Mostrando postagens com marcador deus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador deus. Mostrar todas as postagens

A Religião é a Fraude Mais Duradoura da Humanidade

 A Religião é a Fraude Mais Duradoura da Humanidade




Transcrição (com subtítulos adicionados) deste vídeo publicado por Secularis (em inglês):



Religião já foi chamada de muitas coisas ao longo dos tempos, mas, em sua essência, funciona como a mais antiga fraude da história humana. Ela toma algo intangível, algo que ninguém pode provar, e o vende como se fosse a coisa mais certa e valiosa do mundo. Exige pagamento, obediência e lealdade em troca de promessas que não pode cumprir até depois da morte, quando ninguém pode verificá-las. Diferente de um golpista de rua, que desaparece após o golpe, a religião constrói uma instituição inteira para garantir que a fraude dure não apenas anos, mas gerações.

No coração de todo golpe existe um gancho. Para a religião, esse gancho é o medo: medo da morte, do castigo, de estar sozinho em um universo vasto e indiferente. As pessoas são ensinadas que, sem religião, estão perdidas, sem sentido e vulneráveis ao tormento eterno. Esse medo é combinado com uma solução exclusiva: apenas este deus específico, nesta fé específica, através destes rituais específicos pode salvar você. É a mesma tática de um fraudador que exagera ou inventa um problema e afirma que só ele pode protegê-lo.

A genialidade do esquema está no fato de não precisar mostrar resultados no presente. Um golpista que vende remédio falso pode ser desmascarado quando o produto não cura ninguém. Mas a religião promete suas recompensas após a morte, em um reino de onde ninguém pode voltar para dar testemunho. Isso a torna imune ao tipo de evidência que a desmentiria. É como vender ingressos para um espetáculo que só começa quando a plateia já não existe mais.

O fluxo constante de recursos

As religiões também dominam a arte de garantir fluxo constante de recursos. Pedem dinheiro não como transação, mas como dever sagrado: dízimos, ofertas, doações — todos apresentados como atos de devoção, não de troca financeira. E quanto mais alguém dá, mais lhe dizem que está provando sua fé. Nos sistemas religiosos mais bem-sucedidos, essa riqueza se acumula isenta de impostos, permitindo-lhes construir impérios, enquanto os fiéis são incentivados a se contentar com pouco. Não é apenas orientação espiritual, mas uma estrutura financeira projetada para extrair recursos de muitos e consolidá-los nas mãos de poucos.

A moralidade como disfarce

Um dos truques mais antigos do manual da religião é disfarçar-se de moralidade. Ao afirmar ser a fonte de todos os valores éticos, coloca-se como indispensável. Ensina-se que, sem ela, não haveria certo ou errado, justiça ou compaixão. É como um golpista convencendo você de que inventou a honestidade e, por isso, deve ser confiado totalmente. Na realidade, o comportamento moral existia muito antes da religião organizada e continua existindo em sociedades seculares que estão entre as mais éticas e pacíficas do mundo.

O controle da informação

O controle da informação também é chave para a sobrevivência da fraude. Em muitos períodos históricos, autoridades religiosas decidiram quais livros podiam ser lidos, quais ideias ensinadas e quais perguntas feitas. Quem desafiava os ensinamentos oficiais arriscava ser rotulado de herege, exilado, torturado ou morto. Ainda hoje, em alguns países, questionar dogmas religiosos pode resultar em prisão ou execução. Ao suprimir visões contrárias, a religião mantém um monopólio da verdade — não por prová-la, mas por silenciar o dissenso.

O que torna essa fraude tão eficaz é sua capacidade de adaptação. Quando a ciência refuta uma afirmação, a religião muitas vezes reinterpreta seus ensinamentos como se sempre tivesse significado aquilo. Essa mudança constante das regras impede os seguidores de perceber que o sistema estava errado desde o início. Assim, evita o colapso da mesma forma que um estelionatário habilidoso evita a prisão: mudando a história apenas o suficiente para se manter à frente da exposição.

O cerimonial como espetáculo "divino"


Os líderes religiosos também usam status e cerimônia para reforçar sua influência. Vestes elaboradas, arquitetura sagrada, títulos especiais e rituais ensaiados criam uma aura de autoridade. Esses símbolos transmitem a mensagem de que os líderes não são pessoas comuns, mas escolhidas, elevadas e ligadas ao divino. Esse espetáculo visual e emocional torna os fiéis menos propensos a questionar a autoridade, pois fazê-lo parece ser o mesmo que desafiar o divino.

Recrutamento e doutrinação

A estratégia de recrutamento é tão sofisticada quanto qualquer campanha moderna de marketing. A religião mira nas crianças, sabendo que crenças ensinadas cedo são as mais difíceis de questionar depois. Mentes jovens são moldadas por histórias, músicas e repetição, de modo que as mensagens centrais se tornam parte da identidade da pessoa. Quando chegam à vida adulta, questionar essas crenças parece trair a família, a comunidade e a si mesmos.

A genialidade da fraude está em convencer as pessoas a defendê-la por conta própria. Os mais explorados muitas vezes tornam-se seus protetores mais leais, atacando quem critica a fé. Fazem isso não porque tenham recebido provas sólidas, mas porque todo o seu modo de ver o mundo depende de manter a crença intacta. É o mesmo mecanismo psicológico visto em vítimas de golpes financeiros que se recusam a admitir que foram enganadas, mesmo diante de evidências.

A única religião certa

Outro elemento é a exclusividade. Muitas religiões ensinam que apenas elas possuem a verdade e que todas as outras são falsas. Isso cria um sentimento de especialidade nos crentes, mas também assegura divisão. As pessoas são menos propensas a se unir contra o sistema quando estão ocupadas vendo os de fora como inimigos. Essa estratégia de dividir para conquistar mantém a fraude funcionando mesmo quando religiões concorrentes compartilham a mesma falta básica de evidências.

A manipulação emocional vai além do medo: alcança também a esperança. Fiéis recebem promessas de justiça perfeita, felicidade eterna e reencontro com entes queridos — tudo no além. São desejos humanos poderosos que nenhum sistema pode garantir plenamente. A religião os explora, oferecendo certezas onde nenhuma existe. O preço desse consolo é obediência, conformidade e, muitas vezes, uma vida inteira de investimento financeiro e emocional.

Outro aspecto que sustenta essa fraude é a manipulação da culpa. As pessoas são ensinadas a acreditar que são fundamentalmente defeituosas, pecadoras por natureza, indignas de amor ou salvação sem a ajuda da religião. Essa mensagem corrosiva destrói a autoestima e cria dependência. A religião então se apresenta como a única fonte de perdão e redenção. É uma técnica clássica de manipulação psicológica: primeiro quebrar a confiança da vítima, depois oferecer-se como a única forma de reparo.

Em muitas tradições, até pensamentos são policiados. Não basta obedecer externamente; espera-se que o fiel controle seus desejos mais íntimos e até seus sonhos. A religião se infiltra nas áreas mais privadas da mente, exigindo pureza em nível impossível de alcançar. Quando as pessoas inevitavelmente falham, são incentivadas a se sentir culpadas e buscar ainda mais a religião para conforto. Isso cria um ciclo de autoperpetuação no qual o fracasso humano normal reforça o poder da instituição.

O mito da longevidade como prova

Além disso, a religião se beneficia de sua longevidade. O simples fato de uma tradição ter sobrevivido por séculos é usado como prova de sua verdade. Mas longevidade não valida uma afirmação. Fraudes podem durar indefinidamente se forem suficientemente bem estruturadas e se transmitirem de geração em geração. Muitos mitos antigos sobre deuses hoje parecem risíveis, mas por milhares de anos foram aceitos como verdades sagradas. A religião atual só parece diferente porque ainda é amplamente praticada; um dia, pode ocupar o mesmo espaço que as lendas antigas de deuses caídos em desuso.

