Sinto muito
Três anos atrás, Leslie
e eu começamos uma conversa bem pública com Lisa Ling do Our America, da Oprah Winfrey Network (OWN), a respeito
de alguns das nossas crenças mais profundas sobre o Cristianismo e a comunidade
LGBT. Hoje, decidimos levar essa conversa pública ainda mais longe. Ao
mesmo tempo em que essa conversa pode ter – e continuar tendo – respostas diferentes
da parte de nossos apoiadores e críticos, é nosso desejo seguir com essas discussões
honestas, na esperança de chegar a um lugar de paz.
Vários meses atrás,
essa conversa me levou a telefonar para Lisa Ling a fim de dar outro passo
nessa jornada tumultuada. Eu perguntei se ela, novamente, nos ajudaria a
acrescentar à história que se desenrolava, fazendo a cobertura do meu pedido de
desculpas às pessoas que foram machucadas pela Exodus International. Nosso
ministério tem sido público e, portanto, qualquer reconhecimento de erro também
tem que ser público. Não fui sempre o líder da Exodus, mas sou agora e
alguém tem que finalmente assumir e reconhecer as feridas dos outros. Faço isso com ansiedade, mas voluntariamente.
É estranho ser
alguém que foi ferido pelo tratamento da igreja à comunidade LGBT, e também ser
alguém que precisa se desculpar por ser parte do mesmo sistema de ignorância
que perpetuou aquele sofrimento. Hoje, é como se eu tivesse acabado de acordar
para um grande senso de quão doloroso é ser um pecador nas mãos de uma igreja
com raiva.
Também é estranho
ser, em grande medida, um sem-casta tanto em relação à comunidade gay quanto à
comunidade cristã. Uma vez que eu não concordo completamente com as vozes da
maioria em ambos os grupos, estou criando um novo lugar de serviço em paz e
através de ambas, eu provavelmente continuarei como um forasteiro em alguma
medida. Imagino que isso seja muito parecido com um homem a quem ouvi recentemente
falando numa conferência da qual participei, o Padre Elias Chacour, Arcebispo
da Igreja Católica Melquita de Israel. Ele é um
cristão árabe, palestino por nascimento, e cidadão de Israel – para falar de uma
contradição ambulante. Quando eu penso na tensão da minha situação, eu me
sinto confortado pela lembrança dele.
Meu desejo é
alinhar-me completamente com Cristo, suas Boas Novas para todos, e sua oferta
de paz no meio das tempestades da vida, minha esposa Leslie e minhas crenças
centrais a respeito da graça, da obra consumada de Cristo na cruz e de sua
oferta de relacionamento eterno com toda e qualquer pessoa que crer. Nossas
crenças não se centram sobre o “pecado,” porque o “pecado” não está no centro
de nossa fé. Nossa jornada não diz respeito a negar o poder de Cristo para
fazer qualquer coisa – obviamente, ele é Deus e pode fazer qualquer coisa.
Com isso, aqui está
uma versão expandida do pedido de desculpas que eu apresentei durante minha
recente entrevista com Lisa Ling às pessoas dentro da comunidade LGBTQ, as
quais têm sido machucadas pela Igreja, pela Exodus International, e por mim.
Imagino que alguns dentro das comunidades às quais peço perdão dirão que eu não
tenho o direito, como homem, de fazer isso em nome delas. Mas se a Igreja é um
corpo, com muitos membros conectados ao todo, então eu creio que o que um de
nós faz certo, todos fazem certo, e o que um de nós faz errado, todos nós
fazemos errado. Erramos, e eu me junto a muitos outros que agora reconhecem a
necessidade de um pedido de perdão e de consertar as coisas. Eu acredito
que esse pedido de desculpas – ainda que imperfeito – é o que Deus, o Pai, quer
que eu faça.
Aos Membros da Comunidade LGBTQ:
Em 1993 eu causei o
engavetamento de quarto carros. Na pressa para chegar à casa de um amigo, eu
estava dirigindo quando uma abelha começou a zumbir do lado de dentro do meu para-brisa.
Eu bati na abelha e ela caiu sobre o painel. Um minuto depois, ela começou a
zumbir de novo furiosamente. Tentando acerta-la de novo, eu deixei de ver que
um ônibus urbano havia parado três carros à minha frente. Eu também
deixei de ver aqueles três carros parando. Dirigindo a 65 km por hora, eu bati
contra o carro à frente, causando uma reação em cadeia. Eu me machuquei e
várias outras pessoas também. Eu nunca pretendi que o acidente acontecesse.
Eu nunca teria machucado ninguém, conscientemente, mas machuquei. E a culpa foi
minha. Na minha pressa para chegar ao meu destino, medo de ser ferroado por uma
estúpida abelha, e distração egoísta, eu feri outros.
Não tenho a menor
ideia se alguma daquelas pessoas feridas naquele acidente sofreu efeitos em
longo prazo. Apesar de não querer machucar ninguém, eu o fiz. O fato de meu
coração não ter sido malicioso não diminui a dor delas ou seu sofrimento. Sinto
muito por ter escolhido me distrair naquela tarde de outono, e ter causado
tanto dano às pessoas e à propriedade privada. Se eu pudesse fazer tudo
retroceder, eu o faria, mas não posso. Oro para que todos os envolvidos na
batida tenham sido restaurados em sua saúde.
