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A Mulher Solidária com Outras Mulheres — Todas as Mulheres, incluindo as mulheres trans

A Mulher Solidária com Outras Mulheres — Todas as Mulheres, incluindo as mulheres trans

Inspirado por “The Woman-Identified Woman” (1970)
Atualizado para refletir as lutas contemporâneas das mulheres trans e cis




O que é uma mulher?

Ainda hoje, há muitas respostas a essa pergunta. Muitas delas continuam sendo moldadas por uma lógica patriarcal que define as mulheres pelo olhar dos homens ou por padrões biomédicos restritos. Algumas correntes dentro do próprio feminismo insistem em definir mulher exclusivamente com base em genitália ou biologia reprodutiva, excluindo assim as mulheres trans de sua comunidade e de sua luta.

Mas, como já afirmaram feministas radicais no passado, a mulher não deve ser definida pela sua relação com os homens, nem pelos papéis que o patriarcado lhe impõe. A mulher deve ser definida por si mesma, por suas vivências, suas alianças e sua luta por libertação. Isso inclui todas as mulheres — cis ou trans — que vivem sob o peso da misoginia, da exclusão, da violência e da negação de sua identidade.

No século XX, muitas feministas heterossexuais rejeitavam as lésbicas como “ameaças” à causa. Hoje, vemos esse mesmo erro se repetir: mulheres trans sendo tratadas como “ameaças” ou “intrusas” por outras mulheres que deveriam ser suas aliadas.

Assim como as lésbicas desafiaram a estrutura patriarcal ao afirmarem sua identidade fora da normatividade heterossexual, as mulheres trans desafiam o mesmo sistema ao romperem com os papéis de gênero impostos desde o nascimento. Elas não apenas existem — resistem. E o fazem sob uma carga brutal de discriminação, violência, invisibilidade e rejeição, inclusive nos espaços que deveriam acolhê-las: os espaços feministas.

Uma mulher solidária com outras mulheres é aquela que não se limita à própria experiência para reconhecer o que é ser mulher. Ela sabe que a opressão assume formas diferentes, mas parte de uma mesma raiz: o controle dos corpos, das identidades, das vozes femininas — em todas as suas formas. Ela se recusa a ser cúmplice de sistemas que selecionam quem é digna de existir como mulher.

Se o feminismo pretende ser libertador, ele precisa ser radical na inclusão, e não na exclusão. Precisa rejeitar o essencialismo biológico que serve à misoginia e abrir espaço para a pluralidade das experiências femininas — vividas por mulheres cis, mulheres trans, mulheres lésbicas, bissexuais, intersexuais e todas aquelas que são marginalizadas por desafiarem a ordem estabelecida.

Hoje, como ontem, uma mulher verdadeiramente identificada com outras mulheres é aquela que escolhe a solidariedade em vez do medo, a escuta em vez do silenciamento, a acolhida em vez da exclusão.

A revolução feminista ainda está por vir. Mas ela só será possível se for feita por todas as mulheres — juntas.


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💜 O que o símbolo representa?

O conjunto do símbolo representa o transfeminismo como um movimento de resistência interseccional, que reconhece:

  • Que a violência de gênero afeta também pessoas trans e não binárias;
  • Que o patriarcado oprime de maneiras diferentes, e que não existe uma única experiência de ser mulher;
  • Que é necessário incluir mulheres trans, travestis, homens trans e pessoas não binárias na luta feminista;
  • Que o feminismo deve ser inclusivo, antirracista, anticapitalista e anti-hierárquico.

Frase que representa esse símbolo:

“Não há feminismo sem transfeminismo.” — Uma das principais bandeiras do transfeminismo contemporâneo.

#react a um vídeo carregado de pressupostos transfóbicos




#react a um vídeo extemamente mal-informado e danoso para mulheres cis e trans. E isso para dizer o mínimo. 

Vejam e tirem suas próprias conclusões. 





 NÃO USEM A ONU PARA ATACAR PESSOAS TRANS


Neste vídeo react, respondemos às falas transfóbicas de uma mulher que tentou usar um relatório da ONU para justificar a exclusão de pessoas trans de espaços públicos e direitos básicos. Mas vamos aos fatos, com responsabilidade e verdade.

 O QUE É ESSE RELATÓRIO?

Ela se refere ao relatório apresentado por Reem Alsalem, relatora especial da ONU sobre violência contra mulheres e meninas.
O nome do documento é:

"Custody, violence against women and violence against children"
(ONU – A/HRC/53/36, 2023)

Esse relatório trata principalmente de disputas de custódia, violência doméstica e proteção de mulheres e crianças. Porém, alguns trechos abordam de forma controversa o reconhecimento legal de gênero e o acesso a espaços de acolhimento por mulheres trans.

⚠️ O QUE HÁ DE PROBLEMÁTICO?

A própria redação do relatório recebeu fortes críticas internacionais, inclusive de:

  • Organizações feministas e LGBTQIA+

  • Especialistas em saúde mental e jurídica

  • Grupos de pesquisa em direitos humanos

Entre os pontos mais criticados:

  • Uso de fontes fracas ou anedóticas

  • Falta de dados consistentes para justificar preocupações com o acesso de pessoas trans a espaços femininos

  • Criação de uma falsa oposição entre mulheres cis e mulheres trans

📊 DADOS REAIS IMPORTAM

Nenhum dado confiável mostra que mulheres trans representam ameaça a mulheres cis em banheiros, abrigos ou vestiários. Pelo contrário:

  • Mulheres trans são desproporcionalmente vítimas de violência, não autoras.

  • As prisões no Reino Unido, Canadá e Noruega mostram que menos de 1% das pessoas trans detidas cometeram crimes sexuais — bem abaixo da média entre homens cis (dados oficiais de 2021-2023).

  • Não há registros substanciais ou sistemáticos de ataques por mulheres trans a mulheres cis em banheiros públicos, segundo investigações independentes e órgãos estatais.

MANIPULAR A DOR ALHEIA É CRUEL

Usar a luta legítima contra a violência de gênero para atacar pessoas trans não só é desonesto — é perigoso. Reforça estigmas, alimenta o ódio e coloca mais vidas em risco.
Isso não é proteção. É transfobia disfarçada de preocupação.


✊🏼 Direitos humanos não são jogo de soma zero.

👉 Defender mulheres é defender TODAS as mulheres, incluindo as trans.
👉 Reagir com verdade é nosso dever.
Compartilhe esse vídeo e desmonte a mentira com a gente.

📎 Fontes nos comentários.
📢 #TransRightsAreHumanRights #FeminismoÉInclusão #DireitosHumanosParaTodos

ADOLESCÊNCIA (Netflix): Não é a exceção. Veja por quê.

Muita gente está abismada com a série Adolescência na Netflix como este crime fosse a exceção, algo novo e surpreendente. Não é. Veja por quê.







Por Sergio Viula

Hoje, vamos conversar sobre uma coisa que está na cabeça de muita gente por causa da série Adolescência, produzida pela Netflix, que fala sobre um jovem considerado um incel.