O engodo da justiça final

Outro pilar do sucesso da fraude é a promessa de justiça final. Em um mundo onde a injustiça é frequente, a religião afirma que todo mal será corrigido em outra vida. Essa crença desvia a atenção da necessidade de lutar por justiça real aqui e agora. Se os pobres acreditam que sua recompensa virá no paraíso, são menos propensos a desafiar sistemas econômicos que os exploram. Se os oprimidos acreditam que seus opressores serão punidos no além, podem aceitar sofrimentos intoleráveis em vez de exigir mudança. A religião assim funciona como um amortecedor social, protegendo estruturas de poder contra revoltas.

Em algumas versões, a fraude vai ainda mais longe ao justificar atrocidades. Guerras, escravidão, genocídio e perseguição foram todos defendidos com base em autoridade religiosa. Quando líderes afirmam que suas ações contam com aprovação divina, conseguem fazer com que seguidores participem de atos que, de outra forma, pareceriam moralmente repulsivos. A fraude, portanto, não é apenas passiva, mas capaz de transformar sociedades inteiras em cúmplices de violência em nome de um mito.

A falácia do Deus das lacunas

A religião também tira proveito do mistério. Onde há lacunas no conhecimento humano, ela se insere como explicação. Antes de a ciência revelar causas naturais para relâmpagos, doenças ou movimento dos planetas, eram atribuídos aos deuses. À medida que o conhecimento avança, a religião recua, mas sempre encontra novos espaços de sombra para ocupar. Esse “Deus das lacunas” garante que a fraude nunca precise admitir derrota total, apenas redirecionar suas afirmações.

O senso de pertencimento como forma de aprisionamento

A força final dessa fraude é sua capacidade de oferecer identidade e comunidade. Pertencer a uma religião muitas vezes significa pertencer a uma família extensa de crentes que compartilham valores, costumes e um senso de propósito. Isso satisfaz necessidades sociais profundas, mas também funciona como uma forma de aprisionamento. Quando questionar a religião significa arriscar perder amigos, família e posição social, poucos ousam fazê-lo. Assim, a fraude se protege não apenas através da teologia, mas através da estrutura emocional e social que cria.

A falsa necessidade de religião

O aspecto mais insidioso da religião como fraude é sua habilidade de se apresentar não como uma escolha, mas como uma necessidade. Muitas pessoas crescem acreditando que rejeitar a religião é o mesmo que rejeitar a própria moralidade, identidade cultural ou até mesmo sua família. Isso transforma o ato de questionar a fé em algo que parece impensável, quase uma traição pessoal. Ao tornar-se inseparável da vida cotidiana, a fraude deixa de ser percebida como tal.

Supostas experiências com o divino ou o sobrenatural

Outro recurso poderoso é a apropriação de experiências pessoais intensas. Momentos de êxtase, tranquilidade profunda ou sentimentos de conexão podem ocorrer naturalmente em seres humanos por meio da música, meditação, arte ou até estados alterados de consciência. A religião reivindica essas experiências como prova de sua verdade exclusiva. Assim, sensações internas, que são fenômenos psicológicos e fisiológicos, são interpretadas como confirmação de dogmas. O que é apenas a mente humana funcionando de maneiras complexas é usado como evidência de uma intervenção sobrenatural.

A difamação da dúvida

A religião também se sustenta ao transformar dúvidas em pecados. Enquanto a busca por verdade normalmente valoriza o ceticismo, a religião muitas vezes retrata perguntas difíceis como perigosas ou proibidas. Isso transforma o processo natural de investigação em algo que deve ser reprimido. Ao estigmatizar a dúvida, garante-se que os seguidores permaneçam dentro dos limites estabelecidos, mesmo quando percebem contradições ou inconsistências. A fraude se mantém não porque seja convincente, mas porque questioná-la é condenado.

Religião e política

Em sociedades onde a religião tem poder político, sua fraude se consolida ainda mais. As instituições religiosas fazem alianças com governos, recebendo privilégios legais e proteção em troca de apoio moral às autoridades. Isso cria um círculo vicioso: o Estado legitima a religião, e a religião legitima o Estado. Juntas, reforçam a ideia de que obedecer tanto à lei quanto ao dogma é dever absoluto, esmagando alternativas ou dissidência.

Os rituais como técnica de condicionamento

A perpetuação da fraude religiosa também depende da repetição ritual. Orar diariamente, frequentar cultos semanais, jejuar em épocas específicas, participar de peregrinações — todos esses atos, repetidos ao longo da vida, reforçam crenças de forma automática. Mesmo quando o fiel não está refletindo sobre os dogmas, o simples ato de praticar constantemente cria um condicionamento profundo. A repetição transforma a crença em hábito e o hábito em certeza psicológica.

E quando tudo isso falha, há sempre a ameaça do castigo. Se recompensas celestiais não forem suficientes para manter os seguidores alinhados, punições infernais são apresentadas como o destino dos que duvidam ou se desviam. O medo de sofrimento eterno, retratado em detalhes vívidos em muitas tradições, é um dos dispositivos de coerção mais poderosos já inventados. Nenhuma prisão terrena pode competir com a ideia de tortura infinita. Assim, mesmo quando não há provas, a ameaça funciona como um grilhão invisível na mente do crente.

Ostracismo para quem abandona a religião

A fraude é tão bem estruturada que até as tentativas de sair dela podem reforçá-la. Quando alguém deixa a religião e experimenta dificuldades naturais da vida, essas dificuldades podem ser reinterpretadas como punição divina. Se, ao contrário, algo positivo acontece, pode ser visto como um teste ou um chamado para retornar. Em ambos os casos, a religião reivindica autoridade sobre os eventos, tornando quase impossível escapar de sua lógica circular.

Sublimação dos instintos mais nobres

Por fim, talvez a característica mais notável da religião como fraude seja sua capacidade de convencer pessoas inteligentes, compassivas e bem-intencionadas a defendê-la. Não é apenas um truque barato que engana ingênuos, mas um sistema refinado que explora os instintos humanos mais nobres: a busca por significado, a necessidade de pertencimento, o desejo de justiça. Esses impulsos legítimos são sequestrados e usados como combustível para uma estrutura que, em última análise, serve a interesses de poder e controle.

A religião como dispositivo cultural

Essa fraude monumental também encontra força em sua diversidade de formas. Religiões diferem em rituais, mitologias e símbolos, mas compartilham a mesma estrutura subjacente: a promessa de soluções sobrenaturais para problemas humanos. Essa diversidade permite que cada cultura tenha sua versão local da fraude, tornando-a mais fácil de aceitar. A pessoa pode rejeitar uma religião estrangeira como falsa, mas dificilmente questiona aquela em que nasceu, porque foi moldada desde cedo para vê-la como natural e inevitável.

Ao longo da história, a religião mostrou habilidade em se apropriar de avanços humanos para perpetuar sua influência. Festas pagãs foram convertidas em feriados religiosos. Costumes culturais foram rebatizados como tradições sagradas. Até descobertas científicas, quando não puderam mais ser negadas, foram reinterpretadas como compatíveis com antigas escrituras. Esse parasitismo cultural garante que a religião sempre encontre um espaço para sobreviver, mesmo em épocas de mudança.

Um dos aspectos mais cruéis da fraude é o modo como ela explora o luto. A morte de entes queridos é uma das experiências mais dolorosas da existência humana, e a religião capitaliza sobre isso ao oferecer garantias de reencontro no além. Embora não haja provas para sustentar tais afirmações, a necessidade emocional é tão forte que muitos aceitam a promessa sem questionar. Dessa forma, a dor pessoal se torna uma oportunidade de fortalecimento para a instituição.

Outro elemento é o uso da linguagem sagrada. Palavras arcaicas, textos considerados intocáveis, cânticos repetidos em línguas mortas — tudo isso cria uma aura de mistério e profundidade. Mesmo quando o conteúdo é banal ou contraditório, o modo como é apresentado inspira reverência. É como um mágico que distrai a plateia com gestos elaborados para esconder a simplicidade do truque. A linguagem sagrada funciona como fumaça e espelhos para manter a ilusão.

