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Linguagem neutra não-binária (trecho de uma live)

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 Por Sergio Viula Esse é um trecho de uma live feita com @Sviula a convite de @carolina_carolino no perfil das @carolinas_da_borborema no Instagram em 07/04/24. Esse é apenas um trecho da nossa conversa e se refere ao uso da linguagem neutra não-binária. A live completa pode ser vista aqui: https://www.instagram.com/reel/C5en-hhvjuq . Nessa live, além de linguagem não binária, discutimos a falsamente chamada "cura gay", o Movimento LGBT+ no Brasil, temas relacionados à orientação sexual e identidades de gênero.  O trecho abaixo é apenas um recorte da live, mas considero que seja muito interessante e relevante para as diversas discussões sobre linguagem neutra na atualidade. Confira e siga o perfil dos participantes no Instagram. Carolina Carolino e Sergio Viula 07/04/24 Instagram: @carolinas_da_borborema

Família é tudo, uma vírgula! - casos meus e de outros




Por Sergio Viula
Atualizado em 28/06/16.

Quando ouço essa frase "família é tudo", fico pensando:

1) Tudo o quê?

2) Tudo para quem?


Em se tratando de pessoas LGBTQI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer e intersexuais), as coisas não são tão simples assim. E não me refiro às famílias muçulmanas da Síria, que mesmo buscando refúgio na Europa, por causa do fundamentalismo do ISIS e de outros grupos islâmicos, ainda querem matar seus próprios filhos e irmãos refugiados nos territórios nos quais as leis são bem outras, simplesmente, porque são gays. Não preciso sequer recorrer a esses exemplos horrorosos do outro lado do mundo para ilustrar o que quero dizer. Basta pensar em casos muito próximos.

Um exemplo daqui mesmo


Um amigo meu foi ao casamento coletivo realizado pelo programa estadual Rio sem Homofobia, sob a superintendência de Cláudio Nascimento. A palavra que ele mais repetiu foi "lindo". Ele me confidenciou que se emocionou profundamente. Foi a primeira cerimônia desse tipo que ele viu. Mas, uma coisa que chamou a atenção desse meu amigo foi que, apesar do clube onde a cerimônia foi realizada estar lotado, era nítida a ausência de muitos pais e de muitas mães (dos casais) por lá. Havia irmãos, irmãs, amigos e amigas dos noivos e das noivas, mas poucos pais ou mães. Ele suspeitou que a razão fosse preconceito, rejeição e uma fobia para cada letra da sigla LGBTQI. Provavelmente, esse meu amigo estava certíssimo.

Como assim? Pais que não vão ao casamento dos próprios filhos e filhas? Quantas vezes você já viu isso em sua família, vizinhança, agremiação religiosa ou clube de lazer, em se tratando de casais heterossexuais? Estou quase certo de que a resposta será "nunca!".

Mas será que esses pais e mães pararam para pensar que aquelas pessoas terão os nomes das suas famílias daqui para frente? Também poderão ter filhos, sejam agregados, adotados ou até mesmo gerados por meio de inseminação artificial ou barriga solidária, os quais levarão o nome da família. Serão seus netos. E como será a convivência desse casal e de seus filhos com os pais e avós que se renegaram um momento tão especial como a cerimônia de casamento desses pais que constituíram uma nova família? Pouca coisa poderia ser mais ridícula e insensível por parte desses pais 
e dessas mães (de filhos gays) de meia-tigela.

Um pouco da minha própria experiência

E o pior é que eu nem posso me dar ao luxo de dizer que meus pais fizeram diferente, porque quando eu casei com o meu agora ex-marido, eles também não foram ao casamento e nem nos deram os parabéns. Sabiam que estávamos para nos casar e nem perguntaram quando ou onde e nem pensaram em fazer alguma comemoração, mesmo sendo uma família que comemora até final de obra na garagem. 

