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Antes que o galo cante três vezes... kkk

Por Sergio Viula


Antes que o galo cante três vezes (hehehe), 
eu terei completado mais uma volta em torno do sol. 



Ao longo dessa semana, escrevi um post em forma de crônica a cada dia, fazendo uma contagem regressiva até o dia 08. A última crônica dessa série está agendada para amanhã, logicamente.

Como qualquer pessoa que publica um texto seu, eu fico muito feliz quando as pessoas o leem. Fico mais feliz ainda quando o comentam. Mas, independentemente do fluxo de leitores que um texto possa atrair, eu mantenho sempre em mente que esse blog acumula duas funções fundamentais: compartilhar minhas ideias com os interessados nelas e arquivar memórias às quais eu possa recorrer sempre que não consiga lembrar de algum detalhe sobre determinada experiência vivida.

Assim sendo, gostaria de registrar mais algumas aqui.



Minha aulas nessa quarentena

Tenho dado aulas exclusivamente online desde o dia 14 de março. Na verdade, já dou aulas online há bastante tempo, mas, antes, eu o fazia com alunos particulares. Agora, preciso trabalhar também com grupos da escola de idiomas onde trabalho. Sem dúvida, são experiências que guardam muitas diferenças entre si. Cada uma dessas modalidades tem seus pontos forte e fracos, distintamente. Porém, de uma forma ou de outra, as experiências costumam ser bastante positivas.

Pessoalmente, tenho muita satisfação em interagir com meus alunos e colaborar para o seu desenvolvimento. À medida que busco esse objetivo, através de cada atividade realizada em sala ou fora dela, aprendo muito com eles também. Já fiz alguns grandes amigos tanto nas aulas particulares como nas aulas em grupo. A maioria, porém, costuma concluir o curso em algum momento e sumir no horizonte. Não posso reclamar. Se eu parar para pensar em quantos professores contatei depois de terminar algum curso ou nível escolar, eles talvez cheguem a pouco mais do que meia-dúzia: dois deles eram professores de inglês e me deram aula na adolescência, uma foi minha professora no antigamente chamado ginásio, e quatro foram meus professores na graduação ou pós-graduação.


Professores que ficaram na memória


Tive a oportunidade de encontrar dois dos meus professores favoritos de inglês dos tempos de adolescência. Um desses professores era meu xará (Sergio Lima) e a outra foi minha professora em dois períodos (Rosely Faria). Procurei deliberadamente por eles anos depois de ter sido aluno de ambos. Foi dois encontros muitos especiais.

Do período escolar, destaco a professora Ana Maria, cujo sobrenome me é totalmente desconhecido, infelizmente. Ela foi minha professora de ciências na quinta-série (sexto ano hoje). Dna. Ana Maria, como eu a chamava, era extremamente inteligente, criativa no modo como dava aulas, carinhosa com os alunos, e nutria uma afeição quase maternal por mim num período que me foi muito difícil - uma fase durante a qual eu sofria muito bullying homofóbico na escola. Dna. Ana Maria fez o que pôde para me fazer perceber que não havia nada de errado comigo; nada de errado em ser gay! Ela era mãe de uma linda menina e um lindo menino - ambos bem pequenos naquele tempo. No meu aniversário de 11 anos, ela veio à minha festa em casa, trazendo as duas fofuras. Não sei se ela está viva ainda, porque faz muito tempo que não a vejo. Quando deixamos de nos ver, não havia celular ou internet ainda.

Do nível acadêmico, mantenho contato e profunda admiração por minha professora de filosofia, a Dra. Dirce Eleonora, que também me orientou em minha dissertação no final do bacharelado. Ela se tornou uma querida amiga e continuamos a manter contato pelas redes sociais. Tive vários professores excepcionais naquele departamento, mas não mantive contato com a maioria, infelizmente.

Outra exceção do período em que estudei filosofia é o meu querido Claudio Pfeil, professor de fenomenologia, com ampla formação em filosofia e psicanálise. Aprendi muito sobre a filosofia sartreana com ele. Somos grandes amigos e mantemos contato quase que diariamente via WhatsApp. Ele é o idealizador da Casa Vitral, espaço de divulgação de filosofia, psicanálise, artes e outras humanidades no Rio de Janeiro.

Do mestrado em linguística, mantenho contato com os queridos professores doutores Poliana Coeli e Bruno Deusdará. São tão formidáveis como professores quanto o são como seres humanos! Poliana foi minha orientadora. Pessoa maravilhosa e extremamente zelosa, ela me proporcionou momentos muito especiais de troca e aprendizado. Bruno participou de muitos desses momentos. Ele é de uma capacidade analítica impressionante também.

