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GGB: ASSASSINATO DE HOMOSSEXUAIS (LGBT) NO BRASIL: RELATÓRIO 2014



ASSASSINATO DE HOMOSSEXUAIS (LGBT) NO BRASIL:
RELATÓRIO 2014



Levantamento de dados diligentemente realizado por Eduardo Michels, pesquisador e administrador do portal Homofobia Mata.


O Grupo Gay da Bahia (GGB) divulga mais um Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil relativo a 2014. Foram documentados 326 mortes de gays,travestis e lésbicas no Brasil, incluindo 9 suicídios. Um assassinato a cada 27 horas. Um aumento de 4,1 % em relação ao ano anterior (313).

O Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes motivados pela homo/transfobia: segundo agências internacionais, 50% dos assassinatos de transexuais no ano passado foram cometidos em nosso país. Dos 326 mortos,163 eram gays, 134 travestis, 14 lésbicas, 3 bissexuais e 7 amantes de travestis-lovers). Foram igualmente assassinados 7 heterossexuais, por terem sido confundidos com gays ou por estarem em circunstâncias ou espaços homoeróticos.

Em números absolutos, os estados onde mais LGBT foram assassinados foram São Paulo (50) e Minas Gerais (30), porém em termos relativos, Paraíba e Piauí e suas respectivas capitais, são os locais que oferecem maior risco aos LGBT de serem violentamente mortos: enquanto no Brasil como um todo, os LGBT assassinados representam 1,6 de cada um milhão de habitantes, na Paraíba esse risco sobe para 4,5 e 4,1 para o Piauí. 

Durante décadas, o Nordeste foi à região de maior incidência de crimes homofóbicos: pela primeira vez em 2014, o Centro-Oeste emerge como a região geográfica mais intolerante, com 2,9 de “homocídios” para cada 1 milhão de habitantes, seguido do Nordeste (2,1), Norte (1,5), Sudeste (1,2) e Sul – a região menos violenta, com 0,7 mortes. São Paulo e Goiás foram os estados que revelaram o maior aumento destes crimes, respectivamente de 29 para 50 e de 10 para 21, enquanto Pernambuco e Rio Grande do Sul diminuíram. No Centro Oeste, o Mato Grosso do Sul foi o estado mais violento, (3,8 por milhão de habitantes) e o Distrito Federal, o que registrou proporcionalmente menor número de sinistros (1,0).


PORTAL HOMOFOBIA MATA
https://homofobiamata.wordpress.com/

RELATÓRIO 2012 DO GRUPO GAY DA BAHIA SOBRE ASSASSINATO DE HOMOSSEXUAIS (LGBT) NO BRASIL





ASSASSINATO DE HOMOSSEXUAIS (LGBT) NO BRASIL:



Publicado por Dudu Michels em 10 de janeiro de 2013 em APRESENTAÇÃO

Visite o portal Homofobia Mata: https://homofobiamata.wordpress.com/author/leme2012/


RELATÓRIO 2012

O Grupo Gay da Bahia (GGB) divulga mais um Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais (LGBT) relativo a 2012. Foram documentados 338 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, incluindo duas transexuais brasileiras mortas na Itália. Um assassinato a cada 26 horas! Um aumento de 21% em relação ao ano passado (266 mortes) crescimento de 177% nos últimos sete anos.

Os gays lideram os “homocídios”: 188 (56%), seguidos de 128 travestis (37%), 19 lésbicas (5%) e 2 bissexuais (1%). Em 2012 também foi assassinado brutalmente um jovem heterossexual na Bahia, confundido com gay, por estar abraçado com seu irmão gêmeo. O Brasil confirma sua posição de primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, concentrando 44% do total de execuções de todo o planeta. Nos Estados Unidos, com 100 milhões a mais de habitantes que nosso país, foram registrados 15 assassinatos de travestis em 2011, enquanto no Brasil, foram executadas 128 “trans”.O risco, portanto, de uma trans ser assassinada no Brasil é 1.280% maior do que nos Estados Unidos.

O GGB, que há mais três décadas coleta informações sobre homofobia no Brasil denuncia a irresponsabilidade dos governos federal e estadual em garantir a segurança da comunidade LGBT: a cada 26 horas um homossexual brasileiro foi barbaramente assassinado em 2012, vítima da homofobia. Nunca antes na história desse país foram assassinados e cometidos tantos crimes homofóbicos. A falta de políticas públicas dirigidas às minorias sexuais mancha de sangue as mãos de nossas autoridades.

Crimes por região, estado e capital. Apesar de São Paulo ser o estado onde mais LGBT foram assassinados, 45 vítimas, Alagoas com 18 homicídios é o estado mais perigoso para homossexuais em termos relativos, com um índice de 5,6 assassinatos por cada milhão de habitantes, sendo que para toda a população brasileira, o índice é 1,7 vítimas LGBT por milhão de brasileiros. Paraíba ocupa o segundo lugar, com 19 assassinatos e 4,9 crimes por milhão, seguido do Piauí com 15 mortes, 4,7 por milhão de habitantes. No outro extremo, os estados onde registraram-se menos homicídios de LGBT foram o Acre – aparentemente nenhuma morte nos últimos dois anos, seguido de Minas Gerais, cujas 13 ocorrências representam 0,6 mortes para cada milhão de habitantes, Rio Grande do Sul e Maranhão com 0,7, Rio de Janeiro com 0,8 e São Paulo, 1,07 mortes por cada milhão de habitantes.

Como nos anos anteriores, o Nordeste confirma ser a região mais homofóbica do Brasil, pois abrigando 28% da população brasileira, aí concentraram-se 45% das mortes, seguido de 33% no Sudeste e Sul , 22% no Norte e Centro Oeste. Embora Manaus tenha sido a capital onde foi registrado o maior número de assassinatos, 14, numero altíssimo se comparado com os 12 de São Paulo, em termos relativos, Teresina é a capital mais homofóbica do Brasil, com 15,6 homicídios para pouco mais de 800 mil habitantes, seguida de Joao Pessoa, com 13,4 mortes para 700 mil. Maceió ocupa o terceiro lugar, com 10,4 assassinatos para pouco mais de 900 mil habitantes, enquanto S.Paulo teve 12 mortes de lgbt, o que representa 1,05 para mais de 11 milhões de moradores.

Não se observou correlação evidente entre desenvolvimento econômico regional, escolaridade, religião, raça, partido político do governador e maior índice de homofobia letal.
A pesquisa. Segundo o coordenador desta pesquisa, o Prof. Luiz Mott, antropólogo da Universidade Federal da Bahia, “a subnotificação destes crimes é notória, indicando que tais números representam apenas a ponta de um iceberg de violência e sangue, já que nosso banco de dados é construído a partir de notícias de jornal, internet e informações enviadas pelas Ongs LGBT, e a realidade deve certamente ultrapassar em muito tais estimativas. Dos 338 casos, somente em 89 foram identificados os assassinos, sendo que em 73% não há informação sobre a captura dos criminosos, prova do alto índice de impunidade nesses crimes de ódio e gravíssima homofobia institucional/policial que não investiga em profundidade tais homicídios. 

Impunidade observada não apenas no pobre e homofóbico Nordeste, como no Rio Grande do Norte, com 9 dentre 10 crimes impunes, mas também no rico e civilizado Sul, como no Paraná, que dos 19 homocídios, 15 permanecem impunes. Para o Presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, “o mau exemplo vem da própria Secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Mick, que declarou recentemente que ‘não existem no Brasil crimes com conotação homofóbica’, ignorando a crueldade da homofobia cultural que estigmatiza e empurra as travestis para a marginalidade, assim como o efeito pernicioso dos sermões dos fundamentalistas ao demonizar os gays, acirrando sobretudo entre os jovens o ódio anti-homossexual.”

Perfil das vítimas: 

Quanto a idade, 7% dos LGBT tinham menos de 18 anos ao serem assassinados, sendo o mais jovem um adolescente gay paulista de 13 anos que se suicidou por não aguentar o bullying que vinha sofrendo em casa e na escola. Suicidas homossexuais também são considerados vítimas da homofobia. 44% desses mortos tinham menos de 30 anos e 8% mais de 50. A faixa etária que apresenta maior risco de assassinato, 57%, situa-se entre 20-40 anos. A vítima mais velha tinha 77 anos, Wilson Brandão de Castro, proprietário de uma sauna em Belo Horizonte, assassinado com 7 tiros.

Quanto à composição racial, chama a atenção o desinteresse dos jornalistas e policiais em registrar a cor dos LGBT assassinados, apenas 42% das vítimas são identificadas e dentre estas, há pequena superioridade de pardos e pretos, 53% para 47% de brancos. Os/as pretos são o menor grupo vítima da homofobia letal, 7,5%, estando ausentes no segmento das lésbicas.

