Os homens que criaram Matrix tornaram-se as mulheres criadoras de Sense 8: As Irmãs Wachowski

Lilly e Lana Wachowski



Traduzido e adaptado por Sergio Viula
Texto original: People Movies
http://people.com/movies/lilly-lana-wachowski-how-transgender-siblings-supported-each-other/


Lilly Wachowski, 48, assumiu-se transgênero em 08 de março deste ano, dizendo que se sentia sortuda por "ter o apoio da minha família". Lana, a irmã de Lilly, que dirige filmes com ela, tais como a trilogia The Matrix, e séries como Sense 8, apresentada pela Neflix, também é uma mulher trans.

As duas sempre estiveram juntas em sua jornada para o sucesso em Hollywood e sempre se apoiaram mutuamente.

Como crianças, Lana e Lilly cresceram com suas duas irmãs em Chicago. Desde de cedo, a dupla desenvolveu uma afinidade por filmes, passando horas com seus pais no cinema.

Lana disse ao The New Yorker que foi na terceira série que ela se tornou consciente de seu gênero.

“Eu tenho uma memória de infância de que eu andava pela fila das garotas e, hesitando, eu sabia que minhas roupas não combinavam", disse Lana a respeito da escola católica que frequentava. "Mas, à medida que eu continuava, eu sentia que não pertencia à outra fila também, então eu apenas parava entre as duas. Eu ficava ali por um longo momento com todo mundo olhando para mim, incluindo a freira. Ela me dizia para entrar na fila. Eu estava paralisada - eu não podia me mexer. Eu acho que alguma parte inconsciente de mim compreendia que eu estava exatamente onde era meu lugar: no meio."

Depois da faculdade, Lana e Lilly começaram a construir um negócio enquanto ainda alimentavam seu amor pela escrita roteirista, como disseram elas ao The New Yorker. Depois de seus sucessos, primeiro com Assassins, e depois com Bound, a construção foi deixada para trás  – e Lana estava se sentindo cada vez menos como "Larry".

Foi no 'set' da segunda e da terceira parte da trilogia de The Matrix que a então recentemente separada Lana disse à família dela que era transgênero.

“Por anos, eu simplesmente não podia dizer as palavras "transgênero" ou "transexual", disse Lana ao The New Yorker. "Quando eu comecei a admitir isso para mim mesma, eu sabia que eventualmente teria que contar aos meus pais, ao meu irmão e às minhas irmãs. Esse fato injetava tal terror em mim que eu não dormia por dias. Eu desenvolvi um plano que funcionou com meu terapeuta. Levaria três anos. Talvez cinco. Uma semana seguindo o plano, minha mãe ligou."

“Meu maior medo era perder minha família. Uma vez que eles me aceitaram, tudo o mais foi moleza." - disse ela.

“Minha realidade é que eu tenho transicionado e continuarei transicionando por toda a minha vida, através do infinito que existe entre masculino e feminino como acontece no infinito entre o binarismo de zero e um" - disse ela. "Precisamos elevar o diálogo para além da simplicidade do binário. O binarismo é um falso ídolo."

Além do apoio de Lana, Lilly disse que ela se sente grata por ter "os meios para acessar médicos e terapeutas" que a ajudaram a "sobreviver ao processo".

Obviamente, o que Lilly deixa subentendido nessa fala é que há outras pessoas trans como ela que que não têm os recursos necessários para fazer o que sentem ser preciso. E isso nos depara com o desafio de criar meios para que esses recursos e processos se tornem acessíveis a todes, todas e todos que necessitem deles.

Mas por que vim falar das irmãs Wachowski agora?

A publicação desse post foi motivada pela dica de um aluno meu em sala de aula, enquanto discutíamos sobre filmes de cinema e aprendíamos a usar a voz passiva no passado. A produção cinematográfica era apenas o contexto/pretexto para a apresentação e prática daquela estrutura gramatical na língua inglesa, já ia esquecendo de dizer. Mas, como a língua é viva e os enunciados nos atravessam de maneiras inusitadas, as irmãs Wachowski foram chamadas a falar por um dos meus alunos mais brilhantes e comunicativos.

Eu mesmo não tinha lido nada sobre o assunto antes disso. Minha reação foi de extasiamento. Meus alunos perceberam. Foram contagiados com minha reação de surpresa misturada com admiração. A frase na minha testa era legível: Menos duas encaixotadas na heteronormatividade que dita gêneros e comportamentos. E isso no mesmo dia que via aquele povo ridículo do FOFOCANDO do SBT debochar do Tammy ao longo de uma fofoca que anunciava que ele teria se separado de sua mulher e emitido uma nota pública, que foi carinhosa e respeitosa, diga-se de passagem. O Tammy é um cavalheiro. Mas, aquela MALA Maravilha, não. Ela é podre! E todos os participantes daquela mesa dos infernos seguiram a piadinha transfóbica do Leão Lobo que não vou reproduzir aqui por respeito ao Tammy. Idiotas não deviam ter voz em meios de comunicação que são concessões públicas, muito menos eco da parte de quem percebe a estupidez deles com clareza.

Resumo da ópera: Decidi voltar à vaca fria na esperança de que aqueles que, como eu naquela aula, ainda não sabiam desse aspecto fantástico da vida dos antigos Irmãos Wachowski, agora mais do que nunca Irmãs Wachowski, aprendam mais sobre o tema da transgeneridade na experiência dessas duas mulheres fantásticas.

Seja VOCÊ. 


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