Verdadeiras e Verdadeiros Transexuais Precisam ter a Chance de Fazer a Operação de Mudança de Sexo. Porém, ...

Roberta Close

Por Sergio Viula


A operação para mudança de sexo nunca foi tão acessível! E isso é uma tremenda conquista para a parte da população brasileira denominada transexual. Muito disso, porém, se deve à atuação do presidente Lula e seus ministros. Só as pessoas transexuais sabem quanto dói ter uma psique que não combina com o corpo – psique e soma não se harmonizam até que a pessoa transexual passe pela devida adequação do físico ao psíquico. Daí a importância dos tratamentos e das operações para mudança de sexo.

Dou todo meu (singelo) apoio a essas pessoas que finalmente alcançam paz existencial quando completam, com êxito, esse processo.

A maioria das transexuais anda entre nós, sem que percebamos facilmente que são transexuais, tamanha a identificação do aparente (o corpo) com o essencial (a identidade). Outras pessoas, por fatores genéticos e por questões de idade, dependendo de quantos anos têm quando começam o tratamento para a adequação do corpo, podem ainda ser notadas como algo entre o masculino e o feminino, apesar da mudança de genitália. Isso não faz diferença em termos de quão transexual alguém realmente é, se podemos dizer assim.

Logicamente, a pessoa pode ser verdadeiramente transexual, independentemente da aparência, porque o fenômeno da transexualidade é primeiramente intrínseco, e só depois se mostra externamente (ou não).

Dizendo isso, introduzo aqui uma distinção: existem verdadeiros transexuais e existem pessoas que procuram na operação de mudança de genitália uma forma de adequar sua homossexualidade (o máximo possível) à heterossexualidade normativa. Homossexualidade e transexualidade são duas coisas distintas.

Homossexual é o indivíduo, homem ou mulher, que se sente atraído por pessoas do mesmo gênero: homem por homem e mulher por mulher. Transexual é o indivíduo, homem ou mulher, que não se sente pertencente ao gênero que seu sexo biológico aparentemente lhe confere, ou seja, sente-se mulher, apesar de ter pênis, ou homem, apesar de ter vagina, e sofre por causa dessa diferenciação quando entra em contato com os próprios órgãos genitais, mesmo em situações simples como no ato de vestir-se, tomar banho, urinar.

Enquanto um homem gay pode curtir muito prazer com sua genitália (o mesmo valendo para uma mulher gay), o/a transexual - como tradicionalmente definido/a - não obtém prazer algum de sua genitália. Tudo que ela/ela sente pelo próprio órgão sexual é desgosto e repúdio. Essas pessoas, que são verdadeiramente transexuais, precisam da operação, dos tratamentos hormonais, do acompanhamento psicológico, médico, etc., até chegar ao final do processo, que geralmente leva uns dois anos, em média.

Todavia, existem aquelas pessoas que, movidas pela mídia e por toda propaganda que se faz em torno da operação de mudança de sexo, pensam ser essa a solução para uma questão de outra ordem. Essas pessoas (homossexuais, não transexuais verdadeiramente), premidas por diversos preconceitos introduzidos ao longo da infância, adolescência e que ainda podem acompanha-los na fase adulta, acabam vendo na operação de mudança de sexo, uma via de escape dos problemas que enfrentam por não gostarem de transar com pessoas do outro sexo. Sua afetividade é homossexual, mas acreditam que se mudarem de genitália estarão finalmente livres do preconceito que as persegue desde sempre. Neste caso, a operação é mera e trágica amputação, podendo gerar problemas futuros, inclusive arrependimento de ter operado. A operação, contudo, é irreversível, e por isso mesmo, não pode ser banalizada. Se alguém objetar que um pênis pode ser reimplantado, por exemplo, vale lembrar que ele muito provavelmente passará a ser mero objeto de decoração entre as pernas, porque não funcionará como funcionava antes: com ereções, sensações e ejaculações. Pode ser que a ciência ainda avance ao ponto de eliminar esse dilema.

