HIV: uma perspectiva londrina


Li há dias que um rapaz inglês, soropositivo, ou seja, portador do vírus HIV, considerava o governo britânico omisso no que diz respeito ao combate à AIDS. Provavelmente, ele esteja certo. Sou apenas um forasteiro na capital inglesa. Além disso, campanhas anti-AIDS nem sempre são claras e raramente têm a visibilidade que deveriam. É muito mais fácil lembrar o slogan da Coca-Cola do que o slogan da última campanha do governo sobre HIV/AIDS, seja ele o britânico ou o brasileiro.

Apesar disso, fiquei muito bem impressionado com a facilidade com que se pode fazer um teste de HIV em Londres. Os locais de testagem são anunciados em diversos passeios públicos, e o resultado pode ser obtido em 20 minutos. Obviamente, Londres é uma cidade à frente da maioria (talvez de todas as outras na Inglaterra). Seria ótimo se, em todo o país, o acesso fosse igualmente facilitado e amplamente anunciado.

O teste, porém, não previne. O teste só revela a situação atual do indivíduo testado. A prevenção é como o “pão nosso de cada dia” — tem que ser um hábito. A camisinha tem que fazer parte do dia a dia de todas as pessoas, sejam gays, heterossexuais ou bissexuais, soropositivas ou não.

Acho que o Brasil precisa avançar bastante nesse aspecto, apesar de estar entre as nações que mais apoiam as pessoas soropositivas (portadoras do HIV).

Em termos de população gay, acredito que as publicações LGBT pudessem fazer mais. Todas as revistas e todos os jornais LGBT deveriam publicar uma lista de centros de testagem gratuita em todos os números desses periódicos. Eles também poderiam criar fotonovelas com enredos que educassem sobre o uso de preservativos. Vou ainda mais longe: poderiam mostrar as batalhas diárias que os soropositivos enfrentam em casa, no trabalho, no médico, nas relações amorosas. Tudo isso sem deixar de mostrar o quanto as pessoas soropositivas podem viver intensamente, se souberem como. Poderiam educar os sorodiscordantes (casais em que só um dos parceiros é soropositivo) sobre como se relacionarem com segurança sem deixarem de viver seu amor. Até mesmo o mercado pornô (talvez especialmente este) pudesse enfocar de forma criativa e caliente o uso do preservativo.

Penso que a educação sexual, onde quer que seja oferecida, precisa encarar essas questões de modo aberto, inteligente, sem preconceitos. E não pode ser apenas em formato de texto. Tem que ter charges, quadrinhos, fotonovela, desenho animado, mesas de debate, entrevistas, música. Por que será que até hoje não ouvi ninguém cantar sobre isso? Cazuza ainda se arriscou a cantar “o meu tesão agora é risco de vida... Será?”, mas parece-me que ele estava respondendo ao preconceito dos que pensavam que AIDS era doença de homossexual.

Falta alguém com a coragem de tocar nesse assunto de forma mais profunda, mais franca, mais esclarecedora, mais humana. O que a gente mais ouve é gente reclamando de injustiça social, racismo, machismo, etc. Ótimo! Tem que falar nessas coisas mesmo! Mas por que ninguém canta alguma coisa sobre o drama de ser soropositivo numa sociedade majoritariamente ignorante? E não somente o drama, volto a dizer, mas também o potencial que cada um deles possui para viver a vida intensamente e com saúde, se souberem como.

A ideia está lançada! Apropriem-se dela e desenvolvam-na! Poetas, jornalistas, cartunistas, compositores e educadores, mãos à obra. No final, o prazer é todo nosso, ou seja, de todos nós!!!!

Comentários

  1. Sérgio texto, não gostei, mas quero te fazer uma pergunta, vc está há muito tempo sem falar português?
    O texto deixa passar frases desconexas!
    Abração!

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  2. Arilton, só você mesmo. Vc sabe que eu fiquei em Londres só 24 dias... O problema era que os teclados que usei estavam desconfigurados para o português, então eu não podia usar acentos e cedilhas. Isso faz uma diferença incrível para quem lê, mas já corrigi isso. Cheguei domingo. :)

    Abração pra ti!

    Sergio Viula

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