Homossexual atirado de prédio em território dominado
por extremistas muçulmanos do Estado Islâmico
Por Sergio Viula
Essa semana, um amigo me marcou numa postagem que falava sobre extremistas islâmicos enforcando homossexuais em países dominados pelo fanatismo muçulmano. A foto seguia mesma linha da foto acima. Deixei uma carinha de tristeza lá, mas não teci comentários. Afinal, não é de hoje que se sabe o que muçulmanos homofóbicos são capazes de fazer quando estão empoderados de alguma maneira, seja pelo viés do terrorismo paralelo ou da violência estatal ("terrorismo legalizado") em países dominados por imãs e aiatolás, só para citar dois.
Logo depois de eu ter dado uma carinha triste para a postagem, um muçulmano que se apresenta como "mais liberal" escreveu comentários que ignoravam o drama dessas pessoas perseguidas, enquanto tentava salvaguardar suas próprias crenças.
Depois de tentar tampar o sol com uma peneira - sem sucesso, para quem tem uma capacidade mínima de interpretação de texto - ele se valeu de um termo de semântica duvidosa: islamofobia.
Não é de hoje que a estratégia de muitos muçulmanos é chamar de "islamofobia" qualquer sinal de questionamento a suas crenças ou qualquer denúncia feita contra as [cruéis] violações praticadas contra os direitos básicos dos indivíduos, desde que realizadas em nome de Alá e de seu profeta. Fizeram isso quando tentaram minimizar o ataque terrorista à sede do semanário Charlie Hebdo. E não foi apenas nesse caso.
O absurdo dessa tentativa de silenciamento
O que eles não percebem é que isso equivale a tentar desviar a atenção de um flagrante estupro, alegando que acusar o criminoso é um mero ato de misandria.
Aos que possam ignorar o significado de misandria, trata-se do deprezo ou ódio ao que é masculino por si só.
Não é difícil entender a analogia. Esconder a hediondez do ato do estuprador recorrendo à misandria como cortina de fumaça é um absurdo inaceitável. Por si só, ele já desqualifica o indivíduo que se vale dele.
Pois bem, quando alguém alega que uma justa e necessária denúncia de violação aos direitos humanos não passa de um ato de islamofobia, essa pessoa pode e deve ser imediatamente posta sob suspeição, tanto em relação à sua intencionalidade como em termos de sua estratégia de argumentação.
Apesar de ter pensado nessas coisas e ter comentado algumas delas com o amigo que me marcara na postagem, decidi não perder meu tempo com o tal muçulmano autodeclarado mais "equilibrado" ou "progressista", que preferiu acusar o Brasil e o México de matarem mais homossexuais do que qualquer país islâmico, em vez de condenar a homofobia estatal praticada com o apoio do aparato jurídico nesses países muçulmanos.
E não são poucos os países nos quais pessoas LGBT vivem em constante ameaça sob todos os pontos de vista. O cinturão islâmico vai do norte da África até o Oriente Médio, estendendo-se para o sul e para o norte da Ásia, uma vez que muitas ex-repúblicas soviéticas são majoritariamente muçulmanas e são governadas por extremistas como Razman Kadyrov, responsável pelo sobejamente conhecido "expurgo gay" denunciado pelos principais jornais do mundo.
Todos os países em verde são dominados pela religião islâmica e por governos islâmicos
Além de não se solidarizar incondicionalmente com os enforcados e atirados de prédios naquela postagem, o tal muçulmano "mais progressista" ignorou outros pontos quando tentou usar o mau exemplo das sociedades mexicana e brasileira para desviar a atenção do tema central da postagem.
E por que digo isso?
Porque se você for alvo de homofobia ou transofobia no Brasil ou no México, que são sociedades secularizadas e com vários direitos garantidos aos cidadãos LGBT por meio da lei ou da jurisprudência, você poderá recorrer à polícia e ao sistema jurídico contra os crimes motivados por esse tipo ódio - o que não acontece nos países islâmicos, onde os cidadãos LGBT, especialmente os homens gays, são presos imediatamente se forem a uma delegacia reportar qualquer violência sofrida por homofobia ou transfobia.
Isso ocorre em países islâmicos porque as leis vigentes ali determinam que tais pessoas, se identificadas, sejam presas e castigadas. Não é preciso ser muito inteligente para ver a diferença; basta não ser um completo hipócrita.
Com a intenção de alertar o meu amigo, comentei os seguintes pontos em mensagem privada:
"Não espere de muçlulmanos devotos ou de pessoas muito simpatizantes ao islamismo qualquer parceria contra o totalitaraismo islâmico. Eles vão deixar de lado o papo sobre o totalitarismo e vão focar no que eles gostam de chamar de islamofobia, que é o jeito mais fácil de calar quem disser que o Islã tem homofobia, sim."
E acrescentei: "Eu condeno esses livros e todas as escrituras de tradição que eles têm como sendo fábulas perigosas sobre as quais se pode construir muito facismo."