Acabamos nem fazendo festa, porque sabíamos que seria mais uma dor de cabeça. Tudo foi feito no cartório mesmo. Depois, só saímos para almoçar com as pessoas que foram nossas testemunhas, ou seja, minha irmã Kátia e uma amiga nossa chamada Jaqueline.

Mas, geralmente quem se casa tem condições de se manter e de morar com seu cônjuge de modo independente, ou seja, já usufruindo de certa autonomia. Existem casos bem mais complicados do que isso.


O caso do jovem que foi vítima do pastor fofoqueiro

Como ficam, por exemplo, as crianças, os adolescentes e os jovens LGBTQI que não podem se afastar de uma família desprezadora, opressora, espancadora, chantagista?

Não sei explicar exatamente por quê, mas por alguma razão, muitos desses jovens se sentem à vontade para conversar comigo através dos meus canais na internet. Talvez, seja porque leiam o que eu publico ou as entrevistas que dou por aí. Provavelmente, eles se identificam com minha história, minhas ideias, meu modo de encarar a vida. Sei lá. O que sei é que, vez por outra, algum deles me procura para desabafar.

Dia desses, quem me procurou foi um rapaz do Centro-Oeste. Ele tinha apenas 19 anos, mas já se via angustiado ao ponto de só pensar em arrumar um emprego e sair de casa, porque não aguentava mais tanta opressão por parte do pai e da mãe. Ele me confessou que já apanhou muito do machista homofóbico que o gerou. Segundo ele, o pai conseguiu praticamente destruir um cinto espancando-o depois que soube que ele era gay. 

E como foi que o pai soube que ele era gay?

Foi de um modo sórdido e envolveu um pastor. 

O pastor da igreja dos pais dele manipulou o rapaz para que confiasse nele e lhe contasse que era gay. Quando a família decidiu deixar a igreja que frequentava para começar a frequentar outra, o "homem de deus" jogou tudo isso na cara dos pais, alegando que essa transferência era obra do Capeta e que o Diabo já estava no meio da família deles. Em seguida, o pastoreco disse que o agente do Demônio era o rapaz, que ingenuamente havia confiado nele no gabinete pastoral. 

O menino até hoje não sabe como o pai não o matou depois de tanto espancá-lo. E isso só parou, porque ele saiu de casa, voltando altas horas, porque não tinha para onde ir. Como ele não deu notícia de seu paradeiro por horas, os pais ficaram preocupados que ele pudesse desaparecer de vez e pararam de bater nele, mas continuaram humilhando o rapaz de várias maneiras depois que ele voltou para casa. 

Que saída ele vê pela frente? Claro que é sair de casa assim que puder. Detalhe: os pais chegaram a mandá-lo para outra cidade, num ponto extremo do nordeste, apenas porque não queriam que o novo pastor e a nova igreja soubessem que o filho deles é gay. Com isso, colocaram o rapaz numa situação terrível, porque nessa cidade interiorana e pobre, ele não teria condições de estudar adequadamente ou de conseguir um bom emprego. 

Depois de um tempo, eles voltaram com o jovem para o Centro-Oeste, mas até agora, ele não conseguiu emprego algum - nem bom nem ruim, porque a cidade em que ele voltou a morar com os pais também é muito limitada.

Mas quer saber o que me admira? Duas coisas. 

Eu me pergunto o seguinte:

(1) Como um jovem desse não se matou no meio de tanta angústia? Será que as pessoas que leem esse texto percebem a relação entre o suicídio de jovens LGBT e as fobias por parte de familiares e "amigos" para com cada uma dessas orientações sexuais ou identidades de gênero? 

(2) Como ele ainda pode ter alguma confiança nessa gente? Ele foi traído pelo pastor, com quem comentou sobre sua orientação sexual. Mais tarde, ele foi traído pela própria mãe, que comentou com o pai que ele queria arrumar um emprego e sair de casa, criando mais um fuzuê terrível dentro de casa. 

Moral da história: Não dá nem para confiar na própria mãe, quando ela também é homofóbica, minha gente!!!

