Portugal e Espanha: Uma História LGBT+ de Resistência e Conquista

Portugal e Espanha compartilham mais do que a Península Ibérica: suas histórias estão entrelaçadas desde os tempos do Império Romano — inclusive quando o assunto é sexualidade.

Na Antiguidade, relações entre homens mais velhos e jovens eram comuns e socialmente aceitas. O que pesava era a ideia de poder entre o papel ativo e o passivo. Não por acaso, deuses ligados à fluidez de gênero e desejo, como Dionísio (Baco), eram cultuados justamente nessas terras.
Espanha: da repressão à vanguarda
Durante a Inquisição, tanto em Portugal quanto na Espanha, pessoas acusadas de “sodomia” eram perseguidas e muitas vezes submetidas a torturas brutais. Instrumentos como o potro (que esticava o corpo até deslocar articulações), o cavalete (estrutura triangular sobre a qual a vítima era forçada a se sentar, provocando dores lancinantes) e o tormento da água (em que litros de água eram despejados goela abaixo até causar sufocamento) eram utilizados para arrancar confissões. A crueldade não mirava apenas a “salvação da alma”, mas também funcionava como ferramenta de controle social e sexualidade.

Com a democratização, a lei mudou em 1979 e a comunidade LGBT+ começou a ganhar visibilidade, especialmente durante a Movida Madrileña, movimento de contracultura dos anos 1980 que sacudiu a Espanha com cores, música e liberdade.

Em 2005, a Espanha tornou-se um dos primeiros países do mundo a legalizar o casamento igualitário — um marco global.

Curiosidade histórica: em 1901, Marcela e Elisa enganaram padres ao se casar numa igreja católica, com Elisa disfarçada de homem. Foi o único casamento homoafetivo realizado pela Igreja no país. Ponto para elas!
Ícones LGBT+ da Espanha

Federico García Lorca – poeta e dramaturgo gay, assassinado pelo regime franquista.

Pedro Almodóvar – cineasta que deu visibilidade a narrativas LGBT desde os anos 1980.

La Veneno (Cristina Ortiz) – mulher trans e ícone pop que se tornou referência da cultura queer espanhola.
Portugal: silêncio, resistência e avanços
Em Portugal, a homossexualidade foi criminalizada como “vício contra a natureza” entre os séculos XIX e XX. Sob a ditadura do Estado Novo, pessoas LGBT eram perseguidas, presas e tratadas como doentes mentais.
A virada só veio com a democracia: em 1982, a homossexualidade deixou de ser crime. Depois, o país avançou com conquistas importantes:
- 2010 – casamento igualitário;
- 2016 – direito à adoção;
- 2018 – lei da autodeterminação de gênero a partir dos 16 anos.
Ícones LGBT+ de Portugal

António Botto – poeta modernista gay, censurado nos anos 1920.

Gisberta Salce Júnior – mulher trans brasileira assassinada em 2006, cuja morte expôs a transfobia no país.

Fado Bicha – duo musical queer que ressignifica o fado com histórias LGBT+.
A história LGBT+ na Península Ibérica é marcada por repressão, resistência e, felizmente, conquistas históricas. Espanha e Portugal, cada um à sua maneira, transformaram dor em luta e luta em vitória.
E você, já conhecia essas histórias? Qual delas mais te marcou?