Sexualidade e religião

Também não se pode ignorar a manipulação sexual presente em muitas tradições religiosas. O controle sobre o corpo — o que vestir, com quem se relacionar, quando e como ter intimidade — é uma das formas mais diretas de manter poder sobre indivíduos. Ao transformar desejos naturais em fontes de culpa e vergonha, a religião prende os fiéis em uma luta interminável contra si mesmos. A solução, claro, é sempre mais obediência e submissão à instituição.

Quanto mais influente, mais coercitiva

A religião ainda se beneficia da ilusão de unanimidade. Quando uma comunidade inteira parece acreditar, a pressão social faz com que o indivíduo também aceite a crença, mesmo que em privado duvide dela. Esse efeito de massa cria uma rede de reforço mútuo, onde cada fiel fortalece a fé dos outros simplesmente por demonstrar conformidade externa. A fraude se mantém não porque todos realmente acreditam, mas porque todos acreditam que todos acreditam.

O fracasso profético e a volta por cima

Além disso, a religião é mestre em redefinir fracassos como sucessos. Quando uma profecia não se cumpre, é reinterpretada como simbólica. Quando uma oração não é atendida, dizem que a resposta foi “não” ou que havia um propósito oculto. Quando líderes religiosos são flagrados em escândalos, a culpa é atribuída à falibilidade humana, nunca ao sistema em si. Dessa forma, a fraude é protegida contra falsificação: nenhum evento pode contar contra ela, pois qualquer resultado é reinterpretado como confirmação.

Por que a religião é a maior fraude já concebida pela humanidade?

Por tudo isso, a religião não é apenas uma fraude qualquer, mas a mais duradoura, abrangente e sofisticada já concebida pela humanidade. Ela sobreviveu a impérios, revoluções e eras de esclarecimento porque é adaptável, porque fala diretamente aos medos e desejos mais profundos, e porque se enraíza em estruturas sociais e emocionais. Enquanto houver incerteza, sofrimento e busca por significado, a religião terá terreno fértil para perpetuar sua ilusão.

Em última análise, a religião se sustenta não porque prove suas afirmações, mas porque satisfaz necessidades humanas que são reais: a necessidade de consolo diante da morte, de ordem em meio ao caos, de pertencimento em meio à solidão. Essas necessidades são legítimas, mas a religião as explora oferecendo respostas falsas. Como um charlatão que vende água milagrosa a um doente desesperado, ela lucra com a vulnerabilidade humana.

Reconhecer a religião como fraude não significa desprezar as pessoas que acreditam nela. Pelo contrário, é compreender que elas foram presas em um sistema projetado para capturar suas emoções mais profundas. Muitos fiéis são pessoas boas, movidas por intenções sinceras, que apenas desconhecem a natureza enganosa da estrutura que os envolve. A crítica não deve ser dirigida contra os crentes, mas contra a máquina que perpetua suas ilusões.

É importante também entender que a religião não detém monopólio sobre as coisas que valoriza. O sentido da vida pode ser encontrado na arte, na ciência, nos relacionamentos humanos, na busca por conhecimento e na construção de sociedades mais justas. A compaixão e a ética não dependem de mandamentos divinos; elas emergem de nossa capacidade natural de empatia e de cooperação. A comunidade pode ser construída não apenas em templos, mas em qualquer espaço onde seres humanos se reúnam com propósito e solidariedade.

Assim, expor a religião como fraude não significa esvaziar a vida de significado, mas libertar o indivíduo para encontrar significados mais autênticos. Significa trocar promessas vazias por realidades possíveis. Significa assumir responsabilidade por nosso destino, em vez de entregá-la a autoridades invisíveis. Significa, em última instância, crescer como espécie e como indivíduos, reconhecendo que não precisamos de mitos para viver com dignidade.

A religião, enquanto fraude, perdurará enquanto as pessoas não tiverem coragem de encará-la como tal. Mas cada vez que alguém ousa questionar, cada vez que um grupo escolhe viver baseado em razão e compaixão em vez de dogma, a fraude perde um pouco de sua força. A verdade não precisa de ameaças ou promessas para se sustentar; ela se mantém sozinha, sustentada pela realidade.

Chegará o dia em que a humanidade olhará para trás e verá a religião como vê hoje outras superstições antigas — compreendendo como pôde dominar mentes por tanto tempo, mas sem desejar revivê-la. Nesse dia, a maior fraude da história terá finalmente perdido seu poder. E o que restará será algo muito mais valioso: a liberdade de viver plenamente no único mundo que realmente temos.

Ano que vem faço 20 anos fora do armário! 🌈

Por Sergio Viula


Andre e eu no ano de 2016



Pasmem, mas ainda existe muita gente que fica no armário por medo da opinião de fulano ou de sicrano.

Ao mesmo tempo que as pessoas falam sobre sua sexualidade cada vez mais cedo, é impressionante ver como existem outras que ainda hesitam, mesmo sendo maduras e financeiramente autossuficientes. Algumas moram sozinhas ou têm condições de viver em seu próprio canto se preciso for, mas mesmo assim ainda relutam em tomar as rédeas de sua própria vida. A troco de quê? – pergunto eu.

Ao longo desses 19 anos fora do armário (completos em 2022), já pude ouvir muitos relatos de pessoas na condição de “armarizadas”. Já encorajei muitas dessas pessoas, especialmente homens, a tomarem as devidas providências para que possam finalmente dizer “I am what I am, and what I am needs no excuses” (Sou o que sou, e o que eu sou não precisa de desculpas).



Curiosamente, mulheres parecem não ficar tão à vontade para conversar com um homem sobre seus problemas nessa área, mas um número considerável de homens já me procurou por causa de alguma entrevista publicada comigo ou alguma postagem feita por mim a respeito da minha trajetória para fora do armário. Muitos deles são pessoas com algum background religioso, principalmente evangélico. Ouvi-los falar sobre seus dramas existenciais por causa da crença religiosa é algo que me comove e enfurece ao mesmo tempo, mas vê-los desprenderem-se de tudo isso provoca em mim uma sensação deliciosa de triunfo e de alívio!

Você pode ler mais sobre minha jornada rumo à emancipação sexual aqui: EM BUSCA DE MIM MESMO (https://www.amazon.com.br/Busca-Mim-Mesmo-Sergio-Viula-ebook/dp/B00ATT2VRM).

Para a minha alegria e para a felicidade desses homens, muitos deles fizeram seu próprio trajeto para fora do armário e voltaram para me contar. Alguns se tornaram amigos e me proporcionaram a oportunidade de ver seu crescimento e amadurecimento emocional e afetivo, inclusive, assumindo relacionamentos estáveis publicamente.

Viver autenticamente o seu amor tem um sabor totalmente diferente de viver entre as sombras das masmorras da homofobia internalizada através da instilação continua de preconceito por parte da família, da igreja e de vários outros dispositivos de controle social, inclusive a escola.




Faz 19 anos que eu me livrei desse lixo tóxico produzido por homofóbicos de todos os tipos, sendo o pior deles aquele que utiliza pretextos de cunho religioso. Ano que vem, farei duas décadas fora do armário - uma data que há de ser devidamente comemorada. Alegro-me em dizer que já ultrapassei o tempo que passei dentro do sistema religioso fundamentalista. Foram 18 anos de evangelicalismo atropelados por 19 anos de liberdade cognitivo-afetiva, emocional, sexual e financeira. Não escondo o orgulho que sinto por ter feito esse movimento não só para fora do armário, mas também para fora de toda e qualquer crendice, sem a ajuda de um único ser humano.

