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Portugal e Espanha: Uma História LGBT+ de Resistência e Conquista

Portugal e Espanha: Uma História LGBT+ de Resistência e Conquista


Bandeiras de Portugal e da Espanha


Portugal e Espanha compartilham mais do que a Península Ibérica: suas histórias estão entrelaçadas desde os tempos do Império Romano — inclusive quando o assunto é sexualidade.


Penísnula Ibérica: Portugal e Espanha


Na Antiguidade, relações entre homens mais velhos e jovens eram comuns e socialmente aceitas. O que pesava era a ideia de poder entre o papel ativo e o passivo. Não por acaso, deuses ligados à fluidez de gênero e desejo, como Dionísio (Baco), eram cultuados justamente nessas terras.


Espanha: da repressão à vanguarda

Durante a Inquisição, tanto em Portugal quanto na Espanha, pessoas acusadas de “sodomia” eram perseguidas e muitas vezes submetidas a torturas brutais. Instrumentos como o potro (que esticava o corpo até deslocar articulações), o cavalete (estrutura triangular sobre a qual a vítima era forçada a se sentar, provocando dores lancinantes) e o tormento da água (em que litros de água eram despejados goela abaixo até causar sufocamento) eram utilizados para arrancar confissões. A crueldade não mirava apenas a “salvação da alma”, mas também funcionava como ferramenta de controle social e sexualidade.




No século XIX, a homossexualidade foi criminalizada no país. Durante a ditadura de Franco (1939–1975), a perseguição atingiu níveis brutais: homossexuais eram enviados para campos de trabalho forçado, como os de Badajoz e Tefía.

Com a democratização, a lei mudou em 1979 e a comunidade LGBT+ começou a ganhar visibilidade, especialmente durante a Movida Madrileña, movimento de contracultura dos anos 1980 que sacudiu a Espanha com cores, música e liberdade.


A Movida  Mardileña

Em 2005, a Espanha tornou-se um dos primeiros países do mundo a legalizar o casamento igualitário — um marco global.


Curiosidade histórica: em 1901, Marcela e Elisa enganaram padres ao se casar numa igreja católica, com Elisa disfarçada de homem. Foi o único casamento homoafetivo realizado pela Igreja no país. Ponto para elas!


Ícones LGBT+ da Espanha


Federico García Lorca – poeta e dramaturgo gay, assassinado pelo regime franquista.


Pedro Almodóvar – cineasta que deu visibilidade a narrativas LGBT desde os anos 1980.


La Veneno (Cristina Ortiz) – mulher trans e ícone pop que se tornou referência da cultura queer espanhola.


Portugal: silêncio, resistência e avanços


Em Portugal, a homossexualidade foi criminalizada como “vício contra a natureza” entre os séculos XIX e XX. Sob a ditadura do Estado Novo, pessoas LGBT eram perseguidas, presas e tratadas como doentes mentais.

A virada só veio com a democracia: em 1982, a homossexualidade deixou de ser crime. Depois, o país avançou com conquistas importantes:

  • 2010 – casamento igualitário;
  • 2016 – direito à adoção;
  • 2018 – lei da autodeterminação de gênero a partir dos 16 anos.


Ícones LGBT+ de Portugal


António Botto – poeta modernista gay, censurado nos anos 1920.


Gisberta Salce Júnior – mulher trans brasileira assassinada em 2006, cuja morte expôs a transfobia no país.


Fado Bicha – duo musical queer que ressignifica o fado com histórias LGBT+.


A história LGBT+ na Península Ibérica é marcada por repressão, resistência e, felizmente, conquistas históricas. Espanha e Portugal, cada um à sua maneira, transformaram dor em luta e luta em vitória.

E você, já conhecia essas histórias? Qual delas mais te marcou?

Conheça 'AS FADO BICHA': O fado em voz queer

🎤 Fado Bicha: Quando o Fado Sai do Armário e Ocupa o Palco com Vozes Queer





Por Sergio Viula | Blog Fora do Armário


Se há algo que define o fado, é o lamento, a dor e o destino. Mas e quando essa dor vem de amar alguém do mesmo sexo em uma sociedade conservadora? E quando o destino é o da resistência queer? As Fado Bicha, dupla portuguesa formada por Lila Fadista e João Caçador, surgem para dar voz a essas narrativas silenciadas — e o fazem com coragem, arte e uma beleza desconcertante.
 
🎭 Quem são As Fado Bicha?