Os homossexuais assassinados exerciam 48 diferentes profissões, confirmando a presença do “amor que não ousava dizer o nome” em todas as ocupações e estratos sociais. Predominam as travestis profissionais do sexo, 72 das vítimas (45%), seguidas de 19 comerciantes, 16 professores, 9 cabeleireiros e empresários, 7 pais de santo, 2 políticos e jornalistas, etc.
Quanto à causa mortis, repete-se a mesma tendência dos anos anteriores, confirmando pela violência extremada, tratar-se efetivamente tais mortes do que a Vitimologia chama de crimes de ódio: 115 dos assassinatos foram praticados com armas de fogo, 88 com arma branca (faca, punhal, canivete, foice, machado, tesoura), 50 espancamentos (paulada, pedrada, marretada), 8 foram queimados. Constam ainda afogamentos, atropelamentos, enforcamentos, degolamentos,asfixia, empalamentos e violência sexual, tortura. Oito das vítimas levaram mais de uma dezena de golpes ou projéteis: José Pedro do Santos, de Ibititá, Ba, morreu com mais de 30 facadas; Dimitri Cabral, gay de 20 anos de Campina Grande, PB, foi morto com 19 tiros.

Característica dos crimes:

O padrão predominante é o gay ser assassinado dentro de sua residência, com armas brancas ou objetos domésticos, enquanto as travestis e transexuais são mortas na pista, a tiros. Um dos crimes mais chocantes ocorreu em fevereiro de 2012: gay Wilys Vitoriano, negro, 26 anos, foi encontrado morto, dentro da casa em que morava, no centro de Vila Velha, ES: “o cenário na casa era de horror. Havia manchas de sangue em várias partes da residência. A vítima estava apenas de sunga e apresentava 68 perfurações no corpo, causadas por diferentes objetos cortantes e na parede da casa de um dos vizinhos, apareceu uma pichação com os dizeres: VIADOS”.

Em Alagoas, no município sertanejo de Olivença, 10 mil habitantes, a travesti Soraia, 39 anos, foi amordaçada, teve pedaços de madeira introduzidos no ânus e o pênis queimado com álcool. Sobreviveu alguns dias, com muitas dores, exalando odor de podridão, até que foi operada, sendo retirado do intestino grosso um pedaço de madeira de 15 cm, morrendo logo a seguir com infecção generalizada.

Em abril, outro crime bárbaro chocou a cidade de Bequimão, no Maranhão. Um adolescente de 14 anos foi assassinado pelo padrasto de 25 anos porque não aceitava que o enteado fosse gay assumido. A vítima foi encontrada enterrada em um terreno nas proximidades de onde morava e segundo a polícia, havia indícios que o garoto teria sido enterrado vivo pelo padrasto, que conseguiu fugir.

2012 fica marcado como o ano em que mais lésbicas foram assassinadas em toda história do Brasil: 19, sendo que nos anos anteriores oscilaram os crimes lesbofóbicos entre 1 a 10 casos anuais. Durante os mandatos de FHC foram assassinadas 27 lésbicas, enquanto no governo Lula/Dilma mataram 44, um aumento de 63% nos últimos 9 anos. Na Bahia, em agosto último, duas lésbicas de 22 e 25 anos, vivendo juntas com a aprovação de suas famílias, foram covardemente assassinadas a tiros quando andavam de mãos dadas no centro comercial de Camaçari. Em Salvador, após uma discussão, um vizinho invadiu a casa de outro casal de lésbicas de 19 e 22 anos, esfaqueando-as, causando a morte da mais jovem. 

Dentro do segmento LGBT, as travestis e transexuais são as mais vulneráveis face aos crimes letais: contando com uma população estimada em 1 milhão de pessoas, o risco de uma trans ser assassinada é 9.354% maior do que a soma das demais categorias, gays/lésbicas/bissexuais, que juntas devem representar por volta de 19 milhões de pessoas, ou seja, 10% da população brasileira, tomando como referência o Relatório Kinsey.

Assassinos: 

Quanto aos autores destes crimes homofóbicos, a mídia é extremamente lacunosa, já que apenas 1/4 dos homicidas foram identificados nos inquéritos policiais. Destes, 17% tinham menos de 18 anos, demonstrando o altíssimo índice de homofobia entre os jovens, 85% abaixo de 30 anos. 21% desses crimes foram praticados por 2 a 4 homens, aumentando ainda mais a vulnerabilidade da vítima. Predominam entre estes criminosos, seguranças particulares, rapazes de programa e ocupações de baixa remuneração, muitos destes crápulas já com passagem pela polícia e uso de revólver, já que 44% das mortes foram praticadas com arma de fogo.

Crimes Homofóbicos.

 Seriam todos esses 338 assassinatos crimes homofóbicos? O Prof.Luiz Mott é categórico: “99% destes homocídios contra LGBT têm como agravante seja a homofobia individual, quando o assassino tem mal resolvida sua própria sexualidade e quer lavar com o sangue seu desejo reprimido; seja a homofobia cultural, que pratica bullying e expulsa as travestis para as margens da sociedade onde a violência é endêmica; seja a homofobia institucional, quando o Governo não garante a segurança dos espaços freqüentados pela comunidade lgbt ou como fez a Presidente Dilma, vetou o kit anti-homofobia, que deveria ter capacitado mais de 6milhões de jovens no respeito aos direitos humanos dos homossexuais.” 

Para o analista de sistemas Dudu Michels, “quando o Movimento Negro, os Índios ou as Feministas divulgam suas estatísticas, não se questiona se o motivo de todas as mortes foi racismo ou machismo, porque exigir só do movimento LGBT atestado de homofobia nestes crimes hediondos? Ser travesti já é um agravante de periculosidade dentro da intolerância machista dominante em nossa sociedade, e mesmo quando um gay é morto devido à violência doméstica ou latrocínio, é vítima do mesmo machismo que leva as mulheres a serem espancadas e perder a vida pelas mãos de seus companheiros, como diz o ditado, ‘viado é mulher tem mais é que morrer!”

Um crime emblemático. Na avaliação dos responsáveis pela manutenção deste Banco de Dados, dentre os 338 assassinatos de LGBT documentados em 2012, o mais emblemático é o caso de Lucas Fortuna, 28 anos, jornalista de Goiânia, destacado ativista gay, morto aos 19-11-2012 por dois assaltantes numa praia na região metropolitana de Recife. Seu corpo com o rosto desfigurado foi encontrado com profundas marcas de espancamento. Irresponsavelmente o Departamento de Homicídios de Pernambuco declarou tratar-se de latrocínio, descartando ódio homofóbico. Presos os dois assassinos confessaram ter na mesma noite assaltado quatro indivíduos, limitando-se a roubar-lhes o celular. No caso de Lucas, espancaram-no, saltaram encima de seu corpo e jogaram-no ao mar de um penhasco de dez metros. Porque mataram com tanto ódio apenas o gay? Homofobia! A imprensa considerou Lucas Fortuna o “Herzog dos gays”!

O Grupo Gay da Bahia disponibiliza em seu site https://homofobiamata.wordpress.com/ o banco de dados completo com todas as notícias de jornal, vídeos, tabelas e gráficos sobre todos os 338 assassinatos de LGBT de 2012, assim como o manual “Gay vivo não dorme com o inimigo” como estratégia para erradicar esse “homocausto”.

Solução contra crimes homofóbicos. Para o Presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, “há quatro soluções emergenciais para a erradicação dos crimes homofóbicos: educação sexual para ensinar à população a respeitar os direitos humanos dos homossexuais; aprovação de leis afirmativas que garantam a cidadania plena da população LGBT, equiparando a homofobia ao crime de racismo; exigir que a Polícia e Justiça investiguem e punam com toda severidade os crimes homo/transfóbicos e finalmente, que os próprios gays, lésbicas e trans evitem situações de risco, não levando desconhecidos para casa e acertando previamente todos os detalhes da relação. A certeza da impunidade e o estereótipo do gay como fraco, indefeso, estimulam a ação dos assassinos.”

Para mais informações e entrevistas: luizmott@oi.com.br
(71) 3328.3782 – 9989.4748 – 9128.9993


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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


Parabéns ao querido Eduardo Michels pelo excelente trabalho de coleta e sistematização das notícias sobre crimes homofóbicos e transfóbicos. O trabalho publicado pelo Grupo Gay da Bahia, graças a esse esforço, retrata claramente a tragédia que é a homofobia para a população desse país - uma mancha que suja nossa história a cada ano.

Governos municipais, estaduais e federal, quanto desse sangue pode ser colocado na conta dos senhores? Não precisam responder. Basta criar políticas de combate à homofobia e de empoderamento dos cidadãos (LGBT) vulneráveis.

GGB não quer Malafaia como soteropolitano

GGB não quer Malafaia como soteropolitano

Foto: Divulgação

Proposta do vereador Héber Santana (PSC) de conceder título de cidadão de Salvador ao pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, causa indignação na comunidade homossexual; às vésperas da 11ª Parada Gay, que acontece neste domingo (9), o Grupo Gay da Bahia (GGB) protesta contra o "comportamento homofóbico" de Malafaia e afirma que a concessão da honraria é um "atentado aos direitos humanos da comunidade LGBT"; grupo iniciou campanha contra a concessão do título ao religioso nas redes sociais.


Por Bahia 247
07 de Setembro de 2012 


Os vereadores não hesitam na distribuição de Título de Cidadão de Salvador. A lei que dispõe sobre a honraria tem como prerrogativa observar que o homenageado deve ter prestado "serviços relevantes à sociedade soteropolitana". Curioso é que os parlamentares não seguem à risca o que diz a lei. Até Michael Jackson, o rei do pop, já foi homenageado depois de falecido.