Não faltou incentivo por parte dos meus professores do programa de mestrado para que eu seguisse adiante e fizesse um doutorado. Destaco como incentivadores os seguintes queridos professores: Sandra Bernardo, Bruno Deusdará, Poliana Coeli, e o diretor do departamento Décio Orlando S. da Rocha.

Nota: Eu teria colocado apenas Décio da Rocha para seguir o modelo de prenome mais um sobrenome na lista acima, mas isso produziria uma cacofonia curiosa ("Desce-o da rocha"). Por isso, coloquei seu nome completo. Aproveito para mandar um abraço carinhoso a todos os professores citados nesse post. 


Um abraço especial para o meu querido William dos Santos Soares, professor da UFRJ, que não me deu aula, mas me ensinou e continua ensinando muito. Ele foi professor convidado para a minha banca de mestrado, mas já havia trabalhado comigo numa escola de idiomas bem antes de se tornar um acadêmico. Esse é uma daquelas belas exceções de que eu falava acima, quando comentei sobre mestrado e doutorado.


Por que não fui adiante, então?

Primeiro, confesso, porque eu estava exausto. Só quem já fez um mestrado, especialmente almejando excelência no trabalho realizado, sabe como esse programa pode ser devastador física e mentalmente. Quando terminei, não queria nem pensar em ler ou escrever por um bom tempo. Mas, como poderia fazer isso se sou professor e tenho que lidar diariamente com as letras?

Segundo, porque é muito triste ver que dificilmente encontramos espaço para atuar dentro do nosso campo de pesquisa nesse país.

Terceiro, e tão ruim quanto isso, é ter que reconhecer que dificilmente essa especialização produzirá ganho financeiro real em nossa esfera pessoal de trabalho.

Em outras palavras, a pós-graduação não melhorou meus rendimentos na empresa em que atuo e não me garantiu espaço em outra ramo de trabalho, no qual pudesse aplicar meus conhecimentos diretamente.

Vale lembrar que um programa de doutorado exige quatro anos de sua vida! Decidi não encarar...

Lamento dizer, mas para cada exceção que algum leitor possa me apontar aqui, apresentarei dez outras que confirmam o que estou dizendo. Acredite, não estou falando inconsequentemente ou ressentidamente. É apenas uma constatação. Trata-se de um fato.

Quem quiser fazer pesquisa, faça-a por seu desejo de expandir conhecimentos. Se o seu trabalho for recompensado ao longo do caminho, parabéns, aproveite a oportunidade! Mas, saiba que você faz parte de uma diminuta minoria. Lembre-se que muita gente igualmente competente (ou até mais) nunca terá a mesma chance, não pelo menos pelo tempo em que país for governado por gente mais estúpida que uma ameba, do tipo que despreza a ciência em suas mais variadas vertentes.

A boa nova é que como não há limite para o que possamos aprender, assim como também não existe apenas um meio para se construir conhecimento, continuo estudando e aprendendo continuamente por minha própria conta.

Atualmente, porém, dedico mais tempo a me aprofundar em áreas que tenham a ver com o que ensino. Também me interessa muito saber cada vez mais sobre diferentes abordagens pedagógicas que possam ser aplicadas ao aprimoramento das minhas aulas.


Uma triste constatação em sala de aula 


Lamentavelmente, por motivos os mais diversos, muitos alunos falham em aproveitar o que é disponibilizado para eles dentro e fora de sala.

Por outro lado, felizmente, existem outros alunos que fazem uso de tudo o que é proposto.

A diferença de resultados é notória! Vê-se claramente o progresso daqueles que foram mais cuidadosos e empenhados em dominar os conteúdos apresentados.

Ontem, especialmente, fiquei profundamente mal impressionado durante uma aula. Perguntados sobre um determinado assunto, os dois alunos presentes não conseguiram desenvolver uma discussão relativamente simples para o nível deles.

Veja bem, não foi por falta de vocabulário ou de conteúdo gramatical compatível com o nível da conversa. Não mesmo. Daí, a minha perplexidade.

Na verdade, ambos ficaram empacados, dando desculpas para não se engajarem na discussão proposta por motivos que aparentemente não mantém qualquer relação com capacidade linguística de qualquer um dos dois, mas, sim, com a falta de pensamento lógico e criativo, bem como de habilidades comunicativas que estão para além do léxico. Há coisas que dizem respeito ao 'jogo' do diálogo. Numa atividade de conversação, saber manter a bola rolando é mais importante do que marcar um gol.

