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Todos somos vulneráveis, até os mais experientes... (relato de Oswaldo Braga)



Boa noite
Oswaldo Braga - 12/11/2011

No último sábado, meus leitores habituais releram uma coluna que fora originalmente publicada em dezembro de 2010. Essa foi a solução encontrada pelos editores do Magazine GLS, uma vez que, até o fim da sexta-feira, minha coluna inédita do dia seguinte não havia chegado à redação. Sem respostas às tentativas de me alcançar, reprisaram um dos meus escritos, aliás, bem a propósito.

Os colegas não sabiam que, desde quinta-feira à noite, eu estava desacordado em meu apartamento em Brasília, sob efeito de soníferos, vítima de um manjado golpe conhecido como "Boa Noite, Cinderela". Fui socorrido por parentes no sábado e somente na segunda-feira pude fazer um balanço dos prejuízos causados pelo bandido.

Era uma quinta-feira rotineira e eu terminaria o meu dia mergulhado nas ondas da internet até o sono chegar. O contato chegou por volta das 18h, via mensagem no celular e me pareceu uma excelente ideia para quebrar a mesmice. Assim, aceitei o convite de um pretenso novo amigo para um chopp no fim da tarde.

Foram duas ou três cervejas até que tudo se apagasse. Até aí o assunto girou em torno de trabalho, carreira, viagens e só voltei a perceber o que acontecia ao meu redor no sábado. Não sei como cheguei em casa, não sei o que disse, os comandos que recebi ou as informações que forneci. Os prejuízos materiais poderiam ter sido maiores; as conseqüências para a minha vida, ainda mais.

No domingo à tarde, publiquei um resumo do ocorrido na internet e deu-se início a uma emocionante enxurrada de manifestações de
solidariedade e préstimos diante do incidente. Alguns, entretanto, foram críticos e consideraram que me expus demais ao denunciar minha própria fragilidade.

Ao resumir essa história e torná-la pública, quero convidá-los a refletir sobre nossas vulnerabilidades. A novidade que me atraiu não deveria significar risco. Conhecer novas amizades não é por natureza um ato perigoso, mas pode tornar-se. A vida continua tensa e não dá para baixar a guarda, relaxar ou desviar o olhar do seu copo.

Encontros entre homens homossexuais continuam clandestinos e, mesmo que não tenha sido esse o caso, pairava no ambiente um pressuposto de impunidade. O bandido tinha todo um enredo engendrado e, sob o efeito de drogas, minhas reações seguiam suas previsões.

Amplificadas pela culpa, as dores da alma deprimem e o arrependimento dilacera. Afortunado, continuo vivo. Poderia não.


Blog do Oswaldo Braga
https://oswaldobraga.blogspot.com/



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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO


O honesto e corajoso relato de Oswaldo Braga vem reforçar o fato de que somos todos vulneráveis, até os mais experientes e cautelosos. Não dá para viver sob a égide do medo, mas também não se pode banalizar os riscos.

Oswaldo Braga é um engajado militante pelos direitos LGBT, atuando no MGM (Movimento Gay de Minas) e fez questão de divulgar o ocorrido para que sirva de alerta.

Fica a dica.

Estatuto da Juventude - Oswaldo Braga (MGM) para o Jornal O Tempo

Oswaldo Braga - foto de 2013
(atualização em 13/11/2020)



Por Oswaldo Braga

Excluída a possibilidade explícita de uma ação educativa de combate à homofobia nas escolas, o acordo foi selado.

Estatuto

Por Oswaldo Braga (MGM) para o Jornal O Tempo
Nessa semana, a Deputada Manuela D´ávila (PCdoB-RS) liderou a aprovação do Estatuto da Juventude, não sem antes enfrentar o ti-ti-ti conservador da bancada evangélica da Câmara, que fez suas tradicionais objeções a tudo o que diz respeito à orientação sexual. Só para variar.

O Estatuto da Juventude regulamenta a garantia dos direitos dos cidadãos entre 15 e 29 anos. As proposições são simples e óbvias, mas reconhecem os jovens como cidadãos autônomos, com demandas e necessidades específicas. Família, comunidade, sociedade e Poder Público são obrigados a assegurar aos jovens a efetivação de seus direitos básicos.

Em sua versão original, o Estatuto procurava assegurar que os jovens não fossem discriminados por sua orientação sexual ou por mais de uma dezena de motivos tais como raça, etnia, opiniões, aptidões físicas ou recursos econômicos.

