam acontecer assim, é que muitos gays aprendem a lidar com a frustração oriunda da rejeição desde pequenos. Assim, eles são obrigados a encontrar caminhos de sobrevivência que não passem pelo extermínio do outro, mas, sim, que passem pela emancipação de si mesmos. Eles pensam em ser independentes, ter um bom emprego, conseguir sua casa - um canto onde possam viver suas vidas sozinhos ou com aquelas pessoas que gostam deles e vice-versa.

Então, é muito curioso como a cultura do machismo faz mal a mulheres heterossexuais, a homens gays, bissexuais e por aí vai. Faz mal, especialmente, às mulheres trans, porque esses homens, muitas vezes, acham que uma mulher trans é um homem querendo enganá-los. Eles se fixam nessa ideia ridícula do engano o tempo todo, como se essa mulher trans quisesse ludibriá-los. Porém, a verdade é que uma mulher trans é apenas uma mulher trans - se você gosta dela, fique com ela, se ela quiser ficar com você, é claro. Se você não gosta, não fique com ela. E se ela não quer ficar com você, respeite a decisão dela e não faça nada. Apenas pegue o caminho da roça e vá embora. 

Ah, e não se esqueça: transexualidade não tem nada a ver com orientação sexual. Pessoas trans podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais, etc. em seu desejo/afetividade. Então, tem mulher trans que não gosta de transar com homem e também tem homem trans que não gosta de transar com mulher. Não se precipite em sua conclusões baseadas em estereótipos hetero-cisnormativos.


Plantado em solo religioso


A verdade é que tanto graças  ao cristianismo como também ao judaísmo e ao islamismo, só para citar os três maiores monoteísmos, o machismo e a misoginia se tornaram insuportáveis. Em outras religiões, o machismo também existe, mas nenhuma é tão meticulosamente descarada nessa estrutura infame quanto essas três vertentes.

Então, quer assistir à série? Assiste à série! Mas não pense que isso é alguma novidade. E não pense que porque esse garoto fez isso mais cedo, ele é pior do que os homens que vão fazer isso mais tarde. Alguns homens vão fazer isso aos 25 ou 30 anos. Esse garoto fez ainda na adolescência. Porém, todos eles estão fazendo pelo mesmo motivo: machismo patriarcal, misógino, antifeminista, homo-transfóbico, que não consegue entender que não há nada de superior num homem por ele ser homem cisgênero e hétero. Por isso mesmo, a mulher não é inferior em nada, e um homem sexodiverso também não. Uma pessoa transgênera, seja ela quem for, também não é inferior a esses supostos machos alfa. Essa hierarquia só existe na cabeça dessa gente adoecida por tais ideologias sexistas alimentadas pela igreja, a família e a escola - para ficar em três aqui. Quando o imbecil compra esse discurso e o alimenta com coleguinhas idiotas como ele, isso não tem como acabar bem.

Então, fica aqui minha contribuição para esse debate. Meu pensamento é direto e simples. Você pode até pensar que é uma análise rasa. Eu não dou a mínima, porque o que acabo de expor é perfeitamente verificável, e não tenho visto as pessoas falarem sobre isso do modo que eu acabo de falar aqui, inclusive com esse viés que dialoga com a sexodiversidade e com a transgeneridade.

Internet e pornografia

Abram o olho! Entendam que a Internet ajudou a piorar isso tudo, justamente por causa desses fóruns.

A pornografia também pode ser uma ferramenta para a produção dessas neuroses. Antes de concluir, deixe-me falar sobre isso. 

Por que digo que a pornografia pode estimular isso?

Antes de mais nada, já está completamente errado que uma criança pequena ou adolescente seja exposto à pornografia, mas pode ser muito pior quando não se trata apenas da relação entre duas pessoas no sentido mais comum dessa transa. Existem coisas, muitas vezes, absurdas, incluindo estupros, ainda que sejam apenas simulados. E é claro que tudo pode ser apenas encenação, mas o impacto disso sobre uma mente infanto-juvenil é desastroso.

Tem todo o tipo de coisa: Estupros, sadismo, submissão extremamente humilhante, etc. Não se trata  sequer de uma relação sexual nos moldes mais tranquilos - o que já seria ruim, porque crianças e adolescentes não deveriam ter acesso a isso. Mas, a coisa é bem pior, porque são comportamentos abjetos, tipo homem e mulher transando e comendo bosta ou homem mijando em cima da mulher ou a mulher mijando em cima do homem. E aí, cá entre nós, se você tem esse fetiche, o problema é seu. Faça o que você quiser com quem aceitar, mas é inaceitável que uma criança ou adolescente veja isso.

Portanto, abra o olho com seu adolescente e com você mesmo. Não alimente o monstro que pode haver em você sem que você sequer imagine. E não alimente os monstros que podem existir na sua família e ao seu redor. Não estou dizendo que eles são monstros ainda, mas podem se tornar. Qualquer pessoa pode! Se não agimos assim é porque desenvolvemos barreiras que têm suas raízes na empatia. E baseados na empatia, nós construímos um sistema moral maior, mais elevado, que inclui o respeito a essas diferenças. A diferença está juntando em nos colocamos em pé de igualdade com o outro. É  isso que machistas e misóginos de todos os tipos não fazem. Podemos ser diferentes em muitos sentidos, mas não em grau de importância, valor ou dignidade. 

