O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE TRANSGENERIDADE, TRANSEXUALIDADE, TRAVESTILIDADE, QUEER



By Lucas Silveira – Musician
Publicado no The Huffington Post – Gay Voices

Traduzido por Sergio Viula



1. Definindo a Transgeneridade

A raiz da palavra “transgênero” vem da palavra latina “trans,” que significa “através.” Um voo transatlântico é aquele feito através do oceano Atlântico; um assunto transnacional afeta pessoas através do país inteiro; e assim por diante. "Transgênero" literalmente significa “através do gênero.” “Transgênero” é definido hoje como um guarda-chuva com muitas identidades diferentes existindo sob o mesmo.


2. Alguns conselhos

Quando pessoas trans revelam suas identidades trans a alguém, esse é um momento profundamente pessoal. São necessárias confiança e coragem para conversar sobre identidade de gênero e transição de gênero. O melhor a se fazer provavelmente é: 1) perguntar que questões – se alguma – são apropriadas; e 2) dar espaço à pessoa trans se ele ou ela sentir que você está invadindo seus limites (mesmo que suas questões sejam fruto de curiosidade inocente). Isso permite que a pessoa trans mantenha sua privacidade e integridade.


3. O Sistema Binário do Gênero

O sistema binário do gênero existe por causa de sua categorização fácil e a propósito de rotulação. Para a maioria das pessoas, é algo que se toma por certo, garantido. Fêmeas que se identificam como mulheres usam o banheiro feminino. Machos que se identificam como homens vestem ternos e gravatas ou smokings para eventos formais. É assim que é, e funciona bem para muitas pessoas. Mas para pessoas trans vivendo numa cultura em que o sistema binário impera isso se torna uma batalha diária


4. Expressão de Gênero

Dos três termos – “sexo,” “identidade de gênero,” e “expressão de gênero” – qual deles você acha que percebemos mais nas pessoas diariamente? Se fosse o sexo de uma pessoa, então teríamos que ver sob as roupas da pessoa ou testar seus cromossomos (e mesmo aí poderíamos enfrentar um conflito de relatórios). Se fosse a identidade de gênero de uma pessoa, teríamos que perguntar àquela pessoa como ele ou ela se identifica ou de algum modo entrar no cérebro e descobrirmos a resposta por nós mesmos. Pelo processo de eliminação, você adivinhou: é a expressão de gênero.


5. Orientação e Gênero

Se olharmos para a sociedade como um grupo diverso de indivíduos onde a heterossexualidade poderia ser a orientação sexual mais comum, porém não necessariamente normal, então poderemos ver mais facilmente que a orientação sexual varia: algumas pessoas são heterossexuais, outras gays, outras bissexuais e assim por diante. Isso não necessariamente tem qualquer coisa a ver com a identidade ou expressão de gênero de uma pessoa.


6. Assumindo para Si mesmo(a)

A consciência de que uma pessoa é trans pode levar diferentes períodos – de alguns momentos a diversas décadas. Geralmente, pessoas trans têm uma suspeita desde cedo em suas vidas de que seu gênero está fora de sincronia com seus corpos. O processo de autoconscientização é extremamente complicado. A mente humana faz o melhor que pode para sobreviver, o que pode ser traduzido em intensa negação. Por causa de constrangimentos sociais, é comum que uma pessoa tente ignorar sinais que apontem para a transgeneralidade, consciente ou inconscientemente.


7. Cirurgias

Planos de saúde só cobrem cirurgias de transexualização em muito poucos casos. Algumas pessoas passam por menos cirurgias do que gostariam por causa do alto custo. Outras ainda decidem não passar por cirurgia alguma porque simplesmente não querem. Por muito tempo, e ainda em muitos lugares hoje, as pessoas se referem à cirurgia de transexualização como cirurgia de “mudança de sexo”. Mais tarde, surgiu o termo menos ofensivo “cirurgia de adequação sexual.” Hoje, mais e mais pessoas estão compreendendo que cirurgia para pessoas trans não é uma “adequação” de gênero, mas uma afirmação do gênero ao qual a pessoa sempre pertenceu. Cirurgia de afirmação de gênero parece ser um termo mais adequado para refletir isso.


8. Transição Hormonal

Para as mulheres trans, tomar hormônios é um processo de dois passos. Para ajudar a feminizar uma genética masculina, é muito importante suprimir a produção de testosterona. O outro passo que as mulheres transgênero frequentemente dão é administrar o uso do estrogênio, que é o hormônio chefe que atua nos corpos femininos. Diferente de seus pares masculino-para-feminino, os homens trans não têm que tomar nenhum supressor de estrogênio como parte de seu tratamento hormonal. Testosterona (chamada simplesmente “T” na comunidade feminina-para-masculina) é um poderoso hormônio. O aumento dos níveis de testosterona no homem trans supera os níveis existentes de estrogênio.