O próximo cidadão soteropolitano oficializado será o pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo. A concessão do título, no entanto, está desagradando e muito a comunidade homossexual soteropolitana.

Às vésperas da 11ª Parada Gay, que acontece neste domingo (9), o Grupo Gay da Bahia (GGB) protesta contra o "comportamento homofóbico" de Malafaia e afirma que a concessão da honraria que um "atentado aos direitos humanos da comunidade LGBT".

O grupo iniciou campanha contra o título no Facebook e Twitter. A ação estimula que os integrantes das redes sociais protestem no perfil da Câmara de Salvador no Facebook.

O proponente do título é Heber Santana (PSC), membro da Igreja Batista Missionária da Independência e integrante da bancada evangélica da Câmara de Salvador. O parlamentar diz que apesar de não concordar com a posição do GGB, a respeita, assim como tem o direito de ser respeitado. "Não temos nada contra os homossexuais, só contra a prática do homossexualismo", diz o social cristão.

O GGB, no entanto, não pretende ficar apenas nas redes sociais. Pretende dar entrada em uma representação no parlamento municipal questionando "suposto desrespeito ao Regimento da Câmara Municipal de Salvador". Alega que, como o título de cidadão é "concedido a pessoas nascidas fora da capital baiana e que tenham prestado relevantes serviços ao município de Salvador", Malafaia não teria os tais "relevantes serviços" à capital baiana.

Salvador terá semana da diversidade

SEMANA DA DIVERSIDADE EM SALVADOR - BA



Fernando Vivas | Agência A TARDE



A Parada Gay será um dos produtos turísticos da capital


O Grupo Gay da Bahia (GGB) lança oficialmente nesta quinta, 16, às 9h, no auditório Mãe Menininha do Gantois, no Centro de Convenções da Bahia, a Semana da Diversidade Cultural, que antecede a 11ª Parada Gay da Bahia.

A Semana da Diversidade Cultural, que acontecerá de 01 a 09 de setembro, envolve seminário, mostra de filmes, feira cultural de negócios e serviços e instalações artísticas de artes visuais, até culminar na Parada Gay. O objetivo, segundo Marcelo Cerqueira, presidente do GGB, é a promoção da cidadania, cultura e direitos civis dos LGBT na Bahia.

A Semana da Diversidade tem o apoio das Secretarias de Cultura, do Turismo, da Promoção da Igualdade, de Comunicação, de Justiça, de Cidadania e Direitos Humanos e da Saúde. Conta ainda com o Ministério da Saúde, através do Departamento Nacional de DST/Aids e Hepatites Virais, os Correios e a prefeitura de Salvador. Este ano, a semana tem como madrinha a senadora Marta Suplicy.

Durante a Semana da Diversidade de 2012, será realizada uma pesquisa pela Secretaria de Turismo do Estado para aferir os indicadores econômicos da Parada Gay, que a partir da edição deste ano está sendo transformada em um produto turístico. Durante o evento, também será lançado um selo Gay-Friendly, para os estabelecimentos comerciais participantes da Semana da Diversidade.

É DUAS MULHERZINHAS! - por Luiz Mott

É DUAS MULHERZINHAS!
Luiz Mott


Adan, Douglas e Adriano foram autuados por homicídio e formação de quadrilha



A TARDE, 30-6-2012


Antecedentes de um crime hediondo: dois irmãos gêmeos, 22 anos, na noite de São João, numa casa de shows em Camaçari, idênticos, vestidos com a mesma camisa xadrez, com o mesmo corte moderno de cabelo, dançam juntos o forró igual aos demais casais. Um vídeo mostra a alegria dos dois, rodeados por alguns rapazes estranhando dois homens dançando abraçados. Levítico: “Se um homem deitar-se com outro homem como se fosse mulher, ambos devem ser apedrejados!” Música de Tim Maia: “Vale tudo, só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher.”

Quatro horas da madrugada, numa estrada deserta próxima ao forró: oito rapazes reconhecem os gêmeos Leonardo e Leandro que, afetados por alguns goles a mais, caminhavam apoiados ombro a ombro. Imediatamente os “machões” partem para a agressão gritando: “É duas mulherzinhas!” Os irmãos correm, chegam a argumentar que não eram homossexuais, em vão. Leonardo é esmurrado e morto com o golpe de um paralelepípedo na cabeça. Leandro sobreviveu, com um grave afundamento de face. Praça da República, SP, madrugada de fevereiro de 2000: Edson Néris, 36 anos e seu namorado andavam de mãos dadas quando um bando de dezoito Carecas gritou: “olha os viados!”, matando a chutes o indefeso gay que não conseguiu escapar. Interior de SP, julho 2011: pai de 42 anos e seu filho de 18, abraçados numa exposição agropecuária, confundidos com gays, são espancados e o pai tem uma orelha decepada.

Quando eu era menino, há mais de cinquenta anos passados, os moleques da rua me chamavam de “mulherzinha”. Eu chorava de ódio, morria de vergonha, incapaz de reagir e entender porque tanta humilhação. A Presidente Dilma vetou o kit anti-homofobia, aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia e UNESCO, deixando de capacitar mais de 6 milhões de jovens para não praticar bullying homofóbico.

Brasil, campeão mundial de assassinatos contra homossexuais: 161 mortes só neste primeiro semestres, um “homocídio” a cada 28 horas. Bahia campeã nacional!

Solução: educação sexual científica nas escolas e equiparação da homofobia ao crime de racismo.


Luiz Mott

LUIZ MOTT: 28 DE JUNHO: DIA DO ORGULHO GAY E DA CONSCIÊNCIA HOMOSSEXUAL




28 DE JUNHO: DIA DO ORGULHO GAY E DA CONSCIÊNCIA HOMOSSEXUAL


Todos os oprimidos têm um dia de luta: 8 de março, Dia da Mulher; 19 de abril, Dia do Índio; 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Faz sentido existir também um Dia dos Homossexuais? Sim! Os gays também têm seu dia - 28 de Junho. Os gays, lésbicas, travestis e transexuais representam mais de 10% da população mundial. No Brasil são mais de 20 milhões de seres humanos desprezados, discriminados, violentados, assassinados. Só nos últimos 30 anos mais de 3500 homossexuais foram barbaramente executados, vítimas da homofobia - a intolerância à homossexualidade. A cada novo dia um LGBT é assassinado no Brasil! Porque tanto desprezo e violência? simplesmente porque os homossexuais são considerados marginais, doentes, pecadores, e nossa sociedade cristã legitima o terror contra os gays, lésbicas e transgêneros. As causas da homofobia já foram detectadas pelos cientistas sociais: de um lado a mentalidade machista que confere apenas ao “sexo forte” a hegemonia social, relegando para a condição de subumanos quem não é macho: as mulheres, tornadas “sexo frágil”, e o “terceiro sexo”, os gays. Do outro lado, explica-se a homofobia pela reconhecida insegurança dos machões face ao estilo de vida revolucionário dos gays, que vêm nos homossexuais perigosa ameaça a sua hegemonia, posto abdicarem do privilégio de dominar as fêmeas em função de viverem uma relação igualitária com outros machos. A moderna psicanálise ensina que todos aqueles que odeiam e querem a destruição dos homossexuais , no fundo, têm mal resolvida sua própria (homo)sexualidade, vingando-se nos homossexuais egosintônicos seus desejos homoeróticos reprimidos.


POR QUE UM DIA DA CONSCIÊNCIA HOMOSSEXUAL?

Os gays lutaram duro para ter um dia no ano. Tudo começou em 28 de junho l969, em Nova York, quando os homossexuais, cansados de apanhar da polícia, que toda noite invadia seus espaços de lazer, reagiram e ganharam a batalha contra a prepotência policial. Nos anos seguintes, os LGBT do mundo inteiro adotaram 28 de junho como o “Dia do Orgulho Gay”, também chamado de DIA DA CONSCIÊNCIA HOMOSSEXUAL. Nas principais cidades do mundo os gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e simpatizantes enchem as ruas proclamando: É legal ser homossexual! Em S.Francisco, Nova York, nas principais cidades do Canadá e da Europa, autoridades e políticos se juntam a milhões de homossexuais que saem às ruas para defender seus direitos de cidadania. No Brasil, desde 1981 o Grupo Gay da Bahia comemora esta data, e nos últimos anos, as paradas GLBT se espalharam pelo resto do país. Mais de um milhão de pessoas participam todos os anos das paradas de SP, RJ, Salvador, Fortaleza, Belém.


POR QUE NÃO TER VERGONHA DE SER E DEFENDER O HOMOSSEXUAL?