Pelo contrário, as pessoas ligadas à igreja e à família me desestimulavam de seguir adiante. As pessoas que faziam parte da comunidade LGBT ou do movimento que leva o seu nome achavam que isso era bom demais para ser verdade. A única pessoa que se aproximou de mim para ouvir o que eu tinha a dizer (depois da minha entrevista à revista Época no final de 2004) foi Toni Reis. Ele me permitiu expor o que eu pensava e pretendia dali em diante para ele sua equipe de trabalho. Foi um encontro agradável, mas isso foi tudo. Ele também comprou dois exemplares do meu livro. Dali em diante, eu continuava travando minhas próprias batalhas para me estabilizar financeiramente e emocionalmente, mesmo cercado por um turbilhão de gente do contra.

Da minha família, as únicas exceções em termos de acolhimento na prática foram a minha avó Maria Jerônima (falecida anos depois da minha saída do armário) e minha tia Maria Eliza (filha dela). Essas duas pessoas queridas foram minhas parceiras e me apoiaram na prática, não apenas com palavras ao vento. Era amor de verdade em ação.


Minha avó Maria Jerônima 
e meu avô João Viula,
imigrantes portugueses. 
Ele faleceu com 57 anos 
e ela com quase 90.


Quem hoje vê minha família unida comigo e com meu amor Andre não imagina o que eu passei até que eles finalmente entendessem o que tudo isso significava. Eles não conseguiam pensar para além do que foram doutrinados. Durante quatro anos, eu não troquei uma palavra com eles e nem os visitei ou recebi a visita deles. Somente depois que eles reconheceram que estavam errados em seu modo preconceituoso de agir comigo, e me disseram isso face a face, e com todas as letras, é que eu voltei a me relacionar com eles. Desde então, as coisas só melhoraram.


Andre, meu filho, eu, minha mãe e meu pai.
31 de dezembro de 2021 (réveillion 2022)



Meus pais cresceram muito, mas muito mesmo. Isso não teria acontecido se eu ficasse, como muitos fazem, mendigando amor e atenção, apesar de ser tratado com pessoa de terceira categoria. E detalhe: eu pegava meus filhos toda semana para passar o sábado comigo, e nem assim baixei a cabeça para a homofobia deles ou de quem quer que fosse. Eu jamais deitaria para ser pisado por babacas de qualquer espécie, principalmente se fossem do meu sangue.

Hoje, meus filhos são adultos. Até neta, eu já tenho (Veja o Diário de um avô colorido - https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2021/04/bebe-bordo-diario-de-um-avo-colorido.html). E quando lembro de alguns daqueles idiotas evangélicos dizendo "Como é que vai ficar a cabeça dos filhos dele?", eu só penso: A deles vai muito bem, obrigado, já a de vocês continua a mesma bosta que sempre foi.


Foto que eu publiquei em 2020.



E daí? A vida seguiu em frente! Apesar de todos os obstáculos que eu tive que enfrentar, eu fiz exatamente o que eu queria, e o fiz com ética e honra, ensinando meus filhos, por palavras e atos, a serem honestos, corajosos e autênticos. O resultado é esse aí que vocês veem se me acompanham por aqui ou pelas redes sociais.

Será que a gente pode fazer tudo certo e tudo dar errado? Claro que sim. É besteira pensar que controlamos o fluxo do devir. Se tivesse dado tudo errado, apesar de eu ter feito a coisa certa, eu ainda poderia me alegrar por ter feito justamente isso: A coisa certa.

Mas, olhando ao redor, a pergunta que fica é a seguinte: Posso dizer que estou colhendo bons frutos da minha semeadura? Sem dúvida alguma que sim. E quero viver para desfrutar cada um desses momentos especiais. Por isso, faço o possível para me manter saudável e viver tudo o que puder viver hoje e daqui em diante – tudo com tranquilidade, nada de correria como se mundo acabasse amanhã para mim. Se acabar, terei feito tudo o que eu queria hoje, inclusive NADA. Como é bom fazer simplesmente NADA! Claro que não é possível fazer nada o tempo todo, e nem seria saudável, mas quando a gente pode se dar a esse luxo, para que inventar problema?


Réveillon 2022 em nossa casa.


Quando alguém me pergunta se eu sinto saudade dos meus tempos na igreja, eu respondo com uma pergunta: "Que peixe, em bom estado mental, sentiria saudade do anzol, ainda que o tenha mordido por engano, seduzido por uma isca que lhe parecesse absolutamente suculenta?"

A ficção de um deus que cuida de tudo e que está muito interessado em mim não dá nem para a saída. Ela pode parecer uma isca imperdível, mas não passa de um pretexto para fisgar a mente dos que nunca conseguem se tornar donos de si mesmos. Essas pessoas estão sempre procurando alguém a quem possam se submeter. Tolice maquiada de piedade.

Agora, imaginem as ficções sobre uma suposta vida eterna ou castigo eterno... Imaginem as primitivas e precárias ideias de pecado e salvação... Nada disso passaria pelo mais superficial exame racional. Se as pessoas usassem sua capacidade crítico-analítica para averiguar essas coisas, elas se sentiriam ridículas por terem crido nelas um dia.

Além disso, esse sistema de crenças, assim como muitos outros, acaba funcionando como o peso de um cadáver a ser carregado pela vida a fora por gente que poderia investir sua energia em coisas que realmente fizessem valer a pena viver – e digo viver no sentido mais pleno possível da palavra LIBERDADE.

A desculpa de que a religião exerce algum papel para além de controle, exploração e utilização do capital humano que se submete a ela também não passa pela peneira da experiência. Não há coisa alguma que a religião ofereça que não possa ser obtida por outros meios. Ela também não pode oferecer nada de real e útil que já não tenhamos. Repito: Não há coisa alguma que a religião possa fazer por nós que não possamos fazer sozinhos como espécie humana. Religião, qualquer que seja ela, é uma verdadeira inutilidade supervalorizada pelo mero hábito da repetição sem análise crítica. Ela gosta de posar como aquilo que parece estar acima de qualquer questionamento, mas seus pretextos não dão nem para a saída. As pessoas embarcam naquela ideia de que deve estar certo, porque todo mundo na minha bolha social diz e faz a mesma coisa, mas isso só revela a tendência para o comportamento de rebanho por parte de muitos. E se a gente pensa em rebanho, acaba pensando em pastor, pelo menos no contexto religioso.

Todavia, não existe coisa mais estúpida do que a ideia de bom pastor. Toda ovelha é, para qualquer pastor, seja ele zeloso, descuidado ou cruel, a mesma coisa: Fonte de ganho. Tudo o que o pastor quer enquanto a alimenta é tosquiar sua lã ou desossar sua deliciosa carne. No primeiro caso, ela vive para servir à indústria da lã. O pastor é seu principal elo na cadeia de produção. No segundo caso, ela paga com a própria vida pelo almoço daqueles que a alimentaram tão cuidadosamente apenas para conseguirem alguns quilos de carne a mais na balança do matadouro.


Nunca foi bondade...


Não existe essa tolice de bom pastor. Existem pessoas ingênuas (burras seria mais apropriado) que se submetem à falsa sensação de que estão sendo cuidadas, quando, na verdade, estão sendo controladas ou exploradas de uma maneira ou de outra. Manter o lobo longe do aprisco não é um ato de bondade do pastor, mas a única forma de garantir que a lã e a carne da ovelha tola e gorducha serão dele e não de outro. A competição das igrejas por membros é uma bela demonstração disso.

Se você se orgulha de ser ovelha de fulano ou de sicrano ou mesmo de Jesus, deixe esse fictício aprisco e tudo o que tiver a ver com ele para trás. O aprisco é para a ovelha o mesmo que o corredor da morte é para o condenado à cadeira elétrica - só uma forma de mantê-la sob controle até o momento de sua execução. A diferença é que o condenado que aguarda no corredor da morte não trabalha para seus executores, já a ovelha no suposto aprisco de Cristo entrega seu precioso tempo, energia e recursos financeiros a vida inteira até finalmente encontrar o destino de todos os mortais – o finamento. Enquanto isso, assim como o condenado que aguarda no corredor da morte, o humano que se diz ovelha vê apenas uma fração do que acontece do lado de fora do seu cercadinho sem ter vivido uma série de experiências deliciosas, positivas e construtivas longe do domínio desses manipuladores de mentes e castradores de existências.

