Mais um capítulo da ficção evangélica conhecida como "ex-gays"

Mais um capítulo da ficção evangélica conhecida como "ex-gays"



Por Sergio Viula

Os evangélicos demonstram um estranho fascínio por casos de "ex-homossexuais". Que fique claro que o prefixo "ex" aí não passa de uma ficção. Pessoas consagradíssimas pelas igrejas e pastores evangélicos, querendo ser "provas vivas" de que a homossexualidade pode ser revertida, acabam demonstrando o contrário, ou seja, que a homossexualidade é tão irreversível quanto a heterossexualidade. E por que deveria ser diferente? Ambas são manifestações da afetividade humana com o mesmo status de legitimidade, apenas com objetos de desejo diferentes. Mas não esqueçamos da bissexualidade — essa fascinante possibilidade de amar sem fronteiras... ;)

Entretanto, a questão dos propalados "ex-gays" persiste. Este mês, uma revista evangélica chamada Eclésia publicou uma entrevista com Lanna Holder, uma pernambucana que dizia ter sido "libertada do homossexualismo" (termo que os crentes continuam usando, apesar de equivocado). Ela fez muito sucesso como pregadora em igrejas lotadas e com gente apresentando todo tipo de manifestações supostamente espirituais durante suas pregações. Pois bem, depois de muito tempo na igreja, "liberta" (segundo ela mesma), pregando (agenda cheia), casada com outro crente, mãe de um menino, a tal missionária Lanna Holder envolveu-se com outra mulher. Esta também era da igreja, casada e exercendo um ministério.

Foi um escândalo para a igreja e para os pastores. Ela deixou de ministrar, foi lançada no esquecimento e separou-se. Depois de um tempo vivendo longe dos púlpitos, sem projeção, com problemas financeiros acumulados pela suspensão das ofertas (como ela mesma diz na entrevista), etc., etc., etc., Lanna Holder decidiu voltar para a igreja e "servir ao Senhor". Já está pregando de novo.

Na entrevista, não vi traços daquele triunfalismo barato que caracterizava a pregadora antes. Parece que os "hematomas" emocionais causados pela "queda" ainda estão bastante doloridos. No entanto, ela demonstra ainda acreditar na possibilidade de transformação de homossexuais em ex-gays mediante a pregação da Bíblia. Pior: ela sempre cita a homossexualidade associada ao adultério, à prostituição e aos vícios. Contudo, não afirmou em nenhum momento que é "ex-homossexual", como fazia antes...

Não é difícil entender por que ela voltou para a igreja depois de ir tão longe: sentimentos de culpa, medo, saudosismo, necessidade de segurança financeira, entre outros.

A matéria da Eclésia não me impressionou de modo algum. O que encontrei foi o que já conhecia: "ex-gays" são pura lenda urbana. O que me admira é que, a despeito de todas as evidências contra esse mito do "ex-gay", os crentes continuem aglomerando-se em torno dos que pregam tal coisa. Agora, a pergunta que não quer calar: se são heterossexuais, por que se interessar por esse assunto? Se são gays, por que perder tempo com isso, já que não passa de falácia? Uma coisa eu garanto: lagarta que virou borboleta morre borboleta, nunca volta a ser lagarta... kkkk E é bom que fique claro que não estou dizendo que alguém "vire gay". Lagartas são borboletas em estado embrionário. De uma lagarta nunca sairá uma ameba, por exemplo. Quando o indivíduo é gay, é só uma questão de tempo até que ele alce voo... ;)

(Meu comentário refere-se à edição de Eclésia — Ano 12 — Edição 130 — Janeiro/2009)

Comentários

  1. Interessante você ainda ler essas coisa - mas o que é mais interessante é ofato que a pessoa aparece diferente depois de uma experiencia dessas. Pergunta: você não acha que ela fala que acredita em cura por uma mera questão burocrática ? Pelo que você diz, há uma certa melancolia na fala dela, e talvez a questão de voltar a ser pregadora para sobreviver (é o que todos os seres da espécie humana querem) voc~e tenha que falar não o que realmente pensa, mas o que a platéia quer ouvir (uma especulação minha, a lôca hehehe)

    Te adoro gato, te admiro demais

    Bjos no edi das amigas (é babado)
    Leo (já sabe o e-mail)

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  2. Pois é, Leozinho. Eu não resisto. Passei na banca, vi a foto da pregadora e decidi comprar pra ler. Mas, tudo isso porque semana passada vi uns comentários numa comunidade do orkut celebrando a volta dela. Seus questionamentos são muito cabíveis. Não é todo mundo que age como pássaros silvestres que preferem caçar insetos na campina a ficar numa gaiola de luxo. Eu preferi. E consegui dar a volta por cima. Não fiquei devendo nada a ninguém do lado de lá.

    Valeu pelo carinho de sempre.

    Beijão pra ti, lindo!

    Sergio Viula

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  3. Eu já tinha lido o site dessa dona, e dado muita risada. As mensagens de apoio continham a típica covardia dos evangélicos, ou seja, jogar a culpa no Satanás pelos erros. O que mais impressionou foi ver que quando ela "caiu", não teve apoio nem das igrejas onde pregava - se elas acreditam em reversão, deveriam ser as primeiras a ajudá-la a se livrar das "tentações", não acha? E pode apostar, ela ainda vai "cair" de novo e ninguém mais vai dar crédito a ela.
    Uma curiosidade: nos tempos de Moses, você chegou a conhecê-la?
    Beijão.

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  4. Pois é meu amigo...tb fiquei sabendo desse babado....eu sabia que isso iria acontecer..eu fui uma dessas que cheguei a ir em uma igreja para ouvir o "testemunho" dela..rsrs pura perda de tempo...algum tempinho depois me descobri homo e nao me arrependo disso...uma hora a ficha dela cai tb...ou não..rs
    bjssssssssssss

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  5. Fantôme e Roberta,

    Vcs estão cobertas de razão! Adorei o comentário de vcs!

    Respondendo à pergunta da Fantôme, eu nunca vi essa pregadora pessoalmente. Só ouvi falar. Mas existe muita gente que é "macaco de auditório" dela. Basta ver as comunidades no orkut.

    Outra coisa que eu tenho observado é que geralmente os crentes que passam pelo que ela passou têm dois caminhos: ou voltam a transar com o mesmo gênero e ficam quietos por medo de rejeição e perseguição, ou mandam tudo para o "inferno" e assumem de uma vez.

    Cá entre nós, considero mais digna a segundo opção! :)

    Beijão, meninas!

    Sergio Viula

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  6. Sérgio, só esclarecendo: eu sou um fantasma (em francês, "fantasma") macho, OK.

    Beijundas.

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