9. Crianças Transgênero

Não existem realmente crianças transgênero, existem? Crianças não podem saber com certeza como se sentem quando ainda são muito pequenas, certo? Errado. Acredita-se que a identidade de gênero seja solidificada por volta do seis anos de idade. Isso não significa que crianças, absolutamente, positivamente saibam como se identificam nessa idade. Isso simplesmente significa que sua identidade de gênero está ali. Se não se encaixar com o sexo que lhes foi designado no nascimento, então ela começará a se manifestar de diferentes modos.


10. Sexo, Gênero e Natureza

Muitas plantas e animais podem ser masculinos ou femininos, biologicamente falando, ao mesmo tempo ou em diferentes momentos de suas vidas. Comparando 34 cérebros humanos pós-modernos, cientistas descobriram que a parte do cérebro que compreende um pequeno grupo de células considera como pertinentes ao gênero e à sexualidade eram semelhantes em mulheres trans e em mulheres não-trans. Apesar do estudo só ter incluído um cérebro de homem trans, ele descobriu que aquele grupo de células nervosas era semelhante ao de um homem não-trans. Talvez o Dr. Milton Diamond tenha colocado isso melhor quando afirmou: “A biologia ama a variedade. A biologia ama as diferenças. A sociedade as odeia.”


11. Transgeneridade como um Assunto de Saúde Mental

A Desordem de Identidade de Gênero (GID) aparece no Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens (DSM-IV), que é o livro-diagnóstico oficial da Associação Americana de Psiquiatria. A GID, que em breve será chamada de disforia de gênero no DSM 5, é classificada como uma condição de saúde mental na qual a pessoa deseja ser do sexo “oposto” ao designado no nascimento. Devido ao seu critério, muitas pessoas trans seriam enquadradas nesse diagnóstico. A transgeneralidade continua classifica como uma desordem mental em virtude da existência do DSM.


12. O Fiasco do Banheiro

Imagine resignando-se a não utilizar o banheiro em espaço público. Para uma pessoa trans, essa é geralmente a realidade. Aquelas que estão em transição ou não transmitem uma aparência “nitidamente masculina” ou “nitidamente feminina” são excluídas tanto do banheiro das mulheres como do banheiro dos homens diariamente. Alguns lugares oferecem banheiros “unissex” ou “familiares,” mas a maioria não. Se uma pessoa trans quiser sair e curtir um show, evento esportivo, ou simplesmente um dia fora de casa, ele ou ela terá que fazer concessões que a maioria das pessoas nunca pensou em fazer.


13. Tipos Menos Conhecidos de Transgeneridade: o Gênero Queer


As pessoas geralmente consideram a noção de “gênero queer” [indefinido, estranho, algo como andrógino] difícil de entender. Eles podem ouvir que uma pessoa do “gênero queer” está entre o masculino e o feminino, ou nem uma, nem outra, mas continuam a se perguntar: "OK, então que sexo ou gênero as caracteriza de fato?" É aqui que talvez seja mais difícil viver como uma pessoa de gênero queer. As explicações constantes que geralmente levam a nada podem ser frustrantes e desanimadoras para pessoas de gênero queer.


14. Transgêneros em Números


Infelizmente, não existe consenso sobre o número de pessoas transgêneras nos Estados Unidos ou no mundo hoje. Faltam estatísticas por uma série de razões. Uma delas é que as pessoas trans não se expõem e vivem como trans por trás de portas fechadas ou secretamente, o que significa que muitas pessoas não sabem que elas nasceram diferentes da aparência que têm agora. Outra razão para a falta de estatísticas é que tantas variedades de transgeneralidade encaixam-se sob o guarda-chuva do termo que é difícil discernir que subcategorias deveriam realmente ser contadas estatisticamente e quais não.


15. Palavras finais

Nos EUA temos visto que o suicídio adolescente por causa de bullying está atingindo proporções epidêmicas. Muitas dessas crianças são LGBT, e a maioria delas são alvos de deboche por causa de algum componente de sua expressão de gênero. Espero que você converse com outras pessoas sobre o que aprendeu a respeito da transgeneralidade. Ninguém deveria sofrer por ser quem é, mas sabemos que a realidade nos diz algo diferente. Pessoas tem sido alvo de bullying e perseguição por serem quem são desde a aurora dos tempos. Mas, não somos indefes@s. Quanto mais educação houver sobre o que significa ser diferente, melhor.

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