Foram necessários muitos anos de resistência, luta e contestação para que chegasse um dia, na década de 60, em que os negros pudessem declarar: “Negro é bonito!”. Serão necessárias ainda quantas gerações para que todas as pessoas reconheçam que mulheres e homossexuais devem ter os mesmos direitos que os machões; que a cor escura da pele do índio ou do negro não implica em inferioridade? Não existe raça superior, não existe sexo superior, não existe sexualidade/gênero superior. Sexo é prazer, comunicação, vida. A livre orientação sexual é um direito inalienável de todo ser humano, seja homossexual, bissexual ou heterossexual. Ser homossexual não é doença: desde l985 o Conselho Federal de Medicina, desde 1993 a Organização Mundial da Saúde e desde 1999, o Conselho Federal de Psicologia excluíram a homossexualidade da classificação de doenças. Ser homossexual não é crime e teólogos modernos defendem que o amor entre pessoas do mesmo sexo não é pecado. A discriminação sim é proibida pela Constituição.



O QUE QUEREM OS LGBT?

O povo GLBT quer simplesmente ser tratado como ser humano, com os mesmos direitos e deveres dos demais cidadãos. Queremos cidadania plena! Os gays não desejam mudar a orientação sexual de ninguém mas também não aceitam que queiram “curá-los” ou “convertê-los” - do mesmo modo como os negros e índios lutam para que sejam respeitados na sua especificidade pluri-cultural.

Neste Dia Mundial do Orgulho Gay e Consciência Homossexual, em todo o Brasil, nas Câmaras de Vereadores, Assembléias Legislativas e em Brasília, estão sendo lidos discursos como este, rompendo a conspiração do silêncio e do ostracismo que até hoje paira contra mais de 10% de cidadãos e cidadãs homossexuais, cujo único "pecado" é amarem seus semelhantes. Que chegue logo o dia em que não mais seja necessário que os negros, índios, homossexuais e mulheres tenham apenas um dia especial no ano para denunciar o preconceito e discriminação de que são vítimas.

Que nos unamos contra o preconceito e a ignorância para que seja logo realidade o que nossa Constituição Cidadã prognosticou em seu Artigo 3o, parágrafos I e IV: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. “ Equiparação da homofobia ao crime de racismo e casamento igualitário já! Direitos iguais, nem menos, nem mais!


Luiz Mott
Secretario de Direitos Humanos do Grupo Gay da Bahia e
Professor Titular do Departamento de Antropologia da UFBA

História: 1ª Parada do Orgulho Gay da Bahia (com fotos)

Luiz Mott


Olhem que registro maravilhoso da história gay da Bahia! Quantos colaboradores na 1ª Parada, militantes e artistas vips continuam ativos! Nosso saudoso prof. Angelo Barroso, que brilhou de drag Queen, foi assassinado anos depois no RJ. Jean Wylys já nos apoiava em 2002!!! antes do BBB e de ser parlamentar. Felizmente, mudamos a parada de junho para setembro para evitar as chuvas.

Obrigado e aplausos a Marcelo, por seu pioneirismo e constância até hoje liderando com tanto profissionalismo e criatividade essa fantástica manifestação e visibilidade maciça LGBT. Vamos que vamos bombar mais uma vez no próximo 9 de setembro. Faltam só 77 dias para o Mês da Diversidade e 11ª Parada Gay da Bahia. Só não vai quem já morreu.
 
Mott

Mais de 15 mil pessoas na Primeira Parada do Orgulho Gay da Bahia, 2002


Flashes da 1ª Parada





Nem mesmo a forte chuva que caía na cidade de Salvador na tarde de 16 de junho impediu que mais de 15 mil pessoas, entre gays, lésbicas e simpatizantes fossem ao Campo Grande festejar o dia do Orgulho Gay. “A chuva só veio para reforçar que as pessoas não estavam ali só por brincadeira, tinha um motivo maior”, declarou, emocionado, Paulo da Paixão, militante do Grupo Gay de Camaçari, que veio para Salvador com dois ônibus. A Parada é um movimento político, absolutamente diferente dos demais. Ela se diferencia em muitos aspectos: em particular, por não ter especificamente uma reivindicação trabalhista ou econômica, iguais às que são promovidas pelos movimentos de classe. A Parada visa questionar a sociedade, no sentido da promoção da igualdade, da cidadania plena de gays, lésbicas e travestis, que continuam vivendo como indivíduos que habitam em uma sociedade paralela à vida das demais pessoas. Uma grande vitrine dessa "sociedade paralela" são as personagens que retratam o estilo de vida dos homossexuais na televisão. Na opinião do funcionário público Ângelo Barroso, 34 anos, “os gays foram para a rua porque houve uma mobilização para isso e por busca de igualdade de direitos, além de pedir respeito à diversidade”. A concentração foi marcada para as 14 horas, mas a Parada só foi aberta às 16 horas, com a presença do secretário de Promoção da Cidadania da Cidade de Salvador, Pedro Godinho, representando o prefeito Antonio Imbassahy. Logo após o discurso de Godinho, falaram, Marcelo Cerqueira, Presidente da Parada e Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia. O cantor Edson Cordeiro, protegido por um enorme guarda-chuva colorido, entoou o Hino Nacional ao som dos tambores possantes do Olodum, e, em seguida, a cantora Dora Santana, do Balé Folclórico da Bahia, cantou em louvor a Exu, pedindo passagem para os participantes. Ao mesmo tempo, Marcelo Cerqueira jogava milho branco na rua como parte da saudação. Pronto. Estava definitivamente aberta a Primeira Parada do Orgulho Gay da Bahia, enquanto caía "o maior toró".

A marcha saiu do Campo Grande e percorreu toda a extensão da Avenida Sete de Setembro. Uma enorme bandeira colorida, com 40 metros de comprimento, representando a diversidade das cores do arco íris, foi carregada pelos participantes, que, ao mesmo tempo em que exercitavam o seu orgulho de estarem presentes, se protegiam da forte chuva.

Dois trios elétricos, um do Bloco Tiete VIP's e outro do Bloco Traz a Massa, conduziram o povo até a Praça Castro Alves. O carro oficial, equipadíssimo com o som da Canal Comunicação, contou com as performances dos DJs mais badalados da cidade, cujos nomes dispensam comentários: Márcio Santos, Márcio Bastos, Chiquinho, Eckel Júnior e Santoro. Os meninos deram um verdadeiro show e tocaram todos os hits internacionais consagrados pelos gays de todo o mundo. Já o Trio Traz a Massa, que seguiu na frente com a banda feminina Egrégoras, levava a multidão fascinada pelos ritmos do Axé, Dance e muito Pop.

 
Parada valorizou cultura regional




Para fugir dos modelos das paradas que acontecem no mundo inteiro, a Primeira Parada do Orgulho Gay da Bahia buscou inovar. O toque regional foi dado em dois momentos: o primeiro foi a referência à religião africana, a qual os gays baianos têm forte identificação. A Segunda foi a presença de baianascaracterizadas à frente da marcha. “Para mim a figura da baiana foi posta como um patuá, um amuleto de sorte que abria os caminhos com a ponta da lança de Exu”, disse Oséas Santana, homossexual e praticante da religião na Bahia.

A cultura baiana na Parada também se fez presente com a participação das bandas de percussão do Bloco Olodum, Muzenza e Suing do Pelô. Além, é claro, dos diversos grupos de dança africana que vieram prestigiar o evento.






Uma participação muito providencial foi a do Grupo Boca de Lata, de Ituberá, que viajou horas de ônibus e veio emprestar o seu nome e valor social ao evento. A vinda do Boca de Lata foi incentivada pelo Partido Verde, especialmente, por Juca Ferreira e Edson Duarte. Um presente surpresa aos homossexuais.
 

Praça Castro Alves reviveu gloria gay
 



A praça Castro Alves, um antigo recinto de freqüência homossexual por diversos anos, reviveu em uma só noite, a alegria e o orgulho de gays, lésbicas e simpatizantes. Não poderia ser diferente. Os shows da Praça começaram às 18 horas, com a banda Nossa Juventude, que fez um pagodão e agradou a "gregos e troianos". Os moços começaram o som agradecendo e expressando a felicidade de cantar e colaborar com a sua música na luta contra o preconceito. Logo em seguida, a cantora Viva Varjão e a sua banda de funk deram continuidade à noite homenageando cantores como Cássia Eller, Renato Russo e Cazuza. Viva, que já tem nome de festa, expressava muita felicidade e desenvoltura sendo a mestre de cerimônias. “Poder cantar no dia do Orgulho Gay para aquela multidão foi maravilhoso, sublime, uma sensação muito boa”, declarou a vocalista. Durante o espetáculo, Viva recebeu no palco nomes importantes da música baiana, como Márcia Short, Sylvia Patrícia, Nana Meireles e Diogo Lopes.

Um dos pontos altos de sua apresentação foi quando ela chamou Emanoele Araújo e Rebeca Matta. Juntas, elas cantaram a música “De Noite na Cama”, de Caetano Veloso. As fãs mais atiçadas lançaram-se ao palco, sendo retiradas pelos seguranças. “Esta parte foi super divertida, tudo improvisado, a galera gostou muito do som e da algazarra no palco”, acrescentou Viva.
 
O cantor Edson Cordeiro foi o show mais esperado da noite e os fãs não arredaram o pé da Praça até que ele entrasse no palco. Acompanhado de dois dançarinos, ele reviveu canções da música dancing internacional e sucessos como "Conga", de Gretchen.