Provoquei os dois de várias maneiras. Usei perguntas indutivas, apresentei mais informações sobre o assunto (curtas e fáceis de absorver), mostrei fotos, e mesmo assim, eles continuaram andando em círculos. Não foram capazes de fazer conjecturas, deduções, relações com a vida cotidiana, com aquilo que veem e ouvem na TV ou na Internet, e por aí vai.

Observem que estou falando de dois adultos graduados e inteligentes, que não conseguiram sair do rasíssimo diálogo do "gosto/não gosto", "vejo/não vejo", quando deveriam já estar debatendo o que foi proposto. Vale dizer que a questão colocada nasceu de um questionamento feito por um desses mesmos alunos durante uma atividade que pretendia estimular a fala.

Em resumo, fui atropelado pelos fatos como por uma carreta! E qual foi o fato devastador? A constatação de que as pessoas atravessam anos de escolarização só para chegarem ao final deles - inclusive com pós-graduação - sem a menor capacidade de inferir, deduzir, comparar, contrastar, questionar, enfim, pensar lógica e criticamente. E a pergunta que eu me faço (e estendo a vocês) é:

De que adianta dominar mais de um idioma se você não sabe o que fazer com isso na vida real?


E daí?


E daí que nunca foi tão urgente e importante filosofar.

Mas, por favor, "não me venham com churumelas", como dizia o nobilíssimo professor Girafales. Não me venham com cacarecos tirados de crenças religiosas, místicas, míticas ou de autoajuda, como se tais coisas fossem, em qualquer medida, sinônimos de Filosofia de fato. Tal confusão só demonstra mais uma vez o que acabei de dizer: Nunca foi tão importante e urgente filosofar!

E como estou falando, entre outras coisas, de completar mais um ano de vida, quero concluir a crônica de hoje com um pensamento de Epicuro, filósofo grego, nascido em Samos em 341 a.C. e falecido em 271 ou 270 a.C. em Atenas.

Vou dividir o texto em três partes numeradas para facilitar a compreensão. Originalmente, não há essa numeração.


1. Aquele que melhor sabe enfrentar o temor de inimigos externos transformou, como que em uma família, todas as criaturas que pode;

2. quanto as que não pode, ao menos não as tratou de modo hostil;

3. quando até isto lhe pareceu impossível, evitou qualquer contato e fez tudo o que seria útil para mantê-los à distância.


Em outras palavras, relacione-se intimamente com aquilo e aqueles que lhe fazem bem, ou seja, que colaboram para maximizar o prazer e minimizar as dores da sua existência; relacione-se apenas cordialmente com aquilo e aqueles que, por suas próprias razões, não "fedem nem cheiram"; e, por fim, fique longe de tudo e de todos os que impeçam ou atrapalhem a maximização do prazer e a minimização das dores que acometem sua vida.

Ainda sobre esse terceiro grupo, gostaria de encorajá-lo(a) a livrar-se especialmente de cinco temores que vampirizam sua vida. Esses temores também foram alvo do pensamento de Epicuro. São eles:


1. o temor do 'divino'


2. o temor da morte


3. o temor do que o futuro lhe reserva


4. o temor de si (culpa, remorso)


5. o temor dos outros (o que pensam e o que podem fazer contra você)


Observe que não há como viver bem dominado pelo medo.

Amanhã, encerro um ano e começo outro. Porém, um ano é feito de dias. E nada melhor do que viver sem medo e sem ansiedade cada dia de nossas breves vidas. Pense nisso.

Até amanhã.

A estupidez humana é insuperável mesmo

Por Sergio Viula




Esse final de 2016 tem sido um período de insuperável estupidez em diversas partes do globo e nos mais variados níveis.

Quando eu penso que já vi o suficiente e que agora as pessoas podem mudar o script e começar a agir e falar como se fossem inteligentes de fato, acabo me deparando com a mais nova versão da velha estupidez humana aqui e ali.

Por exemplo, desde que me conheço por gente, o povo da Colômbia vem sofrendo com os conflitos entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo. Nenhum dos dois lados jamais demonstrou disposição para colocar fim ao conflito. Nada de concessões, quaisquer que fossem. Dos dois lados, prevalecia a lógica do "nós ou eles".

