Bullying homofóbico e suicídio




TEXTO PUBLICADO NO SITE DA VEJA
em 04 de outubro de 2010:


Suicídios recentes ressaltam pressões sobre adolescentes gays


As mortes desencadearam uma apaixonada – e por vezes furiosa – resposta dos ativistas gay e chamou a atenção de autoridades federais


The New York Times

Quando Seth Walsh estava na sexta série, virou-se para a mãe e disse: "mãe, eu sou gay". Wendy Walsh, cabeleireira e mãe solteira de quatro filhos, respondeu: “ok, meu querido, eu te amo, não importa o que você seja".

No mês passado, Seth entrou no quintal de sua casa, na cidade de Tehachapi, no deserto da Califórnia, e enforcou-se, aparentemente incapaz de suportar uma chuva incessante de insultos, agressões e outros abusos de seus pares. Depois de pouco mais de uma semana na UTI, ele morreu na terça-feira passada. Tinha 13 anos.

O caso de Tyler Clementi, o calouro da Universidade Rutgers, que pulou da ponte George Washington, em Nova York, depois que seu encontro sexual com outro homem foi transmitido on-line, chocou a muitos. Mas sua morte, assim como a de Seth Walsh, são apenas alguns exemplos dos vários suicídios de jovens adolescentes gays que foram hostilizados por colegas, em pessoa ou on-line, nas últimas semanas.

A lista inclui Billy Lucas, 15 anos, de Greensburg, Indiana, que se enforcou dia 9 de setembro depois de colegas o terem provocado na escola. Menos de duas semanas depois, Asher Brown, 13 anos, dos subúrbios de Houston, atirou em si mesmo. Ele também relatou que foi insultado em sua escola, de acordo com o jornal Houston Chronicle. Sua família culpou os funcionários da escola que não agiram depois de receber a reclamação, algo que a escola nega.

Reação - As mortes desencadearam uma apaixonada – e por vezes furiosa – resposta dos ativistas gay e chamou a atenção de autoridades federais, entre eles Arne Duncan, o secretário da Educação, que na sexta-feira chamou os suicídios de "tragédias desnecessárias" causadas pelo "trauma de ser intimidado".

"Este é um momento em que cada um de nós – pais, professores, estudantes, autoridades eleitas e todos as pessoas conscientes – tem de se levantar e falar contra a intolerância em todas as suas formas", disse Duncan.

Enquanto o suicídio de adolescentes gays se torna uma preocupante tendência, os especialistas dizem que o estresse pode ser ainda pior em zonas rurais, onde a falta de serviços de apoio aos gays – e mesmo aos que já assumiram – pode levar a uma sensação de isolamento que pode ser insuportável.

"Se você está numa pequena comunidade, a pressão é muito forte", disse Eliza Byard, diretora-executiva da Gay, Lesbian, Straight Education Network, sediada em Nova York. "E sabe-se lá como as pessoas enviam recados sobre 'como é errado ser gay'."

De acordo com uma pesquisa recente conduzida pelo grupo de Byard, quase 9 entre 10 gays, lésbicas, transexuais ou bissexuais entre estudantes do ensino médio sofreram violência física ou verbal em 2009 - que vão de insultos a espancamentos.

Repercussões - No caso de Clementi, procuradores em Nova Jersey acusaram dois calouros colegas de Rutgers por invasão de privacidade e olham para a morte como um possível crime de ódio. Promotores em Cypress, no Texas, onde Asher Brown morreu, disseram na sexta-feira que iriam investigar o que levou ao suicídio.

Em um par de posts na semana passada, Dan Savage, colunista de sexo que vive em Seatlle, atribuiu a culpa a professores e administradores escolares negligentes, colegas de sala que praticam bullying e "grupos de ódio que mexem com algumas mentes e atormentam outras".

Em uma entrevista, Savage, que é gay, disse que estava particularmente irritado com líderes religiosos que utilizaram "retórica antigay"sobre questões como o casamento homossexual e gays nas forças armadas.

"O problema é que as crianças estão sendo expostas a essa retórica e depois vão para a escola onde há um garoto gay", disse ele. "Como eles irão tratar o garoto gay se foi dito que ele está tentando destruir sua família? Irão abusar dele."

No final de setembro, e na sequência de vários suicídios, Savage começou um projeto no YouTube chamado "vai melhorar", com gays adultos falando sobre suas experiências com o assédio quando adolescentes. Em um vídeo, um gay chamado Cyrus conta sobre vida de adolescente enristado em uma pequena cidade no interior de Nova York.

"A principal razão para levar adiante esses vídeos é o quanto minha vida está diferente, como ela é grande e como sou feliz em geral", disse ele. "Houve momentos na escola, apesar de ter bastante sorte com o bullying e não ter muitos problemas, em que me sentia sozinho e muito diferente."

Glenda Testone, diretora-executiva do Centro Comunitário de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, em Nova York, disse que os programas do centro atendem 50 jovens por dia, que muitas vezes sofrem de "intimidação, assédio e até mesmo violência".

