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2013: DEZ ANOS FORA DO ARMÁRIO

In English here.


2013: DEZ ANOS FORA DO ARMÁRIO
por Sergio Viula



"O ressentimento contra a felicidade alheia é o maior atestado de infelicidade própria que alguém pode dar a si mesmo. Todo fundamentalista, por adiar a felicidade para o além-mundo, se ressente da felicidade dos outros. Por isso, ele abana as chamas de seu próprio inferno para cima daqueles que, ignorando seu esforço para estragar tudo, constroem sua felicidade aqui e agora da melhor maneira possível."
(Sergio Viula)


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Quando criança, eu não tinha a menor ideia de como seriam os meus trinta e poucos anos. Nascido numa família católica, aprendi a acreditar em Deus, frequentar a igreja e receber todos os sacramentos designados a um bom católico. Nada complicado até aí. Todavia, quando se tratava de educação sexual, a igreja estragava tudo desde o começo. Eu não ligava tanto, pois era fácil engolir isso durante a infância, mas assim que minha adolescência se aproximou, a vida começou a parecer um pouco mais complicada. Certos pensamentos e sentimentos aparentemente fáceis de evitar começaram a parecer irresistíveis à medida que a puberdade entrava em cena.


Dirigindo meu velho jeep no quintal


Claro que já tinha me divertido com os meninos. Com isso, quero dizer que participei de alguns ‘jogos’ de garotos, geralmente vistos como apenas uma maneira de reconhecermos nossos corpos na infância. Para mim, porém, aqueles jogos não eram apenas uma brincadeira passageira. Havia um senso de intimidade e afeição que ia muito além do que a maioria dos garotos teria sentido.

Às vésperas da minha adolescência, aos 12 anos, eu tive minha primeira experiência sexual com um amigo de 16. Foi tão inebriante que ficamos juntos por dois anos. Finalmente, desisti da relação porque descobri que ele tinha comentado com outro colega sobre nosso caso de amor. Fiquei aterrorizado que meus pais pudessem descobrir porque àquela altura eu não ignorava mais as consequências de uma possível ‘saída do armário’ no meu círculo familiar.

Entre 14 e 16 anos, eu lutei com sentimentos de culpa e medo – tudo fomentado pelos ensinos da minha igreja e pelos preconceitos da minha família. Além disso, o ‘bullying’ escolar na escolar elementar e fundamental desempenhou um papel central em me fazer recuar em relação à minha orientação sexual.


Tomando a primeira comunhão


Para piorar as coisas, aos 16 anos de idade, eu me converti ao evangelicalismo, no qual fiquei tão fanático quanto alguns dos mais radicais pregadores na televisão hoje em dia. Não demorou até que eu ficasse atolado no trabalho da igreja. Minha caminhada começou no movimento Pentecostal. Mais tarde, porém, tendo revisto certas práticas pentecostais do ponto de vista teológico, histórico e contemporâneo, filiei-me à Convenção Batista Brasileira.



Noite de graduação no seminário de liderança 
do Instituto Haggai - Cingapura, 2000.


Aos 20 anos, casei com uma moça da mesma igreja, virei missionário da OM (Operação Mobilização) por um ano, depois fui para o seminário teológico e fui ordenado ao pastorado. Nesse meio tempo, fundei com mais dois amigos um ministério de ex-gays chamado MOSES, que significa Movimento pela Sexualidade. Minha caminhada com a igreja evangélica encerrou-se após 18 anos de dedicação – sete dos quais simultaneamente dedicados à igreja e ao ministério ex-gay.



Logo do MOSES, ministério ex-gay 
que eu co-fundei no RJ em 1997


No ano 2003, assumi que era gay para minha esposa, meus pais e outros parentes. Mais tarde, assumi para meus filhos – um após o outro. Minha filha foi a primeira, com 12 anos então. Dois anos mais tarde, foi a vez do meu filho, com 11. Ambos lidaram bem com o fato de ter um pai gay e desde então têm sido grandes amigos para mim. Meus filhos agora têm 21 e 18 anos (2013) e ambos tornaram-se lindos e amáveis. Quanto à minha ex-esposa, ela seguiu adiante e casou-se novamente.

Desde que eu saí do armário em 2003, as coisas só melhoraram muito. Graduei-me em filosofia pela UERJ (Universidade do Estado do RJ), escrevi um livro compartilhando minha história e desfazendo mitos relacionados às terapias ex-gays, vi meus pais mudarem de uma atitude intolerante para uma atitude de aceitação e respeito para comigo e para com meus novos arranjos familiares – de fato somos vizinhos agora e eu posso ver meus pais e meus filhos sempre que quiser, uma vez que não moram mais com a mãe.


Meu filho, minha filha e eu no Outback, Rio de Janeiro (2013)


Além disso, eu me tornei um ativista pelos direitos LGBT, especialmente contra a homofobia de líderes de igrejas no Brasil, devido à minha experiência como um deles. Minha história já foi publicada em sites brasileiros e reverberada em várias línguas por sites internacionais. Além disso, meu blog pessoal – o Fora do Armário – no qual publico em português a maior parte do tempo e em inglês de vez em quanto, está para atingir DOIS MILHÕES de visitas a qualquer momento.