Faço um adendo: Estou me referindo ao islamismo aqui por ser este o tema da discussão, mas isso vale para o cristianimso e o judaísmo também. Aliás, todo e qualquer progressismo ou liberalismo nos três monoteísmos aí citados deve-se ao secularismo e ao humanismo secular, não aos profetas e/ou messias que tenham dado origem ou sido o tema dos escritos sagrados dessas religiões.
Dez países muçulmanos condenam pessoas homossexuais à pena de morte. São eles:
1. Iêmen
2. Irã
3. Iraque
4. Arábia Saudita
5. Mauritânia
6. Qatar
7. Nigéria
8. Somália
9. Sudão
10. Emirados Árabes
Em todos esses países, a condenação à morte está nas próprias leis que regem cada uma dessas nações. Não se trata de terrorismo do Estado Islâmico como organização usurpadora de poder político. Trata-se de governos reconhecidos mundialmente. Aliás, sobre o Estado Islâmico, vale lembrar que eles executam gays sob os aplausos dos "piedosos" seguidores de Alá e de seu profeta em muitos dos locais onde conseguem entrar (vide BBC).
E as comunidades inclusivas?
Que bom que já existem uns pouquíssimo ambientes onde gays não serão decapitados, mas acolhidos sem a imposição de "modificarem" sua sexualidade. Porém, é preciso dizer que as comunidades religiosas consideradas mais progressistas que suas equivalentes mais tradicionais não estão isentas de uma série de discursos e comportamentos alienados em diversos pontos.
Elas podem promover mais inclusão? Sim. Todavia, isso não as libera do compromisso de denunciarem abertamente os crimes praticados tanto pelo profeta a quem honram como por seus sucessores.
Na verdade, muitas vezes, essas comunidades ditas inclusivas servem mais ao propósito de tornar as aberrações doutrinárias e históricas do islamismo mais palatáveis ao mundo secularizado do que ao propósito de expurgar os fundamentos desse ódio todo e de abolir outros comportamentos castradores das liberdades individuais, beneficiando os próprios muçulmanos com uma reforma radicalmente libertária.
A vida nunca será melhor se for construída sobre a fantasia
A fantasia pode servir aos propósitos do lúdico, do divertimento, mas se alguém leva a fantasia a sério, como se ela retratasse a realidade, essa pessoa vai labutar no erro. E isso vai trazer problemas sérios mais cedo ou mais tarde.
As pessoas que colocam a fé acima de tudo, especialmente quando ela abrange todos os aspectos da vida, como é o caso da fé islâmica, judaica e cristã, sejam elas "progressistas" ou não, dificilmente priorizarão o conhecimento verdadeiro sobre a crença, quando o conhecimento disputar com o que elas consideram como fundamental para a preservação de sua própria fé. E isso é muito perigoso.
Outra coisa que muitos muçulmanos interessados em transformar a história do islamismo em algo mais palatável costumam fazer é alegar leniência por parte de Maomé para com alguns homossexuais que ele teria encontrado pelo caminho, ignorando os incontáveis homens gays que foram mortos exatamente por causa dele e de seus parentes e amigos mais próximos.
Havia homens que amavam outros homens no tempo de Maomé?
Mas é claro que sempre existiram gays nos territórios dominados pelos homens de Maomé. Disso, não resta dúvida. Recomendo a leitura do artigo "A história gay secreta do Islã". Isso, porém, não significa que o Islã seja inclusivo por si só. Pelo contrário, se o profeta preferido dos muçulmanos tivesse enfatizado que os homens poderiam amar homens ou mulheres e que as mulheres também poderiam amar mulheres ou homens com os mesmo direitos garantidos, não haveria espaço algum para a homofobia demonstrada por muçulmanos, individualmente, ou nacionalmente. É justamente porque aconteceu o contrário que tais coisas são viáveis nesses círculos valendo-se dos textos que eles consideram sagrados.
A história gay secreta do Islã:
Além disso, faço questão de ressaltar que apenas transar aqui e ali com alguém do mesmo sexo não chega nem perto do ideal de direitos iguais a que aspiramos atualmente. Homens que conseguem encontrar outros homens para sexo ou até mesmo romance existem e resistem até nas piores sociedades do mundo em termos de violações aos Direitos Humanos. Isso, porém, pode custar-lhes a vida. O que queremos vai muito além disso. Queremos a plena igualdade de direitos com todas as liberdades civis garantidas.
Marcado outra vez numa dessas publicações
Hoje, fui marcado novamente numa dessas publicações, mas não pelo amigo que me marcara antes. Agora, trata-se de um homem gay e muçulmano muito engajado na defesa das crenças islâmicas. Transcrevo aqui a minha resposta, apenas poupando o nome de quem me marcou.
O texto no qual ele me marcou foi escrito por alguém que procurava defender o "histórico de leniência"do fundador do Islã - o ilustre profeta Maomé.
Minha resposta foi a seguinte:
Eu conheço a história de muitas culturas que eram amplamente tolerantes aos homossexuais antes de serem influenciadas pelo islamismo, especialmente no norte da África. Porém, ressalto que qualquer liberdade sexual ali jamais se deveu ao islamismo em si.
