As Políticas pró e anti-LGBT e a geopolítica global (atualizado em 10 de janeiro de 2025)

Suspeite de qualquer um que ferozmente se oponha aos direitos de outras pessoas, especialmente aos direitos LGBT. 

Defensores dos valores da família? Família de quem?







ATUALIZAÇÃO FEITA EM 10/01/2025

Motivo:
Os vídeos anteriormente publicados aqui foram excluídos de suas respectivas contas e houve mudanças no cenário mundial de 12/04/2013 para o ano de 2024. Uma década se passou desde que esse post foi feito. Veja como está o mundo agora.

O Texto abaixo foi baseado no seguinte artigo originalmente publicado em francês no Le Monde em em 29/06/2024: Droits des personnes LGBT+ : l’homophobie est devenue, dans le Sud global, un instrument d’opposition à l’Occident.

Adaptação feita por Sergio Viula em 10/01/2025

Veja aqui:
https://www.lemonde.fr/international/article/2024/06/29/droits-des-personnes-lgbt-l-homophobie-est-devenue-dans-le-sud-global-un-instrument-d-opposition-a-l-occident_6245160_3210.html

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Nos últimos anos, a questão dos direitos LGBT+ se transformou em uma bandeira propagandística usada por diversos países, com destaque para a Geórgia e a Rússia. No contexto georgiano, o governo conservador de Irakli Kobakhidze alinha-se com tradicionalistas de outros países para defender valores familiares, enquanto as minorias sexuais são marginalizadas. Esse movimento é fortalecido por uma narrativa, amplificada pelas redes sociais, que associa homossexuais à pedofilia, alimentando a hostilidade contra a diversidade sexual.

A Rússia, por sua vez, tem adotado uma postura agressiva desde o retorno de Vladimir Putin ao poder, especialmente após 2014, quando iniciou a guerra na Ucrânia. A estratégia russa de estigmatizar a homossexualidade como uma ameaça à identidade nacional tem apoio da Igreja Ortodoxa e se reflete em leis cada vez mais repressivas contra as pessoas LGBT+, como a proibição de "propaganda LGBT+" e a criminalização de transições de gênero. Esse discurso, que alimenta um suposto "conflito civilizacional" com o Ocidente, tem sido usado tanto internamente quanto em sua diplomacia externa, como em alianças com países conservadores.

No Brasil, durante o governo de Jair Bolsonaro, a aliança com regimes ultraconservadores foi evidente, com a promoção de uma agenda contra os direitos LGBT+ e a defesa de uma "família tradicional". A política externa brasileira se alinhou com países como o Paquistão e a Arábia Saudita, reforçando sua postura contra a educação sexual e os direitos reprodutivos. Essa postura foi sustentada por um discurso religioso e anti-LGBT+ dentro do governo.

Esses exemplos ilustram como a política internacional tem se moldado em torno de questões de identidade sexual e de gênero, refletindo uma crescente aliança entre governos conservadores e um uso estratégico do antissexualismo como ferramenta para fortalecer o poder político interno e externamente. Em todos esses casos, a agenda anti-LGBT+ se configura como uma maneira eficaz de mobilizar e consolidar apoio popular, ao mesmo tempo que desvia atenção de outras questões políticas e econômicas.

Nos últimos anos, a questão dos direitos LGBT+ tem sido abordada como um campo de batalha ideológico e geopolítico, com diferentes países e blocos regionais se posicionando de maneiras distintas, geralmente com a utilização de narrativas conservadoras e religiosas para justificar a repressão a essas minorias. O tema tem sido abordado de maneira crescente, tanto por países fora do bloco ocidental, como a Rússia e a Geórgia, quanto por movimentos dentro de nações da União Europeia e até na América Latina, como o Brasil.

Na Geórgia, a postura conservadora é fortemente sustentada por uma aliança com outras nações como os Estados Unidos, a Hungria e a Rússia. O governo georgiano, sob a liderança do primeiro-ministro Irakli Kobakhidze, se posiciona contra os direitos LGBT+, associando as políticas de aceitação a uma suposta perda de identidade nacional. O país, que mantém uma forte ligação com a Igreja Ortodoxa, modificou sua constituição em 2017 para definir o casamento como uma união exclusivamente entre homem e mulher, refletindo a postura conservadora da sociedade, que rejeita a visibilidade das minorias sexuais. Essa resistência é ampliada por notícias falsas e teorias conspiratórias espalhadas por mídias pró-governo, que associam a homossexualidade a práticas como pedofilia, reforçando a estigmatização dos LGBT+.