Quando a mãe se torna sua maior inimiga


Vejamos essa outra história. Esse outro rapaz confiou na própria mãe, que lhe perguntou direta e insistentemente se ele era gay, jurando que isso não mudaria nada entre eles. Bastou que ele dissesse que era gay, confirmando o que ela já imaginava, para que ela virasse uma fera e não lhe desse mais sossego. 

O rapaz é um dos jovens mais brilhantes e estudiosos que eu já conheci, mas fica profundamente triste, beirando a depressão, porque a mãe o chama de todos os nomes, menos de "meu amor". Apesar de tudo isso, ele nunca quis sair de casa. Porém, ele precisa - mais do que nunca - ter sua própria fonte de renda para se garantir, porque a mãe pode expulsá-lo de casa a qualquer momento. 

Sempre que ele me conta sobre mais alguma violência sofrida dentro de casa, meu coração é tomado por uma sensação de estar embrulhado em arame farpado.

A tragédia de um jovem universitário


Hoje, fiquei sabendo por duas pessoas diferentes do caso de um rapaz chamado Lucas que estudava na UFRJ. Ele tinha apenas 20 anos de idade e era gay. 

Um dia, ele decidiu falar com a mãe sobre esse aspecto de sua subjetividade. 

E aqui me faço uma pergunta: Por que será que pessoas gays têm que dizer às outras que são gays? 

E eu sei a resposta. Parte da razão é porque essas toupeiras homofóbicas assumem que todo mundo, via de regra, é heterossexual. 

E como se isso não bastasse para complicar as relações, elas fazem cobranças, tais como: Cadê a namorada? Viu a fulaninha, filha do beltrano? Ela não é uma gata? E por aí vai. Sem contar aquela mania da mãe de jogar as filhas das amigas para cima do caboclo, quando se trata de um filho, ou os amigos bem-sucedidos da família, quando se trata de uma filha. 

Pois bem, bastou que ele contasse à mãe que era gay para que ela o rejeitasse completamente. Como vivia sendo maltratado, o rapaz saiu de casa. E nem isso demoveu essa estúpida, que se julga mãe, de sua estupidez. Ela dizia que preferia ver o filho morto a vê-lo com outro homem. 

Por uma mórbida ironia da vida, o rapaz morreu essa semana, afogado na praia de Ipanema, depois de um jogo de vôlei numa partida com dois times formados por pessoas LGBT. Esses encontros semanais servem como momento de descontração entre aqueles que sabem muito bem o que é enfrentar preconceito.

Nem mesmo no enterro do filho, a megera que o pariu foi capaz de se sensibilizar. Ela chegou a dizer que não queria ver os amigos gays dele no enterro. O namorado dele nem pôde chegar perto do caixão. Só conseguiu ficar de longe, porque a irmã de Lucas, o falecido, insistiu com a mãe que não impedisse o rapaz de ficar pelo menos ali. 

Foi mais um luto de parceiro gay, lésbica, bissexual ou transgênero que não foi respeitado por preconceito heteronormativo.

A menina de Campinas 


Parece muita coisa de uma vez só? Mas não é, não. Essa é só uma pequena seleção de casos reais com os quais tive algum contato. Mas ainda nem falei sobre a menina, moradora de Campinas, cujos pais eram crentes e que mantiveram a moça em cativeiro domiciliar, sem telefone, sem internet e sem ir à escola (menor de idade!!!) - tudo isso passível de processo jurídico, caso ela quisesse denunciá-los. 

Infelizmente, a menina não quis que eu enviasse ajuda. E de fato, essa é sempre uma situação extremamente complicada, pois se ela registrar uma queixa contra eles, para onde irá se for obrigada a sair de casa? E se ficar em casa, como será a vida quando já não houver qualquer policial para protegê-la?