Seja honesto consigo mesmo(a): Para que se submeter à liderança supostamente espiritual ou moral de quem quer que seja?

Cresça!


Zeus e Ganimedes: A paixão entre um deus e um príncipe de Tróia

Zeus e Ganimedes


Por Sergio Viula

Zeus é conhecido, entre outras coisas, por sua impetuosa inclinação ao amor com humanas - coisa que sua divina esposa, Hera, não tolerava, especialmente quando essas relações geravam descendentes - filhos hibridamente constituídos pelo encontro entre seu divino marido e mulheres mortais. Porém, nem só de mulheres terrenas alimentava-se o desejo de Zeus. Ele também amou deusas e ninfas.

Entretanto, nenhuma de suas paixões é tão celebrada até hoje como aquela que o senhor do Olimpo experimentou com um homem. O nome do "crush" divino era Ganimedes, filho de Tros, homem que deu à Tróia seu nome. Ganimedes era um príncipe de rara beleza e isso atraiu a atenção de Zeus.

Ganimedes representava uma irresistível mistura de inocência e virilidade - seu rosto ainda imberbe e seu corpo perfeito eletrizaram o desejo do deus que controlava inclusive os raios, mas não podia resistir ao amor. Numa tarde de primavera, enquanto o príncipe de Tróia desfilava despreocupadamente entre os rebanhos de seu pai, Zeus pensou rapidamente num estratagema para se aproximar de seu predileto.

O mais poderoso entre os olímpios transformou-se numa águia e foi pousar perto de seu favorito. Ganimedes, sem saber do que se tratava, aproximou-se da ave para acariciar sua plumagem, ao que foi subitamente envolvido e tomado pelas garras do esplêndido pássaro, sendo alçado por ele num voo colossau.

Dominado pelo desejo, Zeus não hesitou em possuir o jovem Ganimedes ali mesmo, em pleno voo, enquanto o conduzia até os domínios olímpicos - coisa que ele nunca havia feito com suas amantes terrenas.

Chegando ao Olimpo, Ganimedes foi recebido com honrarias. Para surpresa de todos, não houve perseguição por parte da vingativa Hera, ainda que pudesse sentir-se enciúmada pela beleza do jovem.

Tirado definitivamente de seu habitat original, Ganimedes passou a ocupar a honrosa posição de servir o néctar aos deuses - tarefa que até então pertencera a Hebe, filha legítima de Zeus com Hera, e deusa da juventude.

A lenda do rapto de Ganimedes ilustra tanto a beleza quanto a licitude do amor entre um homem mais velho e um jovem - costume amplamente aceito entre os gregos. Platão utilizou essa lenda para justificar seu amor por seus discípulos.

Ganimedes foi honrado pelos gregos como sendo a constelação de Aquário e pelos astrônomos modernos como uma das luas de Júpiter - deus romano equivalente ao grego Zeus.

O professor, pesquisador e escritor William Soares dos Santos honrou o amor entre Zeus e Ganimedes em seu livro RARO (Poemas de Eros). Leia o poema abaixo:




Encontre o livro na Livraria Travessa:
https://www.travessa.com.br/raro-poemas-de-eros-1-ed-2018/artigo/56b173b8-bc5b-43db-957e-af29ec9bc354

Outros livros de William Soares dos Santos:

POEMAS DA MEIA-NOITE (E DO MEIO-DIA)
https://www.travessa.com.br/poemas-da-meia-noite-e-do-meio-dia-1-ed-2017/artigo/56ce55dd-7c4d-4161-a2ad-a586f8417fad

RAREFEITO: POEMAS (1990-2014)
https://www.travessa.com.br/rarefeito-poemas-1990-2014-1-ed-2015/artigo/adb89e28-efdd-48f6-ba41-be2646fa193d

UM AMOR
https://www.travessa.com.br/um-amor-1-ed-2016/artigo/acc11a5f-a26c-4e7d-895c-e7179a33c4d5


LEIA TAMBÉM ESSA POSTAGEM:


A homossexualidade no Egito antigo

https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2018/05/homossexualidade-no-egito-antigo.html

A face mutante do Diabo e sua utilidade para a igreja

Por Sergio Viula



Recorte do Saltério de Winchester, uma pintura da Idade Média



As representações do Diabo foram introduzidas e modificadas ao longo do tempo no imaginário popular por artistas que compuseram alguns dos mais incríveis mosaicos, pinturas e textos na Europa.

O Diabo, como o pensam hoje as massas, não foi sempre imaginado do mesmo jeito. E mesmo nas escrituras cristãs, não existe uma descrição clara de sua criação e queda. O que o cristão mediano supõe ser um relato de sua criação e queda são originalmente passagens que falam da Babilônia e do rei de Tiro (respectivamente, Isaías 14:11-23 e Ezequiel 28:11-19). Portanto, para início de conversa, não existe qualquer passagem bíblica clara e exclusivamente dedicada a descrever a origem e a suposta queda de satanás. apesar de existirem citações sobre satanás, diabo e demônios, como veremos adiante.

Ao que parece, a igreja cristã precisava desesperadamente de um bode expiatório para explicar a origem do mal, e satanás era a opção mais conveniente. Dizer que Deus criou o mal seria colocar em dúvida a qualidade de seu caráter. Isso, porém, não resolve o problema, porque se Deus é onisciente, ele sabia o que aconteceria se criasse o tal anjo. E se Deus é onipotente (o que inclui dizer que é livre para fazer o que deseja), poderia nem ter criado esse querubim que viria a ser o diabo, para início de conversa.

De qualquer modo, a caracterização de Satanás como um poderoso rival de Deus servia (e serve) bem ao propósito de controlar as massas através do terror. À figura do diabo, está associada a ideia de inferno como um lugar ou estado de sofrimento eterno, bem como a ideia de pecado, seja como um ato de rebelião contra Deus ou como um estado de corrupção e decadência. A tríade diabo-pecado-inferno rendeu extraordinariamente mais poder, dinheiro e grandeza ao clero católico e protestante, do que a ideia de um Jesus meigo, bondoso e acolhedor.

Só para se ter uma ideia de como a centralidade de Satanás no discurso de pastores e padres hoje passa longe do lugar que ele ocupava nas escrituras cristãs, vale a pena tomarmos alguns números relacionados aos termos que se referem ao Diabo, bem como aos termos que se referem a Jeová, Jesus ou ao Espírito Santo. O termo “Deus” foi deixado de lado por poder se referir tanto ao Deus dos judeus e dos cristãos como aos Deuses dos gentios e dos pagãos. O nome de Jeová, porém, foi usado nessa pesquisa, porque era o mais usado para se referir a Deus no Velho Testamento.A palavra Senhor também foi incluída nessa busca, porque ela era usada para se referir a Deus judaico-cristão, mas não aos Deuses gentílicos ou pagãos pelos escritores da Bíblia. A busca foi feita através do site Bíblia Online, que utiliza a tradução de João Ferreira de Almeida – a preferida pelos protestantes no Brasil. E isso foi o que encontrei.

Referências ao diabo nas escrituras cristãs:

  1. A palavra diabo aparece 20 vezes no Velho Testamento e 135 no Novo Testamento (total 155).
  2. A palavra satanás aparece 15 vezes no Velho Testamento e 73 no Novo Testamento (total 88).
  3. A palavra demônio aparece 04 vezes no Velho Testamento e 104 no Novo Testamento (total: 108).
  4. O termo “espírito imundo” se referindo aos demônios aparece somente no Novo Testamento – 25 vezes (total: 25).
  5. O termo “espírito maligno” (ou espírito mau) aparece 09 vezes no Velho Testamento e 08 vezes no Novo Testamento (total: 17).
  6. O nome de Jeová é mencionado 5.817 vezes no Velho Testamento e nenhuma no Novo Testamento (Total 5.817).
  7. O termo Senhor, atribuído a Deus, aparece 6.932 vezes no Velho Testamento e 954 vezes no Novo Testamento, atribuído a Deus, a Jesus ou ao Espírito Santo (total: 7.886)
  8. O nome de Jesus é mencionado 1438 vezes no Novo Testamento (total: 1438).
  9. A palavra Cristo é mencionada 570 vezes no Novo Testamento (total: 570).
  10. O termo Espírito Santo aparece 03 vezes no Velho Testamento e 98 vezes no Novo Testamento (total: 101).
  11. O termo Espírito de Deus aparece 22 vezes no Velho Testamento e 20 vezes no Novo Testamento (total: 42).