Todavia, não se pode negar a um/uma transexual genuíno/a seu pedido de adequação por meio da operação, e tratamento para a transição entre sexos. Isso condenaria tal pessoa à completa infelicidade durante toda a sua existência. Uma vez que a medicina coloca essa possibilidade, como já fez com tantas outras, diante de nós, deve-se usar esse recurso para o bem dessas pessoas e, consequentemente, para maximizar os índices de felicidade de toda a sociedade, no final das contas. As operações estão cada vez mais avançadas, e, contudo, ainda existem muitos contratempos para o funcionamento pleno dos órgãos modificados, especialmente quando se passa da vagina ao pênis: tamanho e impossibilidade de ereção são duas dessas dificuldades. Em ambos os casos, também existe o problema da impossibilidade da produção de sêmen pelo transexual que fez a transição para homem e a impossibilidade de ovulação e gravidez pelo transexual que fez a transição para mulher.

Além disso, ainda existem muitos problemas de ordem legal e burocrática a serem resolvidos: documentação, direitos plenos como membro do gênero com o qual se identificam, casamento com pessoa do outro sexo, etc. Lógico que tudo isso ainda pode ser resolvido, mas enquanto ainda persistirem esses obstáculos, a pessoa transexual, mesmo já operada, e com toda a transição feita, ainda vai encontrar inúmeros problemas para sentir-se plenamente homem ou mulher, de acordo com seu caso. Todas essas questões, porém, podem ser resolvidas com legislação nova e apropriada.

Pensadas essas questões, não se pode negar que pessoas como Roberta Close, a transexual mais famosa do mundo, sentem-se muito mais felizes quando já fizeram todo o processo de transição, incluindo a mudança de genitália. Roberta foi muito corajosa desde sempre. E as transexuais brasileiras devem muito a ela em termos de conquistas de direitos, inclusive o de operar pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Roberta Close teve que fazer a operação fora do Brasil, porque aqui ainda não era permitido. E se dependesse da insensibilidade dos fundamentalistas e moralistas reacionários, essa parcela da população continuaria esquecida, só sendo lembrada quando chegavam ao cúmulo do sofrimento existencial e tentavam se automutilar, cortando a própria genitália, no caso das transexuais que nasceram com pênis e almejavam ter vagina.



Roberto quando era criança (à esquerda) e depois como Roberta Close,
 já em transição, antes mesmo da operação.



Por tudo isso, parabéns a todos/todas os/as transexuais que lutaram tão bravamente por seus direitos e, não só conquistaram a possibilidade da adequação genital, mas também contribuíram para tornar a sociedade um ambiente existencialmente mais feliz, belo e equilibrado. Lembrando que uma transexual pode ser pré, pós ou nunca operada e deve ser respeitada no gênero com o qual se identifica a despeito de qualquer procedimento médico.

A decisão pelos procedimentos transexualizantes deve ser sempre da pessoa transexual. Os profissionais devem apenas indicar os melhores caminhos para o atingimento dos objetivos das pessoas transexuais em relação a seu próprio corpo. Nenhum profissional, seja qual for o campo, pode legitimamente dizer quem é e quem não é transexual.

Agora, você que é homem gay ou mulher lésbica, como diriam hoje "cis", ou seja, não é transmulher ou transhomem, supere a auto-homofobia e o preconceito homofóbico alheio, e seja feliz como homem que ama homens ou mulher que ama mulheres, e aprenda a usufruir todo prazer que seu corpo lhe proporciona.

É sempre bom lembrar que as pessoas transexuais podem ser homo, bi ou hetero. Orientação sexual e identidade de gênero são coisas distintas.

Por isso mesmo, homofobia internalizada não se cura na mesa de cirurgia. Se você é gay ou lésbica, aceite-se, ame-se, e orgulhe-se do seu amor! Se você é trans, faça o que considerar melhor para viver plenamente sua identidade e para viver o seu amor, seja ele por alguém do mesmo gênero, de outro gênero ou dos dois. ;)

Resumindo: Felicidade é viver de acordo com aquilo que melhor traduz você mesmo/mesma!

Seja feliz!







Leia: Crianças Transgêneres 👈👈👈


*************************

Comentários