Lila Fadista, persona artística de Luís Trigacheiro, é a alma vocal do projeto. Com presença cênica intensa e letras autorais, Lila canta as dores e os prazeres de ser LGBTQIA+ em uma sociedade ainda marcada por traços patriarcais e conservadores.

Ao seu lado está João Caçador, músico multi-instrumentista que costura o fado tradicional com elementos contemporâneos — da eletrônica ao spoken word. Ele maneja a guitarra portuguesa e o violão com respeito à tradição, mas sem se prender a ela.
 
🌈 Um Fado Queer, Feminista e Anticapitalista

Criado em 2017, o projeto Fado Bicha se define como uma “intervenção artística e política queer na música popular portuguesa”. Desde o nome — que ressignifica a palavra “bicha”, usada de forma pejorativa para se referir a homens gays — até as letras que evocam experiências trans, relações homoafetivas, violência estrutural e religiosidade opressiva, o grupo subverte o fado com lirismo e militância.
 
📀 “Ocupa”: O Primeiro Álbum

Em 2022, lançaram seu primeiro álbum, Ocupa, um manifesto sonoro que propõe exatamente isso: ocupar espaços historicamente excludentes com corpos e vozes dissidentes.

Entre os destaques do álbum estão:


🎶 “Trava” – Um hino de empoderamento sobre identidades trans e não binárias.


🎶 “Eu Vim do Tempo do Medo” – Que entrelaça passado e presente, evocando a repressão do Estado Novo e a vivência LGBTQIA+ em Portugal.


🎶 “O Namorico da Rita” – Uma releitura com viés queer de um clássico do fado.
🧠 Arte e Política de Braços Dados

As Fado Bicha não se limitam aos palcos. Participam de debates públicos, colaboram com coletivos LGBTQIA+, feministas e antirracistas, e levam sua arte a escolas, centros culturais e festivais — dentro e fora de Portugal.

Seus shows são performances completas: não apenas concertos musicais, mas experiências sensoriais que misturam música, palavra falada, drag, discurso político e catarse emocional.
 
📺 Presença na Mídia

A dupla já participou de documentários, festivais de cinema e programas na RTP, SIC e CNN Portugal, além de ter presença marcante nas redes sociais. Em 2024, foram tema de um documentário exibido no Festival de Cinema LGBTQIA+ do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
 
🗣️ Frases que Marcam


“O fado tem espaço para a tristeza queer. Para os nossos lutos, para os nossos amores proibidos. A gente só precisava ocupar esse lugar.”
— Lila Fadista


“Somos bichas no fado e fadistas nas ruas.”
— Fado Bicha
🎧 Onde ouvir?

Você pode ouvir Ocupa e outras músicas de Fado Bicha nas principais plataformas de streaming:

Spotify

Apple Music

YouTube

Siga também no Instagram: @fadobicha

✊ Um Fado do Nosso Tempo
 
Ao transformar o fado em uma ferramenta de resistência, As Fado Bicha mostram que a arte pode — e deve — refletir todas as formas de amar, existir e resistir. Com eles, o fado não morre: renasce nas esquinas da dissidência, com voz, brilho e coragem.


🎬 Uma Experiência Transformadora no Festival LGBTQIA+ do CCBB

No último domingo, 07 de julho de 2025, tive a alegria de assistir à estreia brasileira do documentário “Them, Fado Bicha”, no 14º Festival de Cinema LGBTQIA+ realizado no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. A sessão, exibida às 19h30, foi um mergulho poético, íntimo e profundamente político na trajetória de Lila Fadista e João Caçador, os corpos e almas por trás do projeto Fado Bicha.

Com direção sensível da cineasta Justine Lemahieu, o documentário (Portugal, 2024 – 1h22) nos conduz pelos bastidores e palcos, mas vai além da superfície artística: revela também a intimidade dos camarins, os silêncios, os olhares, as dúvidas e a ternura compartilhada por dois artistas que ousam viver, amar e cantar fora da norma.

A obra questiona diretamente nossas ideias sobre aparência, gênero, linguagem e sexualidade, construindo um retrato honesto e comovente de um projeto artístico que é, antes de tudo, resistência viva.

Ver Fado Bicha na tela grande, no contexto de um festival que celebra as múltiplas vozes da comunidade LGBTQIA+, foi mais do que uma experiência cinematográfica: foi um ato de escuta, afeto e identificação. Saí da sala com o coração cheio — e com a certeza de que a arte, quando dissidente, tem o poder de mudar o mundo.

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