MORAL DA HISTÓRIA:

  • Os temos que se referem ao “inimigo” de Deus totalizam 393 ocorrências;
  • As palavras que se referem a Jeová, a Jesus ou ao Espírito Santo totalizam 15.854 ocorrências.


Isto quer dizer que os termos referentes a Jeová, Jesus e o Espírito Santo ocorrem 40 vezes mais frequentemente do que termos referentes a Satanás e aos demônios. No entanto, a igrejas têm uma fascinação pelo diabo que parece torná-lo uma figura muito mais presente em seus cultos, pregações, artigos e representações do que jamais imaginaram os autores bíblicos nos 66 livros que compõem a Bíblia protestante ou nos 73 livros que figuram na Bíblia católica. Ah, sim, porque os cristãos não têm consenso sequer sobre quais livros devem compor a Bíblia!

E por que será que isso acontece? Por que Satanás é tão popular na boca desses pregadores? Duas hipóteses são as seguintes:

Porque o Diabo na boca dos pastores e padres é reconhecidamente um excelente instrumento de controle do povo pelo medo – o que significa governar seus corpos, suas carteiras, seus votos e seus pensamentos. Os crédulos serão contra tudo aquilo que o pastor e o padre lhes dizem ser do Diabo e serão a favor de tudo daquilo que o pastor diz ser de Deus.

E também porque quanto pior for Satanás na pregação desses líderes religiosos, mais indispensáveis serão eles. Os “ungidos” serão vistos como verdadeiros heróis na fictícia luta contra o diabo. Mas nada disso sem um custo ($$$) elevadíssimo, “absolutamente justificado” pela “nobreza” da função que exercem.

E será que o diabo existe mesmo? Sim, ele existe tanto quanto a Cuca e o Saci Pererê. Quero dizer que o Diabo judaico-cristão existe de modo semelhante ao das míticas figuras do folclore brasileiro, as quais também infligiam medo sobre as mentes ingênuas dos antigos moradores do interior do nosso país. O Diabo e seus demônios – figuras míticas do judaísmo e do cristianismo – também infligem pavor sobre as mentes dos crédulos, mas são tão imaginários quanto os personagens do nosso folclore.

Mas, sabe o que é pior? Os crédulos dirão que iniciativas como a de escrever esse texto são obra do Capiroto com o objetivo de enganar os néscios. Dirão também que – se possível fosse – enganariam até os escolhidos. É fácil perceber onde isso vai dar. Para provar que é um escolhido, o ‘cabra’ tem que rejeitar qualquer questionamento sobre a validade de suas crenças. Caso contrário, ele colaborará com Satanás. Assim, está garantido o ofício e os ganhos dos que se alimentam das tesourarias desse desperdício de espaço e de tempo a que chamamos igreja, exceto por aquelas que são verdadeiras obras de arte e que poderiam ser transformadas em peças de museu muito bem preservadas e sem a menor relevância, senão a de preservar uma parte de nossa história e da arte produzida nesse período. Mas, isso só seria possível se as pessoas fossem mais céticas do que costumam ser. O problema é que crer parece mais fácil do que pensar. Deslumbrar-se é mais confortável do que analisar criticamente o que se vê.

Mas o que é que vemos, senão as obras dos próprios homens, já que Deus mesmo nunca deu as caras? Ah, mas os teólogos terão mil motivos para esse ocultamento… Sim, os teólogos, essas estranhas criaturas que pensam o impensável, dizem o indizível e descrevem o invisível. Não são por isso mesmo ainda mais extraordinárias? Chegam a ser mais incríveis do que o Deus a quem supõem conhecer. Mas, eu me pergunto quantos deles creem realmente em tudo o que dizem. Ninguém sabe… NINGUÉM mesmo.

Faltam dois dias: minha teimosia em planejar o futuro, apesar de tudo

Por Sergio Viula




Por Sergio Viula

Hoje é quarta-feira, e eu sempre gostei das quartas-feiras. Talvez seja pela sensação de que, quando ela chega, já vivi metade da semana, mas ainda me resta metade dela para viver. 

Fico pensando se não é porque tenho a sensação de “realizado” e “realizável” ao mesmo tempo, ou seja, a metade que ficou para trás significa trabalho feito, emoções vividas, novas memórias registradas, enquanto a metade que está adiante significa possibilidades, coisas que poderão ser feitas do mesmo jeito ou de um modo totalmente diferente, tempo livre no final de semana, entre outras coisas. 

Essa quarta-feira, especificamente, se torna ainda mais significativa por ser a antevéspera do meu aniversário esse ano. Porém, se por um lado eu projeto o depois de amanhã, por outro, não sei sequer se terei amanhã. 

Nossa teimosia em planejar o futuro

Nosso irresistível impulso de  antecipar o futuro, planejá-lo ou organizá-lo [até mesmo de sofrê-lo ou gozá-lo], quando ele ainda nem existe de fato parece ser uma característica exclusiva do bicho humano. 

Não que outros animais não se antecipem ao porvir de alguma forma. Formigas acumulam comida, guaxinins e esquilos também. Mas será que suas mentes são capazes de raciocínios elaborados sobre o minuto seguinte? Talvez, sim. Talvez, não. De qualquer modo, até o presente momento, tudo indica que fora da nossa espécie, não há bicho capaz de projeções tão ricas em detalhes como as que a nossa imaginação é capaz de realizar, principalmente porque aliamos a ela a capacidade de operar logicamente e de fazer toda espécie de cálculo em quadros hipotéticos, os mais variados – coisa que só se tornou possível, em grande parte, graças à nossa evolução linguística. 

E se quisermos indicativos de como operamos essas projeções cotidianamente, basta darmos uma olhada na lavanderia ou na cozinha. Lavar a roupa que usaremos amanhã é evidência suficiente do que digo aqui. A dispensa na cozinha também. E isso para não mencionar agendas encadernadas ou virtuais, uma vez que nem todo mundo mantém uma. 

E disso às projeções como onde nosso planeta estará daqui a 100 milhões de anos, é só uma questão de especialização. Desculpem o redutor “só” nessa frase. Afinal, é um baita salto que nenhuma espécie conhecida foi capaz de dar até agora, mas vocês devem ter entendido o que quis dizer.

De qualquer modo, é curiosíssimo que até mesmo aqueles indivíduos que sabem perfeitamente não ter controle fático sobre a vida continuem projetando e planejando, sofrendo e gozando dias que ainda nem nasceram, como é o meu caso. 

Perspectiva + perspicácia + prudência = previdência.

Essa vontade de colocar alguma ordem no caos obstinado do jogo das probabilidades que caracteriza a [nossa] vida nos confere mais do que alguma sensação de segurança, mesmo que ilusória – ela possibilita a identificação ou construção de possíveis saídas de emergência quando as coisas complicarem para o nosso lado. 

Marsupial da espécie Dasyuroides byrnei - por Spencer, 1896 – Kowari


Boas lições nos vêm da própria natureza 

Os marsupiais da espécie Dasyuroides byrnei parecem ser bons em evitar futuros riscos desnecessários. Eles constroem tocas com diversas entradas – o que previne seu encurralamento por predadores que eventualmente decidam fazer-lhes uma visitinha inesperada. Na contramão dessa lógica, bichos que fazem suas tocas com apenas uma entrada acabarão ficando sem saída quando alguma cobra faminta na vizinhança decidir ir às compras.