O presidente Juan Manuel Santos, porém, conseguiu capitanear um acordo de paz sem precedentes. E os revolucionários aceitaram. O que dificilmente se poderia esperar era que a população decidisse dizer não à paz, mas disse. E o fez durante um plebiscito realizado no mês de outubro. O acordo poria fim a 52 anos de conflito - uma guerra civil que custou mais de 220 mil vidas.

Quando ouvi isso, eu disse: O quê? Isso é brincadeira. Não pode ser verdade. Como é que os mais prejudicados por essa guerra civil podem dizer não à paz? Não era pegadinha.

Felizmente, apesar da vitória da imbecilidade nas urnas, os dois lados do conflito dizem que estão abertos à paz, mas como lidarão com isso, é difícil prever.



Presidente da Colômbia e líder das FARC celebrando o acordo de paz.
Leia mais em: O Globo - http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/10/por-que-a-colombia-disse-nao-ao-acordo-de-paz-com-as-farc.html

Nesse mês de outubro, um outro absurdo foi legitimado através do voto popular. Um bispo, representante de uma organização religiosa que é suspeita de graves crimes fiscais, para dizer o mínimo, foi eleito prefeito da segunda maior cidade do Brasil: O Rio de Janeiro.

Sobre as suspeitas de crime, vale lembrar os anos de 2010, 2011 e 2016, só para citar três.

Em 2010, a Igreja Universal foi acusada de crime financeiro por envio ilegal de divisas para o exterior. O valor chegava a 400 milhões de reais, segundo o Estadão: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,doleiros-dizem-que-igreja-universal-enviou-r-400-milhoes-ao-exterior,543932

Em 2011, o Ministério Público Federal de São Paulo apresentou acusação contra a organização de Edir Macedo por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O caso foi noticiado pela revista Veja: http://veja.abril.com.br/politica/como-a-universal-lava-o-dinheiro-doado-pelos-seus-fieis/

Agora, em 2016, a Folha de São Paulo publicou a seguinte notícia:

Um ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus acusa a entidade de ter mantido um esquema ilegal para operar milhões de dólares no exterior por pelo menos sete anos.

O dinheiro, segundo a versão dele, teria sido utilizado para financiar a instituição e sua emissora de TV, a Rede Record, na Europa.

Alfredo Paulo Filho, 49, afirma ter sido responsável pela Universal em Portugal entre 2002 e 2009 e um dos principais auxiliares do bispo Edir Macedo, fundador da igreja, por mais de dez anos.

Antes disso, diz que coordenou trabalhos da igreja em Estados como São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul.

Segundo o ex-bispo, a cúpula da Universal criou uma rota para fazer remessas ilegais de dinheiro, ao menos duas vezes por ano, da África para a Europa.

Os dólares, diz, vinham de uma campanha da igreja em Angola, a Fogueira Santa, e cerca de US$ 5 milhões eram despachados por viagem.

O ex-bispo relata ter participado do esquema e afirma que os milhões de dólares chegavam à Europa em um jato particular, depois de terem sido levados, de carro, de Angola até a África do Sul. Leia mais na Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1802938-igreja-universal-mantinha-esquema-ilegal-no-exterior-diz-ex-bispo.shtml

Apesar de tudo isso, mais de 59% dos eleitores do Rio de Janeiro, foram estúpidos o bastante, para colocarem um dos maiores patrimônios culturais, históricos e turísticos do país nas mãos do sobrinho de Macedo, que se gaba de ter sido mi$$ionário na África - a mesma África que está sendo investigada como rota dessa evasão e lavagem de dinheiro.

Curiosamente, Malafaia, que na eleição para governador, combateu vorazmente o bispo, tornou-se um de seus maiores aliados quando este concorreu para prefeito este ano. Certamente, os dois têm muito em comum. O que me espanta é o que o Rio de Janeiro diz de si mesmo com tal escolha: trata-se de um deslumbrante cenário para atores de baixíssimo nível. E por atores, refiro-me a esses patifes, seus seguidores e eleitores.


Malafaia e Crivella trocando carícias (risos)

Eu poderia até pensar que países considerados desenvolvidos estivessem imunes a esse tipo de fenômeno, mas não. Afinal, se uma cidade cosmopolitana como o Rio de Janeiro pode eleger um bispo fundamentalista como Crivella, e com ele abrir as portas do cofre para seu tio e para pessoas como Garotinho e sua turma, além de Malafaia e outros exploradores da fé e promotores de segregação, por que não poderiam os Estados Unidos fazer algo semelhantemente estúpido com tanta gente fundamentalista por lá também?

