
📚 Ensino Religioso nas Escolas Públicas: Quando a Homofobia Vira Dever de Casa
Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) escancarou uma ferida que muita gente finge não ver: a homofobia, o preconceito religioso e o desrespeito à diversidade estão sendo ensinados como se fossem lição de moral em escolas públicas de todo o país.
O estudo, apresentado no livro Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil, analisou os 25 livros de ensino religioso mais utilizados no ensino fundamental. O resultado? Um retrato preocupante da educação brasileira, onde o que deveria ser espaço de aprendizado e inclusão virou campo fértil para intolerância e discriminação.
Homofobia disfarçada de conteúdo pedagógico
As expressões usadas para se referir a pessoas LGBTQIA+ nos livros analisados são chocantes:
“Desvio moral”, “doença física ou psicológica”, “conflitos profundos”, “o homossexualismo não se revela natural”.
Sim, essas são frases que constam nos materiais didáticos usados por milhares de crianças e adolescentes em escolas públicas brasileiras.
Em um dos livros, um exercício com a imagem da bandeira arco-íris termina com a pergunta:
“Se isso (a homossexualidade) se tornasse regra, como a humanidade iria se perpetuar?”
Além de absurdamente ignorante, esse tipo de “conteúdo” reforça o medo, a vergonha e o isolamento que muitos estudantes LGBTQIA+ enfrentam todos os dias em ambiente escolar.
Ateus também são alvos
A intolerância não para por aí. Pessoas sem religião também são retratadas de forma pejorativa. O estudo denuncia que alguns livros chegam a associar o ateísmo ao nazismo, como se a ausência de crença automaticamente levasse ao extremismo ou à violência.
“É sugerida uma associação de que um ateu tenderia a ter comportamentos violentos e ameaçadores”, explica a pesquisadora Débora Diniz, uma das autoras do estudo.
Religiões que “não valem a pena” ensinar?
A pesquisa revelou ainda um desequilíbrio escandaloso na representatividade religiosa:
-
A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes mais que a de qualquer liderança indígena;
-
O budismo, o islamismo e outras tradições recebem espaço quase nulo;
-
As religiões de matriz africana são tratadas como “tradições” folclóricas e aparecem em apenas 30 citações, contra 609 referências ao cristianismo.
O Estado é laico... mas quem fiscaliza?
Apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) garantir a liberdade de crença e o respeito à diversidade religiosa, o que vemos na prática é uma imposição do cristianismo em sala de aula, com total ausência de fiscalização por parte do Estado.
“Há uma clara confusão entre o ensino religioso e a educação cristã”, alerta Débora Diniz.
“Não há qualquer tipo de controle. O resultado é a má formação dos alunos”, completa a psicóloga Tatiana Lionço, também autora do estudo.
Por que isso importa?
Porque crianças LGBTQIA+ não devem crescer acreditando que são um erro da natureza.
Porque alunos de religiões de matriz africana não precisam se sentir invisíveis ou errados.
Porque o Estado brasileiro é, sim, laico — e precisa se comportar como tal.
A escola deve ser espaço de aprendizado, de acolhimento, de estímulo ao pensamento crítico — não um púlpito disfarçado que propaga exclusão e ignorância.
📢 Vamos continuar falando sobre isso.
Vamos continuar denunciando.
Vamos continuar fora do armário — e dentro das escolas, com orgulho.
#EducaçãoLaica #LGBTQIAnaEscola #ForaDoArmário #EnsinoReligioso #DireitosHumanos
Minha gente, ensino religioso não combina com Estado Laico. Se ainda fosse para estudar a fenomenologia da religião, talvez ainda pudesse ter alguma utilidade para a formação de uma consciência crítica entre os alunos, mas o ensino religioso presta-se apenas à pregação do cristianismo neste país.
Eu mesmo já fui professor de educação religiosa numa escola particular, na qual uma diretoria evangélica pretendia "evangelizar" alunos e famílias através do ensino religioso. De início eu fazia exatamente isso. Utilizava material da Sociedade Bíblica do Brasil e lecionava de 5a a 8a série com ele. No ensino médio, eu mesmo produzia as apostilas com temas diversificados, mas sempre com uma perspectiva evangélica.
Quando eu comecei perceber as falácias que estava perpetuando em nome de um mito, decidi mudar de direção. Não pregava nem uma coisa nem outra mais. Apenas provocava questionamentos sobre direitos humanos; ética; diversidade racial, religiosa e sexual; etc. Meus alunos mesmo notaram uma diferença enorme como que saindo da radicalidade para a flexibilidade, do evangelismo para a discussão, do dogmatismo para o questionamento.
Infelizmente, eu fui uma exceção, mas logo depois pedi demissão. Estava saindo do armário e prestes a dar entrevistas à mídia. Não haveria espaço numa escola tão intransigente para um professor gay assumido e ateu. Talvez ainda haja outros poucos que tenham uma mentalidade mais aberta por aí, mas a maioria desses "educadores" religiosos estará a serviço do dogma e do preconceito até o fim de seus dias, caso o governo não tome providências para fiscalizar isso.
Vale ressaltar que não precisamos esperar pelo governo. Podemos como alunos ou responsáveis pelos alunos manifestar-nos contra esse tipo de coisa assim que ela ocorrer em sala de aula ou em quaisquer dependências da escola.
Compartilho um caso pessoal aqui:
Meus filhos estudam numa escola onde um professor espalhava homofobia em sala de aula através de piadinhas e comentários de mau gosto sobre alunos gays do colégio. Certa vez, ele foi tão agressivo em seus comentários, tão discriminatório, que um menino gay na turma baixou a cabeça sobre os braços em cima da mesa e fingiu dormir todo o restante da aula.
Minha filha, que estava presente e ouvia tudo aquilo, tomou a palavra e enfrentou o professor dizendo que ele não podia falar assim dos homossexuais, que seu comportamento era preconceituoso, e que como professor ele não podia agir assim. Ele desconversou e mudou de assunto.
Quando ela me contou isso em casa, eu decidi tomar uma atitude imediatamente. Entrei em contato com o MEC em Brasília por e-mail, relatando toda a situação detalhadamente. Eles me ligaram pouco tempo depois para obter mais informações e comunicaram-me que haviam enviado o caso para a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, a qual tomaria as devidas providências, pois esse tipo de atitude era inaceitável da parte de um professor. Fiquei satisfeito com atendimento e com as providências. O tal professor foi chamado e deve ter sido advertido de forma muito séria, porque depois disso ele nunca mais abriu a boca para discriminar ou estimular a discriminação contra os homossexuais na escola.
É esse tipo de atitude que TODO e QUALQUER cidadão consciente, gay ou não, precisa ter!!! Fique esperto! Não durma no ponto. Isso é uma questão de direito fundamental do ser humano.
E mais uma vez: Não vote em candidatos comprometidos com agendas religiosas. Cuidado com essa gente cujo lema é "deus, país e família" ou similares. Estes são geralmente fundamentalistas a serviço do dogma.
Comentários
Postar um comentário
Deixe suas impressões sobre este post aqui. Fique à vontade para dizer o que pensar. Todos os comentários serão lidos, respondidos e publicados, exceto quando estimularem preconceito ou fizerem pouco caso do sofrimento humano.