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Adeus, Sr. Walter.




Por Sergio Viula

Essa semana eu revisitei um texto que eu decidi chamar de "Existência: Surgimento, permanência e desaparecimento". Esse texto fala sobre a vida e a morte. Fui motivado a escrevê-lo por ocasião da morte da primeira cachorrinha que meus filhos tiveram e que foi grande amiga de todos nós, mas o texto transpira princípios que se aplicam a todos nós, não apenas àquela velha amiga. Tenho certeza que o pai de Andre sabia o que é perder uma amiguinha de quatro patas. Eu perdi Pimpolha e ele perdeu Pipoca.

Mas o que me levou a reler aquele texto essa semana foi a expectativa de que o pai de Andre, alguém que também se tornou muito importante para mim, poderia falecer em algum momento próximo, e esse momento se concretizou hoje de manhã.

O Sr. Walter faleceu no hospital São Francisco, em Belo Horizonte, durante a visita da única filha, Cleide (ele tinha mais dois filhos), que pôde se despedir dele.

Andre e eu havíamos visitado o Sr. Walter na UTI desse mesmo hospital há cerca de um mês. Foi difícil vê-lo naquela  situação. Agora, estamos retornando para encararmos uma situação mais difícil ainda: a de velá-lo e enterrá-lo.

Dna. Iolanda, que agora fica viúva, precisará de muita força. Andre me disse que ela tem falado da falta que o esposo lhe faz. E ela comenta coisas tão singelas como: "Ele adorava quando eu comprava queijo. Queria ser o primeiro a comer um pedacinho."

Dói ouvir isso, mas são essas memórias que dão gosto à vida, especialmente quando a vida de quem a gente ama se vai.

Sr. Walter me deixa ternas lembranças também. Andre nunca vai esquecer dele, mas a dor vai perdendo a intensidade com o tempo.

Não deixe de ser feliz e de valorizar quem te valoriza agora mesmo. A vida é curta demais para adiar a felicidade, que é muito mais singela e quieta do que muita gente pensa.

Fica aqui meu simbólico,  mas sincero adeus, Sr. Walter. Sentiremos muito sua falta.

Deixo aqui um vídeo sugerido pelo meu querido colega Guilherme, a quem sou grato pelo carinho com que me ouviu falar sobre todo esse drama essa semana.

O título da palestra da Dra. Ana Cláudia é: A morte, um dia que vale a pena viver. Não confundir com "morrer é bom" ou coisa assim. Trata-se de uma das mais belas e humanas falas sobre o fim da vida que eu ja ouvi. E foi proferida por quem está lá na hora em que a morte está mais próxima.

Assista aqui: 

https://youtu.be/ep354ZXKBEs


ATUALIZAÇÃO EM 17/07/2017:


Texto por Andre Dias

Amanheceu e eu sinto um vazio. 


Parece um sonho, mas quando lembro do que se passou enxergo a realidade. 

Ontem, eu vi pela última vez o rosto de um dos homens que mais amei na vida - meu pai. Um homem íntegro, discreto, amável e muito honesto. Ela nos deixou não querendo deixar, mas sem medo de ir. Corajoso, resistente, inquieto, mas lutou muito esses últimos dias. Resistiu até o último minuto, mas quando viu que não tinha mais jeito, se entregou de uma maneira muito emocionante,  deixando cair uma última lágrima, demonstrando o amor e a gratidão  que tinha por todos nós. 

Penso que ao longo do tempo tudo vai se tornando mais compreensível para mim e para aqueles que ontem sofreram tanto. Me alegro por ter podido estar presente ao lado da minha família nesse momento e por ele ter me escutado dizer, mesmo sem poder responder, as coisas lindas que disse a ele quando ele ainda estava no hospital. 

Agora ele permanecerá vivo em nossas memórias.  E para ser lembrado, basta eu parar um minuto e lembrar do seu sorriso, da sua dedicação,  das suas palavras, das broncas, que no meu caso eram poucas kkkk - pensa que mentira -, e de tudo que ele fez por mim e para minha família com muita dignidade. 