O que é um incel?

Para começar, incel é o indivíduo que é celibatário involuntariamente. Ele não quer ser celibatário, mas o é por força das circunstâncias. Na verdade, essa palavra foi criada por uma mulher que se sentia frustrada porque não conseguia um parceiro. Pasmem, mas isso foi na década de 90. Ela se dizia, então, uma celibatária contra a vontade. Talvez até de uma forma divertida. Posteriormente, porém, esse termo ganhou os fóruns da Internet – alguns até bastante esquisitos, bem underground mesmo – e passou a caracterizar aqueles homens que se sentem frustrados porque, segundo eles, não conseguem sexo, e culpam as mulheres, dizendo que elas têm expectativas muito altas, que são muito independentes e muito exigentes, e que geralmente querem caras bem-sucedidos. Na visão deles, bem-sucedidos seriam os caras bonitos e cheios de dinheiro.

Bom, para começar, quem não quer um marido desses, né? Mas não é sobre homens desejáveis que eu quero falar. Na realidade, o que acontece é que os incels geralmente apresentam essa tendência para a autovitimização. Eles acreditam que são vítimas do sistema – um sistema, segundo eles, corrompido por causa do feminismo, ou seja, da luta das mulheres por direitos iguais. Eles também têm uma visão fatalista da realidade, uma vez que acreditam que há coisas fora do controle deles que determinam a solidão na qual estão mergulhados. Esses fatores alheios à sua vontade seriam sua própria genética e sua aparência física. Outro fator fora do controle deles seria a superficialidade das mulheres, que, segundo eles, é uma das características femininas que dificultam a interação deles com o sexo feminino e a com a obtenção de relações sexuais. Lembrando que sexo é o verdadeiro objetivo final de um incel. Eles não querem manter com as mulheres uma relação multifacetada e profunda entre indivíduos em posição de igualdade; eles querem dominá-las.

Quando um incel vê uma mulher, o que ele mais quer é transar com ela. E o que ele mais odeia é justamente o fato de não conseguir transar com ela.


A terminologia incel


Os incels usam terminologias inglesas tanto para falar sobre os homens que têm vantagem como para se referir às mulheres que supostamente não dão a mínima para a existência deles. São termos como, por exemplo, "Chad". Estes são os homens considerados geneticamente privilegiados e altamente desejáveis. Por outro lado, "Stacy" seriam as mulheres que só pensam em se relacionar com os "Chads" – os homens de cuja aparência elas gostam e em cujo sucesso elas têm interesse.

Os incels acreditam também que os homens com essa aparência têm mais chances de sucesso e, consequentemente, também têm mais chances de conquistar mulheres. Afinal, eles são belos e por isso acabam sendo bem-sucedidos.

"Black pill" seria essa visão extremamente negativa, pessimista, de que a aparência é o único valor para a escolha de um parceiro. E aí, vocês podem pensar logo em "red pill", não é? Esse termo agora anda bem famosinho também. “Red pill” é essa ideia de que alguns homens "acordaram" para o fato de que estão vivendo num mundo invertido, ou seja, um mundo em que as mulheres dominam e humilham os homens em vez do contrário. 

Pare e pense sobre isso. Essa premissa é estúpida por dois motivos: Primeiro, a mulher não está dominando o homem nem o humilhando quando apenas busca emancipação e autonomia. Segundo, o homem não é naturalmente - ou por ordem divina - superior à mulher em nada. Tudo isso é mito.

A verdade é que os homens sempre se sentiram muito “garanhões”, verdadeiros reprodutores. Mas as mulheres hoje em dia não precisam deles nem mesmo para isso. Elas podem ter filhos sem precisar se deitar com quem quer que seja. Elas podem ter filhos por inseminação artificial, ou por acordos com homens da confiança delas, que podem fazer um filho e deixar a criação deste por conta delas, justamente porque elas optaram por isso. Elas também podem adotar. Enfim, existem mil métodos para que uma mulher tenha filhos, se quiser, sem precisar se casar com quem quer que seja. E ela tem todo o direito de ter ou não ter filhos, com ou sem sexo.


Religião como produtora e mantenedora do machismo


A frustação maior desses caras é que eles acham que a mulher existe para servi-los. Isso também é um reflexo dessa cultura judaico-cristã e até islâmica, que é desgraçadamente misógina, que coloca a mulher como serva do homem. O homem seria o cabeça do lar, o senhor da mulher. E existem passagens absurdas, inclusive no Novo Testamento, que falam sobre isso - que o homem é a cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da igreja.

Ora, se Jesus pode mandar na igreja como ele bem entender, então o homem pode mandar também na mulher. E se a igreja deve ficar submissa a Cristo, a mulher deve permanecer submissa ao homem. Quem nunca ouviu isso que me atire a primeira pedra?


Icels precisam de ajuda, mas não os subestime


Um incel que ainda não chegou às vias de fato no crime, pode e deve receber atendimento psicossocial em liberdade, é claro. Mas existem incels que já violentaram e até mataram mulheres. Estes devem receber esse tratamento já encarcerados, porque cometeram crimes. Não podem ficar inseridos no meio social e nem ter acesso algum à Internet. Vale ressaltar que a violência cometida por esses caras pode ser de vários tipos: violência verbal, simbólica, sexual, chegando à tortura e ao assassinato, como foi o caso do garoto que, lá na série da Netflix, mata a colega de escola a facadas. Ainda que isso possa parecer a exceção, isso é, na verdade, o resultado final de um longo processo de desumanização da mulher e da redução de sua existência a servir o homem em tudo, inclusive sexualmente, querendo ela ou não.


Os estereótipos criados pelo machismo são o estopim


O machista gosta de pensar que as mulheres têm que ser servas submissas, e que toda mulher que não se encaixa nesse perfil é fútil, interesseira, vulgar, e assim vai: "Não se dá o respeito", como eles adoram dizer por aí. E, pior, algumas mulheres, imbecilmente, repetem isso.

Não! Isso está estupidamente errado. Toda mulher merece respeito, e nenhuma mulher é obrigada a fazer seja lá o que for para ter o seu direito à dignidade garantido. Ela pode tomar as decisões que bem entender. E se essas decisões implicarem em quebra da lei, ela será punida nas bases da lei, assim como o homem. Ela terá oportunidades idênticas ao homem na sociedade, desde que essa sociedade seja saudável. Se não for saudável, equilibrada e justa, então essas mulheres não terão as mesmas oportunidades e sua luta por emancipação estará mais do que justificada. Isso é o que vemos em sua pior configuração no Afeganistão, mas não sew enganem: O Brasil ainda está muito aquém do que devia ser nesse quesito.

Os homens em geral, mas os incels, principalmente, muitas vezes, reduzem as mulheres à categoria de um prêmio. Isso fica muito claro quando homens com dinheiro e poder oferecem coisas muito boas e caras a certas mulheres interesseiras. Assim que elas aceitam essa barganha, elas se tornam seus troféus. Aliás, se você está preocupado em ter uma boa relação, devia ficar feliz que mulheres assim já sejam eliminadas do seu leque de opções, porque elas vão atrás desses trastes imprestáveis, geralmente por interesse “comercial”. Você devia ficar feliz por não cair nessa armadilha, pois essa mulher que não está disponível para você significa, na verdade, menos um problema na sua vida, meu caro.