Edson Cordeiro foi um grande divulgador da Parada. Ele acreditou e garantiu a sua participação, contrariando alguns que diziam: "você vai cantar para três gatos pingados?", desde que o evento era só uma vontade do Grupo Gay da Bahia. Deste modo aproveitou todas as suas possibilidades de falar sobre o assunto na mídia nacional e o fez com muito boa vontade. “Cordeiro é um artista corajoso, engajado, que todos nós devemos apoiar, comprar e promover o seu disco” - disse Luiz Mott, presidente do GGB.













Mudanças no próximo ano já são previstas


A comissão da Parada para 2003 já está sendo formada. Ela tem a missão de dar sustentabilidade, tanto financeira quanto social, para a implementação do próximo evento. De acordo com Marcelo Cerqueira, presidente da Parada, “a idéia de não ter mais o palco fixo, e somente a estrutura de trios, é muito bem vista pelo povo, além de ser mais prática. O percurso também deverá ser alterado. Se não houvesse chuva, o espaço do Campo Grande à Praça Castro Alves não caberia de tanta gente”.

Para o próximo ano estão previstos diversos eventos paralelos, como feira de produtos e serviços, roupas, acessórios, arte e cultura e a participação do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Berlim, com filmes do mundo inteiro. Uma outra novidade que promete dar o que falar será o Bloco da Parada, só com música eletrônica. O Bloco terá a finalidade de gerar renda para financiar a realização Parada propriamente dita. Uma página na internet já está sendo montada para promover o desfile de 2003 e convidar pessoas de outros estados e países para virem a Salvador, por ocasião do evento. Do mesmo modo, já existe contato com agências de viagens que irão atuar como parceiras antes e durante o evento. A Tours Bahia Internacional, que antes só fazia receptivo, agora entra no mercado de emissão de bilhetes e será uma das agências conveniadas. A agência conta com uma boa logística tanto no Brasil quanto no exterior.













Aos patrocinadores e apoiadores da Parada, aquele obrigado!

Este evento foi um sucesso porque a população gay, lésbica e simpatizante de Salvador acreditou e apostou na idéia. Não temos palavras para agradecer a pessoas como os jornalistas Jamil Moreira Castro, Marrom, Jean Wylys, Suzana Varjão, Demóstenes, Toni Pacheco, Biaggio Talento; aos veículos de comunicação Jornal A Tarde, Correio da Bahia, Tribuna da Bahia, Muvuca Baiana, Rádio Transamérica, Itaparica FM, Rádio Metrópole FM; a pessoas e entidades que promoveram a Parada junto à sociedade baiana e formadores de opinião; aos patrocinadores que ajudaram, doando verbas e serviços para a viabilidade do evento.
 
Nossos agradecimentos a Preservativos Prudence, Pathfinder do Brasil S/C Ltda, Ministério da Saúde, Bahiatursa e USAID.

Especialmente a Prefeitura de Salvador, ao carinho pessoal do Prefeito Antônio Imbassahy, um estadista, competente e antenado para as transformações da vida moderna; a Senhora presidente da EMTURSA, Eliana Dumêt; José Correia, gerente de projetos especiais e, finalmente, Alexandre Franco de Carvalho, do Cerimonial da Prefeitura, um amigo do peito.

Agradecemos também a Engenho Novo, agência que elaborou todas as peças publicitárias, na conta zero.

Ao apoio dos empresários GLS: Queens Club, Bar Quixabeira, Bar Red Blue, Boate Gloss, Bar Camarim, Boate BRW, Touchê Creperia, barracas do Charles e Aruba, Bar Âncora do Marujo, Boate Caverna, saunas Rios, Phenix e Olympus. Foi muito bom tê-los conosco este ano. Esperamos contar com esta força em 2003. Voila!!!

Luiz Mott

Três Coisas que Malafaia Não Responde...

Programa Vitória em Cristo, sábado, 07 de abril de 2012


Três coisas que Malafaia não responde:

1. Por que ele gasta milhões em horário de TV para perseguir os homossexuais se a mensagem que ele alega pregar é a do evangelho, e o evangelho não tem uma só palavra contra os homossexuais?

2. De que maneira o reconhecimento pleno da cidadania de pessoas LGBT pode impedir o trabalho da igreja, seja ela qual for? Diversos países do mundo reconhecem os direitos LGBT e as igrejas continuam funcionando como sempre funcionaram.

3. Que razão legitimamente política, jurídica, filosófica ele apresenta (nunca apresentou!) para dizer que uma lei que criminalize a homofobia é menos válida do que uma lei que criminalize o racismo, a discriminação contra a mulher, contra o idoso, etc? Se dizer apenas 'não matarás' fosse suficiente, não teríamos um denso código penal. Além disso, homofobia não é só matar, mas discriminar, humilhar, ridicularizar, demitir, impedir acesso, recusar serviço, etc., com base em orientação sexual ou identidade de gênero.

Nada disso, Silas Malafaia explicou no meio da cortina de fumaça que ele criou contra Toni Reis, ABGLT e Ministério Público. Felizmente, a Justiça desse país não se ilude com aquela papagaiada (ou malafaiada) do programa 'Vitória em Cristo', que deveria ser - se considerado sob os princípios cristãos mais elevados - 'Vergonha para Cristo'.

Firme, Toni! Siga firme.

Vale para Mott e todos os outros militantes que corajosamente têm enfrentado essa ala de conservadores da morte.

Sergio Viula





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Lista dos maiores inimigos direitos gays em 2012 é encabeçada por Dilma (GGB)

Grupo da BA elege Dilma maior inimiga dos gays em 2012

08 de março de 2012 


 
Nota deste blogueiro:
Dilma Roussef: Ao vetar o projeto Escola sem Homfobia
para agradar a bancada fundamentalista, ela reforçou a mentira de que o projeto era descabido 
e deixou Haddad, então Ministro da Educação, na fogueira dos inquisidores modernos.




LUCAS ESTEVES
Direto de Salvador


O Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgou nesta quinta-feira os "ganhadores" do Troféu Pau de Sebo, que elege os maiores inimigos dos homossexuais brasileiros no ano em diversos quesitos. Em 2012, a vencedora foi a presidente Dilma Rousseff (PT), que puxou uma série de políticos listados na premiação, realizada há 22 anos.

De acordo com o GGB, o veto ao kit anti-homofobia escolar foi o motivo que levou a presidente ao posto de maior inimiga dos homossexuais no Brasil. O grupo alega que, com a queda do projeto, mais de 6 milhões de estudantes deixaram de ser capacitados para atuar contra a homofobia e pela defesa os direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). A ausência do kit, segundo o grupo, ainda estimula o bullying homofóbico.

O presidente de honra do grupo, o sociólogo Luiz Mott, lamentou ter que dar o prêmio à presidente, que, segundo ele, teve a chance de promover uma reviravolta contra a homofobia no Brasil e a desperdiçou voluntariamente. "Eu gostaria que pudesse dar à presidenta aplausos, e não vaias, como as que ela tem recebido em paradas gays em todo o Brasil recentemente por ter vetado o kit", afirmou.

Para ele, o veto de Dilma à iniciativa ocorreu por dois motivos. O primeiro seria o que ele considera uma "homofobia internalizada" por parte da presidente, que estaria continuamente se afastando dos movimentos LGBT. O segundo, de acordo com Mott, é a relação política que a presidente cultiva com grupos considerados homofóbicos pelo GGB, em especial os evangélicos.

"Ela está cada vez mais se aproximando dos evangélicos, que a obrigam a tomar determinadas decisões colocando debaixo do braço a Bíblia Sagrada", disse o sociólogo. Mott afirmou ainda que, se o prêmio fosse físico e Dilma viesse recebê-lo em Salvador, diria à petista que ela ainda tem condições de reparar os "malfeitos que tem cometido contra os homossexuais". "O perdão sempre é possível desde que haja conversão para o lado do bem."

Outros políticos listados pelo GGB, todos por supostas declarações homofóbicas, foram os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ), atual ministro da Pesca, e Magno Malta (PR-ES), além dos deputados federais João Campos (PSDB-GO), Ronaldo Fonseca (PR-DF), Marco Feliciano (PSC-SP), Anthony Garotinho (PR-RJ), André Zacarov (PMDB-PR), Lauriete, (PSC-ES), Acelino Popó (PRB-BA), Salvador Zimbaldi (PDT-SP) e Áureo Moreira Ribeiro (PRTB-RJ).

Na categoria personalidades, o escolhido foi o ator Marcelo Serrado, que interpreta o homossexual Crô na novela Fina Estampa. O artista declarou que é contra o beijo gay na televisão e que não gostaria que sua filha visse uma cena assim. Ele foi listado ao lado da travesti Rogéria, que também se declarou contra. Já o lutador Rodrigo Minotauro também fez parte da lista por dizer na TV que não treinaria um aluno gay.

Fonte do texto: Site Terra. A foto não faz parte do texto do Terra.

Gays no Brasil Pré-Colonial (Luiz Mott)




Ao comemorar 462 anos a cidade de Salvador, capital da Bahia o GGB através de farta documentação produzida pelo antropólogo Luiz Mott, apresenta três homossexuais de períodos remotos que deixaram seus rastros para a História. O resgate da memória desses homossexuais é um presente para a construção da cultura e memória dos homossexuais nos dias de hoje.