Quando relaxar?

Por isso, planejo, mesmo sabendo que as coisas podem não sair como eu esperava. Porém, essa verdade tem outro lado também, isto é, planejo muito, mas depois de fazer tudo o que podia, eu relaxo. E o faço sem desperdiçar meu tempo ou energia pedindo ajuda a amigos imaginários.

Nada de orações, preces, rezas, mandingas, correntes, simpatias ou quaisquer coisas do gênero. O que faço é ficar atento ao que acontece ao meu redor e às oportunidades de última hora que possam ser aproveitadas, minimizando o impacto do jogo momentaneamente desfavorável para mim. E não confundir nada disso com oportunismo do tipo que tira vantagem dos outros em prejuízo deles. Não. Pouca coisa me dá mais prazer do que não dever nada a ninguém, exceto o respeito que caracteriza qualquer cidadão com um mínimo de civilidade.

E relaxar foi exatamente o que fiz dentro de um avião da TAM na ponte aérea Rio-SP em 3 de junho de 2014, quando um desafortunado urubu, que voava bem diante dele em seus últimos segundos de vida, foi aspirado, inutilizando i

turbina completamente. Eu estava sentado na cadeira ao lado dela. Vi quando o equipamento sofreu o impacto, parando imediatamente. Mantive a serenidade, sabendo que nada havia que eu pudesse fazer, exceto manter o cinto afivelado e prestar atenção à possível máscara de oxigênio que poderia despencar diante de mim a qualquer momento, caso houvesse despressurização. Relembrei as instruções da aeromoça sobre como usar o assento como boia, caso houvesse aterrissagem sobre a água.

Fora isso, eu não tinha nada mais a fazer. Só havia uma pessoa capaz de resolver o problema: o piloto. Ninguém mais. E como eu não estava de posse do manche, felizmente, só me restava aguardar. 

Então, me recostei à poltrona e relaxei, só lamentando que, se eu morresse, não poderia beijar meus filhos de novo. Só pensava no futuro deles, mas não me deixei dominar por essa ideia. Na época, ainda não conhecia o Andre, meu amor. Se já o tivesse conhecido, isso acrescentaria outras preocupações à minha mente. 

Quanto à possibilidade de queda, eu provavelmente não sentiria coisa alguma, nem saberia que tinha morrido depois que isso acontecesse. Seria apenas como uma TV que se desliga quando alguém puxa o fio da tomada. 

Enquanto os passageiros ao meu redor quase morreram de um ataque cardíaco absolutamente inútil e desnecessário, o piloto manobrou o avião e fez o caminho de volta ao Galeão. 

Se ele tivesse fracassado, você não estaria lendo esse texto agora. Se eu tivesse infartado, mesmo com o avião estando a salvo no solo, também não. Ver tantas pessoas que acreditam em vida melhor após a morte se comportando tão desesperadamente diante da possibilidade de ficarem finalmente livres de um mundo que elas geralmente desprezam, seja em maior ou menor grau, acabou sendo um experimento em tempo real com duas conclusões distintas para mim: 

1. Esse pessoal que acredita em mundos pós-morte e seres espirituais não leva tudo isso tão a sério quanto alega.

2. Ateus de fato continuam ateus, mesmo em aviões que ameacem cair.


A cara que eu estou fazendo por dentro agora.


Faz diferença?

E que diferença faria isso se tivéssemos morrido? Nenhuma. 

Mas, faz muita diferença enquanto vivemos. Falo por mim mesmo. Repito: não falo em nome de ninguém. Porém, sei muito bem como é viver acreditando em um monte de bobagens, sempre niilistas em alguma medida, uma vez que negam o mundo, a vida e o corpo. E faz mais de 17 anos agora que sei como é viver livre de quaisquer superstições, principalmente aquelas baseadas em supostos livros sagrados, cuja ignorância e imoralidade ficam patentes aos olhos atentos de leitores capazes de pensar sem medo. 

A vida é curta, mas será melhor vivida na medida em que sua raridade e transitoriedade nos motivarem a aproveitá-la ao máximo em vez de adiarmos nossa felicidade para mundos tão improváveis quanto o Olimpo dos gregos, o Valhala dos vikings, ou o Sekhet-Aaru dos egípcios. A obsolescência dos paraísos desses povos aparentemente contrastante com a suposta validade dos paraísos cridos por muitos atualmente é só uma questão de tempo, mesmo que leve muito tempo. 

O ser humano troca de deuses e de sistemas de recompensa continuamente. Quem sabe um dia, ele cresça de uma vez e deixe essas infantilidades para trás? Quem viver, verá. ^^ 

Eu quero chegar aos 90 pelo menos, mas vivendo bem cada dia. Já estou praticamente a “seis minutos” nesse segundo tempo. Então, bola pra frente! 

Como me livrei dos crentes "resgatadores de desviados"?

Por Sergio Viula




Quando saí do armário (adoro essa expressão!), no final de 2003, tive que enfrentar muitas situações absolutamente novas para mim. E não há cartilha que garanta uma jornada tranquila na vida, seja lá qual for o destino desejado, tive que ir construindo o caminho no próprio ato de caminhar. A única coisa certa, garantida, inegociável na minha cabeça era que eu nunca abandonaria meus filhos. Eles tinham 11 anos (a minha filha) e 9 anos (o meu filho). Nunca houve uma dúvida sequer de que eu faria qualquer coisa por eles.

Na verdade, ficar sem conviver diariamente com eles era a minha maior dor durante a separação, mas eu sabia que ela seria compensada de alguma forma pelos momentos que passaríamos juntos nos dias combinados dali para frente. Estava disposto a fazer o melhor que eu pudesse para que esse tempo fosse sempre lindo e inesquecível. E tem sido até hoje. Só que faz tempo que não tem dia marcado. ^^ Sou pai de dois adultos agora.

Claro que quando eu saí do armário, houve todo tipo de reação. Mas, nem todas as pessoas que eu conheço fizeram o jogo do "deixa disso", "volta para a igreja", "volta para Jesus", etc. Alguns parentes, amigos e vizinhos entenderam muito bem o que eu estava fazendo e nem se surpreenderam tanto, pois que já sabiam que eu era gay antes mesmo que eu dissesse. Essas pessoas se mostraram muito mais nobres. Todavia, no meu círculo mais íntimo, não foi tão simples assim.

Mas, eu tenho uma característica. Se tentarem me impedir de fazer algo que eu sei que é lícito e meu direito, eu enfrento o que for preciso para atingir meu alvo.

Assim, enfrentei tudo e todos que se puseram no meu caminho e segui adiante. Foi bem difícil começar tudo do zero. Alugar uma casa, comprar tudo o que eu precisava colocar dentro dela, arrumar um novo emprego - o anterior estava cheio de gente crente que conviveu comigo ainda como pastor.

A minha maior preocupação, todavia, era que eu tinha dois filhos pequenos para sustentar. E, apesar do dinheiro ser muito curto, eu nunca falhei com eles.

Sem a menor sombra de dúvida, nenhuma angústia gerada por tantos desafios ao mesmo tempo se comparava à alegria de finalmente poder ser e agir de acordo com a minha razão e com as minhas emoções, sem submetê-las a qualquer ditame heterossexista e/ou homofóbico, fossem os já conhecidos na família e na igreja ou fossem outros em formatos ainda desconhecidos por mim.

Por ter focado mais na alegria de estar livre desses ditames, em vez de pensar somente nas dores que os desafios ainda me impunham, fico perplexo até hoje quando vejo pessoas preferindo a aparente segurança de cadeias existenciais às variadas possibilidades de existência que a libertação de tudo isso nos permite.