Todavia, isso não dá direito a um incel ou qualquer outro homem de cometer um crime contra essa mulher nem de atacar aquele que a tem como parceira, simplesmente por não ter conseguido o que este agora exibe orgulhosamente por onde passa.  De um modo geral, nenhum ato de violência que não seja em legítima defesa e com força proporcional pode ser justificado.

Vale ressaltar que toda essa neurose incel começa com a cultura da masculinidade tóxica. E aí eu quero colocar a palavra machismo bem grande aqui: MACHISMO MATA. Isso não é novidade. Sempre foi assim com os machistas. Machistas são homens que acham que as mulheres estão a seu serviço e, portanto, têm que fazer o que eles querem.

Vocês estão muito impressionados com adolescentes numa série, mas os homens estão matando mulheres que não querem namorar com eles faz tempo. Eles as matam só porque elas terminaram um relacionamento ou porque se recusaram a começar. Por tudo e por nada, elas se tornam alvos da misógina desses machos escrotos. A torto e a direito, esses caras estão entrando em lojas e matando; em shoppings e matando; em estacionamentos e matando; na casa delas e matando; envenenando mulheres que nem imaginam que uma gentileza aparente esconde um plano macabro. Teve um que deixou o gás ligado para que a mulher morresse intoxicada, enquanto ele tinha tempo de escapar da cena do crime. E para que um bandido desses faça isso com a própria companheira, basta que ela esteja dormindo ou tenha sido dopada. Assim, quando o “incidente” for investigado, ainda vai ter gente achando que se trata de um acidente causado pela própria mulher por descuido. O azar desses homens é que, às vezes, há dispositivos de segurança que eles ignoram e que podem gravar o que eles estão fazendo, como foi o caso desse cara, desse imbecil inútil, que foi preso depois de matar a mulher intoxicada por gás doméstico.

Mas tudo isso vem da cultura machista, do ressentimento contra a mulher como pessoa autônoma. Por isso, o ódio desses homens contra o feminismo. Eles desprezam o direito da mulher à viver emancipada, de ser dona de si mesma. A igualdade de gênero no sentido de que tanto o macho quanto a fêmea devem ter as mesmas oportunidades, e que não há motivo para se fazer distinção entre eles é algo que esses machistas odeiam.

O machismo, que é a ideia de que o homem é superior à mulher, gera a misoginia, que é o ódio à mulher e a tudo o que é feminino. Essa misoginia pode se tornar o gatilho para o crime. Em poucas palavras: O machismo pensa a mulher como inferior, mas a mulher não se submete. Então, ele passa a odiá-la, e para se livrar do objeto do seu ódio, ele pode chegar a matá-la.

Se a mulher não se submete a esse tipo de homem, ele a ameaça e até assassina. Se ela se submete, passa a viver numa relação tóxica - o que não a ajuda, de modo algum, a escapar da opressão e dos maus tratos domésticos.


O macho heterossexual e o macho homossexual


Agora, uma coisa que é muito curiosa é a diferença entre esse tipo de homem heterossexual e os homens que não o são. Vamos recortar aqui esses machistas misóginos que acham que a heterossexualidade é a norma e que, por isso, toda mulher tem que ser dele. 

Mas, antes, vale abrir um parêntese aqui: A mulher lésbica.

Esses machos misóginos são lesbofóbicos. Eles acreditam que a mulher lésbica é assim por falta de macho que a dobre. A partir daí, basta que ele dê mais um passo nessa neurose para concluir que ele próprio poderia ser o “remédio para o problema dela” - problema que ele inventou, porque ser lésbica não é problema algum, exceto na cabeça doentia dele e de outros imbecis como ele. Esse macho adoecido pelo machismo pode inclusive violentá-la na expectativa de que depois de conseguir o que ele verdadeiramente deseja - a gratificação sexual -, ela passe a gostar da “fruta” que ele tem para oferecer, mas não é isso que acontece: A mulher lésbica violentada é uma mulher traumatizada, assim como qualquer mulher. Pode, inclusive, sofrer mais por nunca ter desejado homem algum, para começo de conversa.

Retomando a questão do homem heterossexual machista em contrayst com o homem homossexual, note que quando um gay quer um homem para chamar de seu, ele o conquista por outros meios. Ele recorre à sedução, a um papo legal, a uma troca de fotos, ou a alguma coisa que vai fazer com que esse homem deseje ficar com ele. Até mesmo uma passada de mão aqui ou ali porque o cara está dando mole para ele. Tipo, o cara está olhando, está fazendo gestos como “pega aqui, pega ali”. Aí, ele vai lá e pega, e aí as coisas acontecem. Nunca é algo como o que um incel e outros machistas fazem com as mulheres. Um gay não vai pensar algo do tipo: "Este homem me deve isso porque ele foi feito para esse propósito. Ele foi criado para mim". E isso se dá porque não existe essa cultura na cabeça do homossexual. Não existe essa ideia de que um homem foi feito com o propósito de ser dele, ou que ele foi feito com o propósito de pertencer ao outro. Não. Ele entende que as pessoas vão ser o que são: Podem ser amantes dele, podem não ser, podem nem sequer gostar daquilo que ele tem para oferecer, e não tem nada de errado com isso. Ele sabe disso e, mesmo sendo vilipendiado, humilhado, pisado desde pequenininho, às vezes já dentro de casa pelos familiares, ele não cresce para se tornar um frustrado ao ponto de querer matar alguém porque não lhe correspondeu aqui ou ali. Isso é curioso, porque se tudo se resumisse a uma relação entre violência/rejeição e produção de mais violência, os homens gays seriam os maiores assassinos do mundo. E não o são!


O que poderia ser a razão para essa diferença, então?

Uma possível razão para isso, e que pode ser uma forma de explicar por que as coisas costumam acontecer assim, é que muitos gays aprendem a lidar com a frustração oriunda da rejeição desde pequenos. Assim, eles são obrigados a encontrar caminhos de sobrevivência que não passem pelo extermínio do outro, mas, sim, que passem pela emancipação de si mesmos. Eles pensam em ser independentes, ter um bom emprego, conseguir sua casa - um canto onde possam viver suas vidas sozinhos ou com aquelas pessoas que gostam deles e vice-versa.

Então, é muito curioso como a cultura do machismo faz mal a mulheres heterossexuais, a homens gays, bissexuais e por aí vai. Faz mal, especialmente, às mulheres trans, porque esses homens, muitas vezes, acham que uma mulher trans é um homem querendo enganá-los. Eles se fixam nessa ideia ridícula do engano o tempo todo, como se essa mulher trans quisesse ludibriá-los. Porém, a verdade é que uma mulher trans é apenas uma mulher trans - se você gosta dela, fique com ela, se ela quiser ficar com você, é claro. Se você não gosta, não fique com ela. E se ela não quer ficar com você, respeite a decisão dela e não faça nada. Apenas pegue o caminho da roça e vá embora. 