Recentemente, eu
comecei a pensar de novo sobre como me desculpar com as pessoas que foram
feridas pela Exodus International através de alguma experiência ou por alguma
mensagem. Ouvi muitas histórias em primeira mão de pessoas chamadas
sobreviventes ex-gays. Histórias de pessoas que foram aos ministérios afiliados
à Exodus ou ministérios de ajuda, mas que só experimentaram mais traumas. Ouvi
histórias de vergonha, má conduta sexual, e falsa esperança. Em cada caso que
foi trazido à minha atenção, houve ação rápida para a remoção desses líderes
e/ou organizações. Mas, raramente, um pedido de desculpas ou reconhecimento
público da minha parte.
E então há o trauma
que eu causei. Foram vários anos em que eu convenientemente me omiti a respeito
da minha constante atração pelo mesmo sexo. Eu tinha medo de compartilhar isso tão
pronta e facilmente como o faço hoje. Isso me trouxe tremenda vergonha, e eu
escondi tudo isso na esperança de que um dia essa atração fosse embora. Olhando
para trás, parece tão estranho que eu tenha pensado que pudesse fazer algo para
detê-la. Hoje, porém, eu aceito esses sentimentos como parte da minha vida, os
quais provavelmente estarão sempre lá. Os dias de sentimentos de vergonha por
ser humano dessa maneira não existem mais, e eu sinto-me livre, simplesmente
aceitando-me assim como o fazem minha esposa e família. Como meus amigos o
fazem. Como Deus o faz.
Nunca em um milhão
de anos, eu machucaria alguém intencionalmente. Todavia, aqui me encontro tendo
machucado tantos por falhar em reconhecer a dor que alguns afiliados à Exodus
Internacional causaram, e por falhar em compartilhar a verdade completa sobre
minha própria história. Minhas boas intenções importam muito pouco e não
reduzem a dor e a mágoa que outros experimentaram me observando. O bem que
fizemos na Exodus é ofuscado por tudo isso.
Amigos e críticos
igualmente têm dito que não é suficiente simplesmente mudar nossa mensagem no website.
Concordo. Eu não posso simplesmente seguir adiante e fingir que sempre fui
amigo que anseio em ser um dia. Eu entendo por que sou desacreditado e por que
a Exodus é odiada.
Por favor, saibam
que sinto profundamente. Sinto muito pela dor e mágoa que alguns de vocês
experimentaram. Sinto muito que alguns de vocês tenham gastado anos trabalhando
entre a vergonha e a culpa que sentiam quando a atração não mudava. Sinto muito
que tenhamos promovido esforços para mudança de orientação sexual e teorias
reparativas que estigmatizaram pais. Sinto muito que tenha havido momentos em
que eu não me opus publicamente às pessoas “do meu lado,” as quais chamavam vocês
por nomes como sodomitas – ou pior. Sinto muito que eu, conhecendo alguns de
vocês tão bem, tenha falhado em compartilhar publicamente que as pessoas gays e
lésbicas que eu conheço eram tão capazes de serem pais quanto às pessoas
heterossexuais que eu conheço. Sinto muito que quando eu celebrava a vinda de
uma pessoa a Cristo e a rendição de sua sexualidade, eu estivesse celebrando
insensivelmente o final de relacionamentos que arrasariam seu coração. Sinto muito
que eu tenha comunicado que vocês e suas famílias sejam menos do que eu e a
minha.
Mais do que tudo,
sinto muito que eu tenha interpretado essa rejeição religiosa da parte de cristãos
como uma rejeição da parte de Deus. Sinto profundamente que muitos tenham
se afastado da fé e que alguns tenham escolhido pôr fim às suas vidas. Pelo
resto da minha vida, eu não proclamarei nada menos que a verdade integral do
Evangelho, o da graça, misericórdia e convite aberto a todos para que entrem
num relacionamento inseparável com o Deus todo-poderoso.
Não posso me
desculpar por minhas crenças bíblicas mais internalizadas sobre os limites que
eu vejo na escritura a respeito do sexo, mas exercerei minhas crenças com
grande cuidado e respeito por aqueles que não as compartilham. Não posso
me desculpar por minhas crenças sobre o casamento, mas não há qualquer desejo
de lutar contra vocês em suas crenças ou contra os direitos que buscam. Minhas
crenças sobre essas coisas nunca interferirão na ordem de Deus para amar meu próximo
como amo a mim mesmo.
Vocês nunca foram
meus inimigos. Sinto muito ter sido inimigo de vocês. Espero que mudanças na
minha própria vida, assim como aquelas que anunciamos essa noite a respeito da
Exodus International, tragam resolução, e mostrem que falo sério tanto sobre
meu arrependimento como sobre minha oferta de amizade. Prometo que esforços
futuros serão focados na paz e no bem comum.
Avançando,
serviremos em nossa cultura pluralista, abrigando conversas cheias de consideração
e segurança sobre gênero e sexualidade, enquanto mantemos parcerias com outros
para reduzir o medo, inspirar esperança, e cultivar a prosperidade humana.
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