"Os três principais grupos responsáveis são a família, os amigos e os colegas de escola", disse ela. "E se eles estão se sentindo isolados e não têm como dizer isso a essas pessoas, vai ser um caminho muito difícil."

Em Fresno, no conservador Central Valley da Califórnia, grupos como Equality California tem sido muito ativos na tentativa de criar sucursais, sobretudo depois da derrota eleitoral de 2008, quando os eleitores do estado aprovaram a Proposição 8, que proibiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Bullying - Em Tehachapi, mais de 500 pessoas participaram do velório de Seth Walsh. Uma delas, Elaine Jamie Phillips, um colega de classe e amigo, disse que sabia há muito tempo que ele era gay e que Seth foi provocado por vários anos. "Mas este ano ficou muito pior", disse Jamie. "As pessoas diziam: 'você deveria se matar', 'você deveria ir embora', você é gay, quem se preocupa com você?'"

Richard Swanson, superintendente do distrito escolar local, disse que sua equipe realizou assembleias trimestrais sobre comportamento, ensinou tolerância em sala de aula e que "pune atitudes associadas ao bullying". Mas essas coisas, disse, não impediram a tragédia de Seth. "Talvez não fossem capazes", disse, em um e-mail.

De sua parte, Walsh disse que se preocupava por Seth ter sido o alvo, mas não queria culpar ninguém, embora espere que sua morte possa ensinar as pessoas a "não discriminar e a não ter preconceitos". "Realmente espero que as pessoas entendam isso", disse ela.

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VEJA ESSE VIDEO AMERICANO (LEGENDADO) NO QUE SERIA UMA CÂMARA DE VEREADORES AQUI NO BRASIL. O TEMA É O SUICÍDIO DESSES ADOLESCENTES POR CAUSA DE BULLYING HOMOFÓBICO. É TOCANTE.



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COMENTÁRIO DESTE BLOGUEIRO:

Bulliying (o ato de debochar, ridicularizar, rotular, perseguir e agredir alguém por causa de uma característica pessoal) é uma crueldade. A coisa é tão séria que está se refletindo no aumento do número de suicídios entre adolescentes e jovens.

Até o criador de “Glee”, Ryan Murphy, decidiu criar um episódio para a série com o objetivo de discutir esse fenômeno social que está crescendo nos EUA. O episódio, intitulado "Theatricality", foi ao ar na segunda temporada de Glee e se tornou um marco importante para a série. Nele, o personagem Kurt Hummel (interpretado por Chris Colfer) se torna o alvo de intimidações homofóbicas dentro da escola, culminando em uma cena poderosa em que ele enfrenta o bullying e recebe apoio de seus amigos.

A decisão de Ryan Murphy de explorar o bullying gay foi uma forma de trazer um debate relevante à tona, refletindo a realidade de muitos adolescentes que, infelizmente, ainda enfrentam discriminação em suas escolas e comunidades por causa de sua sexualidade. Ao longo do episódio, Glee usou a música e o humor, características marcantes da série, para tratar de um tema sério, destacando a importância de solidariedade, aceitação e respeito.

Além disso, Ryan Murphy também tomou a decisão de se envolver ativamente com campanhas anti-bullying e com a organização The Trevor Project, que oferece apoio a jovens LGBT+ em situação de risco.

O impacto do episódio foi imediato e Glee foi elogiado por usar sua plataforma para discutir um tema tão importante, ao mesmo tempo em que oferecia um espaço de visibilidade para jovens LGBT+ na cultura pop.

O bullying tem que parar. Educadores (professores, supervisores, orientadores e diretores de escola) precisam estar atentos a isso, e tratar os agressores com rigor. Além disso, precisam educar para a diversidade em grandes e pequenos gestos.

E os homossexuais, por sua vez, devem ser mais donos de si, mais orgulhosos, e tomar atitudes que preservem sua integridade física e moral. Enfrentar com meios legítimos qualquer discriminação, mas para isso precisam, antes de tudo, assumir sua própria identidade gay sem "grilos". Senão, ficarão sempre à margem, no porão da existência, no exílio diário de tudo o que é seu direito desfrutar.

Quando se é adolescente isso é mais complicado, porque para muita coisa depende-se dos pais, mas existem leis para proteger os adolescentes. Se nada funcionar, disque para o Rio Sem Homofobia (para quem vive no Rio de Janeiro): 0800 0234567. Este é o telefone do Disque Cidadania LGBT. Existe também o disque 100 para combater o abuso contra menores de idade. Esse vale para o Brasil todo. Conte sua história, peça ajuda.

Não é admirar que a criança, o adolescente e o jovem gays se encontrem tão deprimidos. Além do bullying na escola e na vizinhança, existe a falta de compreensão de muitos pais em casa, e ainda tem esses pastores fundamentalistas dizendo literalmente que "Deus odeia vidados" (God hates fags). Coloque essa frase em inglês no Google search e você verá o que quero dizer. Por isso, vale a pena ver também esse vídeo sobre a Identidade Gay e o insulto. Tive a iniciativa de preparar esse video e postá-lo no YouTube por perceber a urgência e relevância dessas informações e análise.

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