Ah, e não se esqueça: transexualidade não tem nada a ver com orientação sexual. Pessoas trans podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais, etc. em seu desejo/afetividade. Então, tem mulher trans que não gosta de transar com homem e também tem homem trans que não gosta de transar com mulher. Não se precipite em sua conclusões baseadas em estereótipos hetero-cisnormativos.


Plantado em solo religioso


A verdade é que tanto graças  ao cristianismo como também ao judaísmo e ao islamismo, só para citar os três maiores monoteísmos, o machismo e a misoginia se tornaram insuportáveis. Em outras religiões, o machismo também existe, mas nenhuma é tão meticulosamente descarada nessa estrutura infame quanto essas três vertentes.

Então, quer assistir à série? Assiste à série! Mas não pense que isso é alguma novidade. E não pense que porque esse garoto fez isso mais cedo, ele é pior do que os homens que vão fazer isso mais tarde. Alguns homens vão fazer isso aos 25 ou 30 anos. Esse garoto fez ainda na adolescência. Porém, todos eles estão fazendo pelo mesmo motivo: machismo patriarcal, misógino, antifeminista, homo-transfóbico, que não consegue entender que não há nada de superior num homem por ele ser homem cisgênero e hétero. Por isso mesmo, a mulher não é inferior em nada, e um homem sexodiverso também não. Uma pessoa transgênera, seja ela quem for, também não é inferior a esses supostos machos alfa. Essa hierarquia só existe na cabeça dessa gente adoecida por tais ideologias sexistas alimentadas pela igreja, a família e a escola - para ficar em três aqui. Quando o imbecil compra esse discurso e o alimenta com coleguinhas idiotas como ele, isso não tem como acabar bem.

Então, fica aqui minha contribuição para esse debate. Meu pensamento é direto e simples. Você pode até pensar que é uma análise rasa. Eu não dou a mínima, porque o que acabo de expor é perfeitamente verificável, e não tenho visto as pessoas falarem sobre isso do modo que eu acabo de falar aqui, inclusive com esse viés que dialoga com a sexodiversidade e com a transgeneridade.

Internet e pornografia

Abram o olho! Entendam que a Internet ajudou a piorar isso tudo, justamente por causa desses fóruns.

A pornografia também pode ser uma ferramenta para a produção dessas neuroses. Antes de concluir, deixe-me falar sobre isso. 

Por que digo que a pornografia pode estimular isso?

Antes de mais nada, já está completamente errado que uma criança pequena ou adolescente seja exposto à pornografia, mas pode ser muito pior quando não se trata apenas da relação entre duas pessoas no sentido mais comum dessa transa. Existem coisas, muitas vezes, absurdas, incluindo estupros, ainda que sejam apenas simulados. E é claro que tudo pode ser apenas encenação, mas o impacto disso sobre uma mente infanto-juvenil é desastroso.

Tem todo o tipo de coisa: Estupros, sadismo, submissão extremamente humilhante, etc. Não se trata  sequer de uma relação sexual nos moldes mais tranquilos - o que já seria ruim, porque crianças e adolescentes não deveriam ter acesso a isso. Mas, a coisa é bem pior, porque são comportamentos abjetos, tipo homem e mulher transando e comendo bosta ou homem mijando em cima da mulher ou a mulher mijando em cima do homem. E aí, cá entre nós, se você tem esse fetiche, o problema é seu. Faça o que você quiser com quem aceitar, mas é inaceitável que uma criança ou adolescente veja isso.

Portanto, abra o olho com seu adolescente e com você mesmo. Não alimente o monstro que pode haver em você sem que você sequer imagine. E não alimente os monstros que podem existir na sua família e ao seu redor. Não estou dizendo que eles são monstros ainda, mas podem se tornar. Qualquer pessoa pode! Se não agimos assim é porque desenvolvemos barreiras que têm suas raízes na empatia. E baseados na empatia, nós construímos um sistema moral maior, mais elevado, que inclui o respeito a essas diferenças. A diferença está juntando em nos colocamos em pé de igualdade com o outro. É  isso que machistas e misóginos de todos os tipos não fazem. Podemos ser diferentes em muitos sentidos, mas não em grau de importância, valor ou dignidade. 

Homem, mulher, hétero, LGBT, cisgênero ou transgênero, branco, preto, seja qual for a cor, não existe diferença na hierarquia de valores. Quem criou isso foi algum neurótico, algum tipo de ser humano, provavelmente macho inseguro e ambicioso por poder, que foi pervertido por pensamentos religiosos absurdos e viveu para propagá-los.


Não compre esse lixo discursivo, seja ele machista, misógino, anti-feminista, homofóbico e transfóbico em separado ou tudo junto! Você pode ser melhor do que isso.

Cristianismo e a opressão das mulheres na supreção dos seus direitos



Of the Necessity of Atheism  (Sobre A Necessidade do Ateísmo)

Autor: David Marshall Brooks.

Capítulo 17 – Religião e a Mulher.


Tradução: Sergio Viula

Para o Blog Fora do Armário

Essa obra é de domínio público.

Uma versão anotada (em inglês) pode ser encontrada no Amazon: https://www.amazon.com.br/Necessity-Atheism-Annotated-Marshall-Brooks/dp/B0BMSRJGVN/ref=sr_1_1



Religião e a Mulher


Ela foi a primeira na transgressão, por isso mantenha-a em sujeição. Feroz é o dragão e astuta a áspide, mas a mulher possui a malícia de ambos. (São Gregório de Nazianzo).

Tu és o Portão do Diabo, o traidor da árvore, a primeira desertora da lei divina. (Tertuliano).

Que importa, seja na pessoa da mãe ou da irmã, temos de nos precaver contra Eva em cada mulher. Quão melhor é que dois homens vivam e conversem juntos do que um homem e uma mulher. (Santo Agostinho)

Nenhum traje se torna pior a uma mulher do que o desejo de ser sábia. (Lutero)

A Bíblia e a Igreja têm sido os maiores obstáculos ao caminho da emancipação das mulheres. (Elizabeth Cady Stanton)


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Constata-se em muitos contagens sobre os frequentadores de igreja que as mulheres permaneceram ligadas às igrejas em uma proporção muito maior do que os homens. A proporção de mulheres nas igrejas é vastamente superior à sua proporção na população geral. A maioria dos homens que ainda comparecem passivamente às suas igrejas o fazem sob a pressão de interesses profissionais ou de influência social ou doméstica.

O grau de religiosidade sempre esteve associado ao livre jogo das emoções, e, sendo as mulheres mais imaginativas e emocionais que o homem, parece claro que esse forte fator emocional nas mulheres explica, ao menos em parte, a maior proporção de mulheres como frequentadoras de igreja. E isso, cabe notar, não reside em qualquer inferioridade inerente na constituição mental de uma mulher, mas sim nas influências ambientais que, até muito recentemente, moldaram a educação das mulheres de forma que era pouco adaptada a fortalecer sua razão, mas sim calculada para realçar seu emocionalismo.