E foi o que aconteceu.

Entre uma mulher capacitada, experiente e disposta a trabalhar para que o país se desenvolvesse, respeitando a diversidade que lhe é característica, e um homem que mais parece um pirralho mimado, mal-educado, preconceituoso, segregacionista e sem a menor noção do que é ocupar um cargo público, os americanos elegeram este e não aquela. Para fazer justiça ao cidadão eleitor, é importante que se diga que Hillary ganhou em número de votos válidos, mas em função do sistema eleitoral americano, que trabalha com delegados e não com o número absoluto de votos nas urnas, venceu Trump.

A vitória desse racista, misógino, homofóbico, racista, xenofóbico, entre outros adjetivos que brotam de suas próprias falas discriminadoras, lançou o país em conflitos que já duram três dias desde o anúncio de sua vitória (no momento desse post).


Trump: golpes financeiros, abusos sexuais, criação de uma universidade falsa, lesando centenas de alunos são apenas algumas das falcatruas do novo presidente americano.


Quem diria que depois de tantos avanços nos EUA, a estupidez ainda se faria carne e habitaria entre nós na figura de um presidente como Trump?

Se por lá, a vontade da maioria não elegeu Trump. Por aqui, a vontade da maioria foi nitidamente desrespeitada no que diz respeito a uma presidente democraticamente eleita.

Michel Temer, um vice-presidente que dificilmente seria eleito para o cargo de presidente no Brasil, decidiu aproveitar a perseguição de Eduardo Cunha contra a presidente Dilma por vingança, uma vez que Dilma havia posto fim à mamata do deputado em Furnas muito antes dele ser presidente da Câmara. Cunha, que presidia aquela Casa e podia acatar um requerimento de abertura de processo de impedimento, era do mesmo partido que Temer e os dois sabiam que precisavam apoiar um ao outro se quisessem sobreviver. Tanto que agora que o objetivo foi alcançado, Temer foi convocado por Cunha para ser testemunha de defesa dele no processo da Lava-Jato que o pôs na cadeia por evadir milhões para Suíça.

O processo de impedimento que garantiu a cadeira da presidência a Temer foi tão bem articulado entre a Câmara e o Senado, que docilmente poderia ser revertido. Deputados corruptos insatisfeitos com a linha dura de Dilma contra seus esquemas e desmandos, mancomunados com a grande mídia, a quem Dilma também não alimentava com as 'benesses' que essas mega-organizações ansiavam receber, entre elas a Rede Globo, cujo contrato de concessão seria renovado um ano depois do impedimento, conseguiram o que queriam: Dilma foi impedida, mesmo sem comprovação de crime de responsabilidade. Temer ocupou a cadeira que vampirescamente ansiava em ocupar, mas o Brasil está pagando a conta desse golpe.

Muita gente ingenuamente pensava que as coisas melhorariam sem Dilma. Pioraram. Programas sociais sendo desarticulados. O país continua imobilizado do ponto de vista econômico. Quando a gasolina caiu de preço nas refinarias, a imprensa festejou dizendo que baixaria no posto. Foi o contrário, subiu! Não apenas isso, mas Temer apresentou a PEC do congelamento de gastos por 20 anos - o que significará a sabotagem do sistema público de educação, segurança e saúde - áreas básicas para a vida da esmagadora maioria dos cidadãos do país.

Temer mexeu no financiamento universitário. Teremos menos médicos daqui a poucos anos. Só para mencionar um dos muitos profissionais essenciais à nossa sobrevivência e qualidade de vida.

Nesse momento, o Congresso articula a sabotagem da Lava-Jato através de Projeto de Leniência, que é a garantia de que os deputados, senadores e outros políticos envolvidos em corrupção não serão punidos. E já tem representantes da grande mídia fazendo o deixa-disso com os juízes do Paraná, agora que seus amiguinhos do PSDB e do PMDB são a bola da vez. Uma das queridinhas do Globonews dá o tom desses demagogos tendenciosos.

Tudo isso é assustador, mas muito disso não depende diretamente de um indivíduo ou mesmo de um grupo social. É o resultado de uma configuração ampla e intrincada que envolve muita ignorância por parte de uns e muita esperteza por parte de outros, muito poder e muita vulnerabilidade, alianças e rompimentos, e por aí vai. Porém, quando se trata de uma pessoa fazendo mal a si mesma a olhos vistos, isso é ainda mais impressionante.