Essa jovem sofreu exorcismos por parte de pastores e outros crentes da igreja dos pais. Ficou tão cansada que decidiu fingir que gostava de um menino para ter sossego. Espero que não engravide dele, porque seria um desastre ainda maior. Provavelmente, ela sairá desse armário de novo mais adiante (e definitivamente!!!), mas é importante notar que toda essa violência foi praticada pelos próprios pais e pode se repetir.

E a minha família? Foi diferente?


Aí, eu paro para pensar na minha própria família. Eu mesmo já disse que tudo melhorou muito ao longo dos últimos anos. Mas será mesmo? Será que eles mudaram de fato ou fui eu que me tornei tão independente material e emocionalmente que eles não tiveram outro jeito senão "fazer concessões" ou "aceitar a realidade que está aí", e eu acabei me acostumando? Mas, será que me acostumei mesmo? Talvez, não.

Concessões, condescendência, tolerância - nada disso me interessa. Especialmente, se a condição é aquele velho e apodrecido jargão: "Tudo bem, mas não fale sobre isso" ou "OK, mas não me conte sobre seu namoro"; "Debaixo do meu teto, não quero ouvir falar de tal coisa"; e por aí vai.

Se esse é o quadro, isso não tem outro nome, senão: 

H-I-P-O-C-R-I-S-I-A. 

Podemos chamar de preconceito maquiado - e olha que essa maquiagem nem esconde tanto assim as feridas pútridas que o preconceito abriu e que têm permanecido abertas no meio da testa de vários deles. 

Ah, se também abriu feridas em mim? Certamente, mas muitas delas hoje são só cicatrizes e um tributo à minha própria resistência e insistência em viver e ser feliz. 

Me matar por causa de gente besta? NUNCA! Vou viver para ser feliz e realizar tudo o que eu puder. E tomara que eles vivam para ver e aprender alguma coisa com isso.

Não estava em casa quando aconteceu, mas soube de um quiprocó entre meu pai e minha irmã que rendeu um barraco ridículo. E tudo porque ela comentou alguma coisa sobre política que desagradou a audiência. Os malditos debates 'coxinhas' versus 'petralhas'. Outra babaquice no meio de tantas que já existem.

Na verdade, essa foi apenas a válvula de escape para a lesbofobia contida, mas não resolvida na cabeça do meu pai. Sim, porque minha irmã do meio (tenho duas) é lésbica. Demorou muito até que ela tomasse a decisão de se colocar publicamente, mas hoje ela tem página no Facebook, fan page de poesia girando em torno de temas LGBT e frequenta eventos voltados para cultura e para a militância em prol dos direitos da população LGBTQI. Em resumo: Acabou se resolvendo consigo mesma e ligando o "botão do foda-se" para os outros. Faz muito bem!

Quando ela me comentou o que havia acontecido, decidi não tomar partido. Achei melhor não tirar satisfações sobre coisas que não presenciei. Porém, não fiquei indiferente. Comecei a recapitular certas atitudes da parte de alguns familiares. Cheguei à conclusão de que é possível (e desejável!) ser feliz sozinho. Mas não confundam isso com a ideia de viver em absoluta solidão. O que quero dizer é que é possível e desejável que selecionemos as companhias que têm afinidades conosco de verdade, assim como os momentos mais apropriados para conviver com elas. E para pertencer a esse (meu) círculo, ninguém tem cartão VIP garantido por consanguinidade. Até mesmo pai e mãe podem não fazer parte da lista dos mais cotados. E de fato, eles enfrentaram cerca de quatro anos de silêncio da minha parte até se desculparem por injustiças que me fizeram e aprenderem a conviver comigo e com a pessoa que eu amo. Funcionou e foi melhor para todos, mas não foi fácil.

Por que não morar junto com pais fundamentalistas?

Veja só um pequeno exemplo do que é a chatice de um ambiente assim quando a convivência é prolongada: O cabra leva um tempo sem ver os pais, mesmo morando perto. Quando vai lá, a TV está ligada naquela novela "Os Dez Tribufentos" - afinal, de Dez Mandamentos, o enredo tem muito pouco. 