Historiadores eclesiásticos têm o notório hábito de ver os tempos pré-cristãos com o propósito tendencioso de expor apenas os aspectos daquela civilização que julgavam inferiores aos exercidos pelo Cristianismo. Todavia, pesquisadores estabeleceram de forma bastante precisa a posição das mulheres na comunidade egípcia de 4.000 anos atrás. Não é exagero afirmar que ela era livre e mais honrada no Egito há 4.000 anos do que em qualquer país da terra até tempos recentes. Os estudiosos nos asseguram que, em um período em que a Bíblia afirma que a terra estava apenas se formando, a matrona egípcia era a senhora de sua casa; ela recebia herança em igualdade com seus irmãos e tinha pleno controle sobre sua propriedade. Ela podia ir onde quisesse e falar com quem quisesse. Ela podia ajuizar processos nos tribunais e até mesmo se defender em juízo. O conselho tradicional dado ao marido era: “Alegra o coração dela enquanto tens tempo.”

Contraponha-se essa posição das mulheres na comunidade e na sociedade em geral com a declaração dada na História do Sufrágio Feminino, de Mrs. E. Cady Stanton, na qual ela fala do status da fêmea da espécie em Boston, por volta do ano de 1850: As mulheres não podiam possuir propriedade, fosse ela adquirida ou herdada. Se solteira, era obrigada a entregá-la às mãos de um curador, à vontade do qual estava sujeita. Se contemplasse o casamento e desejasse chamar sua propriedade de sua, era forçada por lei a fazer um contrato com seu pretendente, pelo qual ela abria mão de todo título ou reivindicação sobre a propriedade que deveria ser sua. Uma mulher, casada ou solteira, não podia ocupar nenhum cargo, fosse de confiança ou de poder. Ela não era considerada uma pessoa. Não era reconhecida como cidadã. Não era um fator na família humana. Não era uma unidade, mas um zero na soma da civilização.

O status de uma mulher casada era pouco melhor do que o de uma serva doméstica. Pelo direito comum inglês, seu marido era seu senhor e mestre. Ele detinha a custódia exclusiva de sua pessoa e de seus filhos menores. Ele podia puni-la com um bastão, não maior que seu polegar, e ela não podia reclamar contra ele.

O direito comum do estado de Massachusetts considerava homem e esposa como uma só pessoa, mas essa pessoa era o marido. Ele podia, por testamento, privá-la de toda parte de sua propriedade, bem como do que lhe pertencia antes do casamento. Ele era o dono de todos os seus bens imóveis e de seus ganhos. A esposa não podia fazer contrato nem testamento, nem, sem o consentimento do marido, dispor do interesse legal de seus bens. Ela não possuía sequer um trapo de suas roupas. Não tinha direitos pessoais e dificilmente podia chamar sua alma de sua. Seu marido podia roubar seus filhos, despi-la de suas roupas, negligenciar o sustento da família. Ela não tinha recurso legal. Se uma esposa ganhava dinheiro com seu próprio trabalho, o marido podia reivindicar o pagamento como sua parte dos proventos.

Com tal contraste em mente, é de fato difícil compreender onde reside a verdade da afirmação de que o status das mulheres era lastimável até que o Cristianismo exercesse sua influência para sua melhoria. E é curioso notar, novamente, que após um período de quase 2.000 anos de influência cristã, coube a uma cética como Mrs. Stanton e a seus colegas céticos promover uma melhoria na posição degradante das mulheres na sociedade cristã.

O retrato degradante da humanidade feminina, conforme descrito no Antigo Testamento, é bem conhecido por quem já folheou esse estoque de mitologia. Seria proveitoso para a multidão de devotas adeptas de todas as crenças reservar um pouco do tempo que dedicam à situação dos pobres pagãos ignorados e ler alguns dos trechos do Antigo Testamento que tratam de seu destino. Toda a história das mulheres sob a administração dessas leis celestiais é um registro de sua servidão e humildade.

No vigésimo quarto capítulo do Deuteronômio, encontramos o direito do divórcio concedido ao marido. Que ele lhe escreva uma certidão de divórcio, a entregue em sua mão e a mande embora de sua casa. A esposa descartada deve aceitar a justiça divina. Mas se a esposa estiver descontentada, existe alguma justiça? Sob nenhuma cláusula da lei do divórcio poderia a esposa obter o divórcio por iniciativa própria. Somente o marido poderia separá-la dele.

No vigésimo segundo capítulo do Deuteronômio é promulgada a lei do Teste de Virgindade, que dispõe que se algum homem tomar uma esposa e se decepcionar dela, declarando “Não a achei virgem”, então seu pai e sua mãe deverão apresentar os sinais da virgindade da donzela perante os anciãos da cidade e o portão. Os anciãos ginecológicos então participam de uma conferência voyeur e, se não for encontrada virgindade na donzela, conduzirão a donzela até a porta da casa de seu pai, e os homens da cidade a apedrejarão, até que morra. Muito provavelmente, o parceiro masculino em seu delito foi o primeiro a lançar a maior pedra.

A lei estabelecida no décimo-segundo capítulo de Levítico pode ter sido concebida para fins higiênicos, mas é cruel e degradante para as mulheres, pois pressupõe que a mulher que pariu uma filha é duas vezes mais impura do que aquela que pariu um filho. A Lei dos Ciúmes, conforme descrita no quinto capítulo de Números, é um bom exemplo da mentalidade dos escritores desta revelação divina. Deus, em Sua infinita sabedoria, determinou que se escrevesse para Ele que, para testar se uma mulher se deitou carnalmente com outro homem, o sacerdote deveria tomar água sagrada em um vaso de barro e, do pó que se encontrava no chão do tabernáculo, o sacerdote tomaria e colocaria na água – a água amarga que causa a maldição – e faria com que a mulher a bebesse.

A revelação divina então prossegue com: “Se ela for contaminada, seu ventre inchará e sua coxa apodrecerá.” Mas, afinal, Deus não sabia que no pó do tabernáculo se espalhavam os germes da disenteria, do cólera, da tuberculose e de algumas outras infecções leves. Ou será que o Divino Pai sabia que mesmo um germe que tenha respeito próprio não habitaria o chão imundo do tabernáculo?

Consequentemente, não é de se admirar que, nos bons e velhos tempos da mulher antiquada, o auge da hospitalidade consistisse em oferecer a esposa ou a filha a um visitante para a noite. Não foi a religião que pôs fim a esse costume bárbaro. Foi o avanço da civilização, não a força religiosa, mas o lugar que o pensamento racional passou a ocupar na vida das pessoas.

Segue a descrição de um tumulto religioso que ocorreu em Alexandria, nos primórdios da Igreja.