Sergio Viula, Marcio Retamero e Sílvia Mara:
Painel sobre Secularismo e Tolerância Religiosa
I Congresso Humanista Secular do Brasil


Seria impossível mencionar todas as oportunidades que eu tenho tido de fazer novos amigos pelo Brasil inteiro e até no exterior, então vou ater-me a duas delas: (1) Fui recebido como membro e depois um dos diretores da Liga Humanista Secular do Brasil e (2) fui convidado a participar de um evento LGBT muito especial em Amsterdam em 2012. Não apenas isso, mas também tive várias oportunidades para dar palestras e contribuir de várias maneiras com o movimento LGBT no Brasil. O espaço aqui, porém, não permitiria que eu me aprofundasse nos detalhes.

Desde que eu saí do armário, pude ver muitos outros líderes de movimentos ex-gay assumindo também, especialmente nos EUA (vide John Amid e Michael Bussee). Até mesmo a maior organização ex-gay do mundo, a Exodus International, fechou as portas. Estes são tempos estimulantes, sem dúvida, e sinto-me orgulho de ter sido o primeiro líder-fundador de ministério ex-gay a se pronunciar publicamente contra as práticas ex-gays e suas crenças.

Já em 2004, numa entrevista à revista Época, uma das maiores revistas brasileiras, deixei claro que as terapias ex-gays não funcionam e que causam sérios danos àqueles que se submetem a elas. A luta não acabou, porém, uma vez que este ano deputados fundamentalistas tentaram invalidar uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe que os psicólogos tratem homossexualidade como doença ou façam pronunciamentos em favor de terapias ex-gays e outras opiniões homofóbicas. A tentativa fundamentalista foi devolvida à gaveta, mas está longe de ser enterrada, uma vez que não foi votada em sessão plenária do Congresso e, portanto, poderá ser desarquivada em 2015 para ser submetida ao plenário. De qualquer modo, a comunidade LGBT brasileira estará pronta para se opor a esse ardil uma vez mais.



Minha primeira entrevista depois de sair do armário: revista Época, 2004


Continuação da entrevista, revista Época, 2004


Tudo o que eu posso dizer é que vale a pena sair do armário. Porém, a pessoa tem que estar preparada para enfrentar a chuva e o trovão que virão juntos, pois piora bastante antes de melhorar. Minhas recentes vitórias custaram muita coragem e força. Eu tive que mudar de casa, ficar restrito a ver meus filhos uma vez por semana, encarar a falta de compreensão dos meus pais por muito tempo, fazer muitas coisas sozinho, uma vez que tive que começar do zero. Deixar o ministério eclesiástico custou-me dois empregos como professor: um no seminário e outro numa escolar dirigida por gente da igreja. Contudo, consegui retornar ao mercado de trabalho secular e me restabelecer. No meio disso tudo, tive que alugar uma casa até conseguir ter a minha de novo, e colocar tudo dentro de casa novamente, desde os talheres do almoço até os eletrônicos. Estava fazendo outro curso universitário e tive que seguir em frente no meio desse tumulto todo, e por aí vai.

Só para registrar, nunca recebi um centavo sequer do meu trabalho com o MOSES. Como pastor, eu costumava receber uma ajuda de custo estabelecida pela própria igreja. Nas igrejas batistas, pastor não é dono de nada. A igreja decide tudo em assembleias ordinárias e é absolutamente autônoma. Isso, eclesiologicamente falando, é mais saudável do que ter um dono como acontece com outras igrejas por aí: Universal, Assembleia de Deus, etc.

Meu sustento sempre veio de outras fontes, fosse trabalhando como professor no seminário e/ou na escola. Também costumava traduzir material da língua inglesa para a portuguesa para complementar o orçamento familiar. Não levei nada da igreja. Tudo o que meus colegas pastores fizeram foi ouvir ‘meu caso’ e dizer que orariam por mim. Isso, porém, não me intimidou nem um pouco. Pelo contrário, fiquei ainda mais encorajado a seguir em frente e superar tudo o que eu tivesse que enfrentar para me emancipar de vez. Consegui, e eles não têm nada do que me acusar, exceto de ser gay. Deveriam se envergonhar de tal preconceito.

De vez em quando, encontro alguém que costumava me ouvir pregar. Eles geralmente dizem: Você não imagina como sinto saudades das suas pregações. Eu penso: Por sorte, não posso dizer o mesmo. De qualquer modo, por respeito e compreensão, eu simplesmente digo ‘obrigado’ e mudo de assunto.

Resumindo, vale a pena sair do armário! Porém, uma década não é suficiente. Espero ter vivido apenas metade da minha vida e quero viver cada dia que vier da maneira mais livre, produtiva e cheia de significado possível. E a melhor maneira é sendo assumida e orgulhosamente eu mesmo em conexão com aqueles que estão na mesma frequência, sejam LGBT ou heterossexuais.

