Carlos Tufvesson fala ao Fora do Armário depois de sair da CEDS-Rio ao fim da administração Eduardo Paes
Carlos Tufvesson - Parada LGBT do Rio (Copacabana) - arquivo pessoal
Um mês depois de sua saída da CEDS-Rio (Coordenadoria da Diversidade Sexual do Rio de Janeiro), Carlos Tufvesson, organizador e primeiro coordenador desse órgão municipal, a convite do ex-prefeito Eduardo Paes durante seu primeiro mandato, fala o Blog Fora do Armário sobre seu trabalho, sobre política e Movimento LGBT e sobre suas planos daqui para frente.
Com a eleição do novo prefeito, a cadeira foi ocupada pelo Nélio Georgini, de 41 anos, do mesmo partido que o prefeito, como informa o jornal O Dia.
Apesar de estar fora do gabinete agora, Tufvesson continua militando, como prometeu fazer quando concedeu essa entrevista no final da semana passada. Acredito que todos se lembrem da violência homofóbica e racista que um casal homoafetivo sofreu no prédio em que moram. Eles receberam uma carta anônima vilipendiando sua relação e sua identidade sexual e racial.
Tufvesson não perdeu tempo - acionou o Ministério Público do RJ. Ele esperou exatamente uma semana entre o ocorrido e alguma providência das autoridades. Como ninguém se manifestou, apesar do Rio de Janeiro ter órgãos de proteção à igualdade LGBT, Tufvesson entrou em ação. O resultado foi o seguinte, de acordo com site R7:
MPRJ investiga mensagens de ódio enviadas para casal gay no Rio: "gente de cor e afeminada"
Sem assinatura, carta ainda pedia para que jovens deixassem condomínio na zona norte
O MPRJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) anunciou, neste sábado (28), que vai tomar todas as providências cabíveis e necessárias em relação ao caso do casal gay que recebeu uma carta com mensagens homofóbicas e racistas deixada na janela da casa onde vive, em Vicente de Carvalho, na zona norte do Rio. O caso aconteceu no dia 20 de janeiro.
O caso motivou uma reunião no MPRJ com o estilista e ativista Carlos Tufvesson, ex-coordenador especial da Diversidade Sexual da prefeitura do Rio. Tufvesson encontrou-se, na quinta-feira (26), com a promotora Eliane Pereira e o subprocurador-geral de Justiça de Assuntos Criminais e de Direitos Humanos, Alexandre Araripe Marinho.
Na reunião, o ativista afirmou que a liberdade de expressão religiosa não pode ser usada para discriminar um cidadão. Ele se mostrou preocupado com o aumento do número dos chamados crimes de ódio revelados por diferentes fontes estatísticas do Governo Federal e da ONU (Organização das Nações Unidas).
Veja, a seguir, uma entrevista exclusiva concedida por Tufvesson ao Blog Fora do Armário:
Fora do Armário: A Coordenadoria da Diversidade Sexual (CEDS-Rio) foi implantada durante a administração do prefeito Eduardo Paes. Quais foram os maiores desafios que você e sua equipe enfrentaram para implementar o programa dessa coordenadoria?
Com a eleição do novo prefeito, a cadeira foi ocupada pelo Nélio Georgini, de 41 anos, do mesmo partido que o prefeito, como informa o jornal O Dia.
Apesar de estar fora do gabinete agora, Tufvesson continua militando, como prometeu fazer quando concedeu essa entrevista no final da semana passada. Acredito que todos se lembrem da violência homofóbica e racista que um casal homoafetivo sofreu no prédio em que moram. Eles receberam uma carta anônima vilipendiando sua relação e sua identidade sexual e racial.
Tufvesson não perdeu tempo - acionou o Ministério Público do RJ. Ele esperou exatamente uma semana entre o ocorrido e alguma providência das autoridades. Como ninguém se manifestou, apesar do Rio de Janeiro ter órgãos de proteção à igualdade LGBT, Tufvesson entrou em ação. O resultado foi o seguinte, de acordo com site R7:
MPRJ investiga mensagens de ódio enviadas para casal gay no Rio: "gente de cor e afeminada"
Sem assinatura, carta ainda pedia para que jovens deixassem condomínio na zona norte
O MPRJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) anunciou, neste sábado (28), que vai tomar todas as providências cabíveis e necessárias em relação ao caso do casal gay que recebeu uma carta com mensagens homofóbicas e racistas deixada na janela da casa onde vive, em Vicente de Carvalho, na zona norte do Rio. O caso aconteceu no dia 20 de janeiro.