Entre as muitas vítimas desses infelizes tumultos esteve Hipátia, uma donzela não mais distinta por sua beleza do que por seu conhecimento e suas virtudes. Seu pai foi Teão, o ilustre matemático que precocemente iniciou sua filha nos mistérios da filosofia. As tradições clássicas de Atenas e as escolas de Alexandria a aplaudiram igualmente por suas conquistas e escutaram a pura música de seus lábios. Ela recusou respeitosamente as ternas atenções dos amantes, mas, elevada à cadeira de Gamaliel, suportou a juventude e a velhice, sem preferência ou favor, sentar-se indiscriminadamente a seus pés.

Sua fama e crescente popularidade despertaram, por fim, a inveja de São Cirilo, então Bispo de Alexandria, e sua amizade com o antagonista deste, Orestes, o prefeito da cidade, acarretou para sua dedicada pessoa o esmagador peso de sua inimizade. Em sua passagem pela cidade, sua carruagem foi cercada por suas criaturas, lideradas por um fanático astuto e selvagem chamado Pedro, o Leitor, e a jovem e inocente mulher foi arrastada ao chão, despida de suas vestes, desfilada nua pelas ruas e então desmembrada nos degraus da catedral. A carne ainda morna foi raspada de seus ossos com conchas de ostra, e os fragmentos ensanguentados foram lançados em um forno, de modo que nenhum átomo da bela virgem escapasse à destruição. Assim se revelou a crueldade dos homens, incitados pela mania do zelo religioso.

Em tempos mais históricos, há inúmeros exemplos da tirania exercida sobre as mulheres pelo sistema feudal. O feudalismo, composto por ideias militares e tradições eclesiásticas, exercia os bem conhecidos direitos senhoriáis. Esses direitos compreendiam uma jurisdição que hoje é indescritível e tinham até o poder de privar a mulher da própria vida.

Uma história da licenciosidade dos monges e dos primeiros papas preencheria um grande número de volumes, e de fato, muitos são os volumes dedicados a esse tema. Bastará apontar alguns incidentes representativos. Em 1259, Alexandre IV tentou interromper a vergonhosa união entre concubinas e o clero. Henrique III, Bispo de Liège, era um indivíduo de caráter tão paterno que teve sessenta e cinco filhos naturais. William, Bispo de Padreborn, em 1410, embora bem-sucedido em subjugar inimigos tão poderosos quanto o Arcebispo de Colônia e o Conde de Cloves com fogo e espada, foi impotente perante os desmandos morais de seus próprios monges, que estavam, sobretudo, envolvidos na corrupção das mulheres.

De fato, o clero suíço em 1230 afirmou francamente que eram de carne e osso, incapazes de viver como anjos. O Concílio de Colônia, em 1307, tentou em vão oferecer às freiras uma chance de viver vidas virtuosas para protegê-las da sedução sacerdotal. Conrad, Bispo de Würzburg, em 1521, acusou seus sacerdotes de gula habitual, embriaguez, jogos de azar, contendas e luxúria. Erasmo advertiu seu clero contra a concubinação. O abade de St. Pilazzo de Antialtarin foi provado por testemunhas competentes a ter nada menos que 70 concubinas. A antiga e rica Abadia de St. Albans não era mais do que um antro de prostitutas, com as quais os monges viviam abertamente e sem disfarces.

O Duque de Nuremberg, em 1522, estava preocupado com a imunidade clerical dos monges, que, dia e noite, se aproveitavam da virtude das esposas e filhas dos leigos. A Igreja promovia abertamente a venda de indulgências em luxúria para os eclesiásticos, que acabou se formalizando como um tributo. O Bispo de Utrecht, em 1347, emitiu uma ordem proibindo a admissão de homens em conventos de freiras. Na Espanha, as condições tornaram-se tão intoleráveis que as comunidades forçavam seus sacerdotes a escolher concubinas, para que as esposas e filhas ficassem a salvo dos estragos do clero.

A tortura, a mutilação e o assassinato de Elgira, por Dunstan, ilustram ainda, entre milhares e milhares de feitos sangrentos semelhantes, a brutalidade diabólica da superstição perpetuada em nome do Cristianismo sobre as mulheres nos séculos anteriores de nossa época. De fato, a superstição religiosa sempre conseguiu roubar, atormentar, enganar e degradar as mulheres.

Bell – Mulheres: Da Escravidão à Liberdade.

Durante a Idade Média, os tempos em que a Igreja dominava completamente todas as formas de empreendimento, o status das mulheres não era melhor do que as condições gerais da época. Essa era da fé é caracterizada pela violência e pela malandragem que cobriam todo o país, pelas pragas e fomes que dizimavam cidades e vilarejos a cada poucos anos, pelo dilúvio de relíquias espúrias e indecentes, pela degradação do clero e dos monges, pela escravidão dos servos, pelas brutalidades diárias dos julgamentos e das torturas, pelos passatempos grosseiros e sangrentos, pela insegurança da vida, pelos devastadores avanços das doenças, pela censura da investigação científica e por cem outras características da vida medieval.

Joseph McCabe, RELIGIÃO DA MULHER.

 A Igreja foi a principal responsável pelas terríveis perseguições infligidas às mulheres sob a acusação de feitiçaria, e isso deve ser levado em consideração quando se analisa o que a mulher deve à religião. A Reforma reduziu a mulher à posição de mera geradora de filhos. Durante o domínio do puritanismo, a mulher era um pobre ser ignorante, um sapo humano sob o jugo de uma piedosa imbecilidade.

As pioneiras do movimento moderno da mulher neste país foram, evidentemente, a Sra. Stanton, a Sra. Gage e a Srta. Susan B. Anthony. Em sua História do Sufrágio Feminino, elas comentam sobre a vil oposição que os primeiros ativistas encontraram em Nova Iorque. Ao longo desse prolongado e vergonhoso ataque à feminilidade americana, o clero batizava cada novo insulto e ato de injustiça em nome da religião cristã, e uniformemente pedia a bênção de Deus sobre procedimentos que teriam envergonhado uma assembleia de hotentotes. E, enquanto o clero nem permanecia em silêncio nem despejava abusos contra esse movimento inicial, pensadores livres como Robert Owen, Jeremy Bentham, George Jacob Holyoake e John Stuart Mill, na Inglaterra, entraram de cabeça na luta em favor da emancipação das mulheres. Na França, foram Michelet e George Sand que lhes prestaram auxílio. Na Alemanha, foram Max Stirner, Buchner, Marx, Engels e Liebknecht. Na Escandinávia, foram Ibsen e Bjornson. A batalha foi iniciada por pensadores livres em desafio ao clero, e foi somente quando a conquista inevitável desse movimento se manifestou que um número considerável de eclesiásticos veio em auxílio desse movimento progressista. A correção dos erros impostos à humanidade feminina, portanto, começou não apenas sem a ajuda das igrejas, mas diante de sua determinada oposição. Não foi o clero que descobriu a injustiça cometida contra as mulheres ao longo dos séculos, e quando finalmente lhes foi apontada pelos céticos, foi raro o eclesiástico que pôde percebê-la e tentar corrigir o erro.