Ele se foi. Está agora dormindo um sono sem sonhos e sem planos e que não tem fim, mas ele viverá para sempre em minha memória e será lembrado por mim onde quer que eu vá.

Andre e Sergio: A parceria nossa de cada dia!



O Fora do Armário é um misto de diário pessoal, canal de notícias, voz que demanda e celebra o que diz respeito à comunidade LGBT e ao humanismo secularista. Por isso, quem acompanha o blog sabe que, vez por outra, eu publico informações sobre coisas bem pessoais por essa bandas cibernéticas. ^^

Então, quero compartilhar algumas coisas alegres e outras tristes com muita tranquilidade. 

Vamos às mais alegres agora.

Andre e eu estamos juntos desde 07/02/16. No momento desse post, totalizamos 485 dias juntos!!! Completando um ano e meio amanhã! Já vivemos muita coisa boa nesse período e desejamos viver muitas outras pela vida a fora.

Vocês podem não acreditar, mas revistando algumas fotos e vídeos para a confecção desse post, encontrei um vídeo que eu ainda não tinha publicado em lugar algum. Foi gravado na quarta-feira 'de cinzas', quando estávamos nos despedindo - ele indo para o trabalho e eu voltando para o Rio. O clima já era de saudade. Havia uma alegria pelo encontro e uma tremenda nostalgia na despedida. A pergunta que não parava de martelar nossas cabeças: Por que é que quando a gente encontra alguém que, logo de cara, super combina, essa pessoa tem que morar a mais de 300 km de distância??? 

Mas o que nós dois chamamos de recordação e recordação maravilhosa no final do vídeo foi muito além disso. Na quinta-feira mesmo, Andre comprou passagens para o Rio. Ele desembarcou no Santos Dumont na sexta-feira e passou o final de semana todo comigo, só voltando na segunda-feira. Esse momento foi fundamental para selar nossa decisão de vivermos juntos. Algumas semanas depois, nossas escovinhas de dentes foram definitivamente reunidas. Você pode ver aqui os versos que acompanharam a contagem regressiva dos últimos trinta dias antes desse momento: CONTAGEM REGRESSIVA - https://www.xn--foradoarmrio-kbb.com/2016/03/contagem-regressiva-para-matar-saudade.html

Eu disse que também tinha notícias tristes. No momento em que escrevo esse post, o pai do Andre está hospitalizado. Ele foi internado por causa de uma pneumonia que se agravou, e a idade (quase 80) faz demandar ainda mais atenção. Ele também vinha de um tratamento quimioterápico bem-sucedido contra o câncer, e isso pode ter enfraquecido suas defesas naturais, permitindo a complicação da pneumonia. Sr. Walter foi internado numa enfermaria, mas o agravamento da situação exigiu que fosse transferido para a UTI. 

O hospital fica em Belo Horizonte e isso dificulta nossas visitas, mas estivemos com ele no dia 04 de junho. Foi uma viagem de ida e volta no domingo. Nosso plano era vê-lo por volta das 11 horas da manhã e fazer uma nova visita na parte da tarde. Infelizmente, ficamos só na primeira mesmo, porque Andre teve uma crise renal em plena UTI, enquanto visitava o pai. Não posso afirmar com certeza, mas suspeito que a tensão nervosa pela qual Andre passou naquele momento tenha colaborado para a crise - algo que ele nunca tinha experimentado na vida. 

Conclusão, fomos parar numa UPA em Belo Horizonte e só saímos de lá para o aeroporto. Dos males o menor, uma vez que conseguimos ver o Sr. Walter e que Andre também foi devidamente medicado na UPA. E isso em tempo recorde - 5 minutos, no máximo. Eles levaram em conta o quadro de emergência e dor, mas aqui no Rio, muitas vezes, falta tudo e o paciente tem que se virar no meio do sofrimento.

