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Linguagem neutra não-binária (trecho de uma live)

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 Por Sergio Viula Esse é um trecho de uma live feita com @Sviula a convite de @carolina_carolino no perfil das @carolinas_da_borborema no Instagram em 07/04/24. Esse é apenas um trecho da nossa conversa e se refere ao uso da linguagem neutra não-binária. A live completa pode ser vista aqui: https://www.instagram.com/reel/C5en-hhvjuq . Nessa live, além de linguagem não binária, discutimos a falsamente chamada "cura gay", o Movimento LGBT+ no Brasil, temas relacionados à orientação sexual e identidades de gênero.  O trecho abaixo é apenas um recorte da live, mas considero que seja muito interessante e relevante para as diversas discussões sobre linguagem neutra na atualidade. Confira e siga o perfil dos participantes no Instagram. Carolina Carolino e Sergio Viula 07/04/24 Instagram: @carolinas_da_borborema

O Mundo de Is entrevista Sergio Viula - por Israel Russo no Facebook


Obrigado, Israel Russo


O Mundo de Is com Sergio Viula

QUE ENTREVISTA MARAVILHOSA E LIBERTADORA. LEIAM E COMPARTILHEM, SE PUDEREM.
Israel Russo
Essa é a 2ª entrevista que faço aqui no Mundo de Is. Dessa vez, tive a honra de entrevistar o querido Sergio Viula, em comemoração ao 1º aniversário da nossa página. Ele, como sempre, foi mega atencioso, carinhoso e coerente.
Sergio Viula é escritor, tradutor, teólogo, ex-pastor bastista, ex-ex-gay, filósofo, ateu, professor de língua inglesa, pai de 2 filhos, dono do blog Fora do Armário e lindo!

IS: Olá, Sergio. Tudo bom com você?
SERGIO: Tudo joia, Israel.

IS: Você já foi pastor batista e hoje é ateu e gay assumido. O fato de se sentir atraído por homens, foi um fator importante para se tornar ateu?
SERGIO: Eu diria que o fato de me sentir atraído por homens e ter sido cercado por um ambiente hostil à homoafevidade desde cedo contribuiu para que eu questionasse a "realidade" que me cercava. No bojo desse questionamento, entraram as crenças e as práticas religiosas, que logo se mostraram tão críveis quanto qualquer crença considerada pagã pelos próprios cristãos. 

O cristianismo me ajudou a desmitificar todos os deuses, menos um. A postura cética que adotei na verificação das premissas cristãs acabou me livrando do último deles - o judaico-cristão.

IS: Os ateus e agnósticos, são minoria em nossa sociedade e alvos de discriminação. Você já passou por situações constrangedoras ou perdeu "amig@s" por ser ateísta?
SERGIO: Sim, certamente. Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo identificou que o preconceito contra ateus é um dos mais agudos na sociedade brasileira, perdendo até para a rejeição social a presidiários. 

Uma coisa que acontece muito comigo é a seguinte: Como consigo dialogar tranquilamente sobre as diversas crenças religiosas com pessoas que esposam alguma fé, muita gente pensa que eu tenha alguma crença, mesmo que seja remota. Daí, quando essas mesmas pessoas percebem que sou ateu ou me perguntam diretamente se sou ateu, e eu respondo que sim, elas ficam meio chocadas, mas não podem me chamar de intolerante, porque o próprio ato de discutir respeitosamente pontos de vistas religiosos não permite tal acusação. 

Posso dizer que tenho amigos religiosos, agnósticos e ateístas, mas também já perdi "amig@s" que não conseguem ter o mesmo nível de maturidade para celebrar a pluralidade que caracteriza nossa sociedade. O que não tolero de modo algum é o preconceito homofóbico, transfóbico, racista, machista e por aí vai.

Como eu disse para alguns alunos meus essa semana, preconceito não é questão de mera opinião. Preconceito afeta diretamente a vida das pessoas. Gente real num mundo real com dilemas reais e que não precisa de ideias obtusas criando-lhes obstáculos à vida.

IS: Falando em homofobia, você foi um dos fundadores do Movimento pela Sexualidade Sadia (MOSES). Um ministério/ONG cristão para "curar/converter" gays em héteros. Como você vê, hoje, essa obsessão fundamentalista na homossexualidade e o que levou você a ver que os métodos do MOSES não funcionavam?
SERGIO: Essa obsessão de certos segmentos cristãos evangélicos e até alguns católicos quanto à homossexualidade diz muito mais desses mesmos grupos e indivíduos do que da homossexualidade em si. Hoje, está muito claro para mim que não é possível que a homossexualidade alheia incomode tanto uma terceira pessoa se esta mesma não estiver em conflito consigo mesma por medo, culpa e ansiedade em relação à sua própria sexualidade. Do mesmo modo que não me incomoda a heterossexualidade ou a bissexualidade alheias, não deveria incomodar a um heterossexual a homossexualidade dos outros, a menos que este tenha razões não-ditas para tal em si mesmo.

