Andrya Kiga, indígena e mulher trans, interpreta Tibira do Maranhão no cinema

Andrya Kiga dá vida a Tibira do Maranhão no cinema: memória indígena e resistência LGBTQIAPN+



A história de Tibira do Maranhão – considerado o primeiro mártir da LGBTfobia no Brasil – vai ganhar vida na tela do cinema pelas mãos (e pelo talento) da atriz indígena Andrya Kiga, do povo Boe Bororo. Mulher trans e artista comprometida com a luta pelos direitos indígenas e LGBTQIAPN+, Andrya foi escolhida para interpretar essa figura histórica no curta “Hendy’a Rapykwere”, produzido por uma equipe majoritariamente indígena e filmado no interior do Mato Grosso do Sul.

Quem foi Tibira?


Tibira era um indígena tupinambá do Maranhão que, em 1614, foi acusado de “sodomia” e executado de forma brutal pelos colonizadores franceses. Relatos históricos contam que ele foi amarrado à boca de um canhão e morto para “purificar” a terra. O nome “Tibira” – termo em tupi que se referia a homens homossexuais – foi resgatado pelo antropólogo Luiz Mott, e desde então sua memória tem sido reivindicada como símbolo de resistência e ancestralidade LGBTQIAPN+.

A força de Andrya Kiga


Vinda da aldeia Meruri (MT), Andrya Kiga não é apenas atriz: ela é ativista, fundadora do Coletivo Tybyra, que reúne indígenas LGBTQIAPN+ para fortalecer identidades, espiritualidade e direitos dentro e fora das aldeias. Assumir o papel de Tibira, para ela, é mais que uma atuação – é um gesto de reconexão com uma memória apagada pela violência colonial.

“Hendy’a Rapykwere” – cinema indígena e diverso


O curta é descrito como uma mistura de documentário, ficção e realismo fantástico, narrando a espiritualidade e a luta de jovens indígenas LGBTQIAPN+. Filmado em aldeias no Mato Grosso do Sul, o projeto conta com direção de Marcus Teles, produção de Michele Kaiowá e participação de artistas indígenas como Gualoy KG. É uma obra que mistura arte, denúncia e ancestralidade, convidando o público a refletir sobre o passado e o presente das violências contra corpos dissidentes.

Por que importa?


Dar visibilidade à história de Tibira significa reconhecer que a LGBTfobia não começou ontem e que, desde os primeiros contatos coloniais, pessoas que fugiam à norma de gênero e sexualidade sofreram perseguição. Mas significa também afirmar que essas existências resistiram – e continuam resistindo. A interpretação de Andrya Kiga projeta no cinema a voz de milhares de pessoas indígenas e LGBTQIAPN+ que exigem espaço, respeito e memória.


Mais do que um filme, “Hendy’a Rapykwere” é um ato político, espiritual e artístico que conecta o Brasil de hoje às raízes profundas da luta por dignidade.

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