
Em um momento histórico no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, duas figuras públicas decidiram dizer o óbvio – e foram aplaudidas por isso. O então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, não mediu palavras ao criticar a postura da Igreja em relação ao uso de preservativos e à criminalização da homofobia.
"Tem alguns momentos em que a Igreja erra feio. Um deles é a questão da camisinha. Se a gente fosse atrás da Igreja, quantas pessoas não estariam doentes?"
Foi com essa frase que Minc deu o tom de sua fala. Ele lembrou que o discurso religioso, quando usado como ferramenta de controle, custa vidas. O mesmo vale para a resistência à aprovação da lei que criminaliza a homofobia. Segundo o ministro, quem barra essa legislação é corresponsável pelos crimes cometidos contra a população LGBT+. Só nos últimos dez anos, 3 mil pessoas foram assassinadas por motivações homofóbicas no Brasil. E isso, convenhamos, não tem nada de "cristão".
Ao lado de Minc, o então governador Sérgio Cabral Filho fez um chamado ousado, ainda que simbólico: que os servidores públicos do Estado saiam do armário. Ele citou como exemplo os desfiles de Nova York e São Francisco, onde policiais gays participam fardados das paradas. Cabral incentivou policiais, bombeiros, defensores públicos e servidores em geral a se assumirem e se mostrarem no dia da Parada LGBT. Um gesto que pode parecer pequeno, mas que ajuda a romper a lógica do silêncio e do medo que ainda domina muitas repartições públicas.
Não foi apenas discurso. Cabral e Minc, quando parlamentares, foram responsáveis por uma lei estadual que garantiu direitos previdenciários a companheiros de ex-funcionários públicos homossexuais – cerca de 200 casais já foram beneficiados.
Mais que palavras e simbolismos, o evento marcou também a criação do Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT e o fortalecimento do programa Rio Sem Homofobia, coordenado por Cláudio Nascimento. Com um investimento de R$ 4 milhões, o governo anunciou ações como:
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Criação do Disque Cidadania LGBT
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Implantação de 8 centros de referência
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Capacitação de policiais civis e militares para o combate à homofobia e o respeito à diversidade
Essa postura do Estado é um respiro em meio ao conservadorismo sufocante que tenta nos empurrar de volta para os armários e para as estatísticas de violência. Ainda há muito a fazer, mas cada vez que um governante assume que nossos direitos importam, damos mais um passo em direção à igualdade real.
Que mais lideranças tenham a coragem de dizer: a homofobia mata – e o silêncio também.
Good news! Pelo visto, estamos caminhando mesmo que a passos de tartaruga. No passado, um ato deste no Governo seria impensável...Parabéns ao Minc e a sua coragem de levantar a voz contra os absurdos da igreja (sim, com "i" minúsculo, que é o que ela merece)...Mas não vou ir mais além, já tenho sido muito "crucificado" (:X) pelo meu posicionamento contra esta instituição ultrapassada, tirana e preconceituosa. Abração Sérgio!
ResponderExcluirMaravilhoso comentário!!! Vc disse tudo muito bem: sobre o governo anterior, sobre a igreja, etc.
ResponderExcluirObrigado por ter comentado. Fico feliz quando recebo feedback aqui.
Divulgue para seus melhores amigos.
Abração,
Sergio
O governador Sérgio Cabral é um cara bem intensiona, além de ser atraente. Resta saudades!
ResponderExcluir...
ResponderExcluirO que dizer num momento como esses? As ações falam por elas mesmas e têm sido absolutamente confortável ver e perceber que, finalmente, a Constituição (inclusive a de nosso Estado), começa a tornar-se realidade ao alcance da população LGBT, no tocante ao pleno exercício dos direitos individuais, difusos e coletivos e seu amparo pelo Estado.
Penso que o momento é desbravador. Facilitou bastante a abertura dos canais a presença e a participação atuante do Cláudio Nascimento junto à Administração Direta, na Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. A criação do Comitê oferece a toda uma população anteriormente desassistida nas suas legítimas reivindicações um “background” que possibilitará a difusão de muitas ações no combate a vários crimes, a começar pela homofobia. Aliás, mister salientar que a tipificação “homofobia’ passará a constar nos boletins de ocorrência dentro das delegacias no estado. É um importante passo. Falta a criminalização, o que só será alcançado com mobilização e nossa intensa participação na reivindicação dos direitos que nos assiste.
Tenho acompanhado de perto toda essa abertura, mas ciente que as responsabilidades sempre trazem novos desafios. Claro, o “contra-ataque” dos setores ligados à Moral e suas filhinhas (os ditos “bons costumes”, segundo a visão religiosa ortodoxa) há de se levantar com trincheiras (entre as quais as políticas) para, no que depender deles, continuar fazendo associações perversas entre o direito de alguém ser ele-mesmo (gays) e todas as mazelas do mundo (sim, o mundo habitado em sua explosiva maioria pelos héteros!).
À parte disso, porém, fica o registro da importante conquista. Isto é o que vale a pena. É o que torna “a rosa” [a causa] tão importante, o tempo dedicado a ela, parafraseando o célebre escritor Saint-Exupéry.
Beijo, meu querido. Sempre é bom estar próximo de você, nem que seja pelas linhas!
Cardo
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Meu querido Cardo, que bom receber um comentário que é um verdadeiro post! Gostei muito de ver teu engajamento francamente colocado em cada linha que vc escreveu.
ResponderExcluirSenti tua falta na manifestação. :( Mas sei que vc milita de muitas maneiras, inclusive atendendo clientes que procuram tua orientação juridica. Continue assim. :)
Deixo um abraço carinhoso!
Sergio Viula