Existe também um histórico de preconceitos afirmados e reafirmados, repetidos e reforçados pela religião, pelo Estado e pela medicina ao longo da história. A medicina e muitos Estados já fizeram uma revisão desses preconceitos e passaram a tomar outra postura frente à diversidade sexual. Algumas religiões também, mas as que ainda resistem são geralmente as mais fanáticas e, por isso mesmo, menos esclarecidas.

Para mim, a conclusão de que as pessoas não deixam de ser gays, lésbicas ou bissexuais, assim como não deixam de ser heterossexuais, veio a partir da observação de que, ao longo dos meus 18 anos de envolvimento com a igreja evangélica, nunca vi um único gay, lésbica ou bissexual virar heterossexual.

Se eu acreditasse num deus, teria dito agora: Graças a Deus! Porque querer deixar de ser quem é configura-se como a pior e mais baixa forma de submissão pessoal.

IS: Foi muito difícil para você aceitar a sua homossexualidade? Como foi a reação da sua família quando você decidiu ser você mesmo?
SERGIO: Foi difícil enfrentar o preconceito da família, mas costumo dizer que sair do armário é sofrer uma vez só, enquanto que permanecer dentro dele é sofrer pelo resto da vida. Minha decisão de não me submeter mais aos ditames da homofobia que caracteriza o pensamento de muitos dos meus familiares foi uma oportunidade de crescimento para todos. Hoje, vivo um sossego em termos de relações familiares que nunca tive antes. 

Agora, é o que eu digo: quanto mais cedo a pessoa conseguir pagar suas contas e viver às suas próprias custas, melhor. Quando falta isso, o poder de chantagem de familiares inescrupulosos aumenta.
Às vezes, alguns se afastam, mas depois se reaproximam. Se alguém realmente preferir se distanciar definitivamente, que vá em paz e não peque mais. (risos)

IS: Você luta pelos direitos da comunidade LGBT, inclusive o casamento e a adoção por pessoas do mesmo sexo. Você foi casado com um homem durante 7 anos e recentemente se divorciou. Como está sendo esse processo de separação? Que tipo de aprendizagem você obteve com esse casamento?
SERGIO: De fato, foram 7 anos felizes. Infelizmente, acabou, mas a vida continua. Na realidade, viver a dois nunca é um desafio simples. Viver a dois é "ser artista no nosso convívio pelo inferno e céu de todo dia", como dizia Cazuza. Porém, o que mais chama a atenção de quem nos acompanhou foi o modo como terminou em paz, sem briga, sem disputas, apenas a consciência tranquila de que era preciso seguir separadamente de um determinado ponto em diante.

Acumulei 21 anos de casado: 14 com uma mulher e 7 com um homem. Isso é quase a metade da minha vida. Por isso, continuo defendendo o direito de que as pessoas se casem com quem desejarem, se separem se e quando quiserem, possam ter filhos biológicos ou adotados, mas eu mesmo não sei se entraria num terceiro casamento. Como a gente nunca sabe nada ao certo, é melhor ir vivendo e amando, e descobrir pelo caminho.

IS: Você tem alguns livros, contos e textos maravilhosos, publicados. Como é o desafio de ser escritor no mercado brasileiro?
SERGIO: Um desafio talvez maior do que o de ser gay. (risos)
Na realidade, escrever com um viés gay, lésbico, bissexual ou transgênero é um desafio ainda maior. O brasileiro não tem tradição de leitura como passa-tempo preferido. E a restrição aumenta quando se trata das letras com as cores do arco-íris. Mas é gostoso desbravar esse segmento, especialmente acompanhado de tanta gente boa hoje em dia. 
Escritores que celebram a sexodiversidade vão se multiplicando no Brasil e a população vai descobrindo um novo prazer em termos de leitura - o da literatura LGBT.

IS: Quem é Sergio Viula, hoje?
SERGIO: Hoje, Sergio Viula é principalmente um cara de bem consigo mesmo. Isso abre um leque de numerosas e deliciosas possibilidades de existência e de interação com outros seres humanos fantásticos, entre eles você, Israel Russo. Tenho orgulho de pessoas como você, que fazem o que podem para construir um mundo melhor. E por melhor, quero dizer mais livre, mais igualitário, mais esclarecido.

IS: Muito obrigado! Por tudo! Você sabe que sou seu fã assumido! (Risos) Pena que estamos chegando ao fim dessa gostosa conversa. Para finalizarmos, deixe uma mensagem para xs Habitantes do Mundo de Is.
SERGIO: Eu é que agradeço, Israel. Eu diria aos Habitantes do Mundo de Is que não se deixem levar pelo canto das carnívoras sereias do preconceito, dos dogmas, das doutrinas totalizantes, das ideologias de controle mental e social, mas que se desenvolvam em todos os sentidos: intelectual, emocional, social, econômico, amoroso, enfim, em todos os aspectos da existência. Se não forem totalmente felizes, serão ao menos livres, mas as duas coisas geralmente andam muito próximas.

Um beijo a todos e todas.

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