Ele faz de conta que não está nem prestando atenção à mais nova estratégia de vendas do bispo e procura não interromper muito a devotada atenção da audiência, mas o pai, não satisfeito, começa a fazer o "Galvão Bueno" do folhetim miserento. 

O filho, careca de conhecer Bíblia e a teologia protestante em seus vários matizes, fica no "ham ham", "seimm", mas ele não se toca. 

Agora, se o filho falar que viu um filme incrível sábado passado, no qual a personagem principal era uma drag queen chamada Starlight, e que ela  fazia um lindo trabalho social no meio do deserto central australiano, ajudando a resgatar a auto-estima de crianças e adolescentes em comunidades aborígenes, esse "filho dos infernos" corre sério risco de ser apedrejado - bem no estilo das leis supostamente atribuídas ao deus tribal dos hebreus pelo Moisés bíblico.

Quer mais? Então, tome mais uma xícara de café...

1) Eles se sentem no pleno direito de falar de deus, mas ai do filho se falar uma palavra sobre ateísmo.

2) Eles acham que podem dizer que ainda vão ver o filho voltar para a igreja, mas se ele disser que os pais fariam bem em deixá-la, isso desencadeará a batalha do Armagedom. 

3) Eles podem falar da nostalgia dos velhos tempos em que o filho era um idiota útil nas mãos da igreja (claro que eles dizem "bênção nas mãos do Senhor"), mas o filho não pode falar da delícia que foi ver tanta gente celebrando a diversidade sexual e de gênero na última parada LGBT, ou que gostoso foi ver a diversidade queer na I Conferência [SSEX BBOX] &MIX BRASIL em São Paulo, ou como foi construtiva a reunião de ateus e agnósticos em Campina Grande no feriado do carnaval passado. 

4) Eles podem falar dos romances que os filhos dos amigos deles estão vivendo sob as supostas bênçãos de um defunto que foi desprezado por seu próprio povo há dois mil anos numa terra-de-ninguém, mas o filho deles não pode falar de seu último relacionamento, e por que foi que não deu certo, ou como ele se sente a respeito disso. 

5) Sem contar que se o filho deles (ateu!!) comer qualquer folha de alface da mesa deles, terá que amargar uma oração quilométrica. E apesar de saber que nada daquilo chegou ali por milagre, o filho, por educação, ficará quieto e esperará o final daquela cena patética.

Agora, se ele falar do desperdício que são o dízimo e as doações para a igreja, o tolinho será acusado de ser cúmplice da lagarta, do gafanhoto, da locusta e do pulgão (Joel 1.4) para devorar o que eles tenham ou possam vir a ter. E apesar de todos os dízimos, vivem apertados financeiramente, porque o pulgão, a locusta, o gafanhoto e a lagarta são os pastores que os exploram. Como se já não bastasse o Estado com seus impostos vorazes e a inciativa privada que provê luz, gás e outros serviços básicos a preços astronômicos. 

Resumo da ópera: eles podem dizer tudo o que desejam, mas não admitem que o outro diga o que pensa ou o que sente. Então, para que reunião de família, afinal? Fiquem com seus irmãozinhos-de-araque-em-Cristo! Fiquem com sua novela babaca! Fiquem com seus testemunhos de "transformação", que são meras tentativas de dar sentido ao que não faz sentido algum! Fiquem com suas orações e flashbacks de tempos que - felizmente - nunca voltarão! Continuem gastando seu dinheiro com os dízimos e as ofertas que só servem para manter o império dessas inutilidades religiosas! 

Quanto a mim, eu ficarei na paz e no amor do meu próprio cafofo, e quando eu quiser companhia (muito mais interessante, por sinal), sei exatamente onde encontrar.

Natal - a época mais chata de todas


Ah, sim, ainda tem esse amigo oculto de natal que eles planejaram para esse final de semana. Se eu vou? Claro que não! Estou fora! 


