Obra magna
Claudio Pfeil
Feliz é o homem
capaz de se encantar
e fazer o encanto durar
o tempo que for possível
Para além do sonho
e da fantasia
no cair da noite
no alvorecer do dia
Em horas de paz
e também de agonia
no corpo presente
na ausência vazia
No seco, no duro
no quente, molhado
no espinho, no verde
no cinza, algodão
Na voz que se cala
no toque macio
na boca que beija
na palavra não
No vento que sopra
na falta de ar
no silêncio da pedra
no querer amar
Na saudade que bate
na onda revolta
no gozo sem nome
no sim da paixão
Na insistência do mesmo
no rebento do novo
na rotina caseira
na incerteza do chão
No lençol esticado
no gato dormindo
no café da manhã
no ouvir eu te amo
Sorte grande
tem este homem
que passa o tempo
sem perder seu tempo
pois que do tempo
que o verá morrer
encanta-se a recriar o tempo
a fazer do instante
mais do que um instante
nem coisa, nem nada
encantamento puro
duração do encanto
adoração da vida
Feliz é o homem
Grande é a sorte
Eis que em verdade
Sorte não é
Arte! pois
é o que faz este homem
que o tempo dissolve
e que da dissolução faz
o sentido de si
sua obra magna
Paris 22 de abril 2011
Comentários
Postar um comentário
Deixe suas impressões sobre este post aqui. Fique à vontade para dizer o que pensar. Todos os comentários serão lidos, respondidos e publicados, exceto quando estimularem preconceito ou fizerem pouco caso do sofrimento humano.