Homem, mulher, hétero, LGBT, cisgênero ou transgênero, branco, preto, seja qual for a cor, não existe diferença na hierarquia de valores. Quem criou isso foi algum neurótico, algum tipo de ser humano, provavelmente macho inseguro e ambicioso por poder, que foi pervertido por pensamentos religiosos absurdos e viveu para propagá-los.


Não compre esse lixo discursivo, seja ele machista, misógino, anti-feminista, homofóbico e transfóbico em separado ou tudo junto! Você pode ser melhor do que isso.

Escoceses dizem não à pregação homofóbica e misógina do Pastor Angus Buchan

Escoceses não querem Pastor Angus Buchan

Com informações de Dan Littauer em 12 de agosto de 2016
Originalmente publicado por Kaleidoscot
http://www.kaleidoscot.com/scotland-says-no-to-homophobic-pastor-angus-buchan-7725Kaleidoscot

Traduzido e adpatado por Sergio Viula


 
Pastor Angus Buchan

Depois dos ativistas escoceses, agora foi a vez do Conselho Escocês de Fronteiras agir. O Conselho proibiu o Pastor Angus Buchan, criticado por misoginia e homofobia, de pregar em território sob sua jurisdição.

O pastor sul-africano, que foi convidado pela igreja evangélica "Hope Church" para falar no Volunteer Hall, em Galashiels, na Escócia, mais adiante esse mês, provocou um clamor entre defensores dos direitos LGBTs.

A organização Igualdade LGBT nas Fronteiras Escocesas (The Scottish Borders LGBT Equality), apoiada pelo Scottish Borders Rape Crisis, contatou o Live Borders, parte do Conselho Escocês de Fronteiras, que é dono do local onde será realizado o evento, que, por sua vez, decidiu não permitir que Buchan circule no local.

Buchan prega para dezenas de milhares de participantes pagantes na África do Sul, onde ele diz que a homossexualidade é uma "doença" e pode ser "curada" pela oração.

O pastor também dirige as conferências denominadas "Homens Poderosos" (“Mighty Men”) para "tratar" a masculinidade deles, e voltada mulheres que se sujeitem a seus maridos e apoiem o castigo corporal de seus filhos.

Falando com o site KaleidoScot, Melanie Nathan, Diretora Executiva do Coalizão Africana para os Direitos Humanos (The African Human Rights Coalition) parabenizou os grupos escoceses por sua ação e convocou uma ação em todo o Reino Unido para que Buchan não tenha espaço para pregar suas mensagens misóginas e homofóbicas em seu território. Ela também pediu que o pastor seja proibido de entrar no Reino Unido.

"É importante destacar que ninguém está impedindo o direito de livre expressão de Buchan ou a prática de sua religião. Ele tem a internet, seu púlpito, e seu próprio país. O que ele não tem é o direito de entrar num país estrangeiro. Isso é um privilégio." - diz ela.


Melanie Nathan

"Emitir um visto é decisão de um governo e se esse governo determina que uma pessoa causará dano a seu país, ele tem o dever, na minha opinião, de negar o visto. As declarações de Buchan nada mais são do que terror psicológico para jovens que estão lidando com sua sexualidade e aceitação familiar. O fato de que ele representa charlatanismo quando garante que pode curar alguém de ser gay é razão suficiente para negar um visto.”

O Pastor Angus Buchan ainda está escalado para falar em cinco outros locais na Inglaterra, Irlanda do Norte e Repúlbica da Irlanda.

Ele também conduzirá a infame Conferência Might Men (Homens Poderosos), no final de agosto, em Pateley Bridge, North Yorkshire.

Veja a matéria completa no Kaleidoscot:
http://www.kaleidoscot.com/scotland-says-no-to-homophobic-pastor-angus-buchan-7725

Violência no limite - Marta Suplicy



"Violência no limite"


Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo do dia 4/8/2012:
 
"Ele foi atropelado na Paulista, assaltado no Butantã, alvejado no Cambuci, espancado no centro e acabou morto por engano pela polícia." Ninguém explicitou de forma tão clara e dura o que vivem hoje os cidadãos paulistanos do que Angeli, em sua genial charge, no dia 27 de julho ("Opinião").
 
São os assaltos a restaurantes, os assassinatos de pessoas que não devem nada à comunidade, os prédios inteiros barbarizados, a quadrilha de jovens da classe média roubando e fazendo sequestros-relâmpagos para comprar roupas de grife e ter dinheiro para a balada... Além da violência no trânsito, as mortes causadas por motoristas embriagados e os gays atacados por homofóbicos na avenida mais emblemática da cidade.
 
Nesse conturbado panorama, a CPMI que investiga a violência contra as mulheres traz dados estarrecedores do desleixo e da falta de infraestrutura com que o mais rico Estado brasileiro trata a mulher.
 
O Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari, mostrou que São Paulo é o Estado que teve mais casos de mulheres assassinadas no Brasil em 2010 (foram 663 vítimas).

Os números assustam e a questão continua desprezada. A Lei Maria da Penha, que completará seis anos no próximo dia 7, assim como em outros Estados, carece de implementação adequada por falta de recursos e de funcionários preparados. O pouco que tem vem da União. Inquéritos são devolvidos às delegacias, pois, de tão malfeitos, não podem ser aceitos pelo Ministério Público.
 
Repetindo: os homens morrem nas ruas e as mulheres morrem e são agredidas em suas casas.

Quanto aos homossexuais, pesquisa publicada pela Folha ("Cotidiano", 23/7) traz uma surpresa, quando indica a família e os vizinhos em primeiro lugar como os mais violentos contra gays.
 
O número de 62% dos ataques feitos por conhecidos mostra uma sociedade ainda preconceituosa e com muita dificuldade em aceitar o diferente. Mas, evidencia também, o descaso governamental com a educação nas escolas, que falham no ensino ao respeito à diversidade sexual.
 
O ignorar da questão acaba não influenciando a diminuição do preconceito e da violência familiar contra gays. Também não inibe os ataques virulentos contra homossexuais nas ruas de São Paulo.
 
Os desafios são grandes. De solução mais rápida, pois depende de decisão política e coragem, são os bandidos (vide exemplo do Rio, que, numa situação que parecia insolúvel, conseguiu grandes avanços).
 
Muito pode ser obtido com determinação, parceria federal, criatividade e investimento em inteligência. Mulheres e gays ainda vão esperar mais um pouco, pois a cultura machista e o preconceito exigem mais esforço e tempo. Mas não tem volta, chegaremos lá.
 

Foto: Reprodução

Se dependesse dos conservadores...


Se dependesse dos conservadores...


Se dependesse dos conservadores, o mundo ainda estaria preso ao passado — acorrentado por dogmas, preconceitos e privilégios seletivos. Nada de ciência, nada de igualdade, nada de diversidade. Se eles tivessem vencido todas as batalhas que travaram contra o progresso, veja só em que tipo de mundo estaríamos vivendo:

1. A Terra ainda seria o centro do universo.
Galileu teria sido silenciado para sempre e a Igreja ainda estaria ditando o que é ou não é verdade científica. A teoria da evolução de Darwin seria heresia, e escolas ensinariam que o mundo tem seis mil anos e foi feito em seis dias. O avanço científico estaria de joelhos diante da teologia.

2. Os negros ainda seriam escravizados.
Os conservadores se opuseram ferozmente à abolição da escravidão. A luta pela liberdade dos povos negros foi vencida apesar deles, não com a ajuda deles. E mesmo após a abolição, foram os conservadores que tentaram impedir cada passo rumo à igualdade racial: do voto à educação, do direito à moradia digna ao combate à violência policial.

3. As mulheres estariam caladas e em casa.
O direito ao voto feminino? Eles foram contra. Direito de estudar, trabalhar, usar anticoncepcionais, decidir sobre o próprio corpo? Contra também. Se dependesse dos conservadores, mulheres ainda seriam propriedade dos maridos, sem autonomia, sem voz, sem vez.

4. Pessoas LGBT+ estariam presas, “internadas” à força ou mortas.
Homossexualidade ainda seria crime. Travestis e pessoas trans seriam internadas compulsoriamente. Casamento igualitário jamais teria sido aprovado, e a adoção por casais homoafetivos seria considerada uma “aberração”. Eles tentaram (e tentam até hoje) barrar cada conquista LGBT+, sempre com os mesmos argumentos bíblicos reciclados e a mesma cara de pau moralista.

5. O Estado ainda seria teocrático.
A laicidade — essa base fundamental da democracia moderna — seria descartada em favor de um “Estado cristão”, com leis baseadas em interpretações religiosas ao gosto do freguês da vez. E a diversidade de crenças? Silenciada. Ateus, umbandistas, espíritas, judeus, muçulmanos? Marginalizados.

6. A liberdade de expressão seria privilégio dos iguais.
Conservadores têm dificuldade em lidar com vozes divergentes. Se dependesse deles, livros seriam censurados, artistas calados, professores vigiados e manifestações reprimidas. Eles chamam de “ideologia” tudo o que desafia seus dogmas — e de “ameaça” tudo que não entendem.

Felizmente, não dependeu — e não depende — só deles.
Foi a luta de mulheres, negros, pessoas LGBT+, cientistas, ativistas e sonhadores que empurrou o mundo pra frente. Cada conquista foi arrancada com suor, coragem e resistência. E cada direito garantido precisa ser defendido com firmeza — porque os conservadores seguem tentando voltar com tudo que já se foi.

Se dependesse deles, você não estaria lendo este texto. Eu não estaria escrevendo. E o Fora do Armário nem existiria.

Mas existimos. E resistimos.

Com orgulho. Com raiva quando precisa. E com memória — pra nunca esquecer quem tentou (e ainda tenta) nos calar.

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