R. H. Bell, ao traçar essa luta das mulheres em sua publicação, Mulheres: Da Escravidão à Liberdade, tem esta pertinente observação a fazer: se há algum direito pessoal neste mundo sobre o qual igreja e estado não devam ter controle, é o direito sexual de uma mulher de dizer sim ou não. Esses e direitos semelhantes estão tão profundamente enraizados na moralidade natural que nenhuma pessoa lúcida e de coração limpo deveria desejar contestá-los. A maternidade forçada, por meio do casamento ou de outra forma, é uma forma mista de escravidão. A maternidade voluntária é a glória de uma alma livre. Na longa luta pela liberdade, o antagonista mais rigoroso da mulher sempre foi a Igreja.

Fim do Capítulo 17.

"A vítima tem sempre razão?" - Francisco Bosco



A vítima tem sempre razão?

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Esse livro não vai te deixar confortável.
Ele vai te confrontar.


Sinopse:

A luta política no Brasil se radicalizou, ganhou novas vozes e tomou as ruas e as redes sociais. O livro de Bosco é uma análise sóbria e ponderada – e a quente -- desse novo ambiente marcado por estridência e intolerância. Nos últimos anos, o debate público no Brasil viu o fortalecimento de vozes novas e combativas. Feministas, movimentos negros e LGBTs tornaram-se protagonistas de batalhas por reconhecimento e contra o preconceito. O palco dessa disputa são as redes sociais, sobretudo o Facebook. A nova arena democratizou a discussão, mas também elevou a voltagem dos radicalismos, à esquerda e à direita do espectro político. É esse o cenário analisado por Francisco Bosco. Atento ao colapso das conquistas dos anos Lula e aos efeitos das manifestações de Junho de 2013, Bosco traça um panorama inédito do novo espaço público brasileiro e examina em detalhe algumas polêmicas recentes, como a questão das marchinhas banidas por blocos de carnaval e o caso da garota branca que defendeu seu direito de usar um turbante. Inspirado na leitura de intérpretes do Brasil, como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda, o autor mostra como a cordialidade, traço constitutivo da identidade brasileira, deu lugar nos últimos anos ao confronto aberto – e examina a consequências dessa mudança com doses generosas de argúcia, sutileza e sobriedade.

Machismo, um híbrido de violência e ignorância





Machismo, um híbrido de violência e ignorância

Publicado pela primeira vez quando este blog ainda estava na UOL.
Por Sergio Viula



Que o machismo se baseia em e promove mais violência já é conhecido historicamente. Mais recentemente, essa mentalidade reduzida e redutora se apresentou claramente no comportamento dos criminosos de classe média que espancaram uma empregada doméstica na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro). Eles se especializaram em bater em mulheres. Faziam isso por "esporte". Entretanto, a violência contra a mulher, que ocorre no lar, é tão revoltante e humilhante quanto aquela sofrida por aquela pobre mulher, com um diferencial inquietante: fica no anonimato na maioria das vezes e ocorre diariamente.

Além da revolta que eu senti quando tomei conhecimento do caso pela TV, fiquei espantado com a ignorância e o preconceito que a justificativa esfarrapada deles revelava: "Pensávamos que fosse uma prostituta."

Como é que gente de classe média, cursando universidade, pode dizer uma imbecilidade dessas? Pensar que o fato de uma mulher ser prostituta lhes dá o direito de agredir, espancar e/ou matar? E o pior é que eles disseram isso provavelmente pensando qu a sociedade acolheria a explicação. Algo como: "Ah, sim, vocês pensaram que fosse uma prostituta?! Então, tudo bem... Foi só um engano." Será que a gente tem cara de babaca ou são eles mesmos que são burros?

Infelizmente, isso é comum em machistas agressores de mulheres tanto quanto em machistas agressores de homossexuais, mais conhecidos como homofóbicos. Esse tipo de violência, porém, é a ponta de um iceberg cuja estrutura fica quase totalmente oculta em meio à rotina de uma sociedade que se entrega à naturalização de uma dominação silenciosa, mas cruel.

A dominação masculina encontra reunidas todas as condições para seu pleno exercício. A primazia universalmente concedida aos homens é claramente percebida nas estruturas, baseadas em uma divisão sexual do trabalho, que confere aos homens a melhor parte. Os próprios hábitos sociais moldados por tais condições acabam funcionando como matrizes das percepções, dos pensamentos e das ações de todos os membros da sociedade. As mulheres, por sua vez, não conseguem escapar totalmente desses esquemas de pensamento que são produtos da incorporação dessas relações de poder e que se expressam em seu comportamento passivo e submisso - não natural, mas condicionado por todo esse esquema social.

Nesse aspecto é perigosíssimo o papel da religião na sociedade, especialmente o cristianismo. Não preciso inventar. Caso alguém duvide do que estou dizendo, vou citar algumas "pérolas" machistas que a Bíblia, sem o menor pudor, apresenta contra as mulheres. Infelizmente, elas mesmas nem percebem a armadilha e acabam sendo a maioria dentre os que lotam os templos e alimentam esse sistema opressor. A Bíblia perpetua a divisão sexual (e iníqua) da sociedade. Veja você mesmo:

1. O mito do início do mundo. Adão culpa a mulher: "A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi." (Gênesis 3:12) A mulher é responsabilizada por todos os males do mundo.

2. O homem se sente no direito de dominá-la, porque Deus mesmo disse: "Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará." (Gênesis 3:16 - grifo meu) Aqui o machismo e o patriarcado (o governo dos homens) inventa sua auto-justificativa áurea.

3. Um dos provérbios mais usados nas igrejas para falar da mulher perfeita é o da mulher virtuosa (Provérbios 31:10-31). Mas o seu conteúdo é todo de subserviência ao marido, trabalho doméstico e atendimento às necessidades dos filhos. É a popularmente conhecida "Amélia, a mulher de verdade". É a "burra de carga".

4. Quando Ló ofereceu suas filhas virgens para favores sexuais aos homens de Sodoma, ele não sofreu nenhuma punição. Sua mulher, porém, apenas pelo fato de ter olhado para trás quando saía da cidade, virou estátua de sal. Mais um mito que coloca as mulheres abaixo de qualquer nível de dignidade. Sorte das filhas de Ló que os homens não as quiseram. (Gênesis 19:6-8; 25,26)

5. O desprezo pela relação amorosa, como se a mulher fosse coisa impura é nítido nas palavra do apóstolo Paulo - o mais proeminente dos apóstolos: "Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher; mas por causa da impureza, cada um tenha sua própria esposa." (I Coríntios 7:1,2). A esposa é apenas um objeto destinado ao uso do homem para que ele não se entregue à prostituição.

6. Veja a hierarquia da dominação explicitamente defendida por Paulo. Ele diz que Deus é o cabeça de Cristo, Cristo é o cabeça do homem, o homem é o cabeça da mulher. (Conferir I Coríntios 11:3) e a mulher... sifu!

