Países de maioria muçulmana mais seguros para pessoas LGBTQ+ em 2025

Países de maioria muçulmana mais seguros para pessoas LGBTQ+ em 2025





Organizado 
por Sergio Viula 


Por décadas, a relação entre países de maioria muçulmana e a população LGBTQ+ tem sido marcada por estigmas, legislações discriminatórias e, em muitos casos, repressão violenta. Em 2025, essa realidade persiste em muitos lugares, mas também há nuances importantes. Apesar de existirem leis homofóbicas em diversos países islâmicos, nem todos oferecem os mesmos níveis de risco. Alguns têm demonstrado avanços significativos em termos de tolerância social, proteção legal e visibilidade LGBTQ+.

Este texto reúne informações e reflexões baseadas em dados e análises de fontes confiáveis como ILGA World, Human Rights Watch, Equaldex, além de relatos de viajantes LGBTQ+ e experiências compartilhadas por influenciadores queer. O objetivo é apresentar um panorama sobre quais países de maioria muçulmana oferecem condições mais seguras — ou menos arriscadas — para pessoas LGBTQ+ viverem ou visitarem em 2025.


A complexidade dos contextos islâmicos

É essencial lembrar que "país de maioria muçulmana" não é sinônimo de "país islâmico fundamentalista". Existem sociedades com população majoritariamente muçulmana, mas que são laicas, pluralistas ou mesmo secularizadas. Além disso, a cultura, a política e a geografia influenciam profundamente a forma como a diversidade sexual é tratada.

Nações como a Turquia, o Kosovo e a Albânia, por exemplo, são países onde a maioria da população é muçulmana, mas o Estado não é regido pela sharia. Em outras palavras, são sociedades de maioria islâmica, mas com diferentes graus de influência da religião sobre as leis e os costumes.


1. Kosovo: um pequeno país com grandes passos

Kosovo, pequeno país dos Balcãs, é frequentemente citado em relatórios e análises como um dos que vêm apresentando avanços significativos — especialmente na forma como a sociedade tem tratado pessoas LGBTQ+. Apesar de desafios estruturais, o país apresenta algumas garantias legais importantes: a constituição proíbe discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero, e há leis que protegem pessoas LGBTQ+ em ambientes de trabalho, saúde e educação.

Priština, a capital, já sediou várias edições da Parada do Orgulho, com cobertura positiva da mídia local e participação de figuras públicas. Organizações LGBTQ+ como o CEL Kosova e o Center for Equality and Liberty têm promovido campanhas de conscientização com apoio de instituições internacionais.

Relatos recentes apontam que, embora ainda haja resistência cultural em algumas áreas, a juventude urbana demonstra uma postura mais progressista. Especialistas destacam que, apesar do conservadorismo religioso em parte da população, a identidade nacional do Kosovo pós-independência tem se apoiado em valores democráticos e europeus — o que inclui a promoção de direitos civis.


2. Albânia: laicidade e orgulho

Ao analisar os Balcãs Ocidentais, a Albânia se destaca — talvez um dos países mais subestimados da Europa em relação aos direitos LGBTQ+. A constituição albanesa garante igualdade de direitos para todos os cidadãos, e há uma legislação robusta contra discriminação baseada na orientação sexual. O casamento igualitário ainda não foi aprovado, mas o discurso político tende a ser moderado — e, em certos casos, progressista.

Tirana, a capital, tem uma cena LGBTQ+ ativa, com eventos, espaços culturais e bares queer-friendly. O país abriga a organização Aleanca LGBT, uma das mais influentes dos Bálcãs. Desde 2012, a Parada do Orgulho tem sido realizada anualmente na capital, sem grandes confrontos com autoridades ou grupos extremistas.

Pesquisas de opinião mostram que a população ainda carrega certo conservadorismo, especialmente nas áreas rurais, mas há avanços perceptíveis, sobretudo entre os jovens. A visibilidade de artistas e influenciadores LGBTQ+ locais também tem contribuído para desconstruir estigmas.


3. Bósnia-Herzegovina: diversidade em construção

Com uma população majoritariamente muçulmana na região da Federação da Bósnia e Herzegovina, este país abriga uma das cenas LGBTQ+ mais promissoras dos Bálcãs. A cidade de Sarajevo realizou sua primeira Parada do Orgulho em 2019, com apoio significativo da sociedade civil. Desde então, o evento tem crescido em segurança e adesão.

Segundo relatórios da ILGA-Europe, a Bósnia conta com leis antidiscriminação e proteção legal básica para pessoas LGBTQ+, ainda que a implementação dessas leis seja desigual. Organizações como o Sarajevo Open Centre têm sido fundamentais para pressionar o governo e oferecer suporte à comunidade.

O contexto religioso continua a ser um fator de tensão, especialmente entre líderes conservadores, mas a convivência entre muçulmanos, cristãos e outros grupos contribui para um certo pluralismo social, onde o debate sobre direitos LGBTQ+ encontra mais espaço.