Festejando meu 10º aniversário de saída do armário e desejando um mundo de igualdade, um abraço da cor do arco-íris;


Sergio Viula
sviula@hotmail.com






PROGRAMA LADO BI, NO QUAL FALEI SOBRE "TERAPIAS DE CURA" PARA HOMOSSEXUAIS:

Rádio Uol - Lado Bi 


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LEIA
Em Busca de Mim Mesmo


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2013: TEN YEARS OUT OF THE CLOSET

Em português aqui.


2013: TEN YEARS OUT OF THE CLOSET
By Sergio Viula


Sergio Viula

"Resentment against other people’s happiness is the biggest clue to one’s personal unhappiness. Every fundamentalist, by postponing their happiness to the afterlife, resents the happiness of others. That’s why they stir the flames of their own hell against those who, despite their best efforts to ruin everything, build their own happiness here and now, to the best of their abilities." — Sergio Viula


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As a child, I had no idea what my thirties would be like. Born into a Catholic family, I was taught to believe in God, attend church, and receive all the sacraments entitled to a good Catholic. No complaints so far.

Driving my old jeep in the backyard 


However, when it came to sexual education, the Church messed it up from the start. As a young child, I didn’t think much about it—it was easy enough to absorb, but when my teenage years approached, life began to get more complicated. Certain thoughts and feelings that I had easily pushed aside became irresistible as puberty took center stage.

Early Discoveries

Like most boys, I played with other boys. But for me, those were not just innocent games. There was a level of intimacy and affection that went beyond what most boys would have felt.

At 12, I had my first sexual experience with a 16-year-old friend. It was overwhelming, and we stayed together for two years. I ended it when I found out he had told another friend about our affair. I was terrified that my parents would find out, as by then, I was no longer unaware of the consequences of coming out in my family.

Taking the first communion

Between 14 and 16, I struggled with feelings of guilt and fear, all nurtured by the Church's teachings and my family’s prejudices. Bullying at school also played a role in pushing me back from fully accepting my sexual orientation.


Evangelical Years

At 16, I converted to evangelicalism. I threw myself into it with the fervor of a new convert. Soon, I was deeply involved in church activities, first in the Pentecostal movement and later in the Brazilian Baptist Convention churches.


Leadership seminar graduation night with Haggai Institute - Singapore, 2000.

At 20, I got married. Soon after, I became a missionary with Operation Mobilization, attended seminary, and became a pastor. During this time, I co-founded an ex-gay ministry called MOSES (Movement for Healthy Sexuality). For 18 years, I dedicated myself to the Church, seven of which were split between my pastoral duties and the ex-gay ministry.



Logo: Ex-gay ministry I co-founded in Rio, 1997



Coming Out

In 2003, everything changed. I came out as a gay man, first to my wife, then to my parents and relatives. Later, I came out to my children, one by one. My daughter was 12 when I told her, and two years later, it was my son’s turn, at the age of 11.

To my surprise, they handled it well. Since then, they’ve been incredible allies. My daughter is now 21, and my son is 18. They’ve grown into beautiful, loving adults. My ex-wife moved on and married another man.


A New Chapter

Coming out was a game-changer. My life began to improve in so many ways. I graduated in philosophy from the State University of Rio de Janeiro (UERJ) and wrote a book to share my story and debunk myths about ex-gay therapy. Over time, my parents went from intolerance to acceptance and respect, and today they embrace my new family structure.

 My son, my daughter and I at Outback Steak House, Rio de Janeiro (2013)

Now, I live next door to my parents, and my children—who no longer live with their mother—are a constant presence in my lives.


Becoming an Activist


Coming out also opened doors for activism. I have become deeply involved in the fight for LGBT rights, especially against homophobic rhetoric in religious circles. My story has been published on several Brazilian sites and republished internationally, and my blog, "Fora do Armário" (Out of the Closet), is about to reach 2 million visits.


Sergio Viula, Marcio Retamero and Sílvia Mara: Panel about Secularism and Religious Tolerance - I Secularist Humanist Congress of Brazil.


In 2004, I publicly denounced ex-gay therapies in an interview with Época, one of Brazil's leading magazines. Since then, I’ve watched many other ex-gay ministry leaders come out, and even Exodus International, the largest ex-gay organization, shut down.

My first interview after coming out: Época Magazine, 2004

Continuation of the interview, Época Magazine, 2004



Looking Ahead


Coming out wasn’t easy. It required me to start over in many aspects of my life—moving out, seeing my children only once a week, and facing a long period of misunderstanding from my parents. I lost jobs in religious institutions and had to rebuild my career in the secular job market.

But every challenge was worth it. Today, I celebrate not just a decade out of the closet but a life built on authenticity, courage, and love.

For anyone thinking of coming out: It’s worth it. The journey may be difficult at first, but the freedom and joy on the other side make it all worthwhile.

Celebrating my 10th anniversary out of the closet with a rainbow-colored hug,



Sergio Viula
sviula@hotmail.com

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