Entretanto, foi preciso negociar com os evangélicos e a caneta do Deputado Joao Campos (PSDB-GO), líder evangélico e arquiinimigo do movimento gay, agiu rapidamente para encontrar e retirar as referências ao respeito à livre orientação sexual no documento. Excluída a possibilidade explícita de uma ação educativa de combate à homofobia nas escolas, o acordo foi selado.

Pode parecer um pequeno detalhe, mas, mais uma vez, tira-se da legislação a clareza necessária e entrega-se à interpretaçao dos juristas o reconhecimento da homofobia como uma forma de discriminação. Os evangélicos, por exemplo, insistem em não reconhecer a homofobia como uma forma de discriminação.

Os avanços reforçam a heteronormatividade. Os conteúdos curriculares dos diversos níveis de ensino devem incluir, entre outros assuntos negligenciados, o consumo de álcool e drogas, o planejamento familiar e a saúde reprodutiva. O Estatuto reconhece que o direito à sexualidade deve contemplar o respeito à diversidade de valores, crenças e comportamentos, mas não às outras orientações sexuais.

O estatuto ainda vai ao Senado e pode encontrar obstáculos mais restritivos aos direitos dos gays. Porém, apesar de não ser ainda o tão almejado estatuto da população LGBT, avança na garantia dos direitos dos jovens gays no bojo da juventude como um todo.

Camisinha sempre!

Homicídios (ou como diria Mott, "Homocídios") por Oswaldo Braga do Movimento Gay de Minas (MGM)

Oswaldo Braga - MGM


Homicídios
Oswaldo Braga – 23/04/2011

Fonte: O Tempo


Em 2007, Campina Grande (PB) já havia ocupado as páginas dos jornais com notícias de homofobia. Naquele ano, religiosos fundamentalistas da cidade espalharam dez outdoors contra os direitos dos homossexuais e o projeto de lei que criminaliza a homofobia, o PLC 122. Os religiosos não queriam - e não querem - abrir mão do "direito" de condenarem a homossexualidade e incitarem a violência contra a população LGBT em seus templos.

Quase quatro anos depois, a cidade paraibana volta a chocar o Brasil, agora com as imagens exibidas pelo "Bom Dia, Brasil", na última segunda-feira: um travesti é assassinado na rua, com mais de 30 facadas. Como justificativa, os assassinos apontaram o não pagamento de uma dívida de prostituição. Foi também uma dívida, dessa vez, envolvendo o comércio de drogas, o motivo do recente assassinato do travesti Priscila, na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte.

O antropólogo Luiz Mott, um dos maiores estudiosos dos crimes homofóbicos no Brasil, não tem dúvidas em apontar o preconceito como o pano de fundo em todas essas tragédias. Segundo ele, os crimes contra gays, lésbicas e travestis, possuem sempre uma carga homofóbica, mesmo contra aqueles interessados em imputar à violência cotidiana, também o motivo dos crimes contra os LGBTs.

Segundo Mott, existem pelo menos três tipos de homofobia: a individual (psicológica) a cultural (oriunda da tradição machista) e a institucional (ligada aos governos). "Quando um rapaz aceita o convite de um gay para ir ao seu apartamento e parte para a violência, está sendo levado pela homofobia cultural, pois aprendeu que os gays são presas fáceis e que ninguém vai se importar com seus gritos de socorro", explica. Mott entende que os latrocínios contra essa população possuem um elemento essencial oriundo do preconceito, que aumenta sua vulnerabilidade. É essa homofobia cultural que cria dificuldades para se conseguir quem testemunhe para colaborar na solução dos crimes.

A homofobia individual se manifesta no ódio ou desprezo pelos gays. Mott explica que os requintes de crueldade presentes nos crimes contra os homossexuais, como degolas, dezenas de facadas ou tiros, são muitas vezes a negação do desejo homoerótico do assassino, que, nesse momento, "está matando seu desejo inconfessável".

A homofobia institucional se apresenta, por exemplo, na falta de políticas públicas voltadas para a emancipação da população LGBT, a morosidade em se apurar os crimes contra essa população e a dificuldade governamental em enfrentar o problema, como através de uma educação formal que promova o respeito às diferenças.

Assim, não é possível se separar a homofobia dos crimes que assistimos pela TV, sejam eles ligados a cobrança de dívidas de drogas ou prostituição.

Camisinha sempre!

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