A Rússia ocupa um papel central nesse movimento, não só pelo histórico de discriminação contra a comunidade LGBT+, mas também por usar esse tema como uma ferramenta de política externa. Desde o retorno de Vladimir Putin à presidência, especialmente após 2014 e a guerra na Ucrânia, o governo russo tem se posicionado de forma agressiva contra os direitos LGBT+, impulsionando leis que proíbem a "propaganda LGBT+" e dificultam a existência de organizações de apoio a essas minorias. A retórica russa, que descreve a homossexualidade como uma ameaça à identidade nacional e ao cristianismo tradicional, conta com o apoio da Igreja Ortodoxa e é usada para reforçar a narrativa de um "conflito civilizacional" contra o Ocidente. A questão LGBT+ se tornou, portanto, um pilar da propaganda estatal russa, sendo disseminada em discursos e políticas internas e externas, como em sua oposição a países da União Europeia que promovem direitos LGBT+.

Na União Europeia, a questão dos direitos LGBT+ continua sendo um tema de grande visibilidade, mas também se tornou um ponto de tensão entre os países mais progressistas e os governos conservadores de países como a Polônia e a Hungria. Estes, alinhados com a Rússia em sua defesa de "valores tradicionais", têm adotado políticas que restringem os direitos LGBT+, como a criação de zonas "livres de LGBT" e a recusa de políticas de inclusão, apesar da forte pressão de outras nações europeias que defendem os direitos humanos.

No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro, durante seu governo, alinhou-se com países e grupos ultraconservadores, como o governo de Viktor Orbán na Hungria, para promover uma agenda contra os direitos LGBT+ e outras questões relacionadas à identidade de gênero. Durante sua administração, o Brasil foi um dos principais aliados de regimes autoritários no Oriente Médio, como a Arábia Saudita, na oposição a políticas progressistas. No cenário doméstico, o governo de Bolsonaro buscou suprimir a expressão dos direitos LGBT+ em esferas como a educação sexual, além de ter tentado deslegitimar a noção de gênero em políticas internacionais. Em suas intervenções na ONU, Bolsonaro reforçou a defesa da "família tradicional", enfatizando a oposição à "ideologia de gênero" e à educação sexual.

Esses exemplos indicam uma tendência crescente de instrumentalização da questão LGBT+ como parte de uma estratégia geopolítica mais ampla, onde países conservadores buscam reafirmar seus valores e defender o que consideram uma "ordem moral tradicional". Embora o movimento LGBT+ tenha obtido vitórias significativas em várias partes do mundo, incluindo em muitos países da União Europeia, ele continua a enfrentar resistência intensa de regimes conservadores, que utilizam o tema como uma maneira de mobilizar suas bases políticas e de legitimar suas políticas internas, especialmente ao associá-lo a um suposto declínio moral da sociedade.

Assim, a questão LGBT+ se tornou um divisor de águas em muitos debates políticos e sociais, não apenas dentro dos países, mas também no cenário internacional, onde a defesa dos direitos das minorias sexuais pode ser vista tanto como um avanço civilizacional quanto como um terreno de confrontos ideológicos. A luta pelos direitos LGBT+ não é apenas uma questão de justiça social, mas também um reflexo das tensões e alianças geopolíticas contemporâneas.


Consequências para a população LGBT desses países

As políticas e discursos contra os direitos LGBT+ que têm ganhado força em vários países, como a Rússia, Geórgia, Polônia, Hungria, e até no Brasil, têm consequências devastadoras para a população LGBT+ local. Em contextos onde essas narrativas conservadoras ganham espaço, os indivíduos LGBT+ enfrentam um ambiente de crescente hostilidade e repressão, o que afeta sua saúde mental, segurança física e acesso a direitos fundamentais.


1. Aumento da Violência e Perseguição


Em países com políticas explicitamente contra a visibilidade LGBT+, como a Rússia e a Geórgia, a repressão pode se traduzir em uma escalada de violência, tanto física quanto psicológica, contra pessoas LGBT+. Em sociedades onde a homofobia é institucionalizada, ataques violentos, assédios e discriminação se tornam mais frequentes, e as vítimas muitas vezes não têm meios legais ou apoio para buscar justiça. Em algumas situações, como na Rússia, a falta de proteção legal contra crimes de ódio contra LGBT+ faz com que essas agressões passem despercebidas ou até sejam incentivadas pela retórica oficial.