De fato, a documentação comprova que em seus 462 anos de história, São Salvador da Bahia foi não apenas a cidade de todos os santos, mas também de todos os sodomitas – aqui vivendo numerosos gays, lésbicas e travestis, que a despeito de suas vidas clandestinas terem sido preconceituosamente escondidas ou esquecidas pelos historiadores oficiais - seus nomes e vivência homoerótica testemunham: não se pode tratar da história da Bahia e do Brasil, sem mencionar a presença significativa dos homossexuais desde os primórdios de nossa existência.

A vivência e repressão aos gays, lésbicas e travestis estão fartamente registradas em nossos acervos documentais: nos manuscritos quinhentistas e setecentistas da Inquisição, nos poemas seiscentistas de Gregório de Matos, nas Teses da Faculdade de Medicina e nos jornais oitocentistas. Podemos afirmar sem sombra de dúvida que a presença homossexual na história da Bahia é anterior inclusive à própria chegada dos colonizadores, pois ao penetrarem na Terra dos Papagaios, portugueses e franceses encontraram e registraram, estupefatos, a existência de numerosos índios e índias praticantes do que a Cristandade chamava de "abominável e nefando pecado de sodomia".

Tão generalizada era na terra brasilis a homossexualidade, que os Tupinambá tinham nomes específicos para designar os adeptos desta performance erótica: aos homossexuais masculinos chamavam de Tibira e às lésbicas de Çacoaimbeguira. Conheça ele, Luiz Delgado, Felipa de Souza e Francisco Manicongo, gay, lésbica e travesti.

Mott que é um especialista em Religião e Inquisição ressalta que esse período já passou no Brasil, mas ainda hoje ser homossexual ainda é muito inseguro devido as poucas garantias oferecidas pelo Estado no que diz respeito a saúde, educação e cultura para mudança de comportamento homofobico. “Passou-se a Inquisição, no Brasil não é crime ser homossexual. Mas no Irã e em muitos países africanos se mata homossexuais com enforcamento e outra torturas” disse Luiz Mott.


LUIZ DELGADO (1689)

Violeiro e comerciante de fumo, natural de Évora, 40 anos, casado com Florença Dias Pereira, sabe ler e escrever, filho de Luiz Delgado e Joana Machado, alto de corpo, alvarinho, magro de cara.

De todos os sodomitas da Bahia, é de quem dispomos a maior quantidade de detalhes biográficos. Na Torre do Tombo encontram-se dois grossos processos contra Luiz Delgado: sua fama de sodomita começou na cadeia de Évora, em 1665. Tinha 21 anos e estava preso junto com um seu irmão, ambos acusados de um furto. Por receber frequentes visitas de um seu cunhadinho de 12 anos, Brás, os demais presos acusaram-no junto ao Santo Ofício de Évora, após ter ouvido à noite, ruídos e gemidos indicativos que praticavam o abominável pecado de sodomia. Apesar do jovem cúmplice ter negado, Luiz Delgado assumiu ter cometido tão somente “punheta” e “coxeta”, não chegando à sodomia perfeita (penetração com ejaculação), matéria prima indispensável para caracterizar os atos homoeróticos como crime. Levado à casa de tormentos, “chamando por Nosso Senhora e pedindo misericórdia”, Luiz Delgado foi torturado na polé, sem acrescentar nada à confissão anterior. Também Brás foi torturado, sendo ambos degredados para fora do termo de Évora pelo período de três anos.

Em 1669 Luiz Delgado encontra-se preso no principal cárcere de Lisboa, o Limoeiro – causando também aí murmuração de que era amante de um moço por nome André, ladrão degredado para o Maranhão. Nos primeiros anos da década de 70, Luiz Delgado encontra-se na Bahia – e de violeiro torna-se “estanqueiro de fumo”, tendo loja onde comprava e vendia tabaco no atacado e varejo.

Em 1675 espalha-se “a fama geral entre brancos e pretos que Luiz Delgado era fanchono e sodomita”, e em duas Visitas Pastorais realizadas nas freguesias de São Pedro e Nossa Senhora do Desterro de Salvador, de onde era freguês, é acusado por meia dúzia de paroquianos de ser praticante do abominável pecado de sodomia. Audacioso, o fanchono não temia seduzir pessoas de diferentes condições sociais, inclusive serviçais: a um criado de quatorze anos, perguntou em segredo: “Miguel, quero saber: tendes três polegadas de pica ? Façamos uma aposta: entrai para dentro de minha casa. Aposto uma ou duas patacas se tiver as três polegadas!”

Provocaram maior escândalo e murmuração, do que suas solicitações esporádicas a escravos e rapazes sem eira nem beira, os “casos” amorosos mantidos com quatro moços na Bahia: o soldado José Nunes, a quem Luiz Delgado presenteou com um anel de ouro; Manoel de Sousa Figueiredo, “de rosto e jeito afeminado e bem afigurado”; José Gonçalves, de quem “fazia tanto caso como se fosse seu filho” e com o qual o estanqueiro praticou mais de 80 atos homoeróticos; e Doroteu Antunes, 16 anos, seu derradeiro romance, “bem parecido e trigueiro, tinha cara como uma dona” – tão efeminado que se travestia de mulher em comédias públicas.

Mesmo sendo casado, aliás como a grande parte dos sodomitas do passado – e do presente! – Luiz Delgado se excedia em demonstrar publicamente a paixão que nutria por seus sucessivos amantes, beijando-os na frente de outras pessoas, regalando-os com presentes e fino trato, andando juntos pela rua, de baixo de um grande guarda-sol, para escândalo e escárnio de seus inimigos. Sabendo-se denunciado perante o Juízo Eclesiástico de Salvador, foge para o Rio de Janeiro, onde persuade o adolescente Doroteu Antunes a abandonar a casa paterna, retornando com seu Ganimedes para a Bahia.

Constrói uma choupana no sítio Jacumirim, na Mata de São João, de propriedade dos Jesuítas, a 11 léguas de Salvador, onde permanece em idílica lua de mel com seu "menino do Rio"... A 5 de fevereiro de 1689, por ordem do Comissário do Santo Ofício da Bahia, os dois amantes são presos e algemados – o mais velho trancafiado na cela forte do Convento do Carmo, e o mais novo no Convento de São Francisco.

Remetidos para Lisboa, na travessia Luiz Delgado foi vítima de penosas humilhações físicas e morais. Nos cárceres secretos dos Santo Ofício o reincidente sodomita permanece por 3 longos invernos. Era sua oitava prisão desde que rapazote fora encarcerado em Évora pela primeira vez. Tenta convencer os Inquisidores que tudo não passara de maquiavélica intriga de sua mulher e de seu primeiro criado, enumerando 243 contraditas tentando argumentar sua inocência. As confissões de seus cúmplices e a sua própria – a três décadas passadas, no Tribunal de Évora, não deixam dúvidas que Luiz Delgado tergiversava.

Pela segunda vez, o azarado fanchono é levado ao tormento. “Chamando por Jesus do céu e pedindo misericórdia” foi colocado no potro onde teve seus braços e pernas amarrados com oito correias de couro, que apertadas com o torniquete, provocavam insuportáveis hematomas e inchações nos membros do infeliz.

De mais de quinhentos processos de sodomitas presos por nós examinados, este fanchono luso-baiano foi o único a ser torturado duas vezes. Foi condenado a dez anos de degredo para Angola – lá chegando na mesma quadra em que o poeta baiano Gregório de Matos cumpria sua deportação. Luiz Delgado é de todos os sodomitas da Bahia, o mais pertinaz e com a biografia homoerótica mais documentada. Um gay incorrigível e apaixonado!

(Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Inquisição de Lisboa, Processo 4769; Inquisição de Évora, Processo 4995; Mott, O Sexo proibido, p. 75-129)


FELIPA DE SOUZA (1591)

Costureira, natural de Tavera, Algarve, 35 anos, filha de Manoel de Souza e Fulana Gonçalves, casada com Francisco Pires, padeiros, não tem filhos, “ganha sua vida pela agulha”.

Dentre uma dezena de mulheres acusadas de praticar sodomia, Felipa de Souza foi a mais “retada”. Presa na Primeira Visitação, em 18 de dezembro de 1591, confessou que pelo ano de 1583, em Salvador, “enamorou e se afeiçoou” por Maria Peralta, solteira, moça que ainda não tinha conhecido homem, 18 anos, depois casada com Tomás Bibentaon, hoje moradores em Pernambuco. Dormindo na mesma cama, de porta fechada, pôs-se sobre a moça ajuntando seus vasos dianteiros e deleitando-se, “ mas não cumpriu desta primeira vez da maneira que interiormente as mulheres costumam cumprir estando no ato carnal”. Disse que naquela ocasião estava prenhe e ainda prenhe se ajuntaram numa cama pela segunda vez, Maria Peralta pondo-se em cima, ”ambas cumprindo como costuma cumprir a mulher estando o homem no ato carnal”. Também com Maria Lourença, mulher do caldeireiro morador na porta da cidade, teve diversos ajuntamentos, sendo ela, a ré, a súcuba .