E apesar de tudo o que Andre passou entre a viagem, a visita ao pai na UTI, a crise renal, a entrada na UPA, o retorno direto para o aeroporto e o atraso do voo de volta para o Rio, Andre ainda teve a força e a nobreza de gravar um vídeo agradecendo a todos os que nos enviaram apoio através do Instagram, do Whatsapp e do Facebook. Ficamos muito gratos mesmo, mas o olhar dele não esconde o esgotamento. E a segunda-feira estava logo ali, já acenando com bastante trabalho.

Mas esse post era para falar sobre uma mini-cirurgia pela qual Andre passou na última segunda-feira, 03/07/17. 

Falei um pouco sobre esse drama que o pai dele e todos nós temos enfrentado, cada um a seu modo, porque ainda não tinha compartilhado isso aqui antes. Muitas vezes, a vida parece ser feita só de alegria. Outras vezes, parece que é só feita de dor. Mas, a vida é feita de tudo isso junto. E nesse momento, folgo que Andre tenha conseguido resolver o problema que vinha enfrentando com uma das unhas do pé. 

Ao longo desse um ano e meio de relacionamento, vi Andre ir à podóloga duas vezes, gastando uma boa grana para não conseguir mais do que um paliativo. Foi somente na segunda-feira passada que ele conseguiu solução definitiva para o problema, e isso graças à Dra. Ilsa de Souza Carvalho, dermatologista na Policlínica Botafogo.

Foram necessárias cinco anestesias locais, muita maestria na tesoura, por parte da médica, e a remoção de boa parte da unha, mas o tormento acabou. Agora, é só curativo e revisão.

Andre, que podia ter garantido cinco dias de licença médica, conforme orientação da própria Dra. Ilsa, solicitou que esta atestasse uma licença de apenas apenas três dias, porque estava preocupado de se ausentar do trabalho por uma semana inteira. Não é prudente encurtar o período de recuperação em repouso, mas a doutora acabou concordando (sob protestos ^^). 

Ao mesmo tempo que eu também reclamei com ele por não ficar em repouso todo o tempo necessário, reconheço que admiro a dedicação de Andre ao trabalho, sua responsabilidade com tudo o que faz e o modo honesto como lida com tudo e com todos, especialmente comigo. Não existe virtude mais fundamental para mim do que essa - a honestidade, que não deveria nem ser motivo para grandes destaques, mas como ela é cada vez mais rara hoje, não tem como não valorizá-la quando a encontramos.

Fico feliz por ter insistido com ele que fosse ao médico cuidar dessa unha e por ter marcado a consulta. Andre achava que não conseguiria resolver, que o médico só diria que tinha que procurar outra clínica, e por aí vai, mas deu tudo certo. :) No final das contas, ele mesmo ficou muito feliz por ter comparecido e feito o que devia. ^^

O tratamento dele saiu barato, graças ao plano de saúde (tem co-participação). Agora, eu não tive a mesma sorte com o custo. Vou 'morrer' em 720 reais  para cuidar de um dente. Por um lado, a alegria de ouvir da dentista que não tenho cárie alguma! Oba! Por outro lado, vou precisar fazer uma restauração num dente por causa de um pequeno trauma causado por mastigação durante uma refeição. Felizmente, tem tratamento. ^^

Mas nada nos deixaria mais felizes do que vermos o Sr. Walter sair do hospital e voltar a sentar naquela mesa da varandinha da casa dele, tomando um bom café e trocando uma boa prosa com aqueles olhos azuis brilhando de novo. Digo isso já sentindo um aperto na garganta. :( Gente boa como ele não devia sofrer assim, mas a vida não é justa. Ela apenas é. Justiça é uma coisa que a gente criou e procura implementar com mais ou menos sucesso na própria vida e na sociedade como um todo.

Então, é isso. Viver é sofrer, gozar, ganhar, perder, mas quando a gente faz isso ao lado de quem a gente ama, não há montanha alta o suficiente nem mar profundo o bastante para nos abater antes que chegue o momento do nosso próprio último suspiro.

Vivamos porque uma coisa é certa: Não vamos durar para sempre, mas podemos desfrutar de muita coisa boa enquanto durarmos.

É nessa condição ambígua de luz e umidade 
que surgem os mais belos arco-íris. 

E não é assim que a própria vida funciona?

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