🌈 A História LGBTQ+ da Hungria – Da Antiguidade à Parada de 2025

🌈 A História LGBTQ+ da Hungria – Da Antiguidade à Parada de 2025


Mesmo sob repressões milenares, as vozes LGBTQ+ da Hungria emergem do passado e se insurgem no presente, enfrentando um dos governos mais conservadores da Europa.

A Hungria é uma nação com raízes milenares, marcada por transições dramáticas: da espiritualidade pagã à cristianização, da dominação imperial à repressão do “comunismo”, até chegar ao atual regime ultraconservador. Por trás de reis, guerras e ideologias, há uma história silenciada: a da comunidade LGBTQ+ húngara. Uma trajetória de resistência, invisibilização e, mais recentemente, confronto direto com o Estado.

📜 Linha do Tempo da História LGBTQ+ na Hungria

🏺 Antiguidade e Espiritualidade Tribal

Antes do ano 1000, povos como celtas, romanos e magiares habitaram a região da atual Hungria. Entre esses, destacavam-se os táltos — xamãs espirituais que, em algumas tradições, exibiam traços de gênero ambíguos. Tal ambiguidade sugere a existência de papéis culturais além da normatividade de gênero, semelhantes aos berdaches indígenas ou šaman siberianos. Embora as fontes sejam esparsas, elas apontam para raízes queer no imaginário ancestral húngaro.

⛪ Cristianização e Repressão (Séculos XI a XVI)

Com a coroação de Santo Estêvão em 1000 d.C., a Hungria se torna oficialmente cristã. Práticas não heterossexuais passam a ser classificadas como pecado e crime, sobretudo sob a acusação de "sodomia", considerada uma grave ofensa religiosa e civil. Registros históricos sobre a homossexualidade foram censurados ou destruídos, mas há indícios de perseguições esparsas.

🎨 Séculos XVIII e XIX: Cultura e Ambiguidade

Apesar do moralismo dominante, figuras marcantes emergem:

  • Károly Kertbeny (1824–1882): Ativista austro-húngaro que criou o termo “homossexual” em 1869 em defesa da descriminalização da sodomia na Prússia. Seu legado transcende fronteiras e é fundamental para os estudos modernos da sexualidade.

  • Sándor Márai (1900–1989): Intelectual e romancista. Embora casado, é hoje relido por muitos sob uma lente queer, pela forma sensível com que retrata relações entre homens e temas como identidade e isolamento.

🏳️‍🌈 Século XX: Vigilância e Resistência

Durante o regime “comunista” (1949–1989), a homossexualidade foi classificada como “comportamento desviante”, mesmo após sua descriminalização em 1961. A repressão oficial levou a comunidade LGBTQ+ a se esconder em bares subterrâneos, círculos artísticos e redes informais.

🗽 1989 em diante: Liberdade e Retração Conservadora

O fim do “comunismo” e a democratização abriram espaço para maior visibilidade LGBTQ+. As primeiras Paradas do Orgulho foram organizadas nos anos 1990. Em 2009, casais do mesmo sexo conquistaram a união civil. Contudo, a partir de 2010, com a ascensão de Viktor Orbán, teve início uma forte agenda anti-LGBTQ+:

  • 2020: A constituição é alterada para definir família como exclusivamente entre homem e mulher.


⚠️ 2025 – A Crise do Orgulho Proibido

Em março de 2025, o parlamento húngaro aprovou uma lei que proíbe eventos que "promovam ou exibam a homossexualidade ou mudança de sexo de nascimento", alegando proteção de menores.

Como consequência imediata, a tradicional Budapest Pride, marcada para 28 de junho, foi proibida.

  • A polícia recebeu autorização para usar reconhecimento facial.

  • Organizadores e participantes estão sujeitos a multas severas.

  • A decisão ocorre no ano em que o evento completaria 30 anos de história — um marco para o movimento LGBTQ+ húngaro.

💪 Reação Europeia e Pressão Internacional

A repressão à Parada gerou uma crise diplomática sem precedentes:

  • A Comissão Europeia iniciou um processo legal contra a Hungria por violação dos valores fundamentais da União.

  • Vinte países-membros assinaram uma carta conjunta pedindo sanções ao governo de Orbán.

  • Eurodeputados de várias nacionalidades manifestaram solidariedade e cogitam participar da marcha, mesmo com a proibição.

  • Organizações como a Anistia Internacional recorreram ao Judiciário húngaro e ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

A medida do governo gerou protestos em diversas capitais europeias, além de uma mobilização nas redes sociais com a hashtag #BudapestIsNotAlone.

✊ Resistência Popular

Em resposta, os organizadores da Pride declararam que os preparativos continuam — mesmo que a manifestação precise ocorrer de forma simbólica, descentralizada ou em clara resistência civil. A comunidade LGBTQ+ se articula com ONGs, ativistas e artistas para manter viva a memória e o protesto.


🖼️ Recuperando a História Queer

Apesar da repressão, cresce o esforço para reconstruir uma memória LGBTQ+ nacional:

  • Universidades, coletivos e museus celebram figuras como Kertbeny.

  • A mitologia do táltos volta a ser reinterpretada sob um olhar queer.

  • Produções artísticas contemporâneas têm incorporado símbolos da resistência histórica.


🏁 Resiliência corajosa

A história LGBTQ+ da Hungria é feita de apagamentos e insurgências — dos táltos pré-cristãos ao ativismo atual. A proibição da Pride 2025 é um retrocesso grave, mas também catalisou uma onda de solidariedade inédita. Mesmo diante da censura e da vigilância, o movimento não recua. Como disse um ativista local: “Se não pudermos marchar nas ruas, marcharemos nas palavras, nos gestos, na arte, na memória.”

Enquanto houver uma bandeira erguida, uma voz que grite, um beijo ousado em meio ao ódio — todos saberão que resistimos. 


📌 Fontes e Leitura Recomendada:

  • Euronews, CNN Brasil, Público.pt, Reuters, HuffPost ES, Agência Brasil

  • Obras de Károly Kertbeny e Sándor Márai

  • Arquivos da Budapest Pride

  • Estudo “Hungarian Queer Histories” – Central European University








Comentários