E só para dar uma ideia do pandemônio que se avizinha: deve vir tia homofóbica - a mesma que teve a cara-de-pau de me dizer absurdos homofóbicos dissimuladamente durante o velório do próprio marido. Vem minha outra irmã que só não é mais chata por falta de espaço. Vem gente da igreja dos meus pais - tão homofóbica quanto eles ou mais. 

Sabe aquele povo crente que conta a mesma história de livramento (os famigerados testemunhos) toda vez que encontra um par de ouvidos azarados por perto? Vem também. 

E não apenas isso, mas eles ainda têm a ousadia de dizer em rodinha de conversas - naquele evangeliquês que só os iniciados entendem - que acham o miserento do Silas Malafaia uma bênção. E olha que nem são da igreja dele!!! Mas o que é um peido para quem já está cagado, não é mesmo? 

Além de tudo isso, ainda tenho outras razões para querer ficar bem longe dessa "abençoada confraternização", mas as que apresentei até agora já bastam para dar uma ideia do que tenho em mente. 

Infelizmente, não vêm duas famílias de primos que sempre me rendem bons momentos, porque uma está em Vila Velha (ES) e outra em João Pessoa (PB). Adoro conversar e rir com essa turma, mas essas pessoas estão em dois paraísos bem longe da Cidade "Maravilhosa" e seus habitantes paranoicos. 

Quanto às outras duas lindas e glamourosas primas com quem eu adoro trocar ideias, eu posso encontrar a qualquer momento, porque elas moram no Rio e super curtem nossos encontros. E nessas ocasiões, não há censura babaca e nem conversa chata. ;)

E o natal, Sergio Viula? Estão faltando 16 dias. Como vai ser?

Ora, ano passado, eu já tinha me mandado. Reservei hospedagem num hotel aqui do Rio mesmo e fiquei super zen. Passei o dia lendo, vendo TV e passeando pela cidade. Dormi profundamente. No dia seguinte, café da manhã caprichado e outras refeições pelos caminhos que trilhei. Foi excelente! 

Esse ano talvez faça mais do que isso. É possível que fique fora por todo o tempo entre o natal e o ano novo. 

Claro que muita gente pode achar tudo isso um absurdo, mas eu garanto que nada é mais absurdo do que perder tempo com pessoas que odeiam tudo o que você representa. Algumas nem disfarçam, mas outras tentam dissimular, apesar de nunca convencerem o mais idiota dos idiotas. E tudo isso porque querem acender uma vela para deus e outra para o diabo. Querem preservar preconceitos por acreditarem que assim agradam a deus (deusinho ordinário esse!) e, ao mesmo tempo, bancar os condescendentes, tolerantes, porque podem precisar de você algum dia. Queiram fazer a gentileza de enfiar tudo isso no cu, por favor. 

Ora essa, tenho 46 anos nos cornos e parece que cada ano que passa leva mais um pouco da minha já escassa paciência.  Não estou nem um pouco interessado em aturar gente que nunca muda - gente que vive na ignorância perpetrada por aqueles que esperam a volta de um defunto que há mais de mil dois anos tem servido de instrumento para manobras as massas. Essa mesma gente que é incapaz de olhar em volta e celebrar a diversidade e as belezas da vida, mesmo que elas estejam corporificadas em seus próprios filhos.

Meu conselho para quem sofre com o desprezo ou até mesmo a violência verbal e física daqueles com quem vivem é muito simples: 


1) Trabalhe, ganhe dinheiro. 

2) Depois, compre ou alugue qualquer quitinete. É melhor o pouco com paz do que o muito com guerra. 

E isso não é novidade. O livro de Provérbios, que nada mais é do que uma compilação de ditos populares corrente entre os judeus antigos, diz o seguinte no capítulo 17.1:

"Mais vale um bocado de pão seco, com a paz, do que uma casa cheia de carnes, com a discórdia." (Pv 17:1)

E é isso mesmo que vou fazer. Não que eu vá comer um bocado de pão seco. O cardápio aqui em casa é melhor do que isso. É que dispenso mesas fartas e falatórios insuportáveis em festas absolutamente monótonas e cheias de gente cansativa e limitada, sem as quais posso passar muito bem, obrigado.