Vejo muitas pessoas emaranhadas até os olhos no arame farpado da homofobia de seu círculo religioso. E tudo isso por causa da homofobia internalizada ou do medo que sentem da opinião alheia. Opinão de quem? De um bando de mortais que nem sabem conduzir a própria vida e ainda querem te ensinar a conduzir a sua? Isso é tão estúpido que nem sei como pude viver assim durante tanto tempo.

Alguns têm medo de dar de cara com um crente desses no meio da rua, caso se afastem desse círculo tóxico. Desde que eu saí do armário, nunca tive esse medo. Pelo contrário, já vi crente atravessando a rua para não ter que falar comigo. Sabe qual era a minha reação? Riso. É risível a fragilidade das crenças que essa gente considera tão vital.

Não que eu desejasse a companhia de gente diposta a me "infernizar" o juízo, mas eu não tinha nada a temer. Não fiquei devendo nada a eles. Claro que sempre houve um punhado de crentes que continuaram sendo cordiais comigo. Há alguns que eu prezo muito, inclusive, os quais me alegro em ver quando eventualmente visitamos meus pais ao mesmo tempo. Meus pais são crentes e continuam frequentando a primeira igreja que eu frequentei. Mas, esses definitivamente não fazem (pelo menos comigo) aquela famigerada linha "pentelhos ganhadores de almas".

Mas não foi sempre assim. No ínicio, os "resgatadores de desviados" vinham à minha casa. Nada surpreendente. Quantas vezes eu mesmo visitei enfermos, pessoas ausentes dos cultos ou assumidamente afastadas da igreja? Era de se esperar que eles fizessem pelo menos uma ou duas tentativas comigo também.

Na verdade, as coisas começaram a complicar para eles quando perceberam que eu não era nenhum coitadinho pedindo ajuda, que eu não era nenhum desviado com medinho de não ser arrebatado, que eu não tinha nenhum medo do que eles falavam sobre castigo ou inferno e também nenhum desejo de recompensas num céu tão imaginário quanto o inferno que o contrapõe. Na verdade, não acreditava mais em nada disso. E quando eles se deram conta de que eu não tinha a menor intenção de ganhar o mundo ou o céu, porque eu já tinha a mim mesmo, eles desistiram. Em vez deles me "desconfundirem" - pois, achavam que eu estava confuso -, eles é que saiam da minha casa com a cabeça cheia de pergutnas sem respostas. Afinal, o dogma não suporta escrutínio, não se sustenta diante da menor investigação destemida.

Sabem quantos crentes batem na minha porta hoje? Zero.

Sabem quantos tentam me levar de volta para igreja? Zero.

Sabem o que acontece quando algum desses crentes me encontra na rua? Eles não conseguem esconder a admiração por me verem bem: "Sergio, como você está bem! Quanto tempo! Você está ótimo." O que esses caras esperavam - que eu estivesse arrastando minha própria carcaça sob altas doses de algum calmante por causa de suas infantis pregações de um inferno que só existe na imaginação deles? "Ô, coitados..." - como diria Filó.



Filó: "Ô, coitado..."


Medo de quê?

Quando abordado por gente desagradável, você tem três opções: fingir que não viu, dar uma resposta torta ou simplesmente colocar a figura no bolso com toda educação, mas sem curvar a cabeça um milímetro sequer para sua idiotice.

Fico admirado com a capacidade do cérebro em ignorar a dor que sente ao viver aprisionado nessa teia de dogmas homofóbicos. Muita gente acredita que romper com tudo isso poderá causar sofrimento. Mas, minha gente, sofrimento é o que vocês têm vivido desde que se conhecem por gente, e tudo por causa dessas crenças detratoras de individualidades que atormentam todo e qualquer ser humano que ouse deixar os trilhos dessa mortífera ignorância.

Na verdade, essas crenças, pessoas e instituições, que parecem tão assustadoras para quem ainda lhes dá credito, perdem automaticamente seu poder quando você deixa de creditar-lhes o poder que você acha que elas têm por si mesmas ou que foi supostamente conferido por algum deus. Não! O poder que elas têm sobre você é somente o poder que você mesmo atribui a elas. O espaço que elas ocupam em sua vida é somente o espaço que você mesmo concede a elas sempre que pensa em coisas como: "O que vai dizer o pastor fulano?" ou "O que vão dizer os irmãos beltranos?"

A realidade é que quem pede licença para ser fiel a si mesmo será sempre escravo dos outros, a menos que rompa com esse padrão e assuma as rédeas de sua própria existência.

Quanto a mim, não serei escravo de ninguém. Já basta ter que me submeter a quatro "elementos" fundamentais para continuar vivo: comida, água, sono e oxigênio. Isso sem contar a dependência de vários órgãos cujas funções são vitais para a manutenção da vida. Não vai ser nenhum transformador de verdura em esterco ou de oxigênio em gás carbônico que vai me dizer quem eu sou ou como eu devo viver. E aqui, eu me refiro a esses patrulhadores da afetividade alheia.

É claro que eu me submeto àquilo que é racionalmente justificado e construído na mutalidade das nossas micro e macro sociedades. Mas, não há justificativa racional para dizer a uma pessoa gay que ela tem que ser heterossexual ou que ela é inferior a qualquer outra em função de sua sexualidade. Isso deve ser subvertido, não acatado.

Eu sou o que sou!

Atribuíram essa frase a um entre muitos outros deuses. Grande coisa! Qualquer um pode colocar na boca de qualquer ente imaginário palavras que ele nunca seria capaz de dizer. Mas a minha voz, seja em sua sonoridade natural ou na minha escrita, pode ser ouvida e conferida. Não preciso de porta-vozes, porque eu existo e me movimento pelo mundo. Não sou fruto da imaginação primitiva de ninguém.

Na verdade, todos somos o que somos, mesmo quando dizemos que somos outra coisa. E essa ruptura entre o real e o idealizado só causa problemas.

Hoje, eu posso dizer "Eu sou o que sou" sem reservas. Sou o que entendo de mim mesmo em todo lugar, seja em casa, no trabalho, na universidade, na fila do mercado. Não preciso e não admito me esconder de ninguém. Minhas redes sociais estão aí.

A minha máxima é composta pela junção de duas ideias básicas para o bom viver: "(1) Não abuse de ninguém nem permita ser abusado por quem quer que seja. (2) Fora isso, viva e deixe viver."

Por isso, estou onde estou hoje: Amando a pessoa que me ama, vivendo em harmonia com meus filhos, trabalhando no que gosto sem precisar me esconder, dizendo o que penso quando considero conveniente, outras vezes só observando, porque nem todo mundo merece a vibração das minhas pregas vocais.

Em outras palavras, estou de bem comigo mesmo e com aqueles que me respeitam. Aos demais, o oblívio.

O que eu ganho com isso? Sossego. E o que eu perco com isso: nada!

Algumas pessoas me perguntam: E se eu sofrer algum tipo de ameaça ou outra forma de violência.

Minha resposta é: Não se coloque em risco desnecessariamente, mas se alguém quiser importunar o seu sossego, tome o caminho da delegacia! A lei está aí. Faça uso dela. E se há duas coisas que as pessoas têm medo de perder, essas coisas são dinheiro e liberdade. Um simples processo com direito à indenização por dano moral tem o poder de colocar muita gente em seu devido lugar.

Se você ainda não fez esse movimento para fora do armário, faça. Mantenha perto de você apenas as pessoas que respeitam sua identidade.

Imagine poder viver plenamente o que você deseja se o que você deseja não causa dano algum a terceiros. E quem ficar incomodado com isso, que se phoda! O que pode ser mais libertador do que isso?

Faça o que só você pode fazer: Reivente sua vida, mas dessa vez com base no que você sabe de si mesmo, não no que os outros dizem de você. O caminho não será apenas azul e cor-de-rosa, mas nunca foi. Ou será que o seu cérebro ainda está enganando você - convencendo você que a masmorra na qual tem vivido é algo como uma suíte presidencial num hotel de luxo em alguma ilha paradisíaca do Caribe. Acorda enquanto é tempo. Despluga dessa matrix, bee.


Postagens mais visitadas