O caso motivou uma reunião no MPRJ com o estilista e ativista Carlos Tufvesson, ex-coordenador especial da Diversidade Sexual da prefeitura do Rio. Tufvesson encontrou-se, na quinta-feira (26), com a promotora Eliane Pereira e o subprocurador-geral de Justiça de Assuntos Criminais e de Direitos Humanos, Alexandre Araripe Marinho.
Na reunião, o ativista afirmou que a liberdade de expressão religiosa não pode ser usada para discriminar um cidadão. Ele se mostrou preocupado com o aumento do número dos chamados crimes de ódio revelados por diferentes fontes estatísticas do Governo Federal e da ONU (Organização das Nações Unidas).
Veja, a seguir, uma entrevista exclusiva concedida por Tufvesson ao Blog Fora do Armário:
Fora do Armário: A Coordenadoria da Diversidade Sexual (CEDS-Rio) foi implantada durante a administração do prefeito Eduardo Paes. Quais foram os maiores desafios que você e sua equipe enfrentaram para implementar o programa dessa coordenadoria?
Carlos Tufvesson: Em primeiro lugar, juntar uma equipe competente, independente de partido ou ideologia, pois
só isso já estraga as pessoas, que ficam tontas e perdidas, porque estarem cheias boas
intenções não basta. Não adianta serem filiadas e nem mesmo saberem do que
estão falando, pessoas sem nenhum histórico de militância. Na CEDS, o requisito para
entrar na equipe era dedicação à nossa causa.
Depois criar um programa que
comunicasse à sociedade a importância da luta contra a LGBTfobia – que não uma causa somente das pessoas LGBT, seus familiares e amigos, mas sim de toda
sociedade de bem. Criamos o programa RIO SEM PRECONCEITO e conseguimos inserir
uma nova mensagem nessa luta, que é de direitos civis e não de direitos
especiais.
Reforçávamos isso em todas as campanhas que fazíamos a cada ano e que são históricas.
Me emociono de pensar nas
campanhas que fizemos e em como as fizemos, pois nada é fácil, mas a dedicação
e o compromisso com os direitos humanos sempre nos pautou.
Fora do Armário: Seis
anos depois daquele início, quais são as realizações ou os resultados dos quais
você mais se orgulha?
Carlos Tufvesson: Sim,
dia 2 de fevereiro completaríamos 6 anos.
A maior importância foi a criação
da CEDS em 2011.
A nossa cidade do Rio de Janeiro, até então, não
possuía nenhum órgão de defesa de direitos LGBT. É incrível imaginar isso
numa cidade com a importância da nossa, que possui um dever preponderante como
modelo cultural no país. A CEDS assumiu e desempenhou seu papel neste
sentido.
Criamos a CEDS do zero e ela se
tornou fundamental como políticas públicas, não só para os cariocas e
aqueles que nos visitam, mas também toda sociedade LGBT nacional. A CEDS
foi reconhecida como modelo de gestão de políticas públicas LGBT no país.
Temos orgulho de todo o nosso trabalho.
Seu maior resultado, talvez, seja a constatação da grande mudança comportamental de
parte da sociedade após diversas e intensas ações realizadas, de forma efetiva, em toda cidade durante nossa gestão.
A mera demonstração de afeto por
casais homoafetivos àquela época ainda era vista como caso de polícia por suposto
"atentado ao pudor".
Outro exemplo, travestis e transexuais se
escondiam e deixavam de acessar aos hospitais, clínicas da família ou escolas por
causa da exposição e da humilhação de não poderem ser chamadas pelos seus nomes
sociais. Foram tantas coisas realizadas, com resultados explícitos,
que nem dá para relacionar aqui, mas se encontram públicos no site e rede
social da CEDS: http://www.cedsrio.com.br/.
Mas, foi o suporte do prefeito e de
toda a administração, assim como do povo do Rio, que entendeu a mensagem do
programa e apoiou o nosso trabalho, que nos possibilitou apresentarmos os resultados
que tivemos.