E isso é o que vem acontecendo com esses desafios toscos que podem levar à morte ou à deficiência mental e/ou física chamados "choking" (asfixia). Qualquer que seja a explicação para esse comportamento, uma coisa fica muito clara para mim: estamos cercados de idiotas. E é possível que alguns dos que me leem aqui e pensam que os idiotas são apenas os outros sejam, na verdade, bastante idiotas para fazerem, aceitarem ou apoiarem diversas outras coisas igualmente perigosas.

Por exemplo, conheço gente que não toparia o desafio do 'choking', mas votou em Crivella, ou que não votou em Crivella, mas acha que Trump era melhor que Hilary, ou que apoiou o golpe disfarçado de processo democrático no Brasil, ou que é idiota o suficiente para usar as redes sociais para espalhar ou apoiar o fascismo, a homofobia, a transfobia, a xenofobia, o racismo e por aí vai, mesmo sabendo que tem amigos e/ou parentes que são LGBT, negros, estrangeiros, etc.

Por que será que tanta gente vocifera dez mil ofensas contra quem dá seu cu de boa vontade a quem deseja comê-lo ou que agradecidamente come o de quem lhe dá livre e espontaneamente, mas aceita que um indivíduo tão idiota quanto ele exerça poder de morte sobre sua vida, sufocando-o até a morte ou quase morte? Vai trepar, otário!


Desafio do choking (asfixia)

Como pode alguém em sã consciência apoiar grupos de extermínio como esse que vem sendo investigado em Goiânia? O nome da operação policial que investiga esses exterminadores tem um nome super sugestivo: Sexto Mandamento. Se alguém se pergunta o que diz esse mandamento, ele diz "não matarás" - e não interessa quem. É não matar, e ponto.


Tenente-coronel Ricardo Rocha está entre alvos da operação da PF
 (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)


Fiquei ainda mais intrigado quando soube que os investigadores haviam descoberto que são comerciantes que financiam esses exterminadores. E para quê? Para eliminar moradores de rua e outros desafetos.

Ora, os moradores de rua são um dos grupos mais vulneráveis na pirâmide social. São os absolutamente desamparados. Ouvi no noticiário que mais de 100 cidadãos já haviam sido assassinados friamente por esses bandidos, entre os quais muitos são policiais militares, guardas municipais e policiais civis. Há algo de muito podre no mundo quando a população aceita ou tenta justificar a ação de criminosos com distintivo. Se matam seu vizinho, por que não você, estúpido? Não precisa ser muito esperto para chegar a essa conclusão.


Francisco: o escorregadio


Aí, você pensa: talvez possamos encontrar alguma boa notícia na fala do Papa argentino, que alguns acreditam estar humanizando a Igreja Católica. Talvez, possamos festejar algum progresso ali, quem sabe? Talvez, graças a esse simpático argentino, a estupidez que acompanha o Vaticano há centenas de anos no que diz respeito à sexualidade humana e a dignidade das pessoas sexodiversas ou transgêneras esteja recuando e a racionalidade avançando, mas aí o Papa Francisquinho mesmo estraga tudo dizendo que é terrível que as crianças sejam ensinadas nas escolas que podem escolher seu gênero.

Ora, terrível mesmo é que crianças sejam vítimas de violência em todos os sentidos por não se encaixarem nos padrões heteronormativos e que não sejam protegidas contra isso nem na escola.

O que esse senhor e seus companheiros de vestido procuram preservar são as estruturas da violência de gênero a custo da saúde e da vida dessas mesmas pessoas a quem deveriam defender.

Mas, aí um aluno meu salva meu dia. Foi quinta-feira. Eu estava com o começo de uma cistite que me custaria dois dias de cama e antibióticos para fazer a infecção recuar. O simples ato de urinar tornou-se um tormento. A cistite está sendo tratada e já melhorou muito, mas foi aquele garoto de 16 para 17 anos que transformou o meu dia. Ele veio para a aula usando uma camisa preta com letras brancas garrafais que diziam o seguinte em inglês:

DIGA NÃO
À XENOFOBIA,
À HOMOFOBIA,
AO SEXISMO,
AO RACISMO.

Parei a aula no meio de uma revisão, desci do tablado, apertei a mão dele diante de todos e disse: "Fulano, adorei sua camisa. Você renova minha esperança na humanidade. Quando a juventude junta vozes com os opressores, alguma coisa está muito errada no mundo. Obrigado por usar essa camisa. Estou orgulhoso de você."

Ele sorriu marotamente como se pensasse: Sabia que você ia gostar.

