
Senador conservador, bar gay e um armário que explodiu em Sacramento
05 de março de 2010
Ah, os bons e velhos escândalos que revelam aquilo que já estava estampado na cara de todo mundo — menos, claro, na do próprio enrustido. Em março de 2010, o então senador republicano da Califórnia, Roy Ashburn, foi flagrado saindo de um bar gay em Sacramento com um acompanhante masculino e dirigindo bêbado (nível de álcool no sangue: 0.14, quase o dobro do permitido). Para completar a cereja da hipocrisia: ele estava ao volante de um carro oficial do governo.
Mas calma, isso ainda é só o começo.
Ashburn não era só mais um político qualquer. Ele era um daqueles figurinhas carimbadas da ala conservadora, do tipo que vota contra todos os direitos LGBTQIA+ com gosto e convicção moralista. Enquanto frequentava bares gays à noite, durante o dia ele se dedicava a combater casamentos homoafetivos, leis antidiscriminação e qualquer coisa que cheirasse a diversidade.
A casa caiu.
Após a prisão e o escândalo, Ashburn foi à rádio e, com a voz embargada de arrependimento (ou seria de ressaca?), soltou:
“Eu sou gay... essas são palavras que, durante muito tempo, eu hesitei em dizer.”
Pois é. Depois de anos trancado dentro do armário mais blindado da política americana, ele resolveu sair — não por consciência, não por coragem, mas porque foi pego no flagra. E isso levanta uma pergunta incômoda: quantos outros “honoráveis” senadores, deputados e vereadores andam por aí votando contra os nossos direitos enquanto guardam plumas e purpurinas no porta-luvas?
A história de Ashburn é mais do que um escândalo pessoal. É um alerta sobre o preço do armário, sobre como o auto-ódio pode virar política pública, e sobre como a hipocrisia pode ter consequências reais para milhões de vidas. Homens como ele não são só vítimas de uma cultura homofóbica — são também agentes ativos na manutenção dela.
No final, Roy Ashburn virou um símbolo. Não da libertação, mas de tudo que precisamos desconstruir. E se há algo que aprendemos com ele, é que viver uma mentira pode até render votos, mas uma hora a verdade aparece — de preferência, com giroflex ligado e bafômetro na boca.
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