Fora do Armário: Com
a eleição do novo prefeito, um novo coordenador foi convidado a assumir a
posição que você ocupou com tanta dedicação. Existe algum risco de que
atividades que já estavam funcionando venham a ser interrompidas? Como você vê
o futuro da CEDS-Rio?
Carlos Tufvesson: Não
tenho porque achar que o prefeito não cumprirá suas promessas de campanha, pois
tenho guardado comigo seus compromissos de continuar os projetos da CEDS, tendo
sido até bastante elogioso.
Precisamos dar tempo para o novo
coordenador trabalhar. Seguramente, ele sofre ataques e deve receber nosso
apoio. Só estranhei, pois não houve transição, e nunca recebi um telefonema dele
para se inteirar sobre a gestão – coisa que me parece normal, de praxe e até
protocolar. Mas cada um trabalha com seus métodos e suas certezas.
De qualquer modo, como parte de
minha antiga equipe está lá, ele tem as informações de que precisa. Eles
têm experiência em políticas públicas LGBT. Então, existe uma continuidade na
maneira de trabalhar.
Mas política pública não se faz
sem orçamento. Eu sempre me virei nos trinta. É muito fácil todo mundo achar
fofinho o Damas, mas é preciso aprovar o orçamento, como sempre fizemos em
nossos 6 anos de gestão. Senão, é aquele modelo que todos nós da área já vimos:
Falar muito e... apenas falar.
Fora do Armário: A
campanha Rio Sem Preconceito, realizada anualmente, contava com várias
celebridades que chamavam atenção para o combate ao preconceito e para a
promoção da inclusão sexual, de gênero, racial, etc. Eles participavam sem
qualquer cobrança de cachê porque acreditavam no seu trabalho. Antes de você
sair, havia algum planejamento para a próxima campanha? Você acredita que
haverá uma?
Carlos Tufvesson: Então
minha angústia era essa. De não poder planejar o futuro de um órgão como a
CEDS. Sinceramente, vejo a falência desse modelo partidarista na gestão pública
exatamente por isso.
Como se interrompe um trabalho
que estava indo tão bem, até mesmo pelo reconhecimento do então candidato
Crivella, que é distinguido inclusive por honrarias da Câmara Municipal, do Governo
Estadual e Federal, e da sociedade, apenas para inserir alguém por ser de um determinado
partido? Seria para passar uma imagem de que o partido não é preconceituoso?
Isso precisa ser demonstrado no dia-a-dia, em seu histórico e no de seus
parlamentares, e não pelo uso de um órgão que presta serviços relevantes à sociedade.
Como cidadão, confesso que não
acredito mais nesse modelo, pois vimos a falência dele, e nossa sociedade não
aceita mais esse tipo de velha política. Basta olharmos para os resultados dos
outros órgãos que agiram dessa maneira para entendermos que esse modelo é falido e
não funciona.
Uma das razões do sucesso da CEDS
era que ali não existia contratação partidária. Todos ali eram profissionais
competentes em suas atividades e estavam ali dando de seu melhor para nossa
comunidade, pois merecemos isso.
Não acredito em modelo diferente desse
na gestão pública. Quem perde é o cidadão.
Fora do Armário: A
CEDS-Rio foi grande parceira da Parada do Orgulho LGBT do Rio (Copacabana) no
final do ano passado. Você considera que a comunidade LGBT poderá continuar
contando com esse apoio daqui para frente? Caso a resposta seja negativa, quais
seriam as alternativas?
Carlos
Tufvesson: Não vejo porque não. Repito:
O prefeito declarou em campanha e não tenho motivos para achar que ele
mentiria. Não o conheço pessoalmente, mas o ex-prefeito Eduardo Paes me apresentou
na transição e ele me pareceu uma pessoa muito gentil.
Mas acho que a sociedade civil
precisa se reorganizar. E muito rápido.
Fora do Armário: Como
você vê as demandas LGBT em relação ao poder público hoje no nível municipal,
estadual e federal? Há razões para nos preocuparmos?
Carlos Tufvesson: Sim
há razões. E muitas.
A lacuna aberta pela ausência de
um movimento organizado, que defenda os direitos dos LGBTs acima dos interesses
de partidos, nos deixou hoje sem movimento nenhum.