Moral da história: Se for possível viver em paz e ser respeitado pelos seus familiares, cultive esse lindo jardim. Ele é raro no mundo. Mas se tudo o que sua família faz é parasitar as mais belas e sensíveis flores do seu caminho, você não perderá nada ficando longe dela. Se havia algo a perder, já foi perdido, e não depende só de você recuperá-lo. Talvez, nem possa mais ser reconquistado.


E o que desejo para todos, familiares ou não, é muito simples: felicidade. Mas, não necessariamente dividindo a mesma sala comigo. 

Comentários

  1. Sergito, seu lindo!!! Vc, como sempre, é maravilhoso e arrasa quarteirão, em suas colocações, suas palavras. E é por esse é por vários outros motivos que, a cada dia, sou mais e mais sua fã. Rsrs Ainda bem que estamos bem pertinho mesmo, pra trocarmos ideias e darmos muito gargalhadas,quando e onde quisermos. Rsrs Te amo!! #prasempre Um mega beijo 😘😘😘💋💋💋

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    1. Amei, Betita. Vc arrasa tb, linda! Saudade de ti. Vamos nos ver em breve, prometo.

      Beijocas coloridas e purpurinadas. Hehehehe

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  2. "Se havia algo a perder, já foi perdido."

    É por isso que não perco meu tempo tentando me reaproximar dessas pessoas. Estar perto delas, ainda que elas pudessem passar a me amar de verdade, vai trazer de volta meus 20 anos para serem vividos como poderiam ter sido vividos?

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    1. Isso aí, Padeti.

      Penso o mesmo.

      Abração,
      Sergio Viula

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    2. Em alguns trechos do seu texto pode parecer que você foi grosseiro ou passou dos limites para quem não nasceu nessa família como nós e já amargamos muitos maus pedaços por incompreensão, preconceito e ódio gerado por fundamentalismo religioso, machismo, misoginia, homofobia e por aí vai... Mas você está certíssimo e usou as palavras na medida certa. Cansei de babaquice e desrespeito. Não vou mais pagar para ver. Robin Willians disse pouco antes de morrer que o pior da vida não é chegar ao fim dela sozinho, mas cercado de gente que o faz sentir-se sozinho. Já cansei de muita coisa, por isso hoje prefiro me cercar de gente que me faz sentir bem e em paz. Beijocas da sua eterna parceira e irmã.

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    3. Isso aí, Katita. Tico & Teco na área. Beijos, linda! E vamos ser felizes. Aos mortos, a tumba. Aos vivos, a vida! ;)

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  3. Sergio, sou casado, mas apaixono-me cada vez mais por vc rsrs...
    Comprei seu livro ainda no ano passado, ele já passou por várias mãos e ainda não o li, acredita. TCC, cursos, estágio, trabalho (fora o tempo emprestado)... essas coisas boas tiraram meu tempo, porém, mais do que isso, estava esperando esse momento de tranquilidade que estou entrando agora.
    Sobre este texto, não poderia deixar de comentar, senti o sentimento em cada palavra. Não tenho essa mesma experiência com minha família, não nesse nível, pois eles aceitam mais 'abertamente' minha 'situação', mas sempre fica aquela deixa: "um dia deus vai tocar no seu coração e voltará para ele". Isso é bem frustrante.
    Grande abraço, até breve...

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    1. Que linda mensagem, Ezequiel! Muito obrigado. Que bom saber que o livro está se multiplicando nas mãos de amigos seus. Espero que a leitura seja proveitosa para todos. Parabéns pelas realizações. Não é fácil, não. Grande abraço, meu querido. Saúde, paz e muita felicidade no caminho.

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  4. Excelente texto.
    Continue seu caminho.
    O de acolher pessoas.

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