
A Parada Gay e outras formas de protesto são iniciativas válidas para dar visibilidade às causas homossexuais (são tantas quantas sejam as orientações sexuais e identidades de gênero). Paradas são ações do tipo "macro". Entretanto, pouca coisa valem sem as ações em "micro". E por ações em micro, refiro-me às ações e atitudes que tomamos todos os dias em todos os lugares que frequentamos: lar, trabalho, escola, universidade, locais de entretenimento, mundo virtual, etc.
Gays que vão às paradas gays sem sequer compreenderem tudo o que está politicamente envolvido numa manifestação dessas acabam colaborando pouco ou nada com as causas gays.
É preciso VIVER de tal forma que nossa sexualidade, identidade, erótica sejam naturalmente percebidas, sem medo de SER. Gritar exigindo respeito e desprezar-se como homossexual no dia a dia é um grito para si mesmo, ignorado pela surdez própria. É o sujeito sendo objeto de seu próprio discurso, mas sem ouvir-se a si mesmo. Como esperar que os outros nos ouçam? Mais ainda: como esperar que os outros compreendam o que dizemos, quem somos e o que queremos?
Vou às Paradas Gays e outras manifestações. Mas não paro por aí. Coloco a boca no trombone na Parada, aqui no blog, nas entrevistas que me fazem pelo caminho, etc. Todavia, muito mais do que tudo isso, procuro ser autêntico no meu dia a dia, seja para com meus pais, filhos, vizinhos, chefe, colegas de trabalho, etc.
Minha maior militância é procurar viver o mais autenticamente possível. É não ter um pingo de constrangimento em SER eu mesmo, HOMEM, GAY, FILHO, PAI, "MARIDO-ESPOSA" (porra de linguagem viciada em categorias heterossexuais), PROFISSIONAL, CIDADÃO, AMANTE DE TUDO O QUE É BELO, GOSTOSO, SAUDÁVEL. E em cada uma dessas coisas eu sou tão GAY quanto sempre fui, porque não dá para não ser EU quando sou EU que estou no mundo. SOU EU, deliciosamente GAY.
Quem tem medo de SER, não está fazendo nada de concreto para mudar esse sistema viciado em heterossexismo. SEJA... 24h/dia!!!
Ótimo domingo!
Sergio Viula
"MARIDO-ESPOSA" (porra de linguagem viciada em categorias heterossexuais)
ResponderExcluirTente usar a palavra companheiro,realmente essas categorias heterossexuais foram impostas a vida todo para nos e usamos sem perceber.
Marcus Tavares
Oi, Marcus. Acredita que eu só vi o comentário hoje. Vc escreveu em 2009 e eu estou respondendo em 2016. kkkkk Isso é um recorde olímpico de resposta mais demorada do mundo.
ExcluirDe fato, coloquei esses parênteses para chamar atenção para a heteronormatividade operante na linguagem e na forma como descrevemos o mundo e nossas experiências nele.
A palavra companheiro é linda. O que seria de um relacionamento sem companheirismo. O problema é que posso chamar de companheiro muitas gente que não é meu cônjuge. Opa! Talvez, cônjuge por sua neutralidade genérica seja até melhor. O chato é que ela traz um certo peso jurídico. Parece coisa de contrato em cartório. Bem, o que a gente pode fazer é subverter tudo isso, aplicando os termos que a heteronormatividade tentou legitimar numa lógica binária de gênero para uma lógica questionadora desse binarismo.
Ultimamente, tenho me divertido apresentando meu 'companheiro' como meu 'marido'. Isso tem um sabor ainda mais revolucionário quando é um barbudo como eu falando. A sociedade heterormativa pira na batatinha. kkkkk
Beijos, meu amigo lindo!
Sergio Viula