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Que domingo! Que dia emblemático!

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  No Amazon: https://www.amazon.com.br/Marielle-Monica-hist%C3%B3ria-amor-luta/dp/6589828350 Por Sergio Viula Que domingo! Que dia emblemático! Esse é o último domingo do mês de março - mês da mulher. É também o 10º dia depois do aniversário de seis anos do assassinato da vereadora Marielle Franco. E foi precisamente nesse domingo que foram presos três acusados de serem os mandantes do crime que chocou o Brasil e o mundo. Foi na manhã desse domingo, 24/03/2024, que foram presos o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ); o irmão dele, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio; e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa. Os três encontram-se no Presídio Federal do Distrito Federal por suspeita de mandar matar Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Relembrando alguns dos principais fatos sobre esse crime hediondo: Marielle Franco era uma ativista dos direitos humanos e vereadora no Rio de Janeiro. Ela foi assassinada a tiros em 14 de março de 2018 jun

ATEU HOMOFÓBICO – UMA QUIMERA




ATEU HOMOFÓBICO – UMA QUIMERA

De um ateu para outros ateus ou a quem possa interessar

Por Sergio Viula



Muitas quimeras já foram idealizadas por esse mundo afora, mas nenhuma é mais paradoxal do que um ateu que cultiva pensamentos homofóbicos ou palavras e posturas desse feitio. Felizmente, essas pessoas são vistas em número cada vez menor por aí. Alguns são muito barulhentos, mas não perfazem a maioria dos ateus. Alguns dos maiores nomes do ateísmo moderno são realmente pró-diversidade em todos os sentidos. O que me deixa perplexo é ver como os desafinados com a diversidade sexual não percebem que todo esse fervor anti-gay é herança da religião (ou das religiões) a que foram submetidos desde pequenos, bem como das instâncias – também influenciadas por estas – que se ocuparam de sua educação. Uma vez acriticamente internalizados, tais preconceitos contra a homossexualidade, a bissexualidade, a transexualidade, etc nunca foram esquadrinhados com o mesmo zelo racional com que tais precipitados ateus puseram à prova outros preconceitos e dogmas religiosos. 



Metaforicamente falando, não adianta um ateu se livrar da cabeça (deus) e guardar o resto do cadáver (crenças preconceituosas e moralismo dogmático). É preciso se livrar do morto todo. Aliás, desse cadáver que tanta gente tenta conservar só se tira uma lição: a de que a vida não pode ser encaixotada por mandamentos, prescrições e ordenanças. 

A ciência, por sua vez, não dita comportamento sexual (ou outros). Em outro campo, um dos prediletos da filosofia, uma ética da felicidade rechaça tais preconceitos, uma vez que o amor entre pessoas capazes de decidirem por si mesmas é absolutamente digno de existir, qualquer que seja a orientação sexual ou a identidade de gênero dos envolvidos. Tal postura ética diante da vida entende que as pessoas são livres para realizarem suas biografias, e estimula cada uma delas a construir sua própria história visando à realização pessoal, ao mesmo tempo em que conclama cada indivíduo a respeitar o espaço do outro, bem como suas possibilidades e seus direitos, de modo que este também possa experimentar o máximo de felicidade na vida. E não me refiro a momentos de euforia; refiro-me àquela sensação de que se está vivendo o mais fielmente possível a si mesmo, somando-se a isto uma convivência politicamente correta com o outro. Tal vivência nos coloca anos-luz à frente de qualquer pessoa guiada por mandamentos. E que ninguém se precipite: "viver de maneira politicamente correta" nada tem a ver com esse arremedo debochado que alguns espalham por aí, como se fossem muito originais em sua rebeldia contra o que é justo, belo e bom no sentido em que os gregos entendiam a virtude. Quem assim faz demonstra sequer ter compreendido o que significa a frase "o homem é um animal político". Como esperar, então, que entenda o que é viver de modo politicamente correto? 