Eu sorri de volta e retomei a revisão, mas aquela imagem não saiu mais da minha mente. E espero que não tenha saído da cabeça de nenhum deles também.

Fim de período já é nostálgico. Fim de ano, então...

Girafales e sua turma: risada na certa


Uma das melhores coisas sobre ser professor é lidar com pessoas. E uma das piores também. hehehe

Enumero apenas quatro da muitas coisas que mais gosto sobre trabalhar com pessoas, especialmente em sala de aula:

1. Professor e aluno crescem juntos quando ambos estão dispostos a colaborar (trabalhar juntos);

2. Um professor competente provoca em seus alunos maneiras de ver o mesmo tema;

3. Um professor competente aborda qualquer tema com criatividade, boa vontade e com a maior abertura de mente possível;

4. Um professor que prioriza o aspecto humanista de seu trabalho não vê seu aluno como um repositório de conhecimentos "transmissíveis", mas como um interlocutor que merece respeito e que deve aprender a respeitar tanto o professor como os outros interlocutores da mesma forma.

Qual é a maior recompensa de um professor assim?

1. O crescimento pessoal e o aproveitamento máximo dos conteúdos trabalhados;

2. O reconhecimento de seus alunos quanto ao seu papel de facilitador da aprendizagem, fomentador de discussões relevantes e produtivas, orientador sensível às dificuldades que seus alunos enfrentam dentro ou fora de sala de aula.

Algumas experiências pessoais desses últimos dias:

Semana passada, algumas turmas minhas encerraram suas atividades. Essa semana, outras encerrarão. A última será no sábado, dia 19. Já na semana passada, pude receber muito carinho de vários alunos meus. Essa semana, comecei bem os trabalhos.

Minha turma de curso preparatório para o First Certificate in English (FCE), prova aplicada pela Universidade de Cambridge-ESOL, teve sua última aula hoje. Como a prova já foi feita, apenas dois alunos apareceram para "o apagar das luzes". Foi uma aula interessante por vários motivos:

1. Uma aluna comentou, quase ao final da aula, que tinha visto meu vídeo sobre um passarinho que se perdeu dos pais e veio parar no travessão da cortina da minha sala. 

2. O outro aluno ficou curioso e eu acabei contando rapidamente a história a ele. Isso acabou desencadeando uma conversa sobre as redes sociais, porque o vídeo foi colocado no Facebook.

Por causa disso, acabei sabendo que eles já tinham lido entrevistas minhas online. Uma delas foi essa aqui, publicada pelo site UOL:
 
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2015/01/14/ex-pastor-que-pregava-cura-gay-e-homossexual-e-diz-e-uma-farsa.htm

Fiquei encantado com as coisas que eles me disseram. Uma das coisas que me deixaram mais feliz foi que esse meu aluno só viu a entrevista, porque um ex-aluno meu havia publicado na timeline dele, fazendo altos elogios a mim como professor e amigo, e o post acabou sendo visto por esse rapaz e outras pessoas. Fiquei tipo "on cloud nine" (feliz da vida) e me emocionei profundamente. O ex-aluno que publicou a matéria e fez comentários positivos esteve comigo em sala de aula por vários períodos. Tanto ele como essa turminha toda eram - e continuam sendo - muito especiais para mim.

Não bastasse isso, o aluno que comentou isso comigo hoje também é primo de uma ex-aluna minha, já formada, que eu amo de paixão. Quando ela soube que eu era professor dele, ela também teceu altos elogios.

Gente, longe de querer fazer aqui propaganda gratuita a meu próprio respeito, meu objetivo com esse post é registrar o carinho desses alunos. Essas atitudes demonstram que o trabalho de um professor vai muito além do âmbito "profissional", daquela relação professor-aluno. Professores e alunos interagem em nível pessoal, na qualidade de seres humanos que se enriquecem através das interações que travam dentro e fora da sala de aula. E nesse sentido, as redes sociais acabam facilitando essas trocas para além das paredes de qualquer classroom.

Também espero que esse compartilhamento meu aqui estimule outros professores LGBT ou não a viverem com autenticidade, sempre focando no trabalho que precisam realizar, mas sem perder de vista o "material humano" que está ali em sala de aula, mas que não é mero "receptáculo" de informações. É claro que nem todos aproveitarão as oportunidades de ampliação de horizontes e de apoio mútuo nessa árdua caminhada que é qualquer processo de aprendizagem, mas muitos nunca mais se esquecerão do que aprenderam, especialmente no nível mais pessoal dessas trocas.

