Dia Internacional da Mulher: (re)criação de gêneros
Da página Diário de um Analisando
(RE)CRIAÇÃO DE GÊNEROS

(Claudio Pfeil)
Quando eu era menino, uma mulher parecida com homem ou o contrário: tá na cara, é travesti! Hoje, uma mulher parecida com homem ou o contrário: nem sempre tá na cara, mas é mulher!
Dia internacional da mulher? Nada contra, mas com todo respeito, não vejo sentido nenhum. Com um agravante: corre-se o risco de fortalecer categorizações de gênero como se se tratassem de um dado bruto, à maneira da modinha para Gabriela, de Caymmi - "eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim".
Dia internacional do homem? Mesma coisa.
Deste ou daquele transgênero? Mesma coisa.
Quando é que a gente vai se dar conta, de uma vez por todas, que cada um de nós, no que tange ao gênero, não é cria da natureza, mas uma criação absolutamente singular de si a partir de nossa própria (des)natureza?
Freud, no alvorecer do século XX, torna clara a disjunção entre sexo e sexualidade. Beauvoir, mais tarde, na frente fenomenológica contra o determinismo, levanta a bandeira de uma feminilidade livre: não se nasce mulher, torna-se. Lacan, de forma radical, nos livra todos, homens e mulheres, das amarras biologizantes: o que determina não é o sexo, mas a posição subjetiva. Não se nasce nada, ocupa-se um lugar.
Homem/mulher/travesti/transexual/ e o que mais vier: estando ou não na cara, há algo a ser pensado na atual (re)criação de gêneros. O que nada tem a ver - absolutamente nada - com a diferenciação natural macho/fêmea inscrita nos cadastros das maternidades.
(Foto: Claudio Pfeil, escultura Gustav Vigeland)
— em Frognerparken.
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Diário De Analisando Paris
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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO
Muito bom esse texto do Claudio Pfeil. Inclusive, ontem eu comentava com amigas no trabalho que era legal ver que a Rede Globo havia criado uma programação para hoje, Dia Internacional da Mulher, que seria apresentada apenas por mulheres. Elas riram e disseram: o dia é da mulher, mas são os homens que tiram folga. Elas vão trabalhar, enquanto eles vão curtir o domingão.
Confesso que fiquei meio surpreso com isso, porque eu pensava: uma programação assim poderia dar visibilidade ao profissionalismo dessas mulheres e servir de modelo para outras. Contudo, elas não deixam de ter certa razão. Afinal, a independência financeira e a igualdade de direitos (sempre acompanhada de novos deveres, especialmente no caso das mulheres) têm seu custo. Mas, não se pode negar que o custo desses benefícios é incomparavelmente melhor do que o custo dos malefícios que culturas patriarcais e machistas e sem a menor abertura para as demandas de gênero impõem sobre os diversos tipos de mulheres que por lá sobrevivem. Aliás, a nossa também é patriarcal e machista, mas as mulheres conseguiram criar espaços de discussão, avançar na conquista de direitos, etc. Continuem, porque ainda está longe de ser o ideal.
Então, mulheres de todos os tipos e das mais variadas anatomias, ocupem seus espaços e criem-se nos mais diversos modos de ser, de amar e de viver, para seguir essa bela linha de pensamento exposta pelo Pfeil no artigo acima.
Só você pode dizer como ser você mesma em seu melhor estilo. ;)
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