Felicidade é possível?


Existem pelo menos quatro razões para a infelicidade humana: temer a ira dos deuses, apavorar-se diante da morte, escolher mal os objetos do desejo e angustiar-se ante o sofrimento. A felicidade, entretanto, não é difícil.

A ira dos deuses e o pavor da morte caem por terra quando compreendemos que não estamos sujeitos ao temperamento dos deuses — sejam muitos ou seja somente um. O mundo parece funcionar de acordo com uma dinâmica essencialmente atômica. A morte é a desagregação de nossa atual composição atômica, ou seja, essa configuração que resultou em nosso corpo e que o mantém em funcionamento, seja em nível físico, intelectual, emocional, etc. Enquanto somos, não há morte; e, quando a morte chega, deixamos de ser. Não há sofrimento pós-morte. Pode haver algum antes que ela se concretize, mas não depois. E mesmo esse que pode precedê-la tem fim certo.

Já a busca pelo objeto de desejo e a angústia ante o sofrimento têm a ver com a ética que adotamos. Precisamos entender que dor e prazer mesclam-se na vida. Prazer não tem nada de mal em si, mas o modo como o buscamos pode ser destrutivo ou não. Muito do prazer enlatado que as pessoas compram quando vão em busca de fontes imediatas de satisfação acaba por prejudicar sua própria vida e a de outros. Isso traz infelicidade. Devemos, sim, buscar o maior prazer possível e evitar o máximo de dor possível — para nós mesmos e para outras pessoas. Viva com prazer, mas não deixe de avaliar "como" pretende fazer isso. Prazer duradouro e benfazejo conjuga afetividade com racionalidade.

A vida é boa. Ninguém quer perdê-la. Mas o grande barato da vida é desfrutar de bem-estar o maior tempo possível — e isso passa pela paz interior, pelas amizades (de verdade) e pelo gosto pelo que é verdadeiro. Não há deuses a quem temer ou a quem recorrer. Não há mistério na morte. Não há prazer errado, mas modos ilegítimos de se obter prazer. Não há como nunca sentir dor em algum grau, mas podemos evitá-la ou remediá-la de muitas maneiras. Há prevenção e remédio para a maioria das dores que podemos experimentar no dia a dia. O que nunca devemos é nos angustiar ante a possibilidade de perder o que nos dá prazer ou de deparar com o que nos possa causar dor, porque isso já seria sofrimento antes mesmo de qualquer situação concreta de dor.

Viver hoje do jeito mais gostoso possível, sem angústia, sem medo, sem estresse. Extrair prazer das pequenas e grandes coisas. E nunca esquecer que nossa própria finitude deve ser nosso maior incentivo à felicidade e à realização plena de nós mesmos. Colocar metas alcançáveis e produtivas, que tragam satisfação — e não ansiedade na tentativa de fazer o que é impossível — é uma das muitas maneiras de realizar seu potencial sem perder a si mesmo de vista.

Existem mil maneiras de sentir prazer sem prejudicar a si mesmo ou aos outros: invente a sua!!!

Comentários

  1. Eu já tinha chegado a coclusões muito parecidas com essas. É muito bom saber que mais pessoas compartilham da nossa visão do mundo e da vida.
    Abração

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  2. Legal saber que existe mais gente nesta mesma sintonia. Que bom que vc visitou e comentou. Fico super feliz quando leio comentários dos meus leitores.

    Um grande abraço e fique à vontade para ler e comentar outras vezes.

    Sergio Viula

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