Ainda de olho em nossa espécie, quando penso naquele humano mais primitivo, que, já sendo um de nós, vez por outra, se divertia despreocupadamente com o outro macho, ou nas primitivas fêmeas de nossa espécie que transavam com outras fêmeas, exatamente como fazem centenas de outras espécies, que se relacionam esporádica ou fixamente com membros do mesmo gênero em nossos dias, sem qualquer problematização desse gozo, não posso evitar um sorriso ironicamente condescendente para com os que já se acham muito distantes do Pentateuco ou das Epístolas Paulinas, enquanto continuam sendo assombrados por fantasmas dali emanados. Será que esses ateus pela metade, que ainda sustentam discursos religiosos, fazendo malabarismos hermenêuticos para não soarem tão dogmáticos quanto os crentes assumidos, isto é, para não soarem “cristãos” demais, não percebem a armadilha em que caíram? Como ousam se gabar de fundamentos tão lodacentos na construção de sua moralidade? Mesmo que utilizem um termo ou outro falsamente científico, com alguma retórica aparentemente irrefutável, será que não percebem que enfeitar o cadáver não o torna menos morto ou – ainda pior – não diminui seu potencial de contaminação para quem o carrega continuamente sobre as costas? 

A relação sexual entre membros do mesmo gênero, dentro de uma mesma espécie, remonta aos primórdios da nossa história evolutiva e parece que vai permanecer entre nós enquanto esse bicho que a gente chama de humano não vier a ser outra coisa, alguma coisa que não transe, por exemplo. Porque, uma coisa se pode afirmar com base em nosso histórico: enquanto houver sexo, haverá bi/homo/heterossexualidade, como sempre houve. Antes, sem problematização de qualquer ordem. Não era sequer nomeado dessa maneira pelos primeiros homens, como não é pelos outros animais. A herança maldita imposta pelas religiões monoteístas à sexualidade humana, por meio de suas crenças castradoras, mortificadoras, desnaturalizantes, não pode ter outro destino senão o completo descarte por aqueles que desejam pensar e agir de modo plenamente racional. As interpretações desses fenômenos da afetividade e da sexualidade humanas poderão ganhar novas cores no futuro, mas o fato de dois indivíduos do mesmo gênero transarem, identificados ou não por certas “etiquetas”, é e sempre será um fenômeno (aquilo que aparece, aquilo que acontece) inerente à humanidade. E, a menos que nossa espécie se extinga por circunstâncias cosmológicas previsíveis ou jamais pensadas, o mundo ainda será palco de muitos orgasmos entre pessoas do mesmo sexo e de sexos diferentes, exclusiva, simultânea ou alternadamente. E que diferença faz para a ordem natural se fulano e sicrano entendem isso ou complicam tudo? A natureza, inclusive a nossa, abrirá passagem e seguirá indiferente.

Agora, uma coisa é certa: Os seres humanos e suas comunidades serão muito mais felizes se viverem sob o comado de uma razão a serviço da felicidade humana, começando pela sua própria. E vejam que já existem vários religiosos experimentando essa liberdade, a despeito de sua crença no divino ou até mesmo por causa dela. Deviam se envergonhar de sua superficialidade, esses ateus quiméricos muitos dos quais vivem ridicularizando as pessoas de fé tanto quanto ridicularizam os LGBT. 

Já deu. Se não deu, devia ter dado - se é que me entendem. ;)


P.S.: A Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS), a Atheist Alliance International (AAI) e a International and Ethical Union (IHEU), só para citar três, são exemplos de organizações que agregam ateus, agnósticos, céticos, secularistas, humanistas e são francamente pró-diversidade com igualdade de tratamento e de direitos.

Comentários

  1. Cite mais uma: a Ateus e Agnósticos de Pernambuco - APE. Nossa organização é frontalmente contrária à homofobia!

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  2. Excelente texto, Sergio!
    Realmente, é raro ver um ateu assim - mas infelizmente existe (já topei com um, pelo menos).O ateu mesmo, é aquele que busca se orientar - no que concerne buscar entender a realidade - através da ciência.E a ciência já nos indica a existência de centenas - senão milhares - de animais na natureza em que se observa a homossexualidade. SIM!Ser homossexual É NATURAL!
    Aos que (se dizem 'ateus')ainda não por onde se orientarem (aliás, esses não devem nem saber - assim como muitos crentes - o que é ORIENTAÇÃO SEXUAL : veem como "opção") pra saber o que é ou não 'natural', eu digo: Natural é tudo aquilo que existe independente da vontade humana, sr "ateu".

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  3. Obrigado pelo carinho dos comentários, pessoal.

    Abraço a todos e todas,

    Sergio Viula

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