Pelo meados de 1590, após enviar algumas cartas e recados de amor a Paula de Siqueira, mulher do contador Antônio de Faria, um dia lhe deu um abraço e beijo “com tenção desonesta” e no dia da festa de Nossa Senhora do Ó, em dezembro do mesmo ano, ficaram juntas ambas na igreja de São Francisco, e depois Paula de Siqueira levou-a para sua casa e antes do jantar, se deitaram na cama, a dona da casa pondo-se em cima, ajuntando seus vasos, mas só Paula de Siqueira cumpriu, conforme depois declarou. Após o jantar e terem bebido bastante vinho, novamente Paula a convidou e ajuntaram suas naturas, cumprindo 3 vezes enquanto ela, ré, não chegou ao orgasmo. Nunca mais tiveram encontros nefandos.

Com a mulher de um ferreiro acorcovado, Ana Fiel, sua vizinha, trocou um abraço e beijo em afeição desonesta, “e o dito abraço e beijo deram por cima de uma parede entre os seus quintais...” Arrematou sua confissão declarando que “todos esses ajuntamentos lhe causaram grande amor e afeição carnal, com que da vista se afeiçoava com as ditas mulheres...”. Inquirida pelo Visitador porque não veio espontaneamente confessar-se, disse que o jesuíta Antônio Velasquez garantira-lhe que bastava ter-se confessado sacramentalmente.

A Mesa Inquisitorial foi mais severa com Felipa de Sousa do que com as demais lésbicas da Bahia quinhentista. Em seu parecer o Visitador declarou que apesar de ter cometido muitas vezes o nefando, como nunca utilizou instrumento penetrante, que fosse castigada fisicamente com a pena vil dos açoites, sendo degredada para todo o sempre da Capitania onde cometera atos tão torpes, ficando proibida de retornar a Bahia em todos os dias da sua vida.

Foi aos 24 de janeiro de 1592, festa de São Timóteo, que a infeliz Felipa de Sousa teve a maior dor e humilhação em toda sua vida: retirada da Casa da Inquisição, no Terreiro de Jesus, o Ouvidor da Capitania levou-a até a Sé da Bahia, onde vestida simplesmente com uma túnica branca, descalça, com uma vela na mão, de frente à Mesa Inquisitorial e de algumas autoridades religiosas, ouviu sua ignóbil sentença. Em seguida foi açoitada publicamente pelas principais ruas do centro de Salvador, enquanto o Ouvidor lia o pregão: “justiça que o manda fazer a Mesa da Santa Inquisição: manda açoitar esta mulher por fazer muitas vezes o pecado nefando de sodomia com mulheres, useira e costumeira a namorar mulheres. E que seja degredada para todo o sempre para fora desta capitania.”

Após esta cruel humilhação pública, permaneceu ainda quatro dias no cárcere, certamente cuidando-se das chagas e feridas decorrentes da tortura de açoites. Teve ainda de pagar $992 réis com as custas processuais. Para onde foi cumprir o seu degredo, não informam os documentos. Felipa de Sousa é a mais ousada, persistente e castigada de todas as lésbicas das colônias da América, razão pela qual seu nome foi atribuído ao principal prêmio internacional de Direitos Humanos dos Homossexuais, o chamado “Felipa de Sousa Award”, conferido pela International Gay and Lesbian Human Rights Comission de S.Francisco, Estados Unidos.

(Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Inquisição de Lisboa, Processo 1267)


FRANCISCO MANICONGO (1591)

Escravo de Antônio Pires, sapateiro, morador abaixo da Misericórdia de Salvador.

A presença de sodomitas travestidos de mulher é muito mais freqüente na história antiga de Portugal do que no Brasil. Francisco Manicongo é o primeiro caso registrado em nosso país: foi denunciado na Visita Inquisitorial de 1591 por Matias Moreira, cristão-velho de Lisboa, que declarou: “Francisco Manicongo tem fama entre os negros desta cidade que é somítigo e depois de ouvir esta fama, viu ele com um pano cingido, assim como na sua terra do Congo trazem os somítigos. Mais disse que ele denunciante sabe que em Angola e Congo, nas quais terras tem andado muito tempo e tem muita experiência delas, é costume entre os negros gentios trazerem um pano cingido com as pontas por diante que lhe fica fazendo uma abertura diante, os negros somítigos que no pecado nefando servem de mulheres pacientes, aos quais chamam na língua de Angola e Congo quimbanda, que quer dizer somítigos pacientes”.

E tendo o lisboeta visto ao cativo Manicongo trazer a veste dos quimbandas “logo o repreendeu disso e o dito Francisco lhe respondeu que ele não usasse de tal e o repreendeu também porque não trazia o vestido de homem que lhe dava seu senhor, dizendo-lhe que em ele não querer trazer o vestido de homem mostrava ser somítigo pois também trazia o dito pano do dito modo. E depois o tornou ainda duas ou 3 vezes a ver nesta cidade com o dito pano cingido e o tornou a responder, e já agora anda vestido em vestido de homem.”

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(Primeira Visitação, Denunciações da Bahia, p. 406-407; Mott, “Relações raciais entre homossexuais no Brasil Colonial”, Revista de Antropologia da USP, vol. 35, 1992, p.169-190

Nota sobre vocabulário:
Contradita: alegação forense dum pleiteante contra outro.

Fonte: GGB (aniversário de 20m anos)

História da Sexualidade no Brasil - artigo por Luiz Mott



História da Sexualidade no Brasil (1)


por Luiz Mott



Resumo


Quando um antropólogo aborda o tema sexualidade, o primeiro mandamento a ser enfatizado é que, enquanto no reino animal irracional as funções sexuais são determinadas fundamentalmente pelo instinto, a sexualidade humana se manifesta através de padrões culturais historicamente determinados, donde sua dinamicidade temporal e diversidade espacial e performática. A sexualidade humana é uma constructo cultural, tanto quanto os hábitos alimentares e corporais. Nascemos machos e fêmeas e a sociedade nos faz homens e mulheres. Mais ainda: o ser masculino e o ser feminino variam enorme-mente de cultura para cultura, modificando-se substantivamente ao longo das gerações dentro de uma mesma sociedade. Discutimos neste ensaio basicamente a construção histórica da sexualidade brasileira, destacando a presença primacial de três complexas matrizes sexuais: o modelo sexual hegemônico dos donos do poder, representado pela moral judaico-cristã fortemente marcada pela sexofobia, e os modelos periféricos indígena e africano, dominados por multifacetada pluralidade cultural e grande permissividade relacional. Concluímos mostrando a relação estrutural entre escravidão e o machismo.

Modelo Hegemônico Judaico-Cristão

O traço definidor da moral sexual judaico-cristã é a sexo-fobia. Diferentemente de outras culturas, onde deuses e sacerdotes praticavam toda sorte de "perversões sexuais" consideradas ou neutras do ponto de vista moral, ou mesmo virtuosas - a religião judaica prima pela dificuldade em conviver com os "vícios da carne". Javé - diferentemente dos Orixás, de Apolo e Tupã, é um deus assexuado. O céu judaico-cristão -tão diverso dos congêneres dos muçulmanos e germanos - é um paraíso assexual, onde os que na terra foram virgens ou celibatários estarão mais próximos do trono do Cordeiro e da Virgem Maria.

Como traços cardeais da cultura sexual abraâmica, salientam-se o tabu da nudez, o machismo, o patriarcado, a monogamia e indissolubilidade do matrimônio como alicerces da família nuclear, a noção de honra e a virgindade pré-nupcial como requisito para as alianças matrimoniais.

Modelo tão rígido comportou, desde os tempos bíblicos, espaço para os desvios, que mesmo castigados alguns até com o apedreja-mento ou a fogueira, fizeram parte integrante do modus vivendi de nossos antepassados. Adultério, concubinato, sodomia e violência sexual - todos condenados pelos rabinos e sacerdotes - nem por isto foram completamente eliminados do orbe cristão, e abundam nos arquivos os processos civis e religiosos contra tais pecadores, personagens freqüentes em nosso passado colonial. Uma das representações mentais mais interessantes e persistentes entre nossos ante-passados ibéricos transplantada para o Novo Mundo foi o que os teólogos chamavam "heresia contra a fornicação simples" em razão da qual inúmeros colonos de norte a sul do Brasil foram denunciados à Santa Inquisição, por defenderem a proposição herética de que não eram pecado os atos sexuais entre pessoas desimpedidas (i.e., que não fossem casadas, virgens ou que tivessem votos religiosos). Outros, igualmente investigados pela sanha inquisitorial, eram acusados de propalarem que "era melhor se casar do que ser padre", em franca oposição ao ensinamento do donzelo Apóstolo Paulo.

Não bastassem as ameaças representadas pelos "heterodoxos" descendentes dos primitivos colonizadores, a moralidade imposta pelo Levítico e Catecismo Romano sofreu seu mais grave embate através do confronto de outros modelos sexuais, aos quais chamamos de "periféricos", posto terem sido tratados sempre como marginais por parte dos donos do poder hegemônico. Referimo-nos às matrizes sexuais indígena e africana.