Há uma década, vemos os índices
de crimes de ódio subirem e até a campanha de HIV para jovens LGBT ser barganhada
politicamente. O movimento se calou a ponto de perder sua importância e
relevância.
Aqui no Rio, fazíamos até uma
campanha de prevenção – também nacionalmente reconhecida – exatamente para
suprir essa lacuna. O resultado foi que nos tornamos o município que mais testa
para HIV no país! Um trabalho de 5 anos de campanhas sérias e efetivas, com
resultados para o cidadão.
Hoje um jovem nem sabe direito o
que é o Movimento e acha que militar é compartilhar no Facebook.
Não é.
É também.
Precisamos refundar a maneira de lutar e pleitear nossos direitos. De maneira técnica, como sempre foi nossa
atuação com meu grupo, e não de maneira subserviente a um partido.
Fora do Armário: O
Movimento LGBT está mobilizado o suficiente para enfrentar esses desafios? Em
sua opinião, o que está bem e o que precisa melhorar?
Carlos Tufvesson: Não.
Você que segue me diga: Quais
inciativas tivemos do movimento nos últimos 8 anos no Rio? Posso te dizer que,
na CEDS, nem propostas para apoio chegavam, exceto as da Parada LGBT.
E existem coisas que são de responsabilidade
do poder público, mas outras que são do movimento social.
Temos uma lacuna gigantesca aí a
ser preenchida e uma galera que não se reconhece nessa maneira antiquada de militar.
Fora do Armário: Quais
são seus planos daqui para frente em termos de ativismo LGBT?
Carlos Tufvesson: Nesse momento descanso.
Desde que entrei na prefeitura,
não tenho carnaval pois sempre estamos de plantão com a campanha de prevenção
coordenada por nós. Será meu primeiro carnaval de folga.
A CEDS, na prefeitura
do Rio, se ocupava de tarefas bem além das questões de políticas públicas para
os LGBTs, mas fico feliz pela oportunidade e pela confiança que tivemos de
fazer esse trabalho.
Quero me dedicar à moda também,
que é minha vida e minha profissão, pois existe uma carência enorme nesse setor
tão mal compreendido.
Mas, entenda: Na minha vida,
nunca planejei muito as coisas. Elas sempre foram acontecendo. Foi assim com o inesperado convite do Eduardo para ir para a prefeitura. Então, veremos.
Mas, entenda: Sou militante há 20
anos. É minha vida isso. E não tenho como deixar de ser. Porém, quero repensar
essa forma e dar à sociedade civil uma nova maneira de poder militar junto.
Fora do Armário: Que
mensagem você deixaria para a comunidade LGBT do Rio de Janeiro?
Carlos Tufvesson: DENUNCIE.
Sempre!
Em apenas 4 meses de gestão,
assinamos 9 decretos para a comunidade LGBT em nossa cidade, que são direitos
adquiridos.
Então exerça-os!
Fiscalize e cobre, ajudando a
gestão, pois ela é de todos nós.
“Se um de nós não tem direitos
civis, então nenhum de nós tem direitos civis”.
Fora do Armário: Agradeço muito, Tufvesson, por sua disponibilidade em falar ao Fora do Armário. Desejo que você realize muita coisa em favor da comunidade LGBT. E espero sinceramente que a CEDS-Rio continue fazendo o trabalho que vinha fazendo, ampliando seus horizontes e que ela nunca se omita diante das demandas dos cidadãos e das cidadãs LGBT da cidade do Rio de Janeiro.
Um grande abraço para você e para o André Piva, seu amor.
Carlos Tufvesson (à esquerda) e Andre Piva em 2011, quando se casaram.
Foto: Tatiane Amorim Fonte: Época - Coluna do Bruno Astuto.
--------------------------------------
Matérias citadas:
Jornal O Dia: http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2017-01-14/gay-evangelico-de-41-anos-assume-pasta-em-defesa-de-lgbt.html
Site do R7: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/mprj-investiga-mensagens-de-odio-enviadas-para-casal-gay-no-rio-gente-de-cor-e-afeminada-28012017
COMEMORO COM VOCÊS O CASAMENTO E LHES DESEJO O MAIS SINCERO AMOR DE AMBAS AS PARTES PARA UM SÓ CORAÇÃO!
ResponderExcluirPEDRINI