4. Jordânia: neutralidade legal e tolerância social limitada

A Jordânia é um dos poucos países árabes onde a homossexualidade não é explicitamente criminalizada. O Código Penal jordaniano não proíbe relações entre pessoas do mesmo sexo desde 1951, o que já é um avanço em relação à maioria de seus vizinhos.

No entanto, a ausência de criminalização não significa proteção. Não existem leis que protejam pessoas LGBTQ+ contra discriminação ou violência. Ao mesmo tempo, o país tem sido considerado relativamente estável e seguro para visitantes queer que mantêm discrição.

A capital, Amã, possui uma cena cultural vibrante, com cafés e eventos artísticos onde pessoas LGBTQ+ circulam — embora raramente com visibilidade assumida. Relatos sugerem que a comunidade queer local é resiliente e encontra maneiras de se conectar, mesmo em um ambiente conservador.


5. Indonésia: entre o pluralismo e a repressão regional

A Indonésia é o país com a maior população muçulmana do mundo e, paradoxalmente, apresenta uma das realidades mais complexas para pessoas LGBTQ+. Em nível nacional, a homossexualidade não é ilegal — mas algumas regiões adotam leis baseadas na sharia, como a província de Aceh, onde pessoas LGBTQ+ são perseguidas, presas e até punidas fisicamente.

Fora dessas regiões específicas, cidades como Jacarta, Yogyakarta e Bali oferecem ambientes muito mais abertos. Yogyakarta abriga a GAYa NUSANTARA, uma das organizações LGBTQ+ mais antigas do Sudeste Asiático, e Bali tem se tornado um destino turístico queer-friendly — ainda que com ressalvas importantes, especialmente no que diz respeito a demonstrações públicas de afeto.

É um país onde o contraste entre tradição e modernidade é forte, e onde a segurança de pessoas LGBTQ+ depende muito do contexto local.


6. Turquia: resistência em tempos de retrocesso

A Turquia vive um cenário contraditório. Por um lado, Istambul já sediou algumas das maiores Paradas do Orgulho do mundo muçulmano; por outro, nos últimos anos, o governo Erdogan tem reprimido sistematicamente eventos LGBTQ+ e organizações de direitos humanos.

Ainda assim, segundo diversos relatórios, a população LGBTQ+ turca segue ativa, criativa e resistente. Existem bares, centros culturais, coletivos artísticos e grupos ativistas em várias cidades, mesmo enfrentando censura e perseguição.

A lei turca não criminaliza a homossexualidade, mas a ausência de políticas públicas e a crescente islamização do discurso político tornaram o ambiente mais hostil. Mesmo assim, a Turquia segue sendo um dos países muçulmanos com maior visibilidade queer e infraestrutura social voltada à diversidade.


Fatores que influenciam a segurança LGBTQ+ em países muçulmanos

Existem vários critérios que ajudam a entender por que certos países muçulmanos são relativamente mais seguros para pessoas LGBTQ+:

Laicidade do Estado: Países com separação clara entre religião e Estado tendem a oferecer mais garantias legais.

Presença de ONGs e ativismo local: A existência de movimentos organizados fortalece a rede de apoio e visibilidade.

Urbanização e turismo: Capitais e grandes centros urbanos costumam ser mais abertos, especialmente onde há fluxo internacional.


Apoio internacional: 
Financiamentos e parcerias com entidades estrangeiras ajudam a proteger ativistas e promover educação.

Ausência de criminalização formal: Mesmo que não haja garantias positivas, a não criminalização já é um fator relevante de segurança jurídica.


Riscos persistentes

Apesar desses avanços, é importante manter a cautela. A hostilidade contra pessoas LGBTQ+ pode ser extrajudicial, mesmo em países sem leis homofóbicas. Assédio, chantagem, violência policial e discursos de ódio ainda são riscos reais em diversas regiões.

Quem pretende viajar para esses países precisa estar atento a costumes locais, legislação específica (inclusive em nível regional), além de avaliar se há embaixadas ou consulados acessíveis em caso de necessidade.


Conclusão: avanços possíveis, mas a luta continua

Kosovo, Albânia, Bósnia-Herzegovina — segundo análises recentes, esses países ainda estão longe da perfeição, mas representam possibilidades reais de avanços para comunidades LGBTQ+ em contextos muçulmanos. Outros, como Jordânia e Indonésia, oferecem zonas de ambiguidade que, quando bem compreendidas, podem abrir caminhos para convivência mais segura.

Em tempos de retrocessos em diversas partes do mundo, especialmente em países dominados por discursos religiosos extremistas, é vital reconhecer onde há espaço para a liberdade crescer — ainda que com limitações. Afinal, entender essas nuances nos permite combater o preconceito com mais precisão e oferecer apoio estratégico a quem vive nesses contextos.

A diversidade sexual e de gênero não conhece fronteiras, mas o respeito à dignidade humana ainda precisa ser conquistado em muitos territórios. E é exatamente por isso que é tão importante continuar falando sobre isso — com dados, análises, empatia e coragem.

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