Matrizes periféricas: Índios e Africanos


É incorreta a suposição de que índios e africanos ostentassem, cada etnia per si, uma conduta sexual homogênea. O correto é falarmos de "sexualidades indígenas" e "sexualidades africanas" posto coexistirem, lado a lado, na Ameríndia e no Continente Africano, centenas e centenas de padrões sexuais completa-mente diversos e às vezes antagônicos. Em comum, podemos detectar duas macro-tendências: a enorme diversidade estrutural destas sexualidades e uma menor rigidez repressiva, levando-se em o conta que se tratam de sociedades ágrafas e pour cause, baseadas em tradição oral menos rígida se comparada com sociedades dominadas por códigos e leis escritas - algumas - delas, como a judaica, mandamentos escritos em tábuas de pedra e re-veladas pela própria divindade.

Se tomarmos como inspiração a sexualidade dos índios Tupinambá, a primeira constatação, que tanto chocou os cronistas coloniais, é a relação absolutamente neutra que tais silvícolas mantinham com a nudez, além de primarem por desbragada luxúria, falando constantemente entre si de suas "sujidades", incansáveis em procurar variegados gozos eróticos, conhecendo diversos afrodisíacos e magias sexuais, que os cristãos interpretaram como coisas do Diabo. Polígamos, tais nativos praticavam uma espécie de gerontocracia sexual onde os mais velhos guerreiros, aqueles que tinham matado o maior número de inimigos, tinham maior acesso às mulheres mais jovens. Não só os Tupinambá, como diversas outras tribos nas três Américas, abrigavam em suas al-deias grande número de "invertidos sexuais " de ambos os sexos, chamando aos homossexuais masculinos de "tibira" e às lésbicas de "çacoaimbeguira".

Quanto à sexualidade dos africanos que vieram escravizados pa-ra o Novo Mundo, os traços mais comuns, que aproximariam a enorme diversidade cultural das centenas de etnias envolvidas na diáspora negra, seriam, além da poligamia poligínica, a prática de mutilações sexuais geralmente associadas a ritos de iniciação na infância ou puberdade. Se tomarmos como exemplo algumas etnias do antigo Reino de Benin - de onde procedeu a mais importante leva de africanos no último século do escravismo, notamos como elementos característicos de sua sexualidade a grande liberdade sexual das crianças e adolescentes, tolerância à masturbação recíproca, prática da circuncisão dos meninos e clitoridectomia nas donzelas.

"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesmo do regime..." dizia Gilberto Freyre, demonstrando cabalmente que a exacerbação erótica observada no Brasil Colonial deve ser ex-plicada não por "defeito" da raça africana, mas pelo abuso de uma raça por outra: "ao senhor branco, e não á colonização negra deve-se atribuir muito da lubricidade brasileira."

O que temos como certo é que o machismo ibérico assumiu - no Novo Mundo, devido às condições demográficas e sociológicas da escravidão, uma feição muito mais agressiva e virulenta do que a observada em Portugal e Espanha à época das Descobertas. Abaixo do Equador, onde os brancos donos do poder representavam por volta de um quarto dos habitantes, somente a extrema violência e o autoritarismo conseguiram manter submissa toda aquela massa populacional de negros, índios e mestiços, infelizes seres humanos tratados a fogo e ferro pela mino-ria senhorial. Numa sociedade tão marcada pela injustiça social, somente homens ultraviolentos seriam capazes de manter ordem e respeito junto à "gentalha", daí ter-se desenvolvido um código de hipervirilidade, que anatematizava, entre os machos brancos, qualquer conduta ou sentimento "feminino", pois ameaçavam a própria manu-tenção dessa sociedade estamental e oligárquica. Aí está a raiz do machismo à brasileira, filho bastardo da escravidão.

"Há males que vêm para bem", diz o brocardo popular, e no caso do regime servil, podemos pinçar alguns elementos que influenciaram positivamente nossa ideologia e práticas sexuais hodiernas. Embora não possamos concordar que nosso país seja um exemplo de "democracia racial', dadas as desigualdades sociais ainda hoje dominantes em nosso meio, não há como negar que as interações sexuais interraciais se deram no Brasil com muito maior freqüência, com menos violência e com maior "cordialidade" do que nos demais países escravistas. Diferentemente de outras sociedades, nas quais os senhores manifestavam nojo e repulsa sexual vis-a-vis às fêmeas das "raças inferiores", entre nós desenvolveu-se um erotismo mestiço que fez da mulata hoje, e da negra "mina" no século XVIII, o modelo mais cobiçado de parceira sexual. Como dizia no século passado Charles Expilly, na sua instigante obra Costumes e Mulheres do Brasil, "aquele que sentiu duas vezes o cheiro acre, mas embriagador, da catinga de uma negra, achará, desde então, muito desenxabido o cheiro que exala a pele da mulher branca..." Segundo esse autor, tratava--se tal enunciado de um "axioma português".

Um segundo aspecto positivo, herança da miscigenação e hibridismo pluricultural, é a influência das matrizes periféricas de nossa sexualidade, na alforria dos brasileiros da rigidez do Levítico e do Catecismo Romano. Um amoralismo mestiço e crioulo domina nossa cultura sexual, destacando-se o Brasil, no cenário mundial, pelo exibicionismo de nossas mulheres inventoras da devassa tanga, pela exportação de travestis que causam furor entre franceses e italianos, pela extravagância sensual de nossos desfiles de escola de samba, pelo remelejo dos bumbuns de homens e mulheres no pagode. Não é por menos que nosso país ocupa o segundo lugar em casos de Aids no ranking mundial, com uma estimativa de mais de meio milhão de pessoas infectadas, 50% das quais por via sexual.



Nota

1. "A sexualidade no Brasil colonial", Diário Oficial Leitura São Paulo, nº141, fevereiro 1994:6-8



Bibliografia


Freyre, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Imprensa Oficial, Recife,1976, 2 volumes.

Mott, Luiz. Os Pecados da Família na Bahia de Todos os Santos. Centro de Estudos Bahianos, Salvador, 1983.

Piauí Colonial: população, Economia e Sociedade. Terezina, Secretaria de Cultura do Piauí, 1985

Escravidão, Homossexualidade e Demonologia. S.Paulo, Editora Icone, 1988

O Sexo Proibido: Virgens, Gays e Escravos nas garras da Inquisição. Campinas Editora Papirus, 1989

Vainfas, Ronaldo. Trópico dos Pecados. Moral, Sexualidade e Inquisição no Brasil. RJ, Editora Campus, l989

198 homossexuais foram mortos em atos homofóbicos no Brasil em 2009




Relatório diz que 198 homossexuais foram mortos em atos homofóbicos no país em 2009

Especial para o UOL Notícias
05/03/2010 
Salvador - BA

Um relatório divulgado na noite de quinta-feira (4) pelo GGB (Grupo Gay da Bahia) informa que 198 homossexuais foram mortos no Brasil no ano passado por homofobia, nove a mais do que em 2008. De acordo com a entidade baiana, que há três décadas coleta informações sobre homofobia no país, Bahia e Paraná foram os Estados que registraram o maior índice de homicídios contra homossexuais (25 cada um).

* Segundo o antropólogo Luiz Mott, um dos fundadores do GGB, dentre os homossexuais assassinados no ano passado, 117 eram gays, 72, travestis, e nove, lésbicas. “Mesmo com todos os programas lançados pelo governo federal, o Brasil é o país com o maior número de homicídios contra lésbicas, gays, bissexuais e travestis”, disse Mott, professor aposentado da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

“A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil e precisamos dar um basta nesta situação”, afirmou Marcelo Cerqueira, presidente do GGB. Segundo o grupo baiano, o levantamento que contabilizou o número de gays mortos foi feito em delegacias, publicações em jornais e revistas, Internet e por outras entidades que lutam pelos direitos dos homossexuais.

“Isto demonstra que o número deve ser ainda maior, porque muitas famílias têm vergonha de revelar que possuem parentes homossexuais”, acrescentou Luiz Mott.

O número de gays assassinados no Brasil tem aumentado nos últimos anos. Em 2007 foram 122.

“Depois do Brasil, o México (35) e os Estados Unidos (25) foram os países mais homofóbicos em 2009”, disse Marcelo Cerqueira. Os dados do GGB revelam, ainda, que entre 1980 e o ano passado foram mortos 3.196 gays no Brasil. Entre as vítimas estão padres, pais-de-santo, professores, profissionais liberais, profissionais do sexo e cabeleireiros. Do total das vítimas, 34% foram mortas com armas de fogo, 29% (arma branca), 13% (espancamento) e 11% (asfixia). Os demais 13% foram mortos por outras modalidades.

Segundo o professor de filosofia Ricardo Liper, da UFBA, “mesmo em crimes envolvendo drogas e outros ilícitos, a condição homossexual da vítima sempre está presente, fruto da homofobia cultural e institucional que impregna a mente dos assassinos”. “Se a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República não implementar as deliberações do Programa Brasil Sem Homofobia, vamos denunciar o governo brasileiro junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), e à Organização das Nações Unidas (ONU), pelo crime de prevaricação e lesa humanidade contra os homossexuais”, disse Luiz Mott.

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