7. Outra pérola paulina: "As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido como ao Senhor, porque o marido é o cabeça da mulher..." (Efésios 5:22,23)

8. Paulo instrui Timóteo, seu mais fiel discípulo, dizendo: "A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio." (I Timóteo 2:11,12) E, logo em seguida, vem o mito do Éden para justificar (I Timóteo 2:11,12)

9. Mas Pedro também não perde tempo: "Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido..." (I Pedro 3:1)

10. Quando João quer representar o sistema pervertido desse mundo (na visão cristã, diga-se de passagem), ele utiliza a figura de uma mulher montada numa besta, ou seja, num animal. Ele associa essa mulher à prostituição, à blasfêmia, às abominações, à morte dos santos cristãos, ao anticristo, etc. (Conferir Apocalipse 17:1-18)

Não é de admirar que o machismo tenha sido alimentado por tantos anos com conteúdos religiosos, além de outros. Mulher, dizem os pregadores baseados na Bíblia, é ajudadora do homem. Ela existe para servi-lo. Ora, a prostituta é simplesmente aquela mulher que leva essa submissão servil às últimas consequências, colocando-se diante de um homem para atender aos seus caprichos mais excêntricos. E é por isso que esses criminosos que agrediram a empregada doméstica se sentiam no direito de espancar prostitutas - antes de mais nada, mulheres.

Por isso, toda a sociedade (homens inteligentes e livres das amarras do machismo, e mulheres inteligentes e autônomas) deve exigir:

a) Rigor nos julgamentos de crimes contra as mulheres;

b) Rigor nos julgamentos de crimes contra os homossexuais;

c) Rigor nos julgamentos de crimes contra as crianças.

Fora o machismo e o patriarcado. Ser homem não é ser o oposto de ser mulher. Essa divisão não é natural. Ela foi construída histórica e socialmente. Homens e mulheres são diferentes, mas não opostos. Entre os próprios homens há enormes diferenças, bem como entre as mulheres. É tolice querer hierarquizar a sociedade com base no sexo de cada um. Igualdade e respeito são as bases de qualquer sociedade equilibrada e saudável.

Colunista da Folha fala de machismo no BBB, submissão feminina e de Daniel (único gay assumido que ainda está no BBB 11)

Daniel: contestação do machismo e do desprezo 
pela mulher por parte dos brothers do BBB 11




NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA


"Só tem viado aqui dentro". A frase não foi dita no "Big Brother" por nenhum integrante do grupo dos "machos alfa", mas por Daniel, o único gay assumido que continua no programa. Se o BBB do ano passado foi marcado por brigas entre gays, simpatizantes e homofóbicos, o desse ano expõem outro conflito (muito parecido): o entre homens machistas e mulheres.

Daniel, quando chamou os caras de "fracos", explicitou a guerra. E mostrou que é ele o homem da casa que realmente ama as mulheres (fato que nada tem a ver com orientação sexual, como se sabe.)

Sim, porque o "viado" a que Daniel se refere não é o homem gay. Mas o machão que não sabe lidar com moças, as trata mal e, por vezes, as odeia.

"Não torço para esses homens uós. Se eles ganharem, vão botar para ferrar com as empregadas deles. O Diogo briga com mulheres. Não posso aceitar essas humilhações que ele faz".

Frederico Rozário/TV Globo

O gay Daniel diz que "só tem viado" no "BBB11"

Diogo, para quem não assiste ao programa, já chamou uma das participantes de "gorda nojenta" e de "balofa". Adriana, de quem ele era "amigo" já foi chamada de "songa". "Eu cuspo em mulher, grito", disse certa vez o exemplar mais ogro do grupo.

O "amigo gay" das moças não foge da raia. Pelo contrário: as defende com "macheza". Desde que a tal garota foi chamada de "gorda nojenta", nunca mais deixou de votar em Diogo.

O curioso é que as meninas, que, sim, já chamaram os homens de machistas e também formaram um bloco, não votam contra os caras que as maltratam. Talvez por medo, por não resistir a um afago ou por estarem acostumadas a levarem patadas de homem na vida real e acharem que é assim mesmo.

Depois de discutir com os homens, elas não suportam o tranco e acabam pedindo desculpas para os machos feridos usando chavões do estilo "eu exagerei, estava nervosa. Desculpe." A culpa é sempre da mulher, claro. E coitado do homem que ainda teve que lidar com essa louca!

Daniel é amigo dos machos, sim, e a convivência é harmônica. Mas ele é o único da casa que ainda não abaixou a cabeça para os rapazes fortes e pediu "desculpas por existir".

O grupo dos machos alfa tem tudo para chegar à final do programa (grande objetivo deles). Mas já está mais que provado quem é o "homem" da casa.

Geisy Arruda e o machismo da UNIBAN

Geisy Arruda


Geisy Arruda foi assediada moralmente por centenas de alunos na faixa dos 20 anos por usar um vestido rosa curto para ir à universidade (UNIBAN). Desde 22 de outubro, o escândalo da universidade tem sido discutido em diversos programas e noticiários televisivos. Depois de expulsar a jovem, a universidade alegou que ela havia violado "princípios éticos, a dignidade acadêmica e a moralidade". Houve pessoas que fizeram campanhas de humilhação contra ela.

A universidade disse que expulsou Geisy Arruda depois de conversar com ela sobre sua aparência. Ela teria ignorado a advertência. Todavia, ela considerou sua expulsão injusta. "Eu fui a vítima", disse ela. "Como pude ser expulsa? Isso é um absurdo."

Depois da repercussão que o caso ganhou no Brasil e no exterior, a UNIBAN decidiu revogar a decisão pela expulsão. O caso ainda vai dar muito "buxixo".


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Alguns questionamentos deste blogueiro




1. Pode uma universidade arbitrar sobre os trajes dos alunos a este ponto?

2. Quem estabelece as regras sobre conduta na universidade?

3. Se a universidade é o lugar do diverso, por que foi que o corpo diretor tomou partido pela uniformidade?

4. Por que os alunos que a xingaram não foram tão sumariamente punidos quanto ela? O que é pior, usar um vestido curto ou começar um motim que poderia ter levado a uma tragédia?

5. Como é que tantas mulheres puderam se envolver nessa turba e perseguir essa moça? Onde está a consciência dos direitos das mulheres na cabeça desta garotas?

6. Por que é que um vestido gerou tanta polêmica se tem tanta gente que usa drogas na universidade, namora com carícias abusadíssimas, e divulga na universidade "choppadas" onde acontece de tudo?

7. Se a universidade faz isso com uma mulher que está usando um vestido que faz parte do dia-a-dia de milhares de mulheres, o que não teria feito se o aluno fosse um travesti ou transexual por mais comportado que se apresentasse?

8. A quem um aluno assediado moralmente vai recorrer se a universidade trata com esse desprezo um vítima de violência dentro das depedências da universidade?

9. Que moralismo é esse que faz esses jovens de 20 e poucos anos parecerem criaturas da Idade Média? De onde veio essa paranóia?

10. Por que é tão difícil aplicar à vida prática aquele lindo pensamento: "Live and let live" (Viva e deixe viver)?

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