[Adendo: Ser tolerante não significa ser justo e igualitário. A ideia de tolerância pressupõe a ideia de que algo não é bom o suficiente para ser totalmente incluído, mas também não é ruim o suficiente para ser definitivamente extirpado. Tolerância não é suficiente.]
Na realidade, os homossexuais desfrutavam de muita liberdade para aquela época en várias dessas culturas antes das invasões maometanas, só passando a serem perseguidos por ordem dos líderes muçulmanos e de seus títeres.
Esse texto [no qual ele me marcara] sub-repticiamente tolera homofobia por parte do texto sagrado dos muçulmanos e de seu profeta em muitos sentidos. Alguns muçulmanos poderiam até achar que, nós gays, deveríamos ser gratos a Maomé lendo esse texto. Porém, a própria ideia de que Maomé decidia quem viveria e quem morreria já é um absurdo totalmente ridículo. E o que mais me espanta é o fato de muitos muçulmanos ficarem recorrendo a essas ideias de "leniência" por parte desses assassinos "sacralizados", em vez de combaterem frontalmente governos genocidas apoiados por líderes muçulmanos, mesquitas e pessoas comuns com ideias perigosamente incendiárias com relação aos seus concidadãos LGBT.
Fico especialmente irritado quando muçulmanos gays defendem, de alguma maneira, esses bandidos homofóbicos como se tais criminosos possuíssem alguma luz que os dignificasse.
Quando gays fazem isso em defesa de seus algozes, vejo um caso nítido da "síndrome de Estocolmo" - aquela que é caracterizada por uma relação de solidariedade entre o sequestrado e seus sequestradores.
Nenhum homossexual, em qualquer lugar do mundo, teria o menor direito se o planeta fosse dominado pelo Islã. O texto escrito pelo tal muçulmano "progressista" presta um desserviço à história. Se, por um lado, devemos resgatar as histórias de amor entre homens e entre mulheres LGBT, por outro, precisamos preservar o REGISTRO HISTÓRICO DA PERSEGUIÇÃO ÀS LIBERDADES E DIREITOS SEXUAIS DAS PESSOAS LGBT por Maomé e seus sucessores.
Além disso, se eu não tenho o menor apreço pelo cristianismo e suas lideranças [apesar de serem muito mais secularizados hoje do que o bloco islâmico], o que faz alguém pensar que eu vou ter o mínimo de tolerância com culturas e sistemas religiosos, políticos ou econômicos, baseados nessa visão ridiculamente primitiva do suposto profeta árabe e de seus seguidores?
A própria ideia de submissão que já está na raiz da palavra Islã é uma contradição a tudo que eu defendo como liberdade e autonomia individuais.
É justo reconhecer o direito de um muçulmano viver "livremente" a sua homossexualidade, apesar da sua religião, ou tentando harmonizar as duas. E, diga-se de passagem, é o que eu faço quando eu vejo um cristão realizando a mesma compatibilização em relação a suas crenças e sua sexualidade. Isso, porém, não significa que eu tenha o menor apreço pelo islamismo ou pelo cristianismo. Também não acho que este gay será tão pleno quanto ele seria se abandonasse tanto uma como outra religião.
Aliás, essa harmonização que permite que se tenha até mesmo vida pública assumida por um indivíduo gay e muçulmano ao mesmo tempo só é possível em países secularizados, ou seja aqueles cujos sistemas jurídico-político-econômicos encontram-se livres das garras do islamismo como tal.
Espero que eu tenha conseguido me fazer entender claramente nesse assunto, porque não vou entrar nesse joguinho de quem mata mais ou qual das duas religiões é a pior. Para mim, nenhuma das duas presta. Contudo, quem domina blocos inteiros no mundo, quase uniformemente e com tanta letalidade, é o islamismo. E isso não pode continuar a ser tolerado em nome de algum tipo de fábula antiga a respeito de Maomé ou de Alá.
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O meu comentário foi até aí. Postei hoje (03/04/21) por volta das 9:30 da manhã. Porém, ao procurar a postagem agora, às 17:22, não a encontrei mais.
Provavelmente, o muçulmano muito 'resolvido' que escreveu o post ao qual me referi no comentário acima, ou o outro que me marcou, optou pelo meu silenciamento. Na realidade, eles não resistem a uma discussão que não parta do princípio de que o Islã seja uma revelação divina e não uma construção humana que já custou e continua custando muito sangue humano.
De qualquer modo, eu já tinha copiado o texto do meu comentário para fazer essa postagem, só por via das dúvidas. E, para deixar claro de uma vez, repito que nenhuma divindade, texto, tradição ou ritual JAMAIS se colocará acima dos direitos individuais fundamentais de cada ser humano na minha estrutura de pensamento ou modus operandi.
O direito à crença ou à não-crença deve ser preservado, mas NENHUMA violência pode ser aceita com base no direito à liberdade de consciência. A vida e as liberdades que permitem sua preservação e autorrealização sempre virão em primeiro lugar.
Texto maravilhoso muito bem elaborado, religião não deveria ser usada para punir pessoas e sim para ajudar o próximo, mundo bizarro!
ResponderExcluirObrigado, Meire. É verdade, o mundo seria melhor, sem dúvida alguma, sem religião - menos um problema.
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