Nem tudo são flores, é claro. De vez em quando, ouço bobagens por parte de alunos que sabem ou não sabem que - entre zilhões de outras coisas - eu sou gay. Absolutely out and proud!

Esses dias, um aluno de 25 anos usou uma discussão em duplas, na qual eles deviam falar sobre uma celebridade ou pessoa pública que os tivesse influenciado de alguma maneira, para falar de Jair Bolsonaro. Quando perguntei a cada aluno quem era a pessoa pública ou celebridade que havia causado algum impacto positivo sobre eles, ouvi muita coisa interessante - de Michael Jackson a Marília Pera (hehehe). Mas, quando chegou a vez desse aluno, ele falou o nome desse "fóssil vivo" e deu uma risadinha. Talvez, até por ter ficado sem graça mesmo. Acho que ele não imaginava que eu perguntaria isso. E não dava para mentir, porque o trabalho foi em duplas - o que significava que seu parceiro sabia do que ele havia falado. Não foi a primeira vez que eu ouvi, ao passear pela sala monitorando os grupos, alguma citação ao renomado fascista. A turma prendeu a respiração. Todos ali sabem que sou gay. E acredito que saibam um pouco do que penso sobre essa figura, mesmo sem que eu jamais a tenha mencionado em sala. Uma aluna deu um suspiro e disse "não acredito". Eu fiz cara de quem nem se abalou e mantive o ritmo passando ao aluno seguinte, depois a outro, até o final da roda. Meu silêncio deve ter falado mais que 10 mil palavras.

Claro, as pessoas podem ter suas opiniões. Ninguém tem que concordar comigo, assim como eu não sou obrigado a concordar quem quer que seja. Todos devemos, porém, expressar nossas ideias respeitosamente. Foi o que ele fez e foi o que eu fiz. Mas, lá no fundo, sempre que alguém me diz que considera o Bolsonaro útil para alguma coisa que não seja promover o fascismo na sua mais estereotipada e ridícula versão, eu não consigo evitar o pensamento de que essa pessoa tem algum problema ou é muito limitada intelectualmente, independentemente do seu "grau de instrução".

Outra coisa que não não consigo entender é como gente religiosa pode apoiar um troglodita desses. Feliciano está sempre de braço dado com ele, mas Feliciasco é o tipo do religioso que o capeta adora, porque espalha ódio melhor do que qualquer diabo conseguiria fazer se estivesse realmente aí para isso.

Também não consigo entender como alguns ateus (felizmente, não são a maioria) apoiam ícone do mais retrógrado conservadorismo - daquele tipo que faria inveja aos inquisidores da Idade Média. No fundo, não sei como gente inteligente pode enxergar qualquer coisa que preste nesse sujeito, seja para fins políticos ou para a construção de uma sociedade mais livre, feliz e harmoniosa.

Mas não é só Feliciano, não. Bolsonaro se dá muito bem com fundamentalistas do quilate de Malafaia e Magno Malta. Veja a foto abaixo:



 
Esses meus dois alunos que foram à última aula hoje me surpreenderam positivamente. Ambos disseram - sem que eu tivesse puxado esse assunto - que querem distância de Bolsonaro. O nome da figura surgiu no contexto das coisas idiotas que vemos no Facebook. O mesmo rapaz que falou sobre a minha entrevista foi quem mencionou o dito cujo. Fiquei feliz em ouvir que eles eram completamente avessos a tudo o que ele representava, mas eles também citaram amigos ou parentes que acreditam que ali haja alguma coisa que preste para o bem do nosso país. Isso me faz pensar naqueles pais ou mães que, insatisfeitos com a babá, entregam o filho ao IT (aquele palhaço psicopata do cinema).

Em outras palavras, algumas pessoas insatisfeitas com o modo como certos governantes têm conduzido o país, são capazes de entregar a nação nas mãos de um BolsoMico desses. Sim, porque não tem micagem maior do que achar que esse IT seja uma alternativa razoável a quem quer que seja. Podemos alternar as mãos que governam sem precisar entregar o que temos de melhor nas mãos de figuras como ele.



De qualquer modo, é muito bom poder ver adolescentes, jovens e adultos despertando para coisas maiores e melhores em suas próprias vidas e nas relações que eles mantém com o mundo ao seu redor.

Sigamos em frente com o projeto republicano e democrático de liberdade, igualdade e fraternidade. E daí, para o alto e avante. Nunca para baixo e para trás, como querem fundamentalistas e conservadores fascistas.

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