2. Isolamento e Exclusão Social

A demonização da comunidade LGBT+ em nível institucional e público também leva ao isolamento social dessas pessoas. Em países como a Polônia e a Hungria, onde políticas anti-LGBT+ são ativamente promovidas por líderes políticos, as comunidades LGBT+ podem ser forçadas a viver em segredo, temendo a rejeição social e até a violência. Isso pode resultar em uma perda de redes de apoio, dificultando o acesso a serviços de saúde, educação e bem-estar. A falta de visibilidade e aceitação pode levar ao afastamento de familiares e amigos, agravando problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

3. Desigualdade no Acesso a Direitos


Outro impacto direto é a negação de direitos fundamentais. Em muitos desses países, as leis contra a "propaganda LGBT+" e a restrição de direitos, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, criam um sistema legal desigual. Em lugares como a Rússia, onde leis que proíbem a "promoção da homossexualidade" estão em vigor, as pessoas LGBT+ têm o direito de se expressar e se relacionar livremente negado. Em outros lugares, como o Brasil durante o governo Bolsonaro, a recusa em apoiar políticas públicas inclusivas para a comunidade LGBT+ tem o efeito de restringir o acesso a cuidados de saúde adequados, proteção legal e até a educação sobre questões de gênero e sexualidade.

4. Impactos Psicológicos e Emocionais


A pressão constante de viver sob um regime que vilaniza a identidade LGBT+ pode ter sérios impactos na saúde mental das pessoas afetadas. A discriminação institucionalizada e o estigma social exacerbado contribuem para a ansiedade, depressão e um aumento significativo do risco de suicídio entre jovens LGBT+. A sensação de ser "menos do que" ou de ser constantemente ameaçado pode ter um efeito duradouro no bem-estar emocional e psicológico de qualquer indivíduo, mas é particularmente prejudicial para aqueles que estão em fases cruciais de desenvolvimento.

5. Limitação da Liberdade de Expressão e Mobilização


A repressão ao movimento LGBT+ e a criação de um ambiente de medo também podem silenciar vozes importantes e impedir a mobilização da comunidade. Organizações que defendem os direitos LGBT+ são frequentemente alvo de restrições, intimidações e até de fechamento, como ocorre na Rússia, onde organizações LGBT+ enfrentam desafios legais e perseguições. Esse cerceamento da liberdade de expressão impede o avanço de políticas públicas que poderiam melhorar a vida das pessoas LGBT+ e limita a capacidade de criar espaços seguros para a comunidade.

6. Crescimento do Discurso de Ódio

Quando líderes políticos e mídias conservadoras promovem a ideia de que a identidade LGBT+ é uma ameaça à sociedade, isso frequentemente resulta em um aumento do discurso de ódio. Esse tipo de retórica não só legitima a violência, mas também encoraja a marginalização de pessoas LGBT+ em esferas públicas e privadas. Em alguns casos, como vimos na Rússia e em alguns estados brasileiros, isso cria uma atmosfera em que indivíduos LGBT+ são menos inclinados a denunciar abusos por medo de represálias, já que a sociedade e o Estado frequentemente não os protegem.

7. Fuga e Migração

Diante dessa situação de hostilidade, muitas pessoas LGBT+ podem se ver forçadas a fugir de seus países de origem, buscando refúgio em países onde seus direitos são mais garantidos. Essa migração pode ser uma solução temporária, mas também representa um trauma adicional, pois muitos enfrentam o medo de serem rejeitados em novos países ou de terem que reconstruir suas vidas em contextos desconhecidos. A fuga também pode ser difícil do ponto de vista financeiro e emocional, pois as pessoas podem ter que deixar suas famílias e comunidades para trás.
Conclusão

A ascensão das políticas conservadoras contra os direitos LGBT+ tem um impacto profundo e multifacetado na vida das pessoas afetadas. As consequências vão além das leis e discursos públicos e se traduzem em uma realidade de violência, discriminação e marginalização para as comunidades LGBT+. Quando países e blocos regionais adotam uma postura hostil em relação aos direitos dessas minorias, isso não só prejudica os indivíduos em um nível pessoal, mas também enfraquece a luta global por justiça e igualdade, criando um ciclo vicioso de exclusão e opressão. O desafio é, portanto, não apenas combater essas políticas, mas também oferecer apoio às vítimas dessa repressão, garantindo sua segurança e dignidade.

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